Amor de irmão

Meus pais estavam separados e a mais de 100km de distância um do outro. Eu achei que teria uma escolha, mas todos decidiram por mim, decidiram me mandar pro meu próprio inferno.

Meses após chegarmos a esse lugar imprestável meu irmão fez amizade com alguns garotos que moravam na mesma rua que nós. Eles tinham um comportamento peculiar e às vezes inapropriado.

Eu vi aqueles garotos invadirem casas de veraneio para tomar banho na piscina. Eu os vi pendurar o corpo de um gambá na rede de energia, gambá que foi morto por eles mesmos, para soltar sobre o carro que quem passasse. Eles faziam pegadinhas do mais baixo nível com quem passasse por seu caminho. Eu vi esses garotos brigarem entre si e se colocarem em risco. Mas o pior de tudo, eu vi esses garotos brincarem de planejar uma invasão à casa de uma família que tinha vindo morar ali há apenas alguns dias.

A invasão porém tinha dia e horário marcado. Quase toda a família sairia para pular o carnaval, mas a filha deles que devia ter por volta de 19 anos na época ficaria em casa. Eles fingiam estar brincando de planejar um estupro coletivo. Ninguém sabia que eu ouvi, eu ouvi sem querer. Apenas um dos garotos se opôs firmemente àquela ideia nojenta.

Eu tinha 16 anos e não sabia o que fazer. Eu me tranquei no quarto e passei a noite com medo. Meu pai não estava em casa. Então eu estava quase tão sozinha quanto aquela menina, se não fosse pelo irmão de 13 anos, que ainda bem que não estava na conversa, eu acho, porque se estava não disse uma palavra. Quando eu estive com o meu irmão eu disse a ele sobre a conversa que eu tinha ouvido e ele disse que eu só podia ter entendido errado.

Alguns dias depois esses meninos esperaram eu chegar da escola e pediram para assistir um filme com eles no aparelho de DVD da minha casa. Ao todo eram 6 garotos. Eu entrei em casa e deixei eles assistirem. Um deles me puxou pela mão e disse: Nós viemos assistir aqui para você assistir também.

Assim me fez sentar com eles no sofá e assistir apenas a primeira parte de um filme entitulado "Doce Vingança". Eles riam e diziam que aquela era a melhor parte. De estômago embrulhado e com vontade de sair correndo eu tinha medo de me mover. Meu pai não estava em casa, nem o meu irmão.

Naquela mesma semana um dos amigos do meu irmão tentou ficar comigo. Ele contou mil e uma histórias mirabolantes incluindo uma em que ele pegava a amiga da menina que ficava com o Neymar, o jogador de futebol. Mas eu não tinha o menor interesse em nenhum deles.

Semanas depois disso, eu estava sozinha em casa de novo. Meu pai estava curtindo a noite que para ele começava por volta das 20h. Meu irmão tinha ido andar de skate e ainda não tinha voltado. Eu estava dentro do meu quarto como de costume navegando na internet pelo celular.

Todas as luzes se apagaram. Eu comecei a ouvir risadas e uma voz dizendo: Eu vou entrar.

Meu corpo todo entrou em choque e eu não sabia o que fazer. As risadas aumentaram e eu estava entrando em pânico. Ouvi a porta da cozinha ser aberta ao mesmo tempo que a porta da sala, que era de correr, tinha sido arrastada. Olhei pelo corredor e vi que alguém tinha acabado de entrar em um dos quartos. Então corri para o banheiro onde meu pai escondia um facão dentro do armário. Eu estava tremendo porque a porta do banheiro não tinha tranca, ela apenas podia ficar encostada. No meu desespero eu comecei a gritar implorando para pararem com aquilo, gritando que eu estava com medo, implorando para irem embora. A mesma voz de antes constata então: Se escondeu no banheiro.

Então ouço a voz do meu irmão mais novo, meu irmão de 13 anos, o menino por quem eu quase levei uma surra anos antes tentando defender. Ele disse: Não vai! Calma, é uma brincadeira. Estamos te trollando.

Ele sabia do facão. Ele não estava preocupado comigo, nem com o meu bem estar. Ele estava preocupado com a integridade física do amigo dele que decidiu me assustar daquele jeito. O mesmo amigo dele que tinha tentado ficar comigo.

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