Cap. 1 - Mudanças
Mudanças... acontecem o tempo todo. Não que sejamos obrigados a gostar delas.... Às vezes são para melhor... outras vezes pioram toda uma vida. E o que fazer quando as coisas mudam? Tentar entender o porquê de terem mudado e aceitá-las assim? Não sei. Mudar de casa, de cidade.... É complicado ser obrigado a deixar para trás tudo o que viveu.... Começar a construir uma rotina novamente. Um novo lugar... uma nova casa... novas pessoas... novos amigos.... É uma nova vida!
Estava feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz pelas mudanças boas na vida do meu pai (já que arrumara um novo emprego), mas triste por ter que deixar toda a minha vida para trás e começar a me socializar novamente. Não sou boa nesse tipo de coisa.... Estava digitando isso no meu diário virtual e refletindo sobre a vida quando...
— Que coisa mais boba! — Gritou meu irmão mais novo, Renan, em meu ouvido.
— O que...? — Assustei-me e quase derrubei o notebook no chão. — Sai já daqui! Me deixa em paz! — Gritei tirando-o do meu novo quarto. Renan tinha sete anos, olhos grandes e verdes, pele clara e cabelos loiros. Puxara a minha avó, diferentemente de mim que possuía cabelos escuros e olhos cor de mel em contraste com a pele também clara. Meu irmão estava sendo minha única companhia, além de meus pais, na nova casa durante as três semanas que se seguiram ao primeiro dia da mudança.
— A Tata é chata! — Gritou já fora do quarto. Não me pergunte porque ele me chama de Tata. Meu nome não tem nada a ver com Thaís, Talita ou Tatiane. Meu nome é Analice e não compreendo de onde tirou esse apelido.
— Me deixa em paz! — Fechei a porta com cuidado embora minha vontade fosse batê-la com força. Meu irmão queria me irritar e conseguiu. Era mestre na arte de irritar as pessoas, mas também sabia ser amoroso. Infelizmente, hoje não estava com paciência e o estado de espírito dele estava no modo irritante. Faz três semanas que não saio de casa. Minha mãe bem que tentou me fazer sair, mas não quis. Estava numa espécie de depressão pós mudança e queria ficar sozinha ao tentar me adaptar ao novo quarto e à nova casa.
Minha casa agora era um sobrado. Parecia uma casa de campo e inclusive descobri que morava perto de um bosque. Essa foi a única vez em que quis sair de casa, mas minha mãe não permitiu que fosse até lá, achando que seria perigoso. O desejo dela era que fosse para a cidade e tentasse conhecer novas pessoas e fazer amigos. Ainda estava de "férias", na verdade, só esperando a matrícula cair no sistema da escola para que pudesse passar a frequentá-la, enquanto isso os alunos já haviam começado as aulas há uma semana. Não podia usar a desculpa de que conheceria gente nova no colégio, portanto minha mãe acabou me convencendo a finalmente sair de casa e dar uma volta pela cidade, com ela, meu pai e meu irmão. O centro ficava há uns quarenta minutos se fôssemos de carro, ou seja, a cidade não era muito grande.
Chegando lá, meu pai estacionou em frente à um mercado e minha mãe me mandou passear um pouco pelos arredores (só me deixou ir sozinha porque a cidade era realmente pequena e o índice de criminalidade ali era extremamente baixo em comparação ao da nossa antiga cidade). Saí do carro e a primeira coisa que vi foi a placa de um grande estabelecimento que ficava do outro lado da rua, ao lado de uma pequena loja de roupas femininas. Era um daqueles cybers cafés. Achei interessante. Avisei minha mãe para onde estava indo, atravessei a rua e entrei. Assim que abri a porta, alguns rostos se viraram em minha direção, mas logo perderam o interesse e meu estado de paralisia inicial passou, fazendo com que me lembrasse de como se caminha.
