Cap. 16 - Sem Notícias

Entrei no banho e isso pareceu me relaxar. As perguntas foram sendo respondidas com afirmações duvidosas ou incorretas, mas aceitei assim mesmo, antes que ficasse com dor de cabeça por fritar tanto os neurônios. Saí, me enxuguei, troquei de roupa. Uma calça jeans, uma regata branca, bota preta e jaqueta também preta. Não seria um lugar muito chique... pelo menos era o que esperava. Peguei meu celular e telefonei para avisar que estava na casa da minha tia.

— Jamie?

— Oi! Está pronta?

— Sim, mas não estou em casa. Estou na casa da minha tia, que é vizinha da Ally. Você sabe onde ela mora, certo?

— Sei, sim, mas... temos um problema.

— Que problema?

— Não conseguimos encontrar o Shane.

— Como assim não conseguiram encontrá-lo? — Meu coração acelerou de repente e senti uma leve onda de pânico tomar conta de mim. Qual a razão disso?

— Ele passou a tarde toda fora e não sabemos se estava sozinho ou acompanhado. Voltou rapidamente e quando perguntamos se iria ao encontro, respondeu que não poderia comparecer, mas não disse o motivo e saiu novamente sem deixar pistas. George e Shawn estão tentando localizá-lo, mas até agora nada. — Ficamos um longo tempo em silêncio. — Você está bem, Analice? Está aí?

— Sim. Estou. — Falei devagar. — Jamie... acha que aconteceu alguma coisa com ele? Estou com um mal pressentimento.

— Todos nós estamos. O que acha de cancelar o jantar e marcamos o encontro na casa da sua tia? Ela permitirá?

— Acho que sim e de qualquer forma não está aqui.

— Certo. Estamos indo.

— Ok.

Desliguei o celular e comecei a caminhar pelo quarto, impaciente. Será que desistira de me encontrar? Não! Algo me dizia que essa não era a resposta certa. O que será que estava fazendo agora? Onde estava? Por que não quis dizer onde ia?

— Ani? — A voz de Mari me tirou de meus devaneios.

— Oi.

— O que houve?

— O garoto que ia encontrar comigo não vai poder vir e está cheio de segredinhos.

— O que vamos fazer, então?

— Remarcamos o encontro. Vamos nos encontrar aqui para resolver o assunto.

— Aqui? Mas e a tia Annie?

— Ela saiu. Não me pergunte para onde, também está cheia de segredinhos...

— E vamos nos encontrar com seus amigos sozinhas aqui? — Seu tom de voz era preocupado.

— Sim, Mari. Por quê?

— E se eles...

— Não vão fazer nada conosco. Não se preocupe. — Apesar de afirmar isso, não tinha plena certeza se era verdade.

— Certo... vou terminar de me arrumar. Já está pronta?

— Sim.

A campainha tocou. Nos entreolhamos e decidimos atender juntas. Perguntei quem era e ao ouvir a voz familiar de Jamie abri a porta imediatamente. Ele e Bryan entraram na casa. Assim que comecei a fechar a porta Ally veio correndo pelo jardim para que a deixasse entrar.

— Ufa! Quase não chego a tempo. — Respirava rápido.

— Entre, Ally.

— Meu irmão ainda não chegou?

— Ally... seu irmão não...

— Ele não vem. — Bryan me cortou enquanto nos ajeitávamos no sofá. — Só disse que não poderia vir. Não sabemos para onde foi. A propósito... — Bryan estendeu para mim um buquê de rosas vermelhas. — Shane pediu para te entregar.

— Flores? — Peguei o buquê meio desajeitada e senti o rosto corar de leve.

— Sim. Ele comprou para você. — Bryan cruzou os braços em frente ao corpo.

— Comprou para mim? — Não consegui disfarçar um sorriso bobo.

— Para quem mais teria comprado? Para mim é que não foi, não é? — Bryan deu um sorriso de deboche.

— Amiga? — Mari tocou meu braço para chamar minha atenção.

— Ah. Desculpa. Gente, essa é minha amiga, Mariany.

— Podem me chamar de Mari. — Sorriu de maneira fofa.

