21

Olivia

Alguns dias depois…

Meu pai está em casa, sendo cuidado pela dona Júlia, que faz questão de manter ele em repouso, e sempre de olho na saúde dele.

Alex passou no teste da Giovana, e agora trabalha aqui na pousada fazendo as refeições. E desde o início eu sabia que isso iria acontecer. Enquanto ele está trabalhando, eu fico na recepção ajudando a nova recepcionista, Mariani, a se acostumar no trabalho. João passou no concurso, e está dando entrada no novo emprego dele de professor, e fico feliz por ele alcançar o sonho dele, sabia que ele não iria querer ficar atrás de um balcão para sempre. Às vezes quando ele vem falar com a mãe dele, eu consigo ver ele e perguntar como as coisas estão indo. 

O caixa da pousada está passando em situações boas, com a chegada da alta temporada, é um ótimo tempo para conseguir mais dinheiro e investir mais aqui, para que mais pessoas conheçam e venham. Com a ajuda do Alex, criei um perfil nas redes sociais, postando alguns vídeos daqui, e até mesmo vlogs do que as pessoas podem encontrar aqui, e no povoado. O engajamento até que está sendo bom, e o nosso site está sendo bem mais visto depois de ter criado esse perfil, e agradeço isso pelo o Miguel, ele que me deu um toque de algumas coisas que precisava melhorar.

— Chegou novos hóspedes — ela avisa baixo chamando a minha atenção.

Olho para a porta, e vejo um casal entrar. Ambos conversam sobre algo, e param ao chegar no balcão.

— Bom dia! — diz a mulher gentilmente e o homem ao seu lado diz o mesmo.

— Bom dia — respondemos receptivas.

— Eu fiz uma reserva online para um quarto aqui, para o dia de hoje — diz ela, e deixo a Mariani tomar conta da situação.

— Poderia informar o seu nome por favor?

— Anabela Oliveira.

— Um quarto de casal, incluindo as refeições, estão sim reservados para vocês. Será uma semana mesmo? — pergunta.

Com um dia de treinamento, a Mariani está pegando a pratica, e se adapta bem as coisas.

— Sim, isso mesmo.

— Daqui a sete dias vocês podem retornar ao balcão para o check out — diz após fazer corretamente o check in. — Aqui está as chaves do quarto de vocês. É só subir as escadas, e aqui um panfleto com todas as atratividades da região.

Desejamos uma boa estadia, e os vejo carregar as bagagens para cima.

— Você foi muito bem, fez um ótimo trabalho. — Faço joinha com as mãos.

°

Eu amo o meu trabalho, mas o que eu amo mais é tomar um banho relaxante e deitar na cama ao lado do meu namorado. Os pesadelos não são mais frequentes, e eu não acordei mais de noite do nada, e as sessões de terapia estão me fazendo bem.

Alex está sem camisa sentado na cama, enquanto lê algo no notebook, o que o deixa tão sexy. Me aproximo dele me sentando do seu lado, que fecha o notebook o colocando de lado em cima da mesinha de canto. Esses momentos como esse, me faz querer sentar o seu lado e apreciar o trabalho dele. Mesmo trabalhando na cozinha aqui, ele ainda consegue tempo para o trabalho dele na cidade, e ainda consegue ter um tempo comigo.

— O que foi? — pergunta sorrindo tímido.

— Só estou observando o quão sexy você fica concentrado.

— Fico é?

— Sim — subo em seu colo, beijando a sua bochecha, descendo para seu pescoço. — Eu já disse que sou muito sortuda por ter você? E de como eu amo cada pedacinho seu?

— Você já falou, mas eu gosto quando você me lembra todos os dias.

O olho nos olho, e o beijo. Suas mãos vão para minha cintura, me virando na cama , fazendo com que nós dois deitassemos. Separamos o beijo, e ficamos ali juntos aproveitando esse pequeno momento.

— Liv, podemos ir visitar os meus pais? A minha mãe está louca para te conhecer.

— Se você quiser para mim está tudo bem, quero conhecê-la também. E espero que ela goste de mim.

— Ela já te ama.

— Mas ela nem me viu!

— O que eu já contei, já conquistou o coração dela.

