2º Capítulo
—Você 'tá roubando! Para, Isaac! É sério!—Berra Jasper com a sua voz alterando entre aguda e grossa, franzindo seus olhos enquanto esmaga o controle de PlayStation em suas mãos.
Hoje é sábado e todo sábado é dia de ficar com família e amigos de acordo com os Bancrofts. Bom, de acordo com os geriátricos da nossa família, mas mesmo assim Isaac e Jazz levam ao pé da letra, obrigatoriamente, me levando também.
Na verdade, não é de todo mal ficar com eles, mas eu gosto de dar uma de difícil para que no final da tarde Jasper olhe nos meus olhos sorrindo com a sua boca cheia de janelinhas e diga: "Viu, eu falei que valeria a pena ficar com a gente!". É sério, é uma das coisas mais fofas que já vi ele fazer.
—Qual é, Jazz? Você já tem dez anos, deveria saber que seu irmão é uma obra de arte divina. —Ressalta Jason com um sorriso maldoso enquanto puxa seus fios loiros.
Meu irmãozinho cerra seus olhos azulados em sinal de confusão e curiosidade.
—Isaac não comete erros, ele cria caminhos alternativos, quando você achar que está se dando bem, esse ser...—Ele para e franze a sobrancelha olhando para Isaac.— do além, Senhor do Universo te mostra que somente ele tem esse poder de...—Jason olha ao redor tentando achar as palavras certas.
Meu irmão empurra Jay da poltrona fazendo-o cair e gargalhar.
—Não escute o que esse panaca está dizendo, Jazz!—Exclama Isaac jogando uma almofada no amigo.—Ele acha que fazer o certo é algo que só divindades conseguem.
Jasper ri e balança a cabeça parecendo estar incrédulo. Sorrio ao ver sua expressão suave e calma. Encosto-me na batente da porta da sala de jogos e a mesma faz um barulho fazendo com que os garotos percebessem minha presença.
O moreno se levanta da poltrona dando um sorriso radiante e me dá um abraço de urso pegando-me desprevenida, como o rapaz é alto e extremamente forte, eu praticamente fico escondida atrás de seu corpo. Começo a rir e pedir para que me soltasse.
Mike Taylor é um dos amigos do meu irmão que mais tenho uma certa "intimidade", pelo fato de ele não ter muitos escrúpulos, ou seja, ele não me vê apenas como a irmã do seu melhor amigo, mas sim como um tipo de amiga.
—Caramba, Sienna! Quanto tempo que não te vejo?—Exclama ele me colocando no chão e bagunçando meu cabelo.
Reviro os olhos dando um sorriso torto.
—Você está tão...—Mike desce seus olhos verdes até meus pés e então os sobe pousando em meu rosto fazendo com que eu sinta minha bochecha esquentar de vergonha.—Diferente.
Eu não os via desde que Isaac ingressou na universidade, na verdade, até cheguei a ver eles nos feriados, mas só de longe, nem chegávamos a conversar.
Sorrio para o homem e dou de ombros.
—Pois é, como tem sido a vida de universitário?—Indago dando um passo para dentro da sala e Mike coloca seu braço ao redor de meus ombros quase fazendo eu desabar no chão por causa do peso dele.
—Não podia estar melhor.
Ouço uma bufada e nem preciso me virar para saber de quem era.
—Claro, você só joga! Nem aula de verdade ele tem!—Resmunga Jason se levantando do chão com um sorriso provocativo e vindo em minha direção.
Não duvido que não haja muitas exigências no curso de Mike, honestamente, acho que deve ter nenhuma, já que apenas está na UCLA por causa de sua bolsa de hóquei. Com certeza o curso é só uma ideia fajuta para a universidade não desgastar dos atletas.
—Isso é uma mentira, eu tenho aulas de Cultura Social!—Defende Taylor tirando seu braço de meu ombro e eu quase dou um suspiro de alívio ao me livrar do peso.
