Capítulo 09


A Sra. Hildabrant não estava exagerando.

Repito: não era exagero.

Na quinta-feira da mesma semana, uma reunião do corpo docente foi convocada pelo Vice-Diretor após a liberação dos alunos. Jamie Rosenthal foi apresentada à equipe como substituta do Sr. Candy a partir de segunda-feira. Ela fez sua apresentação e sua voz tem aquela qualidade baixa e rouca de uma artista de cabaré de longa data.

— Muito obrigada por me receberem neste final de semestre, especialmente considerando que estou aqui em circunstâncias tão infelizes. Estou realmente ansiosa para conhecer todos vocês, bem como os maravilhosos alunos presentes aqui!

Jesus Cristo, ela está em licença sabática da Fashion Week em Milão para a linha de verão da Louboutin? Jamie Rosenthal parece ter saído diretamente das páginas de uma revista. Embora ela esteja vestida de maneira profissional o suficiente — camisa de botão branca, blazer, calça e salto alto —, ela tem o tipo de corpo que convida ao assédio de um superior masculino e safado. Ela está bem alinhada com a proporção do tipo de beleza padrão: busto, peso e medidas da cintura ao quadril que deixarão um homem de joelhos. Cabelo longo e cor de mel com cachos soltos e saltitantes e a estrutura facial de uma jovem Brooke Shields*. (*NT: foto da Brooke Shields na mídia, mas para quem conhece é a atriz de lagoa azul)

Para aqueles de nós que ainda não a conhecemos, há pelo menos cinco segundos de silêncio atordoante depois que ela se apresenta. Em seguida, uma salva de palmas estranhas e hesitantes. A Sra. Hildabrant, que está sentada na fila à minha frente, três assentos à minha esquerda, volta-se para mim com um sorriso significativo.

Sei que ela é avó, mas ela também é legalmente cega? Esta mulher está tão fora do meu alcance que nem estamos na mesma estratosfera. Sem mencionar minhas inclinações nada heterossexuais. Na verdade, faria muito mais sentido para alguém como Dean buscar algo com ela, já que ele não hesita em seduzir seus professores.

Huh.

Bem, esse é um pensamento desagradável, mas quem pode garantir que não se concretizará? A reunião termina após trinta minutos e, sem surpresa, a Sra. Rosenthal recebe a atenção da maioria dos funcionários, homens e mulheres. Verificando meu relógio, decido seguir o caminho da saída à francesa. Já são quase quatro horas e estou esgotado de todas as maneiras que uma pessoa pode estar: mentalmente, emocionalmente, fisicamente, espiritualmente. Porra, provavelmente financeiramente também. 

Volto para minha sala de aula vazia para pegar meu notebook, bolsa e garrafa térmica e vou para o estacionamento dos professores. Dean tem treino hoje, e me recuso totalmente a olhar para o campo enquanto faço a curta viagem. Posso ouvi-los, no entanto. Celner tem uma voz que estrondeia e se espalha como um trovão, e ele conduz os Vikings em treinos e jogadas simuladas como se todo jogo que se aproxima fosse o Super Bowl. Ir para a competição estadual realmente renovou seu vigor, não que isso teria sido possível sem o talento inato de Dean.

— Sr. Powell!

Oh?

Eu me viro e, com certeza, a Sra. Rosenthal está correndo um pouco para me alcançar. Depois que ela supera essa distância, fico um pouco chateado ao perceber que ela é mais alta do que eu em seus saltos. Não sou inseguro quanto à minha altura e estou acostumado a olhar para cima. Mas, por alguma razão, é irritante ter que fazer isso com ela especificamente.

— Olá — eu a saúdo com um sorriso pequeno e confuso — você precisa de algo de mim?

Ela sorri de volta, envergonhada. 

— Sinto muito, isso deve parecer repentino. Eu só queria me apresentar a você pessoalmente. Entendo que somos os dois professores mais jovens aqui, então esperava que pudéssemos ser amigos. Acabei de me mudar para cá, então não… Ainda não conheço ninguém.

Bem, isso é... inesperado.

No entanto, fui criado para ter boas maneiras, então reúno meu juízo e ofereço minha mão a ela, que rapidamente aceita com um sorriso radiante.

— É um prazer conhecer você. Você pode me chamar de Sam, todo mundo me chama assim.

— Então, por favor, me chame de Jamie. Estou ansiosa para terminar este semestre com você, Sam.

No que diz respeito às primeiras impressões, certamente não foi ruim. Ela parecia amigável, fácil de conviver e realista, apesar de sua aparência excepcionalmente boa. Ela fez um ótimo trabalho ao me desarmar, porque a tempestade de merda que ela começou a provocar nas duas semanas seguintes veio como um raio absolutamente do nada.