— Vamos ver quando ela me conhecer realmente. Mas é só marcar o dia, que vemos se dá para gente ir.

— Tudo bem. Agora vamos dormir, você está morrendo de sono — diz após eu bocejar.

— E eu estou mesmo.

Alex se afasta, se levantando da cama apagando a luz, e em seguida o sinto deitar ao meu lado, me puxando para os seus braços enquanto nos enrola com a coberta. E eu fecho os olhos sentindo o sono chegar em poucos segundos.

°

Enquanto ele está no banho, e eu preparando nosso café. Mando mensagem para Vi, que responde me ligando em seguida.

— Vou conhecer a mãe do Alex — aviso olhando para o celular, na chamada de vídeo.

A Vitória do outro lado parece um pouco cansada, sei como deve ser faculdade, certeza que vira as noites estudando. Ela disse que só vai ter aula daqui a uma hora, por isso me ligou.

— Quando?! — pergunta animada.

— Não sei ainda, pedi para ele marcar o dia. E quem sabe eu não vou te ver?

— Eu iria adorar, é só marcar o dia. E aí de você não passar aqui em!

— Claro que eu vou passar pode deixar. Mas como está indo aí?

— As coisas estão indo como sempre, chatas e entediantes.

— Não achou nenhum amigo ainda? E sua colega de quarto.

Ela tinha me dito que sua colega de quarto, Luana, não era muito amigável e extrovertida. E parecia não querer que as pessoas invadissem o espaço pessoal dela. Então as duas só diziam um bom dia, boa tarde e boa noite uma para as outras por educação.

— Ela continua na mesma, sem falar comigo. E eu não estou forçando muito a barra. Mas amigos, por enquanto nenhum, mas está tudo bem. Essas coisas levam tempo, mas eu não ligo, eu estou bem — ela esboça um sorriso.

— Tem certeza?

— Tenho. Tem muito tempo de faculdade pela frente.

Me viro de costas para o celular, para lavar a mão na pia, e sou surpreendida por braços em volta da minha cintura, e sinto o cheiro do sabonete do Alex.

— Que cheiro bom — diz ele se referindo ao café, e eu me viro.

— Uh, eu ainda estou aqui! — Vi diz alto pelo celular.

— Ah, oi Vitória. Como vai? — Alex tira os braços de volta de mim, olhando para o celular.

— Eu estou bem, e você?

— Bem também. 

— Olivia, eu acho melhor eu desligar. Aproveita o café, enquanto eu vou procurar vagas de emprego na internet.

— Tudo bem, boa sorte. Tenho certeza que vai conseguir. — Desejo de verdade.

Ela disse que está difícil encontrar estágio na área, porque muitas empresas querem pessoas do quarto semestre para cima. E agora ela está procurando um emprego para o período da tarde ou noite, porque mesmo estando no campus, ela tem despesas.

— Vitória, eu não sei se você vai querer, mas o Miguel está precisando de uma assistente para ajudar na parte administrativa do restaurante, ele está aceitando meio período. Não é a sua área, mas é o que posso oferecer. — Diz ele e ela parece pensar sobre.

— É o melhor que eu posso ter agora. Depois me passa o contato dele.

— Pode deixar. 

Vi se despede de nós dois finalizando a chamada.

— Obrigada por avisar sobre essa vaga a ela.

— A Vitória me ajudou uma vez, hora de retribuir. Se eu soubesse teria falado antes, mas Miguel falou sobre isso ontem.

— Não, tudo bem.

— Agora vamos comer, estou sentindo uma fome com o cheiro desse café — ele beija minha bochecha, me puxando para a mesa já posta.

°

Aproveitando o resto do domingo, já que hoje nem Alex e eu precisamos trabalhar, estamos aproveitando um pouco da natureza, na verdade, eu estou pegando manga na árvore, enquanto ele está no chão pegando as que estão caindo.

— Olhando você ai de cima, me lembra de quando eu conheci você.

— Está falando do dia em que derrubei uma manga na sua cabeça? — ele assente. — Se o seu medo for que eu te acerte outra, não se preocupe que eu não vou te acertar.

Não lembro ainda das minhas memórias de quando eu o conheci, mas Alex faz questão de me contar algumas.

