Primeiro contato com o trauma
A gente nunca sabe em que momento da vida vamos ter que encarar as inseguranças que nossos traumas criaram. Um dia um dos meus irmãos me disse que se identifica comigo, porque assim como ele eu estava sozinha. Ninguém no mundo inteiro tinha eu ou ele como sua pessoa favorita. Naquele momento eu retruquei, eu disse que a minha mãe me amava mais do que ama qualquer pessoa, ele riu e disse que não, minha mãe sempre amou mais o meu outro irmão, ele começou a pontuar uma série de acontecimentos que provavam aquilo e então eu entrei em choque. Por dias eu simplesmente fingi que aquela conversa não tinha me afetado, fingi que aquela conversa não tinha existido, mas cedo ou tarde eu teria que encarar os fatos. Ele tinha razão.
Uma vez voltando do Shopping eu e minha família estávamos no ônibus quando ele foi assaltado. Eu estava no colo da minha mãe no banco da janela, e meu irmão estava no colo do meu pai no banco do corredor. Ao ver os assaltantes se aproximarem a minha mãe entrou em pânico, porque ela queria que meu irmão estivesse no colo dela, ela queria proteger a vida dele, e para isso ela estava disposta a me colocar em risco de morte. Ela fez o possível para que meu pai nos trocasse, e eu fiquei na beira de cabeça baixa enquanto a minha mãe escolhia salvar o meu irmão. Eu era criança, devia ter uns 4 anos, mas eu fico pensando que naquele momento se eu tivesse maior entendimento eu saberia que eu sou a filha que está de boa perder. A minha vida não vale tanto assim nem para a minha mãe.
Eu já estava adulta quando a minha mãe, mesmo ligada, pensou que queria ter mais filhos. Mas ela queria só se fosse menina, porque ela queria que meu irmão fosse seu único filho homem, insubstituível.
Quando eu terminei a escola e não consegui entrar na faculdade no primeiro ano após a escola a minha mãe fez o possível e o impossível pra me fazer me sentir um lixo. Todos os adjetivos que meu pai usou para me machucar e eu desabafei com ela, ela decidiu usar os mesmos adjetivos para me humilhar. Inútil, imprestável, ela dizia que estava pagando a língua dela comigo. Porque tudo o que ela sempre julgou e apontou o dedo como o que há de pior eu tinha me tornado.
Passei os últimos anos tentando ser amada, tentando receber alguma aprovação. Mas eu nunca consegui.
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