Na quarta-feira da semana seguinte, fica mais do que óbvio que tipo de mulher ela é. Ao contrário de mim, a Sra. Rosenthal tem um forte senso de favoritismo em relação aos estudantes atletas do sexo masculino. Nas aulas, nos corredores, durante o almoço, durante os treinos em que ela não tem nada a ver, ela é uma namoradeira descarada. Ela não tem medo de desculpar o atraso no trabalho ou isentá-los de certas tarefas. Ela joga o cabelo para trás e ri como se eles fossem um bando de comediantes. Certamente é uma via de mão dupla, pois eles a banham com tanta atenção quanto ela lhes dá. Se fossem cães, suas caudas levantariam um punhado de poeira.

Então, não é nenhuma surpresa quando ela menciona Dean durante nosso período de almoço, o qual ela insistiu em ficar comigo. Normalmente gosto da paz e da relativa solidão da sala dos professores, mas Jamie me convenceu a me juntar a ela no refeitório. Isso acaba sendo um dos muitos erros nos próximos dias, porque este é o período de almoço de Dean e Dean é muito mais observador do que eu imaginava.

— Você tem Dean Saunders na sua próxima aula, certo, Sam?

É uma tarefa árdua não fazer cara feia, porque o nome dele vindo de sua boca me faz sentir excessivamente beligerante.

— Claro que sim.

— Puxa, ele é um jovem tão impressionante, não é? Acredite ou não, sou uma grande fanática por futebol, então fui ao treino deles no início desta semana. O técnico Celner disse que Dean foi quem os levou para o campeonato estadual ano passado. Ele realmente é uma força em campo.

Serei honesto aqui. Jamie me faz sentir um pouco melhor comigo mesmo. Sim, sim, eu deixei Dean fazer o que queria, mas pelo menos posso dizer que não estava oferecendo minha boceta em uma bandeja para ele e seus amigos do time de antemão. Isso tem que contar para alguma coisa, certo?

— Sim, ele é um garoto muito talentoso.

Ênfase no garoto. Controle-se, Jamie.

— Ele é tão inteligente também. Ofereci aulas particulares depois da escola para alguns dos meninos com notas baixas, mas Dean está indo muito bem na minha classe. E na sua?

Ok, então há muito para destrinchar aqui. Aulas particulares, depois da escola? Nenhum professor nesta instituição assumiu tal compromisso, com algumas exceções, e ela já está oferecendo seus “serviços depois da escola” para todos os idiotas com um C-? Além disso, Dean? Brilhante? Bem, ele não é estúpido, mas certamente não ganhará nenhum prêmio acadêmico, quando se formar. Ele só está indo bem na minha aula agora, sob ameaça de proibição de sexo.

— Hum, sim, ele tende a entregar tudo na hora certa.

Jamie olha para mim de uma forma estranha e depois sorri. 

— Ouvi dizer que vocês dois eram muito próximos.

Faço uma pausa, tomando um momento para controlar cuidadosamente minha expressão.

— Nada de especial — rio — ele esteve me bajulando por um tempo, então dei uma folga em sua nota. Felizmente, ele se recuperou sozinho, então ele não tem sido um pé no saco ultimamente.

Parece completamente legítimo até para os meus próprios ouvidos, mas Jamie faz esse pequeno som como se eu estivesse falando merda. Ela olha para o refeitório e eu sigo seu olhar sem pensar. Dean está sentado com alguns de seus amigos do time, aqueles que têm o mesmo horário de almoço que ele. Eles estão se comportando como seria de esperar que um grupo turbulento de atletas adolescentes cheios de testosterona agisse: brigando, rindo alto o suficiente para interromper o barulho da conversa dos estudantes, sacudindo a comida de suas bandejas. Dean, no entanto, se destaca da pior maneira imaginável, porque está olhando sem um pingo de sutileza.

— Você tem um grande efeito sobre esses meninos — rio e mentalmente dou tapinhas nas minhas próprias costas. Sai suavemente, porque pelo que sei, nem é para mim que ele está olhando. Ele poderia muito bem-estar cobiçando a Sra. Rosenthal, porque seus colegas definitivamente não têm vergonha em fazer isso. Dean tem dezoito anos, pelo amor de Deus. Ele tem o apetite sexual de uma ninfomaníaca diagnosticada, e Jamie é mais do que digna de sua atenção.

Com seu ego inflado, ela leva meu comentário ao pé da letra. Ela joga a cabeça para trás e ri, e é um gorjeio rico e áspero que atrai alguns olhares. 

— Você acha?

Honestamente, eu meio que acho, sim. Meu relógio, no entanto, parece brilhar para mim zombeteiramente.