— Minha preocupação não é essa, o meu medo é de você acabar caindo aí de cima.

— Não se preocupe, eu subi aqui muitas vezes. E eu estou tomando muito cuidado, e é claro que não vou cair como foi com a escada.

Uma manga madura é com um cheiro maravilhoso, está alguns centímetros de distância de mim, estico o meu braço, enquanto o outro eu seguro com força o tronco da árvore, estico mais um pouco, e as pontas dos meus dedos encostam na fruta, puxo ela do galho, e ela escorrega da minha mão indo para o chão.

— Alex, pega a… — paro de falar ao olhar para baixo vendo ele com uma mão na cabeça e a manga na outra mão. — Me desculpa!

Desço da árvore, e me aproximo dele.

— Ela caiu na sua cabeça? — ele assente. — Deixa eu ver!

Passo a mão sobre o seu cabelo, encontrando o lugar onde dói.

— Não machucou, só vai ficar dolorido por um tempo — olho para ele que não diz nada. — Não está bravo comigo está? Foi sem querer, ela tava na minha mão e escorregou, eu quando eu vi, ela caiu em cima de você…

  Ele me cala quando seus lábios se chocaram com os meus.

— Não foi nada. — Diz com um sorriso no rosto, após se afastar. — Não precisa ficar tão preocupada assim, sei que não foi de proposito.

— Você não vai querer terminar comigo ou nem nada do tipo?

— Eu não terminaria com você por conta disso.

— É que você ficou todo sério do nada, e agora está aí sorrindo. Eu fico sem entender.

— Eu só estava brincando Liv, eu não fiz por mal. Eu só queria ver a sua reação — acerto um tapa fraco em seu ombro.

— Não faça mais isso, passou mil e uma coisas na minha cabeça, sobre o que você estava pensando.

Ele derruba a manga no chão, e envolve seus braços na minha cintura.

— O que eu tenho que fazer para você me perdoar em? — ele beija o canto da minha bochecha.

— Hum, deixa eu pensar… uma lasanha?

— Eu estava pensando em algo mais fácil, tipo um beijo?

— Estou aceitando no momento — sorri, e ele junta seus lábios no meu.

   Nos separamos, quando ouvimos conversas próximas da gente. Não é que eu sinto vergonha de nós dois estarmos juntos, mas sim de ter esses momentos enquanto outras pessoas estão olhando, me deixa tímida, mesmo que eu não seja.

— Oi, desculpa incomodar.  — Diz a hóspede que eu me lembro se chama Anabela, e ao lado dela está o homem que veio com ela. — Mas é que meu namorado, Jason, ele é fotógrafo e queríamos saber se podemos tirar uma foto de vocês dois.

— Ahn… serio? — olho para as minhas mãos sujas da manga. — A gente não está nem arrumados e limpos. 

— Não tem problema algum. Só preciso que vocês dois aceitem. — Diz o Jason com a câmera em mãos.

— Por mim tudo bem — Alex olha para mim, esperando a minha resposta.

Aceitamos então, e esperamos eles dizerem o que devemos fazer. Jason pede para que Alex e eu ficássemos de frente um para o outro, e que ele colasse as mãos na minha cintura e eu colocasse os braços em cima dos seus ombros, e que nós dois olhássemos um para o outro. Olhando nos olhos do Alex, sorri e ele faz o mesmo.

— Pronto, tire. — nos afastamos, e aproximamos dele, que mostrou a foto. — Consegui tirar duas fotos.

A diferença era que uma foi antes de a gente sorrir, tudo tinha parecido tão rápido para a gente se aprontar, que ele ainda conseguiu tirar essa foto no meio disso. Mas ambas estão incríveis.

— As fotos ficaram boas demais, você é muito bom Jason — eu concordo com Alex.

— O lugar e o casal também contribuíram para essa foto ser tão linda. Muito obrigado por vocês terem aceitado. — Agradece e a Anabela faz o mesmo.

— A gente pode ficar com uma delas? — pergunto. 

— A gente paga — acrescenta Alex.

— Não precisa pagar, eu faço isso como um bônus. Esse lugar que vocês tem aqui é um ótimo lugar, para fotos e até mesmo para momentos de casais — ele sorri para a namorada. — Alguém já pensou em fazer alguma cerimônia de casamento aqui?