—Cultura Social? E o que você faz lá?—Debocha Isaac fazendo o garoto ao meu lado hesitar por segundos.
—Honestamente, eu nem sei.—Mike dá de ombros.—O horário dessa matéria não bate com meu treino.
Jason e meu irmão começam a rir tirando sarro do amigo. Olho para o moreno que parece perdido sem saber do que estavam rindo.
—Não foi dessa vez, Mike.—Dou tapinhas em seu braço já que seu ombro está longe do meu alcance.
Jason sorri para mim.
—Ê, escocesa, nem vai me dar um abraço?—Brinca ele já abraçando meus ombros e me espremendo.
Jason me chama assim desde o dia que me conheceu, ele justifica o apelido dizendo que eu parecia uma escocesa do século XVII que fugia dos ingleses para não descobrirem que tinha uma galinha a mais em minha fazenda. É tão específico que chega até ser bizarro. Mas com certeza deve ser só porque sou ruiva.
—Ai, vocês são muito pegajosos.—Reclamo me afastando do loiro e sentando-me ao lado de Jasper que dá um sorriso e beija minha bochecha.
—Oi, Sisi.—Cumprimenta enquanto não tira os olhos da TV, assim como meu outro irmão.
—Verdade, fiquem longe da minha irmã, seus tarados.—Brinca Isaac enquanto aperta o "x" freneticamente em seu controle.
Reviro os olhos e foco no Jazz que está fissurado com o jogo, seus olhinhos estão cerrados e ele mordisca o lábio inferior semelhantemente a Isaac que está fazendo a mesma coisa. Eles são muito parecidos mesmo que tenham uma diferença de idade gigantesca.
—'Tá maluco, Isaac? Só estamos admirando o poder da evolução humana agindo na sua irmã.—Diz Jay na medida em que me viro para olhá-lo. Toda vez que ele abre a boca eu sinto meio que uma vontade imediata de rir. Jason mantém um semblante calmo e sério ao falar, como se fosse um citar fato científico.—Porque vocês sabem, né? Eu estou me formando em Biologia.
Isaac pausa o jogo se virando para Jason que está com os braços cruzados sentado de qualquer jeito na poltrona. Seguro uma risada e vejo o Taylor fazer o mesmo.
—Mano, você é doente.—Provoca Mike jogando uma almofada em seu rosto.—O mini Isaac está aqui, não esquece.
—Acho que essa é a última vez que te chamo para vir na minha casa.—Murmura meu irmão fazendo uma expressão de quem comeu e não gostou.
—Ah, manito, você sabe muito bem que essa não cola mais, faz cinco anos que diz a mesma coisa.
Solto um riso nasalado e balanço a cabeça. Pergunto-me como o Jasper fica aqui quietinho como se não ouvisse o que os garotos estão dizendo. Provavelmente se acostumou em escutar as asneiras.
—Percebo que você não mudou nada, Jason.—Brinco enquanto acaricio os fios loiros macios de Jasper que abraça minha cintura aproveitando a pausa do jogo.
Isaac olha para mim e abana a cabeça como se lamentasse algo.
—Esse aí é um caso perdido, Sisi.
Jason revira os olhos e pega seu celular do bolso. Ele age como se estivesse bravo, mas todos nós sabemos que no fundo adora essa provocação.
—Sienna, você faz aniversário nesse mês, não é?—Pergunta Mike ao coçar o queixo aconchegando na poltrona.
Franzo o cenho e o encaro.
Taylor tem um rosto difícil de ser esquecido, os lábios carnudos e os olhos verdes são as primeiras coisas que você repara nele, ao descer os olhos você nota os ombros largos, um corpo forte e atlético. Depois percebe o quão bem a pele escura se mescla com essas outras características. Ele é um dos homens mais bonitos que já vi.
Engulo em seco e volto a observar os fios claros de Jazz.
—Sim, vou fazer vinte na semana seguinte.—Respondo com um sorriso encabulado.