— Olá, Mari. Sou o Jamie e este é o Bryan. É um prazer conhece-la. — Sorriu gentilmente e Bryan acenou de leve com uma das mãos.

— Vamos ao assunto? — Bryan estava impaciente.

— Sim. Precisamos descobrir o que está acontecendo com Shane...

— Porque está agindo estranho. — Ally me interrompeu.

— E porque está desaparecendo sem dizer onde vai. — Bryan completou.

— Ele está saindo o tempo todo sem dizer para onde vai e dessa vez não é para encontrar a Analice.... Não! Não creio que esteja paquerando outra garota, certo Ani? — Jamie olhou para mim e arqueou as sobrancelhas.

— Quem disse que me paquerava?

— O que vinha fazer, então? Pulou essa parte? — Sorriu maliciosamente.

— Engraçadinho. — Lancei um olhar zangado, mas sabia que estava vermelha de vergonha.

— Desculpe interromper, mas não estou entendendo.... — Mari se pronunciou.

— Certo. Não saia correndo, por favor. Eles não vão machucá-la. — Disse segurando o braço dela com cuidado.

— Não vão me machucar? Eles podem me machucar? — Mari arregalou os olhos.

— Fique calma!

— Eles são o que? Assassinos? Psicopatas? — Sua voz foi aumentando consideravelmente. Jamie, Ally e Bryan começaram a rir.

— Não. São... vampiros. Eles são vampiros. — Disse e no mesmo instante os três pararam de rir e ficaram sérios. Notei que Mari nos encarava, procurando a mentira ou a loucura em nossos olhos.

— Está brincando, não é?

— Não. Se não acredita, escolha um deles para provar a você.

— A garota. — Disse Mari apontando Ally.

— Não sou vampira. — Sorriu.

— Apenas eu e Bryan. — Explicou Jamie.

— Pode ser você mesmo.

Jamie sentou ao lado dela, que se manteve firme apesar do medo, abriu a boca e projetou os caninos deixando-os próximos ao tamanho dos dentes de feras. Mari arregalou tanto os olhos que pensei que saltariam para fora das órbitas, abriu a boca como se fosse gritar, mas nenhum grito saiu. Cheguei a pensar que iria desmaiar, mas logo se recuperou.

— Então... não é mentira. Como assim? Como pode ser possível?

— Mari, é difícil acreditar no começo. Também fiquei com medo, mas não precisa se preocupar, eles não atacam ninguém. — Sabia que isso era, em partes, mentira, mas precisava acalmá-la logo.

— Eles não vão machucar você. — Disse Ally.

— Isso é fantástico! — Mari começou a bater palmas.

— Como é? — Nós quatro perguntamos juntos, chocados.

— A ciência estava enganada! São mesmo vampiros! — Mari começou a rodear os meninos como se fossem ratos de laboratório. A campainha tocou.

— Quem será? — Jamie encarou a porta, apreensivo.

— E se for sua tia? — Mari falou.

— Não. Ela disse que voltaria bem tarde.

Cheguei à porta e espiei pelo olho mágico para ver quem era, mas estava tudo escuro e não consegui enxergar nada. Então perguntei e a voz que respondeu era conhecida. Shawn e George haviam voltado de sua busca e vieram direto para cá. Os deixei entrar e informaram que estava por vir uma chuva bem forte. Era melhor nos abrigarmos com cobertores e aquecedores essa noite. Eles se sentaram no sofá e notei a Mari olhando para os dois, tentando disfarçar a curiosidade. Será que desconfiava que também eram vampiros? Todos nos ajeitamos no sofá.

— Como foram as buscas? — Disse.

— Nada! — Shawn estava mais sério que o normal.

— O que vamos fazer? — Ally esfregava uma mão na outra repetidas vezes, estava nervosa. Jamie sentou ao lado dela e tentou reconfortá-la, mas ela apenas o abraçou e começou a chorar.

— Nós precisamos encontrá-lo! Não podemos ficar aqui parados! Temos a noite toda! — Levantei-me do sofá e engoli em seco. Sentia que precisava fazer alguma coisa, mas sabia que minha ajuda era inútil.

— Não! Você não pode nos ajudar! — George se adiantou.

— Por que não? — Comecei a me irritar, mas era tudo consequência do nervosismo e da preocupação.

