Titia
Eu nem sabia que teria um capítulo inteiro para escrever sobre tudo isso. Eu julgava que as coisas que aconteceram para nos afastar foram tão banais que nossa amizade só podia ser 100% superficial.
Mas a verdade é que você me fez um mal terrível, e mesmo depois de se desculpar, mesmo depois de eu dizer que tinha desculpado, porque eu achei que um dia eu desculparia e eu não queria que isso criasse mais problemas, esse dia não chegou. E eu sinceramente peço desculpas.
Eu, mais do que ninguém, deveria entender que as pessoas erram. Eu erro o tempo inteiro, eu me desculpo o tempo inteiro, comecei este capítulo me desculpando, mas o ser humano é hipócrita e eu não poderia ser diferente.
Antes de vir morar na mesma cidade que eu, na casa que a minha mãe arrumou para vocês comprarem em condições facilitadoras impossíveis no mercado, você veio na nossa casa e cheia da vontade de ter a aprovação da minha mãe para conseguir o benefício de comprar aquela casa sem nenhuma entrada você decidiu me pisar para apoiar a ela.
Você se meteu na minha vida, você opinou sobre uma situação que você não viu, não presenciou. Você me chamou de fraca, de ingrata, me chamou de tudo que era nome ruim, e no processo eu lembrei que aquela não era a primeira vez.
Quando eu era criança você saiu da sua casa para me buscar e você decidiu demonstrar todo o seu desprezo me dizendo o quão inútil eu era por viver numa casa que estava suja e desarrumada. Eu tinha 11 anos. Assumir essa responsabilidade não era o meu dever. Eu ia para a escola todos os dias enquanto meus pais iam curtir a vida deles.
A culpa desse seu comportamento, porém, não era só sua. Você reproduzia a falta de respeito e a falta de amor que meus pais demonstravam por mim. Me fazendo agradecer por cada despesa que tinham comigo, me fazendo me sentir mal por cada necessidade que eu tinha, me fazendo me odiar, porque minha família não me amava, eu não tinha amigos, e eu era criança, então eu não podia odiar a eles.
Algum tempo depois você me pediu desculpas, você reconheceu que tinha errado, mas nada tirava da minha cabeça que foi um "erro" planejado. Isso era uma escolha. Decidiu que valia a pena me sacanear para obter a aprovação da minha mãe. Bastava você reafirmar o surto dela nas coisas que ela me dizia, na forma como ela me usava para jogar fora o estresse que o emprego dela a causa. Valia a pena, porque afinal você sabia que pediria desculpas, você sabia que eu não tinha ninguém e por isso você sabia que eu ia te desculpar.
Sabendo de tudo isso eu não podia mais confiar em você. Nada do que você falava ou demonstrava, nada mesmo, nada tinha valor, era vento. O que para mim foi uma grande lástima porque eu amava você. Era a tia que eu mais amava. Eu sentia inveja dos meus outros tios por serem seus irmãos. Mas tudo isso era só prova da minha burrice, a mesma que você apontou quando decidiu pisar em mim.
Depois disso, você decidiu dizer a um monte de gente que eu estava planejando me casar e tomar a casa que minha mãe arrumou para você comprar. Eu passei meses, talvez mais de um ano, sem saber o motivo dos cortes que a minha avó, sua mãe, me dava. Sem saber porque todo mundo estava me tratando como se eu estivesse cagando na mesa deles.
Você foi hostil comigo e me fez um mal psicológico tão grande que eu acreditei que a culpa era minha. Eu fui até a sua casa pedir desculpas pela sua hostilidade, eu fui perguntar se eu tinha feito alguma coisa para você ter raiva de mim, mas na sua covardia você decidiu não me contar sua desconfiança, decidiu apenas usar aquele momento para pisar mais em mim.
Você me disse que se eu fiz alguma coisa eu sabia, você disse que naquele momento não queria manter contato, você queria distância porque você não fazia ideia de quem eu era. A minha mãe, porém, você disse que conhecia como as palmas de suas mãos, mas sobre mim você não sabia nada. Você me disse para não visitar mais a sua casa, para não mandar mensagem, não ligar, e quem sabe o tempo um dia faria essa situação se reverter. Você me disse que quando eu entrei pela porta da sua casa você teve vontade de voar no meu pescoço, mas você se controlou por saber que não podia fazer isso. Eu não sabia de nada. Todos esses covardes nunca me disseram nada.
Nunca me deram q oportunidade de dizer que aquela acusação não tinha nenhuma base. Como eu ia casar se eu nem estava namorando, nem ficando com ninguém? Como eu ia querer aquela casa se antes de oferecer a vocês ela foi oferecida a mim e ao meu irmão e nós negamos?
Tempo depois eu comecei a trabalhar e você começou a vender Natura. Minha mãe disse que você tinha nos convidado para jantar na sua casa e ver a revista. Eu falei para a minha mãe que esse convite com certeza não me incluía, mas ela insistiu que sim, e que você ficaria muito chateada se eu não fosse. Ainda sem acreditar, mas sem vontade de voltar naquele assunto me deixei pensar que talvez o tempo tivesse feito alguma coisa enfim.
Eu fui até a sua casa, jantei na sua casa, e fomos ver a revista. Você não falava nada comigo. Eu dizia apenas palavras direcionadas a todos, dizia coisas como boa noite, a refeição estava muito boa e obrigada.
Na hora de mostrar a revista eu fui para a varanda tentando evitar algum contato, porque eu não queria ser novamente hostilizada. Mas como se nada tivesse acontecido você me ofereceu a revista para ver.
Aquela história acabou ficando por aquilo mesmo. E depois nós passamos a jogar baralho quase toda noite e conversar sobre a vida ouvindo música e às vezes bebendo.
Em uma dessas vezes nós ficamos altas e você me disse que queria ter uma conversa. Eu aceitei obviamente. Você me disse que minha avó conversando com a irmã dela ao telefone acabou sabendo que eu queria tomar a casa de vocês porque eu ia me casar. Eu perguntei de onde essa tia-avó tirou essa ideia mirabolante. Você me disse que uma de suas primas, aquela que você sabe quem é, a que faz crochê maravilhosamente bem, você disse que essa prima contou a essa tia-avó que eu queria tomar a casa de vocês porque eu ia me casar.
Essa conversa foi longa e cheia de explicações, cheia de choros, cheias de mais pedidos de desculpas, todos feitos por mim, cheia de mais humilhação.
Naquele dia eu voltei para a casa e o assunto não saía da minha cabeça. Eu bloqueei essa sua prima em todas as minhas redes sociais. Eu não queria mais assunto com ela. Como poderia inventar algo assim?
As suas palavras para descrever isso foram: Isso é o que a inveja e a fofoca fazem.
Meses mais tarde eu comentei com a minha avó que eu não ia na casa dessa prima por conta da mentira que ela tinha criado a meu respeito e como isso me afetou, a minha avó disse que essa prima nunca disse nada a meu respeito.
No final das contas eu nunca soube de onde surgiu essa mentira. No final das contas eu acho que jamais vou saber. Mas eu sei que eu teria dado a você o benefício da dúvida antes de te julgar culpada, antes de te massacrar e fazer muito da família te massacrar também. Agora se essa mentira era sua, que psicopatia é essa com alguém que nunca te fez mal algum?
Mas eu reconheço que o erro foi meu. Você sempre disse o quão fria e calculista você é. Você sempre disse quão manipuladora você pode ser. Eu é que nunca quis ouvir.
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