Até agora minha ficha não caiu, dentro de alguns meses estarei ingressando na faculdade e vou ter que viver longe de Jasper. Sinto um aperto no meu coração e puxo Jazz para mais perto como se amenizasse o meu medo do futuro.
Mike e Jason se entreolham com um olhar e sorriso cúmplice que dá um arrepio em minha nuca. Coisa boa não pode sair disso. Isaac se vira para mim e olha para os dois.
—Não, nem pensar.—Brada meu irmão enquanto estrala a língua em desaprovação.—Vocês vão acabar com a surpresa.
Jason ri puxando seu cabelo e não é a primeira vez que faz isso, com certeza deve ser uma mania. Uma mania mais atraente do que deveria.
Viro-me para Isaac exigindo explicações.
—Você nem sabe o que nós iríamos dizer.—Retruca Jay ainda com as mãos em seus fios cor de areia enquanto Mike está sério parecendo estar no mundo da lua.
—O que está acontecendo, Sisi?—Pergunta Jazz com seus olhos brilhando de curiosidade. Nunca vi uma criança tão curiosa quanto Jasper.
Dou de ombros e sorrio.
—Não faço ideia.—Sussurro fazendo-o suspirar em frustração.
—Posso sair para brincar com o Luke? 'Tá muito chato aqui! Vocês não param de falar.—Reclama fazendo um bico engraçado.
Concordo com a cabeça e o menininho sai correndo para fora da sala. Jasper não consegue ficar um segundo sentado, quer toda hora brincar. Até o entendo, não aguentaria ficar sentada enquanto meu pai e seus amigos conversam.
—Ei, cadê o Jazz?—Questiona meu irmão assim que o viu sair em disparado pela porta.
—Luke.
Isaac acena em compreensão e volta a discutir com Jason.
—Deixa ela escolher, cara.—Insiste Mike com um olhar pidão, tenho certeza que deve usar com as meninas e elas nem devem pensar duas vezes ao atender seu pedido.
Suspiro e abraço minhas pernas ainda não entendendo do que se trata a conversa.
—O quê que eu tenho que escolher?— Resmungo curiosa e os garotos se viram para mim com um olhar esperançoso.
—Você quer ou não saber, escocesa? —Pergunta Jason juntando as mãos em frente de seu rosto e sorrindo maliciosamente. Esse menino é um besta.
Solto um sorriso e dou de ombros.
—Nem ao menos sei do que estão falando.
Mike cutuca o Jason com o cotovelo e abana a cabeça.
—O Isaac que quer contar para ela, deixa pra lá.
Viro-me para Isaac que está evitando meu olhar, porque ele sabe que se me encarar vou saber o que está escondendo de mim.
—Ah, agora fala! Fiquei curiosa.
Jason bate as mãos na perna chamando minha atenção.
—Agora só o tempo dirá.
(...)
Ao abrir a porta do meu quarto depois de ter me despedido dos garotos, deparo-me com a última pessoa que imaginaria. Connor está deitado de barriga para cima em minha cama, com os braços cruzados sob a cabeça esbanjando um sorriso convencido.
Meu amigo possui um tipo de beleza diferente, é extremamente sensual, chega até ser cômico. Os cabelos castanhos-escuro estão bagunçados e seu sorriso enruga seus olhos e covinhas alegram seu semblante. Filho da mãe é bonito pacas.
Reviro os olhos e fecho a porta atrás de mim pendendo a cabeça para o lado observando-o.
—A chave era apenas para emergências.—Anuncio com uma sobrancelha levantada.
Final de semana retrasado entreguei um par de chaves da minha casa para Connor quando precisasse de algo, porque naquele final de semana seus pais tiveram um imprevisto e tiveram que viajar deixando ele e sua irmã trancados do lado de fora da própria casa.
Connor arrasta seu corpo para beirada da cama e se senta ainda com seu sorriso presunçoso.