Abaixei a cabeça e sentei-me em um dos pequenos sofás que ficavam em mesas para quatro, perto da janela, nos fundos. A decoração era feita em tons diferentes de marrom e creme. O chão era de madeira polida marrom e as paredes por dentro eram pintadas de um tom amarelo bem claro. Parecia até cenário de filme.... O sofá em que me sentei era confortável e possuía a mesma tonalidade de cor do restante do ambiente, a mesa na minha frente era cor de tabaco como todas as outras mesas do local e o balcão. Havia dois atendentes a vista, uma moça loira e um rapaz de cabelos escuros. Ambos pareciam entediados e usavam o uniforme marrom do local, que se chamava Coffe's Point. Assim que me sentei o rapaz veio até minha mesa e perguntou o que desejava. Como não tinha muito dinheiro no bolso, pedi o café mais barato do cardápio e a senha do wi-fi do local, que o atendente me informou ser gratuito. Conectei-me à internet e busquei algumas informações sobre essa pacata cidade enquanto esperava meu café. Não encontrei quase nada sobre a cidade e logo desisti da busca. O café chegou, mas já não estava com vontade de tomá-lo e fiquei jogando açúcar no café e mexendo distraidamente até que meus devaneios foram interrompidos por uma conversa.
— Oi. Você é nova aqui? Não lembro de ter visto seu rosto antes... — ouvi uma voz, mas acostumada a ignorância das pessoas da minha antiga cidade, imaginei que não estivesse falando comigo. Continuei mexendo tranquila o cafezinho, sem me importar com as figuras que haviam se aproximado da mesa onde estava.
— Não vai nem responder? — Ouvi outra voz em tom indignado.
— Que falta de educação! — Acusou uma terceira voz, quando finalmente levantei a cabeça e vi quatro rapazes parados me encarando com expressões que iam de irritação à confusão. Meu cérebro fez uma pequena notificação indicando que achou os rapazes muito atraentes.
— Desculpa. Peguei a mesa de vocês? — Achei necessário me pronunciar, já que agora tinha consciência de que estavam falando comigo.
— Ah! Ela tem voz! — O rapaz de olhos azuis e cabelos castanhos claros jogou as mãos ao ar, seu tom de voz soava irônico ou brincalhão. Sua pele era clara e não parecia ser muito alto.
— Sim, tenho, engraçadinho. — Ri sarcasticamente. — Enquanto a você... é fácil notar que tem...
— O que quis dizer com isso? — Arqueando as sobrancelhas, confuso, enquanto os outros rapazes riam.
— Que você fala demais? — Me permiti rir um pouco também.
— Bem... isso é verdade. — Disse com um sorriso divertido e sentou-se ao meu lado sem nem me perguntar antes se poderia. Os outros sentaram nos lugares vagos e tiveram que se espremer um pouco para caber os cinco numa mesa de quatro.
— Como vocês se chamam? — Me apertei mais contra a parede para dar-lhe mais espaço.
— O ser falante aqui se chama George! — Falou o rapaz que sentara ao meu lado apontando para si mesmo e sorrindo ainda mais.
— Eu sou o Shawn. — Falou o que parecia ser o mais sério do grupo. Seu físico parecia forte, era alto, olhos castanhos e cabelos castanho claros.
— Bryan. — O rapaz de cabelos castanho claros, um pouco compridos e cacheados, abriu um sorriso galanteador. Seus olhos eram verdes como esmeraldas brilhantes. Senti o rosto corar levemente.
— E eu sou Jamie! — Falou o mais baixo do grupo, que parecia muito simpático. Aliás, todos pareciam. Jamie tinha cabelos escuros e olhos azuis intensos contrastando com a pele branca, todos pareciam ter a pele muito branca. Será que não costumava fazer sol por aqui?
— E você? Qual o seu nome? — Shawn parecia me analisar, mas não me senti envergonhada ou intimidada. Por isso respondi tranquilamente.
— Meu nome é Analice. — Desliguei a internet do celular para prestar mais atenção na conversa.