— É perigoso e vai cair um temporal.

— Temporal? — Senti o sangue fugir do rosto ao lembrar de uma coisa.

— Ani? — Ally me chacoalhou de leve e me obrigou a sentar de novo. — Você está bem?

— Minha tia! Ela saiu e vai cair um temporal! Ela está sozinha, eu acho...

— Quer que eu e os meninos vamos atrás dela? — Falou Shawn. No mesmo instante ouvimos o barulho de chaves na porta e todos congelaram em suas posições, prendendo a respiração.

— Oh! Olá, queridos! Não sabia que estava tendo reunião aqui... — era tia Annie que entrara na sala e observara a cena sorrindo, enquanto fechava a porta. — Entendo que tenham desistido de sair.... O tempo está horrível lá fora.

— Tia! Graças a Deus você voltou antes da chuva! — Saí do sofá e corri para abraçá-la.

— Sim, querida. Não queria pegar aquela chuva. Quem são esses? — Os olhos dela brilhavam curiosos.

— Ah. Esses são George, Bryan, Jamie e Shawn. — Disse e eles a cumprimentaram conforme seus nomes eram ditos.

— Prazer em conhece-los, queridos! Podem me chamar de Annie ou de tia. — Sorria gentilmente.

— Certo, tia Annie. — Os quatro responderam em sincronismo perfeito, fazendo com que todos começássemos a rir.

— Vou fazer um lanche para vocês!

— Não precisa se incomodar! Estamos de saída. — Shawn se pronunciou e começou a se levantar.

— Não! De maneira nenhuma! Com esse temporal é melhor que durmam aqui essa noite. — Disse minha tia já na cozinha.

— O quê? — Mari, Ally e eu perguntamos juntas.

— Não se preocupem, meninas. Minha casa tem quatro quartos e vocês podem dividir.

— Tudo bem. — Mari foi a primeira a se recuperar do choque.

— Por mim tudo bem. — Ally sorriu, alegre.

— Não. De jeito nenhum, podemos ir para casa antes do temporal. — Shawn falou já de pé.

— É verdade. Não moramos longe. — George completou e se levantou também.

— E estamos esperando visita. — Bryan emendou.

— Certo, vocês vão e eu fico. — Jamie sorriu e se ajeitou ainda mais no sofá.

— Jamie! — Os outros três o repreenderam.

— Que foi? — Fez cara de inocente.

— O rapaz pode ficar se quiser. — Ouvimos a risada de tia Annie na cozinha.

— Viram? — Jamie cruzou os braços e fez bico.

— Não. Não podemos aceitar. Desculpa, tia Annie. Quem sabe outra vez? — Shawn se dirigiu até a porta, enquanto Bryan e George arrastavam Jamie.

— Até outro dia. — Despediu-se Bryan.

— Até a próxima. — George falou com um pouco de esforço.

— Injustiça! — Jamie gritou e tentou se debater.

Depois que saíram, nós três trocamos de roupa para dormir. Cada uma ficou em um quarto diferente e Ally avisou a mãe que dormiria aqui. Ficamos conversando até tarde em um dos quartos antes de nos separarmos outra vez. Assim que fiquei sozinha, deixei minhas lágrimas escaparem, mesmo sem saber porque estava chorando. Nem percebi que as havia segurado esse tempo todo.... Sabia que eram lágrimas de preocupação. Talvez até de saudade.... Realmente achei que o veria hoje e criei muita expectativa, mas não foi o que aconteceu. Fitei o buquê ao lado da cama e as lágrimas aumentaram seu fluxo. Meu coração gritava pedindo informações, insistindo que havia algo de errado, mas não conseguia entender todo esse drama. Estava desaparecido há apenas algumas horas.... Talvez precisasse ficar um pouco sozinho.... Ouvi um barulho do lado de fora da janela da pequena sacada do quarto e sentei-me na cama imediatamente. Ouvi outro barulho e meu coração disparou. Ouvidos atentos aos sons, todos os sentidos em alerta. Levantei da cama e segui em direção a sacada tentando enxugar as últimas lágrimas que escorriam. O sentimento que predominava agora não era a tristeza, mas sim o medo e a curiosidade.

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