—E quem disse que não é uma, Sisi?
Dou uma risada nasalada e ando em direção ao meu guarda-roupa a procura de uma roupa mais confortável para, seja qual for, a situação que papai nos levará hoje.
—O seu sorriso já te entregou, Connor. Eu te conheço, moleque.—Murmuro ao analisar um vestido preto curto que tenho desde meus quinze anos.
Marcy o deu para mim de presente, porém nunca o experimentei e não vai ser hoje o dia de sua estreia.
Ouço os passos pesados de meu amigo até minhas costas. Seu perfume masculino se alastra em minhas narinas e é quando minha ficha cai. Viro-me para ele que está com os braços cruzados esperando o momento em que eu finalmente tivesse entendido a sua "emergência".
—Qual delas?—Pergunto animada com um sorriso que chega a doer os cantos dos meus lábios.
Connor balança a cabeça e mordisca o lábio o lábio inferior. É visível sua ansiedade. Nem acredito que daqui alguns dias será eu em sua posição.
—Você ainda não recebeu nenhuma resposta?—Indaga fazendo-me sugar todo o ar presente na sala. Meu amigo ri e segura meus ombros.—Foi mal, esqueci que você é uma esquecida e se candidatou em última hora.
Balanço meus ombros e empurro seu peito.
—Fala logo, merda!
—NYU.—Sussurra como se estivesse contando-me um segredo sujo.
Ele disse mesmo o que acho que disse? NYU fica a quilômetros de distância daqui. Connor não tinha me falado que seria uma das suas opções, ele tinha prometido que faríamos na mesma universidade, UC Berkeley.
Tento conter minha frustração e surpresa, mas meu amigo é esperto demais para passar despercebido.
—Mas isso não significa que vou ir estudar lá.—Assegura dando-me um sorriso reconfortante. Coloco as mãos nos bolsos da minha calça moletom e suspiro.—Você sabe que me apliquei em várias universidades para ver qual passo. Por pura curiosidade.
Assinto e ele ri abraçando-me.
—Eu sei, você não existe, Connor.—Brinco e desvencilho de seus braços voltando para o guarda-roupa.—E o que deu em você para parar no meio da rodovia? Até agora não me contou nada.
Ouço uma grunhido irritado por parte do meu amigo.
—Pode colocar a culpa na Heather, ela saiu em um encontro com aquele moleque e...
Viro abruptamente para encara-lo. Connor está folheando um livro que está na minha escrivaninha. Quase nunca o leio, só o coloco ali para dar uma sensação de intelecto.
—Você só pode estar brincando, né?—Exclamo analisando-o e meu amigo dá de ombros.—Connor, sua irmã já tem dezesseis anos! Não precisa ficar indo aos encontros dela ás escondidas.
Redford coloca o livro de volta na minha escrivaninha e encara-me cerrando os olhos e lambendo os lábios.
—Você parece a minha mãe falando assim.
—Talvez porque Dona Caitlin sempre está certa.—Balbucio voltando para minhas roupas.
Argh nunca percebi que a tonalidade das minhas vestimentas só se alternam entre duas cores: preto ou branco.
—Você só diz isso porque não conheceu o tal Blake.—Reclama fazendo uma voz afeminada para dizer o nome do garoto.
Dou uma risada e arranco uma camiseta branca de gola V do cabide. Mamãe vivia reclamando do modo com que tiro as roupas do cabide, ela dizia que era a minha culpa deles estarem sempre quebrados. Sorrio com a lembrança e fecho a porta do guarda-roupa.
—O seu nome deveria ser Connor Ciúmes Da Silva.
Meu amigo revira os olhos e desbloqueia o celular digitando algo. Aproveito seu momento de distração e o observo. Connor sempre foi superprotetor com sua irmã mais nova. Semelhante a ele, a garota é linda e o que não falta são garotos caindo aos seus pés. Talvez o que o incomoda é o medo de os rapazes fazerem com ela o mesmo que ele faz com as garotas com que sai.