— Ah sim. Mas você ainda não respondeu se é nova na cidade. — Disse George me encarando com um sorriso leve. Ele não parava de sorrir?
— É verdade! Sou nova sim. Mudei faz três semanas. — Recordei a imagem de minha nova casa, do meu novo quarto, do computador que deixei ligado no arquivo do diário... e ao lembrar que deixei o arquivo do diário aberto, provavelmente assumi uma expressão de pavor e devo ter ficado realmente pálida. Mesmo que não tivesse ninguém em casa no momento e que provavelmente o computador já tivesse hibernado, fiquei com medo que meus pais lessem o diário e descobrissem que estava triste por ter me mudado.
— Você está bem? — Shawn estava com uma expressão intrigada.
— Está bem pálida... — Comentou George.
— Estou bem! Desculpem! É que... lembrei que minha mãe está me esperando e preciso ir. — Falei tentando empurrar George para que me deixasse levantar e sair.
— Sei... acho que não é bem isso... — George permitiu que passasse por ele e tornou a se sentar onde estava antes. — Pode nos passar seu telefone? Podemos ajudá-la a conhecer a cidade. — Ofereceu. Tornei a me sentar, mas dessa vez na beirada da mesa, e comecei a ditar meu número sem nem me importar que havia acabado de conhecer esses garotos. Pareciam confiáveis. George pegou o celular que estava com Bryan e anotou o número rapidamente. Depois pediu meu celular e anotou o contato dele também, caso viesse a precisar.
— Onde você está morando? — Jamie falou finalmente, tomando parte da conversa após fazer um pedido ao atendente.
— Ahn... não sei explicar. Perto do bosque. — Falei evasivamente, não queria informar meu endereço a esses estranhos, por mais que parecessem confiáveis.
— Ah! Acho que sei onde fica. — Comentou Shawn esfregando o queixo pensativamente.
— Podemos te visitar qualquer dia? — Jamie sorria feliz, Bryan sorria ainda jogando charme e George e Shawn se entreolharam.
— Ahn... todos de uma vez? — Disse meio sem graça.
— Sim... por que não? — Bryan assumira uma expressão de confusão agora e cruzara os braços em frente ao corpo.
— É que acho que ainda é cedo para me visitar em casa.... Meus pais podem pensar mal, sabe? Acabei de chegar e....
— Ah! Certamente! Compreendemos. — Disse Shawn rapidamente.
— Mas podemos telefonar, não é? — George se pronunciou.
— É claro que sim! Agora... desculpem, preciso ir. Meus pais já devem ter terminado as compras e preciso voltar lá para ir embora. Até mais!
— Quem pediu batata frita? — O atendente chegou na nossa mesa no mesmo instante em que me levantei abruptamente e o resultado foi que a bandeja onde estava o pote de batatas fritas, saiu voando pelos ares. Enquanto o garçom olhava assustado, assim como os demais clientes, eu esfregava a cabeça dolorida por ter batido na bandeja de alumínio.
— Eu pego! — Gritou Jamie e saltou agilmente de seu lugar por sobre a mesa, se jogando no chão e pegando a bandeja no último segundo, impedindo a grande sujeira que teria causado.
— Ufa! — Soltei o ar que sem perceber havia prendido, ao notar o que tinha feito e me adiantei em direção à porta após pedir desculpas.
— Minhas lindas batatas... coitadinhas... sua assassina! — Falou Jamie, levantando-se do chão e abraçando o pote de batatas. Ao notar minha expressão confusa adiantou-se em explicar, com um sorriso inocente no rosto. — Eu amo batatas! São minha segunda família!
— Ok... desculpa, então. Agora preciso mesmo ir! — Falei saindo correndo pelo lugar até chegar nas portas de vidro, pude ouvir as pessoas rindo da cena que presenciaram e os outros meninos se despedindo de mim.
— Da próxima vez, cuidado com as batatas! — Gritou Jamie no instante em que fechei a porta do Café.
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