Homem

Eu sempre soube o que ia me destruir e ainda assim não pude evitar. A verdade é que ninguém consegue nos proteger, muito menos nós mesmos.

A minha vida inteira eu evitei contato direto com homens. Na escola eles eram os que me agrediam, em casa eram os que me humilhavam. Na adolescência eles eram os que me ignoravam, na fase adulta eram os que me insultavam.

Homem nenhum jamais suportou não ter efeito. E eu não suportava a ideia de acabar virando esposa.

Hoje eu entendo porque as mulheres se casam, elas passam a ter que lidar apenas com um homem: o marido. Não lidam com frentistas, não lidam com empacotadores, mecânicos, nenhum deles. Ela só tem que aturar a grosseria do marido.

Aturar a grosseria, os abusos, os ataques de raiva, aturar ver seus filhos sendo tratados de uma forma que ela detesta não poder defendê-los, aceitar o que o marido oferece e dar o que ele exige.

Eu afirmava não gostar de conviver com homens, mas passava a maior parte do meu tempo tentando entender o funcionamento deles. Afinal, o objetivo do homem é que a gente não goste dele? Eu sempre vi como eles se gabam das maiores atrocidades que fazem com as esposas, se gabam da humilhação que causam a elas, adoram falar sobre como as tratam mal e não aceitam menos que o melhor, então é isso que eles querem? Querem que nós detestemos sua companhia?

Homens não cuidam da aparência, exigem que a esposa adore seu comportamento imundo e faça tudo por ele como ela faria a um bebê, enquanto a tratam feito merda. As xingam de nomes terríveis, zombam do sofrimento que eles as causam, e ainda as que suportam cedo ou tarde eles abandonam.

Eu protegi meu coração desses seres desumanos, pedi a Deus que me ajudasse, mas eu mesma não fui tão forte. Eventualmente chorei quando machucada, mas só me permiti chorar por três dias.

Cheguei virgem a idade que tenho quando escrevo este texto, e ainda sem nenhuma vontade de conhecer o fruto homem.

Eles estão certos, eu sou só emoção. Mulher de carne e osso. Mulher de alma e coração. Predisposta a me entregar inteira a alguém que queira me amar.

Eu achei ter chegado a um lugar onde pessoas inteligentes entenderiam meu ponto de vista. Eu me fiz vulnerável como nunca tinha feito antes. Eu abri meu coração e contei como me sentia.

Eu fui feita de piada, eu fui feita de chacota, eu fui humilhada, pisada, massacrada, destruída por homens.

Homens que assim como eu imaginava só sentem prazer na destruição, sentem um prazer mórbido e cruel em ser péssimos. Sentem vontade de reafirmar sua masculinidade machucada para uma pessoa que já tinha sido tão quebrada antes.

Eu nunca estive errada. Eu não brigo com a realidade, eu apenas tento fazer da minha realidade a melhor possível. Eu jurei que não deixaria um homem me machucar ou me matar, mas eu não consegui cumprir a promessa que fiz a mim mesma. Eu não fui capaz de me proteger. Eu não fui capaz de me defender. Eu só queria nunca ter conhecido essas pessoas. Eu queria ter perdido a vida antes de conhecer essas pessoas. Assim eu teria morrido inteira.

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