— Não. Ninguém.

— Bom, talvez depois disso pessoas vão querer. Com a permissão de vocês, podemos colocar uma dessas fotos de vocês no nosso portfólio?

— Sim? — olho para Alex que concorda.

— Que bom, isso vai ajudar não só a gente, mas trazer mais visibilidade para esse lugar incrível — Anabela sorri.

Ainda bem que o Alex me ajudou com isso de criar uma página na internet, assim as pessoas que também vem aqui postam alguma coisa, acabam mencionando o lugar em algumas publicações. E ainda bem que existam pessoas que gostam da natureza, e passar um tempo com nela. Muitos até perguntavam se a gente não tinha uma área para acampar, o que me trouxe uma ideia futura para atrair mais pessoas.

— Nossa, muito obrigada por nos ajudarem. — Agradeço.

— A gente que agradece, agora vamos deixar vocês dois em paz. Depois eu falo com vocês para mandar a foto — diz ele e assentimentos.

Ao ficarmos sozinhos, Alex eu pegamos o resto das mangas e colocamos no balde que trouxemos, voltando para casa. Mas não sem antes dar uma olhada na casa do terreno vizinho.

— Ainda não terminaram a reforma? — pergunta ele parando ao meu lado, e eu nego.

Depois que a Larissa finalmente foi embora, o pessoal que estava trabalhando aqui também foram embora logo depois. E desde então, a casa está assim, como se estivesse abandonada. Se era ruim a ideia de vender, imagina agora saber que o lugar que você tanto amava que deveria estar sendo habitada e cuidada, foi simplesmente deixada assim.

— Não sei nem se eles vão continuar, pelo visto a Larissa se arrepende.

Pelo menos não tem como ela voltar atrás e querer o dinheiro de volta. E só me restam as lembranças antigas, antes de eles terem começado a arrumar.

º
  Não vou mentir que estou um pouco nervosa, e ansiosa para conhecer a minha sogra. Escolhi bem o que usar para que ela não me veja com outros olhos, como dizem, a primeira impressão é a que fica. Eu estava preocupada em ter que deixar as coisas na pousada enquanto vinha para cidade com o Alex, mas tudo está saindo muito bem com a Mariani e meus pais foram lá dar uma ajudada, enquanto Giovana deixou que ele viesse, contato que ele recompensasse depois, o que ele não achou ruim.

— Lembra-se, minha mãe já te ama, não precisa se preocupar — Alex diz baixo para mim, antes de bater na porta.

Mesmo com suas palavras, não consigo não ficar ansiosa.

— Já estou indo! — escuto uma voz feminina dizer do outro lado.

Ele segura minha mão, e olha para mim. Vai dar tudo certo, é só eu ser eu mesma. Respiro fundo, e sorri quando a porta foi aberta.

— Ah, que bom que vocês chegaram. Entrem! — ela diz animada, e dá espaço na entrada para gente entrar. — Oi meu filho, como você está? — ela diz olhando para o filho e em seguida o abraça.

— Estou muito bem. Mãe, essa é a Olivia, minha namorada. — ele se afasta dela pegando na minha mão novamente, o trazendo para o seu lado.

— Que garota mais linda — ela me abraça e beija minha bochecha. — Estava esperando ele trazer você para me conhecer. O meu nome é Ally.

— Oi, Alex disse muitas coisas boas sobre a senhora.

— Não precisa me chamar de senhora, você já está bom. Vocês querem alguma coisa?

Negamos, e sentamos no sofá. Mesmo vendo o quanto ela está animada com a nossa chegada, ainda não consigo passar o nervosismo.

— Olha como Alex está, tão feliz eu nunca o vi assim antes. Eu sempre esperei por esse momento, meu filho trazer uma nora para eu conhecer. Insisti tanto para ele a trazer antes. — sorri. — Agora me conte um pouco, de onde vocês se conheceram?

— Há dez anos, em uma pousada. — começo. — Estava com quinze e ele dezesseis, pelo que Alex disse éramos grandes amigos.

Quando dei por mim, eu já estava contando toda a nossa história até aqui, deixando um pouco de nervosismo de lado.

