Cap. 12 - Acusada de Paixão
— Não precisa dizer nada. — Caminhava a passadas firmes e com os punhos cerrados e Jamie vinha logo ao meu lado com uma expressão preocupada.
— Não ligue para o que ele disse...
— Não me importa o que disse! — Engoli a vontade de chorar e aumentei minha velocidade como se não fosse capaz de me acompanhar assim. — Eu é que não quero ficar perto dele! — Elevei minha voz como se Shane pudesse ainda me ouvir.
— Como assim "não se importa"? — Me alcançara novamente.
— Não me importo! — Repeti tentando acreditar nas palavras que dizia.
— Mas pensei que...
— Seja lá o que você tenha pensado, pensou errado!
— Tudo bem. Sendo assim... pensei que você realmente não gostasse dele e que tivesse medo dele, mas acho que me enganei... — estava com um sorriso brincalhão.
— Você! — Tentei pensar em algo para contradizê-lo, mas foi inútil e acabei rindo. — Você não existe.
— Os cientistas acreditam que não. — Agora seu sorriso era de desdém.
— Se os próprios cientistas não acreditam, quem sou eu para discordar?
— A pessoa que já me viu pessoalmente e sabe que sou real!
— E se você for apenas minha imaginação?
— Então sua mãe e seu irmão também estão me imaginando...
— Boa.
— Sim, foi mesmo. — Seu sorriso era triunfante. — Mas fale a verdade, por favor. Você ficou chateada com o que o Shane disse, não é? — Fiquei admirada com a rapidez que sua expressão divertida se transfigurou em uma mais séria. Caminhei por mais alguns minutos antes de responder, talvez tentando encontrar alguma mentira que convencesse até a mim mesma, mas não consegui. Respirei fundo e optei por dizer a verdade.
— Sim. Fiquei e ainda estou chateada.
— Sei que você quer chorar, posso notar pela sua expressão. Deixe as lágrimas limparem sua alma, chore, prometo não contar a ninguém.
— Por quê? Diga-me! Não consigo entender a razão por ter dito aquilo e não consigo entender porque me afetou tanto! — Falei entre soluços e lágrimas, abraçando-o com força.
— Acho que só estava nervoso, talvez com medo. Ficou com receio de perder o controle e tentou te afastar o mais rápido possível. — Tentei de verdade acreditar em suas palavras e de fato faziam sentido, mas não consegui parar de chorar por alguns longos minutos. Ficou em silêncio até que parasse completamente de chorar.
— Certo. É melhor voltar para casa agora. — Enxuguei as últimas lágrimas insistentes e me afastei dele.
Jamie me levou até em casa e me ajudou a entrar no meu quarto escalando a árvore, já que as portas e janelas estavam trancadas, com exceção da porta balcão na minha sacada. Assim que entrei no quarto, me perguntou se estava bem mais umas três vezes antes de ir embora. Confirmei e apesar de sentir que não ser bem verdade, pareceu acreditar e me deixou sozinha. Fiquei lendo até minha mãe voltar e, quando chegou, me informou que meu irmão não quisera voltar com ela. Me encarregou de buscá-lo por volta das quatro, disse que precisava ir ao mercado e que meu pai a encontraria lá assim que saísse do serviço.
Deitei novamente na cama depois que ela saiu e entrei no Facebook pelo celular. Comecei a ver as publicações dos meus amigos e de repente me peguei chorando de novo. Não queria estar sozinha, mas era exatamente assim que estava no momento. Não queria ficar chorando pelos cantos como uma manteiga derretida, mas era exatamente o que estava fazendo. Queria alguém com quem conversar, mas como poderia desabafar com minha nova melhor amiga, se a razão recente desse meu emocional abalado era o irmão dela? Acho que preciso reorganizar minha mente.... Não vale a pena me abalar assim por um rapaz como ele. Afinal, deixou bem claro que tudo que queria de mim eram beijos e coisas assim e quando recusei, me chamou de inútil. Não quero alguém assim. Fitei o relógio na cabeceira da cama, sem nem perceber que meu próprio celular marcava as horas. Três da tarde. Era melhor ir andando se quisesse voltar com meu irmão antes de escurecer.
Levantei da cama e fui direto ao banheiro, precisava de um banho para tirar a preguiça e a cara de choro. Coloquei uma roupa, calça jeans com uma blusa de manga comprida preta e calcei um tênis. Peguei meu celular e saí de casa após trancar tudo. Comecei a caminhar, coloquei meus fones de ouvidos e, coincidência ou não, tocavam apenas músicas tristes e românticas. Comecei a ficar com raiva e mudei a playlist. Precisava de alegria e agito. Escolhi Roar, da Katy Perry, porque queria me sentir forte e poderosa como um tigre, mas não percebi que estava cantando e dançando no meio da rua até notar os olhares alheios em minha direção. Pareciam curiosos, alguns sorriam e outros tinham expressões de assombro, mas ninguém ria como se estivesse ridícula, o que seria comum na minha antiga cidade. Passei a retribuir os sorrisos, mas parei de cantar e dançar.
