Cap. 14 - Um Encontro?

Ao acordar na manhã seguinte me levantei e segui me arrastando até o banheiro, tomei um banho demorado, coloquei uma roupa e desci para tomar café da manhã. Depois escovei os dentes e peguei meu celular no quarto. Estava com um astral tão baixo, que até meu irmão me perguntou se estava bem, e como sempre faço quando me perguntam isso, disse que estava só com sono porque havia dormido mal.

Peguei a mochila, me despedi da família e saí de casa rumo ao colégio. Mais ou menos na metade do caminho, percebi que as pessoas que acordavam e saiam às ruas para respirar o ar fresco da manhã, me olhavam diferente hoje, pois todos pareciam estar com um ar entristecido. Vai ver que também estavam chateados com alguma coisa. Troquei a música que tocava e quando a operadora voltou a ter sinal, o toque de mensagem disparou: "Preciso falar com você. Não posso mais caçar sozinho. Jantar na sexta?". A mensagem era de Shane e assim que meu cérebro processou a informação, meu coração disparou e parei de caminhar por alguns instantes. Mal percebi que sorria tão alegremente até notar as pessoas sorrindo de volta ao meu redor e me cumprimentando. Talvez minha professora de literatura tivesse razão... o mundo fica triste quando estamos tristes, mas se alegra se estivermos alegres. O mundo reflete o estado da sua alma. Troquei novamente a música do celular e digitei a resposta da mensagem.

"Como faremos para nos encontrar? E onde? Que horário?"

"Vou sair escondido com o Jamie e ele vai te buscar em casa como se fossem sair só os dois. Ele diz que sua mãe vai deixar se for ele a te chamar." A resposta veio assim que cheguei ao portão da escola.

"Mas onde e que horas vamos nos encontrar?"

"Vou encontrar vocês na frente do "Coffe's Point". Minha irmã também vai conosco. Vamos no fim da tarde."

"Ok. Até lá."

Entrei na sala de aula e tive que deixar o celular de lado. Mal processei que sexta-feira era amanhã. Ally não viera a aula hoje e decidi passar na casa dela à tarde para entregar a matéria que havia perdido e também para conversarmos um pouco sobre amanhã. A manhã passou rápido e logo estava voltando para casa feliz e saltitando pela rua, cumprimentava todo mundo com um sorriso animado e não me importava se estavam rindo de mim ou não. Ao chegar em casa, minha mãe estranhou toda a minha felicidade e perguntou o que havia me deixado tão feliz e meu irmão então respondeu que não devia ser alguma coisa, mas sim alguém.

— Alguém? — Minha mãe estava desconfiada, mas sorria.

— Não, mãe. Ninguém.

— É alguém sim. — Cochichou na orelha dela.

— Fique quieto, Renan. Eu sei coisas sobre você!

— E eu sobre você!

— O que vocês sabem que não sei? — Minha mãe nos encarava com as mãos na cintura e batia um dos pés no chão repetidamente, uma marca clara de impaciência.

— Nada. — Corri escada acima com a mochila pulando nas costas. Queria tomar outro banho e descansar um pouco antes de ir na casa de Ally. Após o banho e o almoço, deitei na cama, peguei meu celular e o alarme de mensagem disparou mais três vezes. Que ótimo serviço de operadora...

"Até sexta".

"Oi, amiga! Não pude ir à escola hoje e te deixei sozinha naquele inferno. Desculpe! Você pode vir aqui em casa hoje à tarde? Quero falar com você. Bjs!".

"Analice! Estou tão feliz! Logo vamos voltar a morar na mesma cidade! Como você está? O pessoal daí é legal? Como é o lugar?".

A primeira mensagem era de Shane, a segunda de Ally e a terceira de Mariany. Disse a Ally que já pretendia passar na casa dela mesmo e que iria lá por volta das três ou quatro da tarde. Para Mari, informei que também estava feliz pela mudança, que estava bem e que o lugar e as pessoas eram adoráveis. Falei também que estava ansiosa pela chegada dela e encerrei a mensagem mandando beijos para ela e a mãe.