A semana continua assim. Jamie faz de tudo para me forçar a socializar, e quando a vejo de outra forma, é difícil não me encolher. Passando pelos corredores, ela estará conversando com alguns meninos do time como se fosse uma colega: mão no ombro, elogiando seus físicos, ostentando seu conhecimento da liga profissional — jogadores, treinadores, estatísticas, jogadas renomadas, você entendeu —. Em pouco tempo, seus esforços são reorientados quase exclusivamente para Dean. Quando os vejo conversando, ele parece… interessado.

Por que ele não estaria interessado nisso? Ela é deslumbrante, inteligente, versada em seu esporte e... uma mulher. Ela também é três anos mais nova que eu, se isso conta para alguma coisa. Provavelmente sim. Ele ri de qualquer frase espirituosa que ela diz, sorri com todos os dentes e não se esquiva de suas mãos errantes. Ele não parece nem um pouco incomodado com a atenção excessiva e aberta de Jamie, e isso é...

Isso me faz sentir um merda. Este é o meu fundo do poço? Me sinto… Magoado, com ciúmes, por que o adolescente que me intimidou para ser “pau amigo” está flertando com outra professora mais gostosa? É por isso que não deveria me permitir sentir especial para alguém como Dean. Deus, estou realmente fodido, ainda mais do que pensava.

Faço o meu melhor para colocar vendas nos olhos. Eu não diria que estou ignorando Dean, mas tento não olhar muito na direção dele durante as aulas ou nos corredores. A intensidade de seu olhar não diminuiu, seus olhos ainda me acompanham daquele jeito vagamente faminto dele, mas ele não ficou na minha aula — como eu pedi para ele não fazer —. Ele prossegue para a aula de pré-cálculo com a Sra. Rosenthal assim que o sinal toca e tento não levar isso tão para o lado pessoal. É a agenda dele, e tenho certeza de que ele está muito emocionado por estar presente agora.

Não há jogo até a próxima sexta-feira, mas os Vikings ainda têm treino. Só me ocorre perto do fim do dia que não deixei nenhum bilhete no canto da minha mesa esta semana, sinalizando para Dean vir. Ele também não perguntou sobre isso. Olho para o canto da minha mesa por um momento quando percebo isso, e preciso de um minuto para regular minha respiração. Porque, caramba, ele está tentando fugir e meus olhos estão começando a arder como se houvesse motivo para chorar.

Você sabe o quê? Eu poderia usar isso para… Me distanciar. Isso é uma coisa boa, na verdade. Dean e eu precisamos de distância, e quanto mais cedo melhor. Falta um mês e meio para a formatura. Quem mais ele quiser foder, não é da minha conta. Por mais doentio e imoral que seja — não que eu possa julgar, a quem estou enganando —, talvez brincar com a Sra. Rosenthal vá tirá-lo do meu pé para sempre. Passarei o fim de semana limpando, colocando meus assuntos em ordem para a mudança no outono, e...

Bem, suponho que não haja muito mais para eu fazer. Eu poderia ver se Jamie quer ir para a cidade, e esse pensamento me faz rir de forma um pouco autodepreciativa. Recolho minhas coisas na bolsa, levanto e...

— Sr. Powell.

Dean está na minha porta, parecendo… chateado?

Por que diabos ele estaria chateado?

Ele olha de volta para o corredor quase vazio e depois entra na sala. Ele fecha a porta atrás de si, tranca a porta e abre minha pequena cortina para cobrir a janela. Bem, isso não é bom. Franzo a testa para ele. 

— Pensei ter te dito…

— Sim, sim, eu sei, mas quando diabos eu deveria falar com você, hein?

Não posso discutir isso, eu acho. Suspirando, pergunto: 

— O que está fazendo?

Ele olha para mim como se eu tivesse dito algo inacreditável. Ele atravessa a sala, sempre rápido para violar meu espaço pessoal. Ele me prende contra a mesa e bate com o dedo impaciente no canto dela. 

— Você não deixou nenhum bilhete. Posso passar na sua casa amanhã?

Minha reação instintiva é dizer: “por que você não pergunta à Sra. Rosenthal?”

Mas reprimo, porque tenho mais maturidade do que um garoto de quinze anos. Na gaiola dentro das minhas costelas, uma guerra é travada. Estou… Feliz que ele pelo menos esteja perguntando, que tenha se lembrado, que ainda esteja expressando algum tipo de interesse por mim. Mas também me odeio por me sentir assim. Sou muito mais adulto do que ele, minha felicidade não deveria depender do interesse dele. Eu não deveria estar sentindo nenhum tipo de ciúme, mas estou. Mesmo enquanto ele está me perguntando isso, não posso deixar de me perguntar quem ele colocou na fila atrás de mim para foder se eu recusar. Eu me pergunto se ele vai ficar cansado da minha recusa em me expor, se eu disser “não” muitas vezes e começar uma perseguição obstinada a outra pessoa — como a Sra. Rosenthal.