—Juan, Trevor e Alexia estão chamando a gente para jantar no Kelman's. Quer ir?—Convida com um brilho esperançoso em seus olhos.
Connor, mais do que ninguém, sabe que não curto muito sair e ele não força muito. Mas como meu amigo negou várias saídas para fazer companhia para mim, penso duas vezes antes de recusar o convite. Além de que essa galera que está nos chamando são conhecidos meus também, não será uma grande tortura afinal das contas.
—Claro, só vou enrolar um pouco por causa do meu pai.—Respondo com um sorriso torto.
Redford assente digitando algo no celular e de repente ergue a cabeça com o cenho franzido.
—Espera aí! Você acabou de aceitar?—Balanço a cabeça em concordância resistindo a uma vontade gigantesca de revirar os olhos. Connor dá um sorriso enorme que por segundos achei que rasgaria sua face.—Cada dia me surpreendendo mais, Sisi.
—Cala a boca, Redford!—Provoco-o jogando minha camiseta em sua cabeça.—Você faz parecer que eu nunca saio de casa.
Connor bufa tirando o tecido do rosto e suspende as sobrancelhas.
—Sienna, você é praticamente a versão millennium de "Jimmy Bolha".
(...)
Marcy joga seus cabelos castanhos para trás dos ombros e abre um sorriso simpático. Seguro-me para não revirar os olhos. Papai decidiu que seria "Fim de tarde reunida", ele dá nome para todas as atividades que fazemos juntos e aí de nós se não mencionamos-na.
Seja lá o que papai esperava que fosse, acabou sendo um piquenique superestimado. Há várias cestas ao redor de nossa toalha e mais uma vez percebo que Isaac exagerou nas escolhas da comida. Cada um de nós ficou responsável por alguma coisa, Jasper teve que ajudar Marcy com as bebidas, papai com os talheres e eu com a toalha, que por sinal fiz uma péssima escolha, ela está gasta e os retalhos estão se desfiando. A expressão da minha madrasta ao vê-la foi cômica.
Um vento fresco bate em meu cabelo e eu sinto o aroma das plantas no verão, acho que o cheiro delas é uma das melhores partes dessa estação do ano. Mamãe dizia que as flores possuíam perfumes como uma forma de chamar a atenção e provar o valor delas, como se precisassem evidenciar que eram mais do que pétalas, celulose e hastes.
—E, então, o que fizeram de bom essa semana?—Pergunta papai sentado com as pernas cruzadas enquanto alisa a mão de sua esposa.
Suspiro e desvio o olhar para o sol se pondo. Com certeza o nascer do sol é bem mais belo do que ele se pondo. Acho que tudo é mais bonito e significativo no seu início. Isso é um fato.
—Eu e Isaac jogamos Mortal Kombat! Foi insano! Mike também jogou, mas Isaac joga muito melhor.—Exclama Jasper freneticamente com um sorriso perambulando seus lábios que me contagia a sorrir também.
Jazz é tão inocente, às vezes nem acredito que ele já tem dez anos.
—Mas,com certeza você joga melhor que todos, Jazz.—Murmura papai bagunçando o cabelo de Jasper e piscando para Isaac que dá um sorriso sem graça.—Bom, crianças, queria me desculpar por não ter passado tem sufi... —Marcy pigarreia interrompendo-o.—O que foi, querida?
Minha madrasta arregala os olhos e acaricia meus cabelos. Fico estática e ela logo repara minha reação tirando suas mãos de lá. Agradeço mentalmente.
—Você esqueceu de perguntar como foi o dia da Sienna, Henry.—Explica olhando carinhosamente para o meu pai.—Tenho certeza que fez algo tão importante quanto os meninos.
Dou uma risada sarcástica fazendo meu progenitor e Isaac me mandarem um olhar em repreensão. Jazz percebe a tensão e puxa meu irmão para brincarem com a bola que trouxeram de casa.