— É depois de tanto tempo se reencontraram e finalmente ficaram juntos? — pergunta um tanto emocionada.

— Sim, na verdade, eu nem sabia sobre o Alex. Eu tive uma perda de memória após um acidente há dez anos, e não lembrava nada sobre ele. Então Alex apareceu na pousada, e conquistou o meu coração e agora estamos juntos.

— Então era por você que ele ficou tão triste quando fomos embora naquela época — fala pensativa —, eu pensava que seria por conta das brigas constantes entre o pai dele e eu, mas eu percebi a felicidade dele, quando estava longe da gente, só não imaginava que fosse por você. É uma pena pelo seu acidente. Você não lembra de nada?

— Eu lembro de algumas coisas, mas infelizmente não da época em conheci o Alex. Mas os novos momentos são também mais importantes. — o olho sorrindo, e ele fez o mesmo.

— Eu gosto dela desde aquela época, mãe. Pensei que seria algo passageiro, que encontraria outra pessoa, mas não foi isso o que aconteceu. Eu sentia que deveria ter voltado para lá há muito tempo antes, mas só esse ano tomei coragem.

— Fico feliz por vocês de verdade. Então foi por isso que depois do seu acidente, você queria voltar. Por que não avisou sobre ela?

— Então… eu queria resolver as coisas com a Liv primeiro, antes de dizer para a senhora sobre nós dois. Ter certeza que ela gostava realmente de mim — responde ele.

— E pelo visto se resolveram, mas vocês não pensam em vir para cidade?

— Eu falei para ele que não precisava abandonar a vida dele aqui, para ficar comigo. — respondo primeiro.

Se Alex pedisse para vir para a cidade, eu não sei se conseguiria me acostumar. O povoado e a pousada é o meu lar. E ele ter aceitado ficar lá, sem nenhuma dúvida, me encantou ainda mais, por mais que ele teve que sacrificar algumas coisas.

— Eu decidi em ficar onde a Liv estiver, eu gosto de morar lá, e não foi muito sacrifício sair daqui. Eu até estou trabalhando até, graças a ela.

— Na verdade, foi pelo seu talento de Chef, eu só falei para a pessoa certa sobre você.

— É meio difícil em ficar longe do meu filho, mas sei que ela está em boas mãos — ela diz sincera. — Se o meu filho está feliz, tudo bem. E qualquer coisas que vocês precisarem, pode entrar em contato comigo.

— O que a senh.. o que você precisar também pode contar com a gente. — falo me soltando um pouco mais.

Meus olhos batem em um homem parado na entrada do corredor, que olha para gente. Eu nem tinha o visto chegar, ele certamente deve ser o pai do Alex.

— Oi pai, não sabia que estava aqui. — diz Alex se levantando, e eu faço o mesmo.

O senhor se aproxima da gente, e eu estendo a mão.

— Prazer em conhecê-lo, eu sou a Olívia — ele aperta a minha mão de leve.

— Eu ouvi falar bastante bem de você ultimamente. Eu sou o Roberto. Não queria atrapalhar vocês, eu acabei de chegar pelos fundos.

— Seu pai foi à padaria que pedi para ele ir, e eu avisei a ele que não precisava entrar pelos fundos. Ele tá com vergonha — ele ficou sem graça com o comentário da esposa.

— Não necessariamente com vergonha, mas não queria atrapalhar o momento de vocês.

— Não atrapalha, senta com a gente — Alex pede.

Percebo que entre os dois, as coisas não fluem mais naturais como ele com a mãe. Alex me disse que as coisas entre os dois tinham melhorado, mas não tanto assim, ele o perdoou, mas não consegue esquecer. Ao sentarmos no sofá de volta, dona Ally se levanta indo atrás de alguma coisa, e pede para o Alex acompanhá-la. Ele pergunta se estaria tudo bem eu ficasse na sala, e assegurei que não teria problema.

— Então Olivia, soube que é dona de uma pousada.

— Na verdade são os meus pais, eu apenas administro para eles, já que eles estão aposentados na cidade. Sei que pode soar meio estranho, já que eu gosto tanto da natureza e eles não estão perto de lá. Mas os meus pais queriam sentir novos ares, já que nasceram no povoado. .