Em vez de qualquer um desses pensamentos confusos, digo: 

— Vou estar ocupado.

— Ocupado com o quê? — Ele atira de volta imediatamente, olhando para mim através de seus cílios âmbar — você está ocupado no meio da porra da noite?

— Eu…

— Ocupado com quem?

— Dean! — Estalo — por favor, só… estarei ocupado, ok? Realmente não é da sua conta com o que ou com quem, então deixe por isso mesmo. Você não tem treino?

— Não mude de assunto. Está acontecendo alguma coisa? Está tudo bem…

Acho que posso poupar-lhe um pouco de paz de espírito. Puxando seu queixo entre minhas mãos, eu fico na ponta dos pés — maldita altura — e pressiono um beijo suave em sua boca. Ele suspira, antes de retribuir dez vezes mais. Eu não pretendia ser colocado em minha mesa e beijado como se ele fosse para a guerra, mas todas as persianas estão fechadas e a porta trancada, então deixei que ele fizesse isso. Também não me oponho totalmente à sua língua na minha boca, às suas mãos subindo pela minha espinha ou à sua ereção vestida roçando a minha por toda a parte.

Quando nos separamos para respirar, Dean encosta seu nariz no meu.

— Sammy, eu realmente não posso ir?

Merda. Agora quero que ele faça isso. Ele realmente é um manipulador de classe A, ou sou apenas pateticamente fraco. Ele sempre sabe quando estou prestes a desabar também, porque seus olhos brilham e ele começa a dar um pequeno sorriso vitorioso. Alguém precisa derrubar esse garoto, mas duvido que seja eu. Quando estou prestes a fechar um acordo, meu pior pesadelo se concretiza.

A maçaneta da porta balança porque alguém tentou entrar. Então alguém bate. 

— Sr. Powell, você está aí?

É o vice-diretor White.

Dean e eu nos separamos e, por alguns segundos terríveis, meu cérebro fica vazio com um terror avassalador. Como, em nome de Deus, posso explicar isso: ficar trancado na sala de aula, com a cortina fechada, depois do expediente, com um aluno? Dean está olhando para a porta como se estivesse totalmente preparado para assassinar o Sr. White a sangue-frio, com o queixo saltando e a mão abrindo e fechando em punho. Felizmente, isso me dá um momento de clareza.

Afinal, temos a heteronormatividade do nosso lado.

Limpando os nervos da garganta, respondo: 

— Sim, só um momento!

Olhando para Dean, aponto para sua mesa e sibilo: 

— Sente-se!

Ele faz isso imediatamente. Arranco uma tarefa em branco de uma das gavetas e atiro-a para ele, com um lápis. 

— Comece a trabalhar nisso e, pelo amor de Deus, livre-se da sua ereção.

O meu murchou instantaneamente ao som de uma possível intrusão, mas Dean é de uma raça diferente. Arrumo minhas roupas, esfrego as mãos no rosto e fico nervoso quando me aproximo da porta. Destranco e a abro completamente, e o Sr. White me lança um olhar curioso. Então, ele avista Dean, que acena para ele. Sem eu precisar dizer nada, o Sr. White chega à sua própria conclusão. 

— Oh! Peço desculpas, não tive a intenção de me intrometer. Dean está tendo que fazer uma tarefa?

Christopher White é um homem caucasiano, temente a Deus e conservador, de sessenta e cinco anos — nunca passaria pela sua cabeça que dois homens (muito menos um professor de inglês e o melhor quarterback do ensino médio em Illinois) estariam fazendo algo ilícito por trás de uma porta fechada de sua escola. 

— Não tem problema, eu só estava tentando evitar interrupções de outros alunos.

O Sr. White pede desculpas novamente e depois diz que haverá outra reunião do corpo docente na próxima semana para discutir os testes de final de ano. Ele pede licença depois disso, e desta vez deixo a porta entreaberta. Deixo-me cair na minha cadeira barulhenta e debilitada e enterro o rosto nas mãos. O silêncio é ensurdecedor e Dean pigarreia sem jeito depois de mais um minuto. Quando finalmente olho para cima, ele está me dando um olhar tímido e de desculpas. Faço uma careta para ele.

— Isso foi rápido, Sammy — ele sussurra.

— Foda-se! Se manda.

Ele sai da mesa, pega a bolsa do chão e diz baixinho: 

— Chego lá às sete.

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