DIA 1

  Como foi seu aniversário de 15 anos?

   Idealizei meus quinze anos como o dia mais feliz da minha vida. E não foi. Uma semana antes do meu aniversário eu decretei que não queira nada. Nem um bolinho? — perguntava minha vó todos os dias (momentos de doçura). E eu dizia com firmeza: nada, não quero nada.

Eu não queria fazer festa só para que a minha família que vive falando mal de mim viesse comer e beber, e nem ao mesmo traria um presente. Evito confraternizações em família.

Eu acreditava que com quinze anos eu teria um namorado perfeito (sim, sei que sou iludida), mas não tenho um namorado, e de fato acho melhor assim, não preciso de mais problemas, e homens podem ser pura desgraça.

Também acreditava que eu estaria lindíssima, minha autoestima seria imbatível. Mas está tudo ao contrário, eu mal consigo me olhar no espelho, e quando olho só vejo defeitos. Fotos? Não tiro faz meses, abrir a câmera do meu celular me faz sentir raiva.

Você. Você mesmo, que lerá isso, (ou escutar, sei lá). Sei que alguém está lendo minha mente, ou escutando. NÃO SONHE MUITO ALTO! A queda é brusca, esse é um aviso de uma ex sonhadora irracional.

Como disse o pensador contemporâneo Rust Cohle: "Eu me considero realista, mas, em termos filosóficos, sou chamando de pessimista". Nunca concordei tanto com uma frase.

Mas voltando aos meus 15 anos, sei que não posso ser radical e dizer que "ninguém terá um namorado aos 15 anos, ninguém terá a festa dos sonhos e ninguém terá a autoestima imbatível", ninguém é muita gente.

Sei que muitas pessoas são felizes e realizadas. O mundo não gira em torno do me eixo.

É muito ruim sentir que minha vida não está andando. Todos fazem algo de bom, trabalham, fazem curso, namoram, saem, são felizes. Mas eu estou em estágio vegetativo.

...

O corredor do colégio está vazio, tão vazio quanto minha barriga. O único barulho que consegui ouvir foi o do meu estômago roncando, já que não tive tempo de tomar café. Eu acordei 30 minutos atrasada, e isso significa que não pude pentear meus cabelos, nem me vestir adequadamente. Estou de moletom e um coque que parece mais um ninho de pássaros.

Eu não consegui dormir noite passada. Tirei um cochilo por volta das quatro e meia da manhã. Isso tem se tornado rotineiro, não dormir, ou dormir demais.

Ando até o campo de futebol, sei que todos devem estar lá. Todo dia antes das aulas os meninos jogam uma partida de futebol.

Rachel está sentada no gramado olhando eles jogarem, quando ela me vê estendeu um copo de café em minha direção.

Me sento ao lado dela e pego o copo de café.

— Obrigada.

— Bom dia Spencer, como vai? — ela sorri para mim genuinamente.

A não. Essa pergunta não. Por favor.

— Você gosta de assistir eles jogando? — pergunto tentando mudar o foco da conversa.

— Não muito, eles não jogam bem — ela ri e nos zombamos por um instante.

Distraío minha mente ao ficar olhando as perninhas deles correndo a todo vapor. É engraçado.

Boom! É o barulho que a bola faz ao se encontrar com a minha cabeça.
Foi rápido demais, não tive tempo de desviar e agora estou estirada no chão com as mãos na testa tentando me livrar da dor que se instalou na minha cabeça.

Levanto devagar, o sol bate em meus olhos me fazendo recuar e fechar os olhos. Aos poucos abro meus olhos e vejo que Rachel está tentando segurar o riso.

— Pode rir, eu sei que você quer — fico em pé e pego minha mochila, por sorte não entornei café em mim. — Quem foi o filha da puta?

Essa era pra ter sido retórica, mas não foi. Graças a uma voz masculina e grossa que me arrepiou dos pés a cabeça.

— Me desculpe, por favor, foi sem querer. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? — um garoto de pele clara e cabelos negros me olha preocupado.

Ele é perfeito. Perfeito demais. Fecho minha boca que estava aberta, a beleza de é tão chocante que me tirou um sorriso.