Não entendo como ou o porquê dessa tensão ter surgido. Eu só ri. Suspiro descruzando minhas pernas e pegando uma maçã vermelha da cesta.
—Sienna, por favor, filha.—Implora papai com os olhos enrugados transbordando vergonha e preocupação. Desvio o olhar para Marcy e a vejo arrancando pedaços do retalho da toalha já despedaçada. —Quando irá perceber que somos uma família? Respeite a Marcy. Ela é minha esposa e tudo o que esperamos de você, filha, é respeito. Na verdade, é o mínimo que te pedimos.
Franzo o cenho sentindo um aperto em meu peito.
Família? Como ele pode dizer isso? Será que papai não sente o vazio que mamãe deixou? Será que ao menos ele sente falta dela? Uma parte de mim diz que sim, porém outra praticamente grita dizendo o contrário. Em menos de três anos papai já tinha se casado e se apaixonado por Marcy.
Se realmente sentisse falta da mamãe, ou se realmente a amasse não teria arrumado outra tão rápido. Leah, minha psicóloga, disse que todos têm uma forma diferente de luto, mas receio que meu pai ao menos passou por uma.
Sinto meus olhos lacrimejarem e então dou uma mordida na maçã de mau gosto. Marcy levanta a cabeça e me analisa com seus olhos cor de mel.
—Eu não quero substituir sua mãe, Sienna.—Declara ela com uma voz embargada. Sinto uma lágrima escorrer e umedecer minha bochecha. Merda. Ouvi-la mencionar minha mãe doeu mais do que esperava.—E nunca, ninguém irá substituí-la, porque ela foi/é a sua mãe. Eu sei que sente a falta dela, sei que dói, querida.—Solto um soluço e desvio o olhar para minhas mãos trêmulas. Marcy toca meu queixo suavemente e o levanta para encara-la, seus olhos estão lacrimejando também e de certa forma isso serviu de consolo.—Mas eu estou aqui para ajudá-la, para diminuir um pouco dessa dor. Porque querendo ou não, eu amo o seu pai e vamos ter que conviver juntas, Sienna. E você não merece viver com esse vazio, ninguém merece.
Papai se levanta e senta do meu lado enxugando minhas lágrimas. Largo a maçã na toalha e afundo meu rosto em seu pescoço e me deixo chorar lá.
—Querida, eu te amo muito, por favor, não me deixe ver-te sofrer desse tanto.—Sussurra ele enquanto alisa meus cabelos.—Dê uma chance a ela, prometo que Marcy é gente boa.—Papai dá uma risadinha e diz bem baixinho: —Não é melhor que sua mãe, mas foi o mais próximo que pude encontrar.
Afasto-me lentamente e o observo. Por mais que eu consiga perceber o seu esforço, é quase palpável, mas um sentimento floresce dentro de mim fazendo com que toda essa história seja um pouco mais difícil de engolir.
Eu ainda não estou pronta!, quero gritar. Porém, sei que não são as palavras que meu pai e Marcy procuram em meus olhos.
Desvencilho do aperto dos braços de papai e dou um sorriso sem graça para os dois ao me levantar.
—Ah...acabei de lembrar que Connor me chamou para sair.—Balbucio com a voz vacilante. Papai observa-me com os olhos apertados como se pudesse ter visão raio-x e vejo Marcy suspirar derrotada. Não a julgo, deve ser horrível ser minha madrasta.—Sinto muito, mas ele está me esperando e vocês sabem como ele é...—Meu progenitor dá um sorriso triste e acena com a cabeça. De longe, consigo ver Jasper e Isaac jogando futebol, decidi não atrapalhar o momento deles e partir de fininho.
—Quem vai te levar?—Indaga Marcy ainda com um brilho esperançoso em seus olhar.
Merda. Eu queria ter uma boa relação com ela, Marcy merece. Mas, ainda não estou pronta.
