Capítulo 05 - Conflitos internos

🌱


Ainda durante aquela noite, Jimin se viu bastante perturbado e não era por conta da tinta na qual dera um belo trabalho para ser tirada de sua pele e cabelo, e sim por causa de Taehyung.

Ele tentava bastante não pensar no que havia acontecido e nem pensar no garoto, mas aparentemente quanto mais tentava mais era perturbado pela lembrança daquele momento, Taehyung se aproximando, puxando-o enquanto selava seus lábios nos dele, o pior de tudo era ainda sentir as sensações daquele instante, ainda sentia as mãos do garoto no seu corpo e o calor do beijo, sem contar naquela sensação estranha no estômago que o fazia ficar bastante nervoso por dentro.

Ele se deitou em sua cama depois do banho, tentou se distrair pegando o celular para ligar para algum amigo, mas esse estava sem sinal, então somente jogou-o para o lado, o julgando inútil. Ele virou a cabeça, rolou para o lado encarando a parede, a lembrança veio em sua mente outra vez e ele suspirou fazendo uma expressão de desconforto, era hora de admitir que Taehyung havia deixado-o confuso e incerto sobre si mesmo.

E se por acaso ele não tivesse interrompido aquele beijo? Se tivesse deixado acontecer? E se por acaso deixasse Taehyung beijar ele de novo no dia seguinte, já que iam se ver novamente, somente para tirar sua incerteza?

Pensar naquilo o fez sentir um frio na barriga, ele se virou para baixo e mordeu o travesseiro para reprimir aquela dúvida e aquelas sensações que julgava sem sentido, agora irritado com isso e com o rosto afundado no travesseiro, ele disse baixinho:

– Garoto desgraçado...

Ele virou o rosto para fora para respirar melhor e sentiu o breve cheiro da comida coreana que ele sabia que a sua avó estava preparando, então se levantou e se dirigiu para fora do quarto, esperando que em breve a família se reunisse na cozinha para jantar e conversar sobre qualquer coisa que mantivesse sua mente distraída.

* * *

No outro dia por volta das nove horas, a mãe do loiro entrou no seu quarto onde ele continuava a dormir profundamente como se ainda fosse noite. Ela sentou do seu lado e começou a chamar pelo seu nome até acordá-lo.

– Jimin – dizia ela, séria. – Já é hora de acordar, deixa de moleza que temos coisas pra fazer hoje, você não tá mais no Brooklyn.

– Tá bom mãe – dizia ele sonolento enquanto esfregava os olhos. –, eu já tô indo...

Depois disso ela saiu fechando a porta do quarto, e Jimin se largou na cama novamente enquanto resmungava alguma coisa não identificável, mas vencendo a falta de disposição, ele se levantou, vestiu a primeira camisa que viu na frente e seguiu para fora do quarto.

Ele chegou na cozinha se deparando com a mesa ainda arrumada para o café da manhã mesmo que algumas coisas estivessem incompletas, obviamente ele havia acordado tão tarde que a família havia comido sem ele. Comeu somente pouca coisa antes de ir lavar a louça, afinal era uma regra que a família estabelecera, o último a comer cuidaria dos pratos, enquanto ele fazia isso podia escutar um barulho de batidas vindos do banheiro.

Depois de terminar ele resolveu sair para fora e ao passar pela sala viu sua avó e sua mãe prestes a saírem pela porta.

– Ah, oi meu bem – disse a mais nova. – Nós duas vamos até a cidade comprar mais carne e carvão, e seu pai e seu tio estão tentando consertar a porta da pia do banheiro que ficou emperrada, mas acho que não precisam de você, é uma coisa simples, então você poderia fazer algumas coisas lá fora?

– Claro, o que é?

– Só alimentar as galinhas e escovar o pelo dos cavalos.

– Os... cavalos? – perguntou ele com um certo receio.

– Sim, tem algum problema?

– Hmm, não, não tem...

– Ótimo, agora até mais – ela sorriu se despedindo.

– Até...