Foi divertido e até me fez esquecer meu probleminha por um instante, mas logo tornou a me assombrar e quando isso aconteceu parei em frente a uma floricultura encarando um buquê de rosas brancas e vermelhas. Lembrei-me do desenho que fizera mais cedo e me veio à mente o que faria com ele depois de ter me tratado daquela forma. Chorei de raiva ao pensar que estava começando a gostar daquele garoto que acabara de me tratar como um objeto, até que uma senhora de uns sessenta anos saiu da loja e me dirigiu a palavra. Pensei que estivesse me mandando sair dali e tentei me despedir, mas ela me deteve pelo antebraço e só então entendi que estava me perguntando porque chorava.
— Não é nada.
— Se não fosse nada, não estaria chorando... — a senhora estava com um sorriso triste, era um pouco mais baixa que eu, morena, um pouco enrugada, suas feições eram tão delicadas como as das flores que vendia. Notei que a loja era dela, pois havia saído e largado uma cliente dentro da lojinha.
— Tudo bem. É que uma pessoa me magoou hoje. — Tentei freneticamente enxugar as lágrimas.
— Brigou com o namorado? — E me convidou a entrar na loja, mas recusei educadamente.
— Não era meu namorado, apenas um amigo. Sinto muito não poder entrar, mas preciso buscar meu irmão na casa da amiga dele. — Tentei me afastar da loja de novo, mas a senhora ainda segurava meu braço.
— O tempo só passa rápido se você começa a contá-lo com pressa. — A senhora sorria gentilmente. — Está bem. Não precisa entrar, mas diga-me o nome do rapaz e.... — colheu uma das rosas brancas no buquê — aceite essa rosa e cuide bem dela. Quando fizer as pazes com esse rapaz, e sei que fará, entregue-a a ele. Espere só um minuto, vou colocá-la num vasinho para que não morra. — E adentrou a loja rapidamente, logo retornou com a flor em um vaso de barro laranja e me entregou.
— Não tenho dinheiro agora...
— Não precisa. É um presente. Apenas sorria que isso pagará sua dívida. — Não pude deixar de me emocionar e sorrir.
— Obrigada, mas por que quer saber o nome do rapaz?
— Curiosidade! Gosto de conhecer novas pessoas e suas histórias.
— O nome dele é Shane.
— O sobrenome?
— Não sei...
— Ele tem uma irmã? É um nome bem incomum...
— Sim. Até onde eu sei tem duas irmãs.
— Ally e Mina? — A senhora sorria como se tivesse desvendado um grande mistério.
— Sim. Acho que é isso mesmo.
— Muito bem. São boas pessoas. Agora vá buscar seu irmão, está ficando tarde.
— Tudo bem. Obrigada novamente!
Fiquei muito surpresa com a gentileza daquela mulher e isso pareceu confortar meu coração. Seria tão bom se todas as pessoas fossem gentis assim... Estava agora em uma estrada de pedras, algumas árvores cercavam o caminho e se tornavam cercas naturais para as casas da vizinhança. No meio do caminho encontrei uma garotinha de cabelos castanho claro e olhos azuis. Tinha a pele clara e estava sentada ao lado de uma das árvores da estrada, chorando. Devia ter em torno de sete ou oito anos, a idade do meu irmão.
— Você está bem? O que houve? — Me aproximei da garotinha, que primeiro me olhou assustada, depois sorriu entre as lágrimas.
— Eu estava brincando com meu amigo, mas acabei saindo de casa ao tentar me esconder dele na brincadeira e não sei como voltar. Subi a cerca e acabei ralando o joelho... — a garotinha usava um vestidinho azul estilo Alice no País das Maravilhas e sapatilhas pretas.
— Qual é o seu nome?
— Mina Gentile. Minha mãe se chama Camille e eu brincava na casa da nossa vizinha, Annie Novak, com o sobrinho dela, Renan.
— Espere um segundo. Estava brincando na casa da minha tia com o meu irmão? — Não consegui disfarçar o espanto.
— Não sei quem é você. Como se chama? — A garotinha tinha se levantado e enxugava as lágrimas.
— Meu nome é Analice, também sou sobrinha de Annie e sou irmã mais velha do Renan. — Expliquei e lancei meu melhor sorriso simpático.
— Ah! — O rosto de Mina se iluminou. — Eu sei quem é você! Ally e Shane falam muito sobre você. — Segurei a mão dela e começamos a caminhar em direção a casa da tia Annie.
— Eles falam muito de mim, é?