— T-tudo bem, foi sem querer. Não preciso de nada, obrigada — tento parecer educada ou algo do tipo, mas tenho a sensação que aparentei ser uma bocó.

Pessoas do sexo masculino me fazem sentir tensão. Principalmente se forem como esse garoto. Na verdade, acho que ninguém pode ser como ele.

Eeh-eeh-eeh, uh-uh-uh-uh
Você é único!

A música da Taylor Swift que vem me azucrinando dia e noite ecoa em minha mente, tão infantil quanto a música.

Mas não posso negar, querido você é único. Então me tome como sua e faça de mim o que quiser, com tanto que eu esteja em seus braços.

Ta! Okay, pirei.

Ele é só mais um garoto bonito que nunca vai olhar para mim. Aliás, se fico nervosa perto de pessoas do sexo masculino isso significa que sou 100% hétero?

— Tem certeza? Posso te levar a enfermaria.

— Certeza absoluta, obrigada — dou um sorriso nervoso e saio apressada do campo.

...

Tenho certeza que minha bisavó foi amaldiçoada amorosamente, e essa praga irá permanecer até a terceira geração das mulheres da minha família. Wow, isso significa que as minhas futuras filhas que nunca irão nascer, não serão alcançadas por tal praga.

E essa praga termina comigo, até entendo eu sou um ímã de coisas ruins. E mesmo que que não houvesse praga eu seria uma merda no amor.

Minha vó foi, casou com um homem que não amava. Porque tinha sido expulsa de casa e não tinha onde ficar, fora o mais doloroso, ter um um filho, resultado de um estrupo.

Minha mãe é, está com um homem ruim. Ruim de mais, que bate nela, humilha, e maltrata. Mas ela não o-larga por nada. Larga a filha mas não larga o marido.

E eu, que estou olhando para o garoto mais bonito dessa escola. Talvez da cidade. Ele conversa com seus amigos jogadores e sorri, tão feliz que chega a me contagiar.

Estou algumas mesas longe dele, então ele não consegue ver que estou o analisando da cabeça aos pés.

Acho que é um pouco tarde para tentar não me apaixonar. Eu deveria ter escutado a Rachel e a Evelyn, quando ambas disseram para mim que eu deveria ir com calma.

Mas não dá, Ariana Grande sabe disso.

Tryna get a hold of my emotions
But all that I know is I need you close — cantarolou uma parte da música dela que diz o que eu realmente sinto.

Me sinto lisonjeada por ser inspiração de uma música dela.

...

Estranhamente meu dia foi calmo, não foi triste, isso me deixa entediada.

Sabe quando uma coisa se torna rotina na sua vida, e simplesmente essa coisa deixa de ser rotina?

Então, é assim que me sinto quando não sinto nada.

Eu sei meu caro amigo, você deve estar se perguntando: "Essa garota é completamente louca?"

Mas se você não entende a lógica em ficar entediada por não sentir nada, você não pode continuar na minha mente. Então por favor, sem mais delongas, se retire da minha mente perturbada.

Por isso não desabafo com ninguém, ninguém entende, ninguém quer entender. O bagulho é ser uma bomba relógio mesmo.

A caminhada para minha casa é normal. Mesmas ruas, mesmos estabelecimentos e até as mesmas pessoas. Tudo igual, menos essa chuva em pleno verão. E claro, eu não estou preparada.

Corro para a porta de uma igreja que tem cobertura. Igreja que não vou fazer tempo, e com certeza serei obrigada a ir no domingo de manhã.

Me sento nos degraus que ficam praticamente na porta da igreja e pego meu celular, junto com meus fones de ouvidos.

Não está tão tarde, acho que posso ficar um tempo sentada nas escadarias dessa igreja, apenas escutando uma música e sentindo os únicos momentos de paz que tenho.

You seem to replace your brain with your hearta garota chorona chega para tornar minha tarde melancólica.

É disso que eu preciso. Vou ficar aqui sentido esse frescor que a chuva está trazendo. E depois irei ver o arco íris brilhar em 7 tons diferentes e coloridos. Uma pena que para mim depois da tempestade não vem o arco-íris, não para mim.

músicas do capítulo completamente aleatórias. MP3

ME! — Taylor Swift feat Brendon Urie
needy — Ariana Grande
Cry Baby — Melanie Martinez

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