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"Homem. Compro um beijo. Pagamento a combinar"

COMO é que vai ser Miguel?! Vai esperar que outro jornal cubra essa história para você finalmente me entregar a matéria?

Encolho na cadeira na frente do meu chefe que está brigando comigo. Odeio levar esporro assim, mas a realidade é que eu tenho é sorte. Ele ainda não colocou a jornalista tradicional de capa dele para cobrir essa história. E ele sabe o quanto é boa. Outros jornais já estão de olho.

O anúncio está um pouco amassado em meu bolso e já perdi as contas de quantas vezes eu olhei. Também já perdi as contas de quantas vezes eu liguei para aquele maldito número.

O tal sexo masculino do anúncio está virando algo como uma lenda urbana de boa sorte. Esse cara encontra essas pessoas que estão interessadas em vender seu beijo, e depois de uma conversa, beijo ou sei lá o quê, aparecem mensagens de agradecimento nos classificados.

Me chefe está roendo as unhas para que eu descubra toda a verdade por trás do homem do anúncio. Ninguém ainda conseguiu encontrar esse homem cara a cara. Todos os pedidos de entrevista que foram feitos para ele foram negados.

Mas os pedidos de leitores do jornal, entrando em polvorosa, praticamente implorando uma matéria completa com o homem dos anúncios estão se empilhando com muita velocidade. Já que ele não é muito de aparecer, não conseguimos entrar em contato com uma pessoa que verdadeiramente entrou em contato com ele.

— Quer saber? Cansei disso! — ele resmunga, jogando as mãos para cima.

Penso que ele vai me demitir, mas apenas se levanta, escancara a porta do seu escritório e grita para todos os jornalistas que estão trabalhando.

— Se o que vocês estão fazendo puder esperar, que espere! Quero todos vocês focados em conseguir uma capa e matéria com o musicista do anúncio! Quem conseguir vai ganhar um segmento novo no jornal, e a matéria vai ser a capa! — ele anuncia e um burburinho toma de conta do escritório.

Merda!

Tiro meu celular de trabalho do bolso e tento mais uma vez conectar com o número que ele forneceu no anúncio, porém, se tiver realmente alguém do outro lado, não atende. Tento outra vez, ocupado.

Merda!

Quem é que em sã consciência responde a esse tipo de anúncio?

— Gosto de você Miguel, então vou te dar uma chance de sair na frente — meu chefe fala, fechando a porta do escritório novamente. Abrindo sua gaveta, ele retira um pedaço de papel dentro. — Esse é o número de uma mulher que supostamente encontrou o rapaz do anúncio e está disposta a falar.

— Obrigado Tavares! O senhor não vai se arrepender!

Apanho o papel e saio correndo do escritório, já ligando com a mulher e marcando um encontro com ela. Escolho um café próximo ao trabalho e a mulher atrasa meia hora.

A conversa com ela não é nada produtiva e com os detalhes que ela me fornece não consigo produzir nem meia nota de rodapé ligeiramente interessante. Quando percebo que aquilo é uma completa perda de tempo, dou uma desculpa qualquer e vou embora, mas pelo menos pago a conta.

Não volto mais para o escritório, não quero ter que encarar o chefe e dizer não consegui nada para a matéria. Coloco os fones de ouvido e ponho a minha playlist favorita para tocar. Me sinto bem mais animado quando chego em casa.

Animado e com fome. Vou direto para a cozinha, e abrindo o congelador, escolho o meu sabor favorito de pizza congelada e ponho no forno.

Ligo para a minha melhor amiga. Ela atende no segundo toque.

— Oi pitico! — sua voz me faz sorrir.

— Oi Ali!

— O que você conta de bom nesse fria noite de quinta-feira? Se você ligou para cancelar o nosso encontro de amanhã, sinto muito, mas já passou o tempo de pular fora! Vai sair comigo sim, nem que eu tenha que buscar pelos cabelos!

— Eu vou! Pode deixar meu cabelo no lugar!

— Ainda bem que você sabe o que é melhor para o seu couro! E aí, você tem alguma novidade com o carinha lá do anúncio?

— Hoje eu falei com uma mulher que teve contato com ele. Só fez aumentar a minha curiosidade. Quer vir aqui em casa hoje e eu te conto todos os detalhes com calma e com pizza?

— Oferta tentadora pitico, mas infelizmente eu tenho que trabalhar. E você já colocou um timer pra não repetir o que aconteceu da última vez?

— A pessoa não pode nem incinerar o jantar uma vez que ninguém me deixa esquecer! — mas realmente tinha esquecido de fazer isso, então continuando a conversa, abro o aplicativo em meu celular e coloco um temporizador para não descuidar.

— Tiveram que evacuar o prédio. As onze da noite! Eu estava com uma máscara de argila na cara! Argila!

— É, mas mesmo assim você ainda arrumou um encontro naquela noite! O bombeiro daquele dia hoje é o seu namorado, então nem sei o motivo de você estar perturbando o meu juízo!

— Não estou perturbando, apenas lembrando os fatos. Amanhã você me conta tudo, pode ser?

— Claro! Até lá! Vou deixar você voltar pro trabalho! Amo tu cara de tatu!

— Também te amo pitico!

Tiro o anúncio do bolso e apanho o celular do escritório para tentar ligar mais uma vez para o número do anúncio. E antes mesmo que eu possa apertar o botão para realizar a ligação, o celular desliga. Grande porcaria!

Pego o meu número e sem nenhuma esperança disco o número. E como sempre, do outro lado da linha só chama. Estou quase desistindo até que...

— Alô? 

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