Ele saiu para fora logo depois delas e seguiu para a parte de trás, estava um pouco nervoso, não pôde dizer isso às mulheres pois não era muito másculo um homem ter medo de cavalos, até aquele momento a sua mente estava ocupada com aquela preocupação, não pensava em mais nada além daquilo.

Ele executava lentamente a tarefa de alimentar as galinhas e outras aves, queria demorar ali bastante tempo para depois enfrentar os equinos, sua atenção foi então tomada por uns seres pequeninos que cabiam na palma de sua mão e pareciam bolinhas felpudas que piavam, filhotes de peru.

Jimin sorriu com ternura, filhotinhos eram um de seus pontos fracos, ele se abaixou para pegar um deles, mas todos correram e ele ouviu um grunhido, assim que elevou a visão já pôde ver aquele ser com bico e penas correndo na direção dele e o atacando na bochecha.

Ele se levantou rapidamente e saiu correndo antes que a perua o desse mais beliscões, sempre olhava para trás na esperança de ter a despistado, mas aparentemente ela não cansava nunca. Estava chegando perto da cerca que delimitava o limite da fazenda, já se conformando de que iria ser beliscado e arranhado até que conseguisse fazer ela parar, mas quando se virou, percebeu que alguém havia atravessado na sua frente e já estava a amansar a perua.

– Ei, calma madame, não precisa ser tão agressiva, já passou, pode ir.

Inicialmente pensou que fosse seu pai ou seu tio, mas ao prestar atenção e principalmente quando a pessoa se virou para ele, pôde notar quem era.

– Acho que te salvei de novo Chapéuzinho – Taehyung sorriu.

Jimin sentiu o seu estômago revirar quando percebeu que era realmente ele, não esperava por aquela aparição tão cedo, ele balançou a cabeça levemente e se vendo nervoso, perguntou:

– O que você tá fazendo aqui? Como foi que você entrou?

– Bom... – Taehyung correu uma mão nos cabelos e depois colocou nos bolsos da bermuda bege que usava. – Não sei se você sabe mas nossas terras são vizinhas, este terreno aí do lado é a fazenda da minha mãe, eu vi você em apuros e só quis ajudar, como sempre.

– Tá, mas como que você entrou?

– Ah eu só pulei a cerca, não é nada difícil.

– O que?! Ah quer saber, tanto faz – disse ele passando pelo garoto e tentando ir embora.

– Não vai nem me agradecer?

– Hum, obrigado, agora se me dá licença eu tenho que cuidar de uns... – ele suspirou, tenso. – Cavalos...

– Você não parece muito feliz em ir cuidar deles – Taehyung o acompanhou vagarosamente.

E com você na minha cola menos ainda, pensou Jimin, mas engoliu as palavras e apenas disse:

– É, não muito...

Taehyung continuou acompanhado-o até o estábulo, e Jimin sentia-se irritado por causa disso, pois a presença dele estava deixando-o nervoso e o fazendo se sentir da mesma maneira que o dia anterior, queria que ele fosse embora, mas pedir isso seria grosseiro demais.

Eles entraram naquele lugar pequeno que possuía a vaga de três cavalos embora tivessem somente dois, um marrom e um preto com os pelos bem longos, Jimin olhou para os dois com o medo estampado em seu olhar e depois olhou para Taehyung, como se pedisse ajuda.

– Deixa eu advinhar – disse o garoto. –, você não gosta deles ou tem medo, é isso?

– Sim... – Jimin abaixou a cabeça.

– É algum trauma ou você simplesmente tem medo? – Taehyung se aproximou do cavalo marrom.

– Bem, eu sempre tive medo desde criança, sendo que um dia quando eu tinha uns onze anos eu estava perto de uns guardas em cavalos e um deles mastigou o meu cabelo.

Taehyung segurou duramente o riso, mais ainda deixou escapar pouca coisa, depois voltou a falar:

– Você acha mesmo que todo cavalo vai mastigar o seu cabelo igual aquele?

– Bom, eu não sei, mas... sei lá, não gosto de confiar.