Acabei dormindo pelo resto da tarde e só acordei quando meu irmão me chamou dizendo que ele e minha mãe iriam na casa da tia Annie para brincar com a Mina. Levantei às pressas e pedi para que me esperassem porque queria ir junto. Desci as escadas correndo, ainda calçando um dos pares do tênis e quando cheguei ao primeiro andar, já haviam saído da casa. Peste! Ele não avisou minha mãe. Corri até o carro que já estava em movimento e minha mãe parou bruscamente. Hoje meu pai tinha deixado o carro em casa, para a sorte dela. Não precisaria espera-lo chegar porque fora de táxi. Ao chegarmos em nosso destino, falei para minha mãe que iria visitar minha amiga, que morava logo ao lado, mas ela aprontou um chilique e me proibiu de sair da casa da tia Annie. Tentei argumentar, mas foi inútil. Me deu outra bronca e disse que se continuasse mal-humorada, não deixaria mais nem que viesse na casa da tia Annie. Achei ridículo, mas raciocinei que não deveria estar tendo um dia muito bom e geralmente não age dessa forma. Tia Annie atendeu a porta completamente feliz por nos ver. Pensei bem e resolvi sorrir sinceramente, não merecia que a tratasse mal.

— Posso chamar a Mina? — Meu irmão falou saltitante.

— Claro. — Minha tia sorriu, apesar da pergunta não ter sido para ela.

— Só se sua irmã for junto. — Instruiu minha mãe, provavelmente querendo estipular um castigo por ter discutido.

— Mas a Ally é irmã... — tapei rapidamente a boca do meu irmão e o arrastei para o quintal dos fundos.

— Por que fez isso? — Ele não parecia muito feliz.

— Você fala demais.

— Chata! Vamos chamar logo a Mina e o irmão dela. — Riu para terminar de me provocar.

— Vai logo chamar sua namoradinha. — Entrei no jogo e lancei meu trunfo. Meu irmão me olhou zangado, mas foi até a cerca na lateral do quintal e chamou por Mina. Passei a observar o local e notei uma árvore alta com uma casa de madeira em cima. É claro! A casa que o tio Camillo fez para mim quando era pequena. Costumava vir aqui com meus pais passar as festas do fim do ano e em uma dessas visitas meu tio construiu a casa para mim. O dia que prometeu o projeto, meus pais tiveram que me deixar na casa dos meus tios, porque precisavam fazer uma viagem apenas os dois e para me distrair, meu tio inventou de construir a casinha. Ao vê-la ali novamente, meus olhos se encheram de lágrimas e fui obrigada a respirar fundo e sentar no degrau frio da varanda para me recompor.

— Ei! Planeta Terra chamando Ani! Planeta Terra chamando Ani. Cambio! — A voz de Ally soou de algum lugar do quintal e me levantei de repente.

— Oi, Ani! — Gritou uma vozinha infantil que logo encontrei me espiando por cima da cerca, do outro lado.

— Mina! Ally! Que bom ver vocês. — Corri até a cerca e meu irmão me acompanhou.

— Você pode nos ajudar, Ani? Vamos pular aí! — Ally segurou Mina de maneira que pudesse se equilibrar por cima da cerca e cheguei mais perto para ajudá-la a aterrissar em segurança. Assim que Mina desceu, ela e meu irmão começaram a correr pelo jardim. Logo depois Ally pulou também e aterrissou ao meu lado.

— Queria mesmo falar com você.

— E eu estou tão feliz!

— Por quê? — Disse confusa, mas acabei sorrindo.

— Peguei o celular do meu irmão e vi as mensagens que te mandou. Também li suas respostas. Estou ansiosa para amanhã!

— Fale baixo. Você também vai, certo? Diga que aceitou, por favor.

— Sim, aceitei. — Riu da minha preocupação, como pensei que faria. — Só é uma pena ter que ficar segurando vela...

— Mas eu também vou. — Ri da situação, mas meu coração havia disparado por algum motivo.

— Não tenha tanta certeza disso... — Ally sorria maliciosamente.

— Como assim?

— Quem sabe meu irmão finalmente toma coragem e te beija.

— Quê? — Quase gritei.

— Calma! Estou brincando. Mas até parece que você não ia gostar...

— ALLY!

— Relaxa. — Gargalhava. Não entendi a graça.

Ficamos caminhando atrás de nossos irmãos por um longo tempo até termos a ideia de subir na casa da árvore e verificar se ela não caía. Estava em boas condições e isso quer dizer que não desabou. Renan e Mina ficaram andando pela varandinha que circundava a casa e começaram a colher mangas.