— Sim. Quase o tempo todo.
— Falam bem ou mal? — Forcei uma risada de leve.
— Não sei. Nunca tentei prestar muita atenção. Pensei que você fosse outra garota tentando usar minha irmã para alcançar meu irmão.
— Por que pensou isso de mim?
— Por que quase todas as meninas da escola da Ally fizeram isso e ela se sente muito mal com isso faz tempo. Daí meu irmão inventou uma namorada imaginária para ele e disse a todos que estava comprometido. Todos acreditaram e Ally ficou sozinha depois disso.
— Ainda pensa isso de mim?
— Não. Há alguns dias ouvi uma conversa deles escondida e... não conte a eles! — A expressão dela era de medo e prometi não contar nada. — Meu irmão estava bravo com você porque não quis se aproximar dele.
— Mesmo? — Tentei segurar o riso.
— Sim. — Não conseguiu se conter e começou a rir.
— Do que está rindo?
— Foi engraçado. Shane começou a desabafar com Ally, que num certo momento, pediu licença para ir ao banheiro, mas na verdade, foi ao meu quarto pedir para chamá-lo para brincar comigo. Não aguentava mais ouvi-lo falar.
— Meu Deus! — Não pude deixar de rir dessa vez, até que me ocorreu uma coisa e minha expressão se tornou mais séria. — Mas, Mina, você brinca com seu irmão normalmente? — Parou de rir e encarou o chão.
— Então você sabe?
— Depende o que...
— Que meu irmão é um vampiro.
— Sim.
— E não quis fugir dele? Continua indo visitá-lo?
— Não estou indo visitá-lo!
— Ah. Mas acho que você deveria visitá-lo... Ele está muito chato porque pensa que você não gosta dele.
— Tudo bem... qualquer dia eu vou.... — Tentei convencê-la de que iria mesmo fazer isso e aproveitando que estávamos chegando, mudei de assunto. — Olhe! Estamos chegando! — Apontei um casarão laranja, o único da rua com essa cor, em estilo casa de campo com uma mistura de período colonial.
— Sim. Foi de lá mesmo que eu saí! — Mina saiu correndo na minha frente e tive que me apressar, mas logo parou de correr por causa do joelho e continuou a caminhar ao meu lado.
— Posso te perguntar uma coisa, Analice?
— Claro.
— Para quem é essa rosa?
— Ah. É que... uma senhora me pediu para entregá-la ao seu irmão...
— A senhora da floricultura? A senhora Jasmine?
— Acho que sim...
— Ela pensa que você está apaixonada pelo meu irmão!
— O quê? Por quê? Não!
— Não posso te contar o motivo, mas um dia você descobre. — Mina acelerou na minha frente e me obrigou a correr atrás dela. Entrou no quintal da minha tia pelo portão da frente e gritou. — Tia Annie! Onde está você? — No mesmo instante minha tia e meu irmão saíram correndo desesperados de dentro de casa e correram para abraçar Mina.
— Onde você estava menina? — Tia Annie segurava o rosto de Mina delicadamente, examinando-a por completo.
— Eu me perdi, mas a Analice me trouxe de volta. — Mina apontou para mim, que estava do lado de fora até agora.
— Analice? É você? Minha nossa! — Minha tia correu para me abraçar e me surpreendi com sua agilidade.
— Sim. Sou eu, tia. — Tentei me libertar do abraço sufocante dela.
— Quanto tempo!
— Sim. — Falei meio sem graça. Tia Annie tinha uns cinquenta e poucos anos, mas aparentava ter menos e isso sempre me deixava confusa. Seria plástica?
— Vamos todos entrar! Mina, vou fazer um curativo em você e daqui a pouco sua irmã vem te buscar. — E começou a se dirigir para o interior do casarão.
— A Ally vem aqui? — Me animei.
— Sim. Você a conheceu?
— Estudamos na mesma escola. — Disse seguindo-a.
— Querida... o que você está fazendo com essa rosa? — Falou ao passarmos pela porta.
— Ah. Eu trouxe para você. — Sorri e estendi o vaso a ela.
— Obrigada, querida! Que gentil.
— É mentira! É para o meu irmão! Por que entregou a tia Annie? — Mina parecia indignada.
— Porque é para tia Annie. — Falei entredentes, forçando um sorriso.
— Irmão dela? Por que daria uma flor ao irmão dela, Analice?
— Não é nada que a senhora está pensando! A senhora da floricultura me viu chorando na rua e me entregou isso para que desse ao irmão dela quando fizéssemos as pazes porque nós brigamos e....
— Por que vocês brigaram?
— Deixe para lá, Mina. Logo irão se entender. — Minha tia sorriu para tentar apaziguar a situação.
— Eu sei. — Resmunguei, mesmo achando que isso era uma aposta perdida...
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