Meu berço e meu lar
Em algum momento da minha infância eu comecei a recusar abraços. Acredito que por volta dos 6 anos. Foi quando eu percebi o quanto meus pais amavam o meu irmão e nem ligavam para mim. Eles nem tentavam disfarçar.
Nos finais de semana nós chegávamos em casa depois de uma reunião religiosa e meus pais nos perguntavam onde queríamos ir naquela noite. Eu dizia cinema, meu irmão dizia parque, e nós íamos ao parque. Toda semana a mesma coisa. Até que um dia eu combinei com o meu irmão de trocarmos, eu pediria para ir ao parque e ele pediria para ir ao cinema. Ele estava convencido de que não era por quem pedia e sim pelo que pedia. Achava que independente da resposta sempre iríamos ao parque. Assim fizemos, quando chegamos em casa para trocar de roupa e decidir onde ir eu disse parque e ele disse cinema. Meu pai indignado perguntou se ele queria mesmo ir ao cinema e ele disse que sim, então eu insisti no parque, tentando acreditar que sempre iríamos ao parque independente da resposta, mas meu pai disse que então nós iríamos ao cinema. Meu irmão frustrado de ter que ir ao cinema disse que mudou de ideia e queria mesmo era ir ao parque, eu pedi pelo cinema, e fomos ao parque de novo.
Meu padrinho, meu avôdrasto por parte de pai, às vezes buscava a mim e meu irmão na escola. No caminho de volta nós passávamos por uma vendinha de doces onde sempre pedíamos ao nosso avô para comprar alguns doces para nós. Naquele dia acabamos encontrando minha avó por parte de mãe no caminho, ela estava indo para nossa casa ver como estávamos. Ao passar em frente à vendinha de doces nós começamos a pedir para nosso avô comprar alguns doces, e após alguns nãos ele decidiu ceder e comprou algumas balas e doces para nós. Minha avó, assustada com a nossa insistência, tínhamos por volta de 8 e 5 anos, eu e meu irmão mais novo, esperou meu pai chegar em casa e lhe contou que nós coagimos meu avô a comprar doces mesmo ele não querendo. Meu pai por sua vez me deu uma surra de chinelo e me deixou de castigo até a hora da minha mãe chegar em casa. Ao meu irmão ele deu colo, bem na minha frente, pra me mostrar o quanto eu não significava nada. Mesmo diante do meu choro, diante das minhas tentativas em explicar porque aquilo era tão injusto, ele achou bacana me punir assim. Quando a minha mãe chegou em casa ela me tirou do castigo e disse ao meu pai que não achou certo o que ele fez. Mas eu já tinha apanhado e sido bastante pisada até ela chegar.
Meu pai comprou um fusca amarelo. Todos nós estávamos animados em ter um carro e íamos dar nosso primeiro passeio. Como sempre, os menores entram primeiro no carro. Primeiro meu irmão, depois eu entraria. Meu irmão ficou parado na porta e não queria entrar, eu o empurrei para dentro do carro, e ele caiu no chão. Meu pai veio em nossa direção e me bateu. Disse que eu poderia ter matado meu irmão. Ele ficou realmente muito preocupado. Eu queria que ele tivesse ficado tão preocupado dois dias antes quando eu estava dormindo no chão da sala e meu irmão queria descer do sofá. Meu pai estava sentado em outro sofá do outro lado da sala e começou a empurrar chinelos pelo chão contra mim para que eu acordasse e saísse do caminho. Mas eu tinha sono muito pesado. Eu acordei com meu pai gritando: "Pisa na barriga dela, eu estou mandando, pisa na barriga dela agora." Meu irmão estava hesitante em pisar ou não, ele tinha medo de acabar caindo. Eu acordei assustada e me encolhi para o outro lado. Meu irmão desceu então do sofá. Meu pai inconformado disse: "Da próxima vez se você não pisar eu piso."
Sobre algumas coisas eu ainda não consigo falar, mas no fundo eu via que havia diversão em me ver triste e frustrada. Eles não conseguiam gostar de mim.
Minha mãe aquela hipócrita dizendo que nunca teve o amor dos pais e me tratava com a mesma diferença com a qual foi tratada. Meu pai teve tudo, ele tinha uma família na infância, uma família que zelava por ele, mas a mim não foram capazes de amar.
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