— Parem! Vocês podem cair. — Ally alertou e no mesmo instante os dois pararam de correr e sentaram-se na varanda da parte de trás para observar o horizonte. Ficamos observando de dentro da casa pela janela.

— Ei, Ally. — Sussurrei. — Não parecem um casalzinho?

— Sim. — Segurou o riso. — Tão fofos...

— São mesmo. — Falei alto demais. As duas crianças olharam para trás e nos pegaram no flagra, ambas rindo da situação.

— Do que estão rindo? — Mina se pronunciou primeiro.

— Nada. — Dissemos juntas.

— Do que estão rindo? — Meu irmão falou em tom bravo.

— Estamos rindo porque vocês parecem um casal em miniatura. — Tentei dar um tom ameno a revelação, mas no mesmo instante os dois ficaram vermelhos de vergonha. Mina continuou sentada, mas meu irmão levantou e desceu as escadas da casinha correndo até a casa da tia Annie.

— Vou atrás do seu irmão! — Ally anunciou já nas escadas.

— Não. Ele é meu irmão...

— Fique aqui com Mina. Ela confia mais em você do que em mim. — Ally piscou e terminou de descer. Virei-me para Mina que chorava.

— O que foi? — Dei a volta na casa e sentei-me ao lado dela, passando o braço ao seu redor.

— O Renan não gosta de mim? — Disse com a voz de choro.

— É claro que gosta. — Tentei medir as palavras para não falar merda de novo e tirei os cabelos dela da frente do rosto.

— Mas por que ele saiu correndo? Qual o problema de parecermos um casal? A gente sabe que não é. E se fossemos, qual seria o problema? — Encarei a garotinha, perplexa. Não sabia o que dizer, então a abracei.

— Não haveria problema algum. Ele gosta de você sim. Só acho que antes de se preocuparem com esse tipo de coisa deveriam se divertir como amigos e esquecer um pouco essa parte adulta de vocês... — me afastei para poder vê-la melhor.

— Obrigada. — Terminou de secar as lágrimas. — Mas por que você e meu irmão não pensam ainda no seu mundo adulto? Vocês não são mais crianças e é óbvio que se gostam.

— Quem foi que te disse isso? — Forcei um sorriso, mas não consegui disfarçar que estava envergonhada.

— Me disse o que?

— Nada. Esqueça. — Ally estava voltando com meu irmão e subiu a escada pela metade.

— Ani! Sua mãe pediu para te chamar. Parece que vocês já vão embora.

— Certo, mas e o conteúdo de hoje? Nem consegui te passar...

— Amanhã você me passa. Até mais!

— Certo. Tchau, Ally. Tchau, Mina! — Terminei de descer e corri para dentro com meu irmão. Tia Annie e minha mãe estavam em pé ao lado da porta.

— Vamos logo, crianças! Quero chegar em casa antes de anoitecer e ainda temos que passar na padaria.

— Tchau, tia Annie! — Meu irmão a abraçou e saiu correndo até o carro com minha mãe.

— Até mais, tia. — A abracei e ao fazer isso, sussurrou em meu ouvido.

— Não se preocupe. Vou ajudá-la a sair amanhã. — E elevou a voz. — Até mais querida!

— O que...? Como você sabe? — Tia Annie já me empurrava porta afora e me fazia sinal para que ficasse calada. Obedeci e resolvi ignorar o ocorrido. Entrei no carro e acenei para tia Annie, que fechava o portão. Minha mãe arrancou com o carro e acelerou pela pequena rua de paralelepípedos. Paramos em uma padaria e fiquei mexendo no celular até por algum motivo resolver olhar o retrovisor. Do outro lado da rua, estava a floricultura da Senhora Jasmine, que era o mesmo local em que a senhora me dera a rosa branca. Vi Jamie sair de lá com um ramalhete de rosas vermelhas e acreditei que Ally talvez tivesse uma pequena surpresa... ou será que as rosas eram para convencer minha mãe de que o encontro era com ele? Continuei espionando seus movimentos pelo retrovisor do carro até que outra pessoa saiu da loja, Shane estava com ele. Meu coração disparou e desejei poder segui-los, mas isso estava fora de questão. Minha mãe havia retornado e deixara os pães cheirosos no meu colo para que os carregasse até em casa. Meu irmão sentou no banco de trás e ela ligou o carro novamente.

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