Mordo o lábio e coloco uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
—Connor vai.—Minto vagamente e papai levanta uma sobrancelha desconfiado.—Por isso tenho que me apressar, ele vai passar buscando a Heather no ballet.
—Eu pensei que a Heather não fazia mais ballet.—Diz meu pai com um sorriso de "te peguei!".
Reviro os olhos e dou de ombros.
—Bom, não foi o que ele disse. De qualquer jeito, tchau para vocês, foi um piquenique maravilhoso.—Forço-me a sorrir e antes que possam dizer mais alguma coisa aperto o passo para o ponto de ônibus que está a algumas quadras do parque.
—Te amamos, Sienna!—Ouço Marcy e meh pai gritarem.
—Eu sei.—Sussurro para mim mesma.
(...)
Era mais do que óbvio que estava mentindo para eles. Connor não veio me buscar, até mesmo porque está sem seu carro desde o momento em que sua mãe descobriu seu paradeiro. Portanto, fui de ônibus para nosso local de encontro. Confesso que estou um pouco nervosa já que a última vez que falei com essa galera foi na escola e eu só fazia conversa-fiada porque não estava muito interessada em ampliar meu grupo social. Agora que o Ensino Médio terminou, pergunto-me se alguma coisa mudou.
Kelman's é uma lanchonete popular aqui na cidade, ela faz muito sucesso não só pela ótima culinária, mas também por causa de sua arquitetura. A lanchonete é toda futurística, possui luzes azuis monocromáticas, apenas atendimento digital, só há garçons para levarem a comida e bebida. É um pouco bizarro porque eles não podem falar conosco e se vestem como se fossem androids.
—Eu estou falando sério, gente, vocês não botam fé, mas quando os robôs estiverem decepando a cabeça de vocês não venham pedir minha ajuda!—Exclama Trevor batendo na mesa fazendo-me dar um pulo.
Ele está levando isso a sério? Solto uma risada assim como os outros ao meu redor. Trevor é um sarro. Tudo o que ele fala me dá vontade de rir.
—Não sei como chegamos nesse assunto.—Pronuncia Juan.—Mas não poderia descordar mais, se alguma máquina começar a matar, não tenha dúvidas, Trev, vai começar sendo a sua.
Acho que eu vou ficar sem ar de tanto rir. Tinha esquecido deste sentimento, a dor no abdômen por rir demais e ficar sem ar. Connor empurra levemente seu ombro contra o meu e sorri.
—Nunca te vi rir tanto.
—Não tem como não rir com eles.—Falo ainda com dificuldade de controlar o riso.
—Vai nessa, Sienna, daqui algumas semanas duvido que dirá a mesma coisa.—Provoca Alexia com um sorriso malandro em seus lábios.
Juan dá um peteleco em sua orelha fazendo a garota guinchar e dar um tapa em seu braço.
—Ai, cabrón!—Resmunga o moreno massageando o local agredido.— Não liga para a Alexia, pelirroja, ela diz isso mas liga para mim toda noite implorando para me beijar.
Alexia revira os olhos enquanto todos nós rimos.
—Eu fui arrumar o pior namorado do mundo.
—Nem vem, Lexi, eu tinha me candidatado, mas você negou.—Brinca Trevor beliscando sua batata frita.
—Mas também, né? Quem iria namorar com alguém que matou o hamster de estimação?—Ironiza Connor bebericando seu suco de limão.
Viro-me com os olhos arregalados para Trevor que está com os olhos fechados como se estivesse contando até dez.
—Você matou um hamster?!—Pergunto incrédula fazendo Connor rir.
O garoto abre os olhos e nega a cabeça milhares de vezes.
—Não! Eu não matei ele! Foi um acidente, não sabia que o sol matava hamster.
—E aqui te apresento, Sienna, o maior serial Killer de hamster de todo os Estados Unidos da América.—Sorri Connor de uma forma triunfante apontando para Trevor que ficava vermelho de raiva.
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