– Pois olhe bem – ele levou a mão até o rosto do cavalo e começou a acariciar. –, tá vendo? Ele não tá fazendo nada comigo, não tem porquê ter medo.

Jimin olhou com bastante dúvida e incerteza enquanto Taehyung continuava a mexer no rosto e ir até a crina, esse olhou para ele novamente, o convidando para ir, e então ele foi e se aproximou ainda receoso. Taehyung saiu de perto e passou a observá-lo.

Jimin chegou bem perto aos poucos e estendeu a mão até o rosto dele como Taehyung fizera, mas antes que tocasse, o cavalo bufou e assustado ele se virou para correr, se esbarrou e agarrou na primeira coisa sólida que estava na sua frente sem se dar conta de que era o corpo de Taehyung, somente percebeu isso quando o rapaz pôs a mão no cabelo dele enquanto falava:

– Tudo bem, é só tentar outra vez que você consegue.

Jimin abriu os olhos e empurrou o garoto que o olhou sem entender, quando ele disse:

– Você é bem aproveitador né?

– Como assim?

– Não me dê uma de desentendido, olhe aqui eu vou ficar com esse cavalo – disse falando do preto. – E não vou precisar que dê uma de herói só pra me agarrar.

– Mas foi você quem me agarrou, eu sei que você tava com medo, só queria te acalmar.

– Ótimo então acalme os próprios ânimos também – ele foi à procura de uma escova.

Taehyung também procurou por uma, cabisbaixo e um pouco sem alegria.

– O que aconteceu ontem não vai acontecer outra vez...

– Será que não vai mesmo? Porque pra mim tudo que você tá tentando fazer é isso de novo.

Depois de pegar a escova ele abriu a porta e foi até o cavalo de pelos longos e pretos, inicialmente sentiu medo mas o objetivo de evitar Taehyung o motivava a chegar perto do animal. Ele tocou o pescoço, o cavalo não fez absolutamente nada, se viu então na liberdade de começar a escovar por ali e assim continuou mesmo que olhasse desconfiado toda vez que o cavalo se movia, imaginando que ele pudesse estar interessado em degustar seu cabelo.

Até que foi uma tarefa agradável, no fim ele olhou para o pelo do animal, que agora brilhava bastante, correu os dedos pela longa crina dele, se pôs na frente alisando a cabeça e sorriu serenamente.

– Eu gostei de você, pena que eu não sei o seu nome ainda.

– Acho que ele gostou de você também – disse Taehyung, que já havia terminado seu trabalho a mais tempo. – Talvez daqui a pouco vocês estejam correndo juntos por aí.

– É... – Jimin deixou um sorriso escapar, mas logo uma expressão séria se formou em seu rosto e ele trancou a porta. – Bom, não tem mais nada que fazer agora.

Os dois saíram da lá de dentro, Taehyung permanecia quieto e com o olhar fixado para baixo, parecia um pouco tímido, algo bem diferente do que ele era, Jimin imaginou que ele em breve fosse embora, desejava isso, não porque realmente estava irritado, estava na verdade bem nervoso e inquieto, queria que Taehyung desse o fora para que isso parasse. Foi então que eles se depararam com o pai e o tio do loiro saindo da casa.

– Olá garotos – disse o tio, Seung Lee. –, tudo bem aí?

– Sim – Jimin respondeu. – Vocês consertaram a porta?

– Ainda não, acho que vamos ter que arrombá-la e colocar outra fechadura.

– E é por isso que a gente veio – disse o pai, Seungwon. – Só vamos rapidinho lá na cidade com o carro comprar uma fechura nova e aproveitar pra trazer sua avó e sua mãe de volta.

– Enquanto isso será que vocês não podem ir lá naquele quarto atrás da casa e conseguir um pé de cabra pra gente?

– Os dois? – perguntou Jimin.

– Sim, tem algum problema?

– Não, nenhum.

– Então está certo, vamos – disse o pai dele antes de sair com o irmão.

Depois que eles saíram, Jimin respirou fundo dando um suspiro logo em seguida, depois, sem olhar para Taehyung, ele disse:

– Vamos logo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top