— Sei como pode ser para eles. Eu também nasci no interior, minha família inteira antes de mim nunca tinha saído do interior, mas depois que atingi a maioridade, estive enjoado daquele lugar, e resolvi vir para cá, que foi quando eu descobri coisas novas, e não queria mais sair daqui, e tive novas oportunidades e conheci o amor da minha vida. — Sorri pensativo, lembrando certamente de como foi.

— É, mas eu acho que não me acostumaria aqui. Eu sou completamente apaixonada pela natureza. Hoje em dia com tecnologia e internet, temos coisas que aqui na cidade também tem, então dá para aproveitar, e curtir a natureza.

— As pessoas têm que agradecer pessoas assim como você, que se importam e gostam da natureza. Porque se fosse os homens que só se importam com as cidades, prédios e shoppings, o número de área natural no mundo, estaria esgotado.

Assinto, concordando com ele. O número de queimadas em áreas naturais e os problemas climáticos só aumentam, e o número de pessoa procurando lugares afastados da cidade, para se refrescarem e respirarem melhor, está crescendo. Mas os números de áreas verdes no mundo, está diminuindo aos poucos. 

— Sei que o Alex, deve ter dito sobre o que aconteceu esses anos — diz mudando de assunto. — E eu preciso dizer que não sou o mesmo homem de tempos atrás, o tempo em que fiquei sozinho, eu sofri, mas também aprendi. Assim como a Ally.

Ele não precisava falar sobre isso, mas já que ele começou, não consigo me segurar.

— Alex está um tanto machucado, com a situação que vocês tiveram, e o incluíram no meio, mesmo ele sendo um adolescente naquela época.

— Eu disse a ele que eu sinto muito — diz com os ombros caídos.

— Ele sabe, mas as coisas estão caminhando bem. Alex está entendendo tudo, e está se aproximando cada vez mais de você novamente. Ele ama você, e se preocupa com vocês dois, só que ele tem medo de que as coisas voltem a ser como antes — as palavras saem da minha boca com facilidade.

— Eu amo a Ally, e não quero que as coisas voltem como antes, eu amo ela, e amo o meu filho, não vou causar mal algum para nenhum dos dois. Antes que eu aceitasse voltar com ela, essa vez, nós dois conversamos e deixamos tudo a claras. Não quero que as coisas se repitam.

— Que bom saber, agora só o tempo dirá o que vai acontecer daqui para frente. E logo, logo, vocês olharão para tudo o que aconteceu como um passado, uma parte da história que construíram vocês o que é hoje. Só passe mais tempo com o seu filho — paramos a conversa quando Alex e dona Ally chega com uma bandeja em mãos.

— Tudo bem? — ele pergunta baixo e eu assenti.

— Sei que disseram que não queriam nada, mas nada melhor do que um lanchinho para a conversa — ela coloca a bandeja em cima da mesinha de centro. — Vou pegar o álbum de fotos do Alex.

— La vai ela te explicar cada detalhe de cada foto — avisa Alex.

— Tudo bem, quero ver como foi a sua infância.

— Vou ajudá-la a procurar — avisa seu Roberto saindo da sala.

— E então como está sendo? — pergunta para mim.

— Está sendo legal, sua mãe é muito legal, e o seu pai também. Está sendo melhor do que imaginava.

— Eu disse que minha mãe te amava, e não precisava se preocupar com nada. Minha mãe perguntou se você quer almoçar aqui?

— Claro, se você quiser eu topo.

— Então combinado.

Ally voltou segurando um grande álbum e sentou ao meu lado, abrindo o álbum no meu colo. Ela mostrava cada foto, apontando Alex em momentos em que eu não enxergava, e contava as histórias sobre o que estava acontecendo no momento, e o marido dela ia acrescentando em alguns momentos.

— Alex, podemos conversar por um momento? — pergunta o seu Roberto se levantando.

— Sim. — ele beija a minha bochecha e sinto ela corar, e ele se levanta acompanhando o pai.

— Ah, jovens… — a mãe dele diz e eu volto a atenção para o álbum.

Enquanto me perguntava, se o pai dele ia tomar alguma decisão, para se aproximar do filho.

Alex

Meu pai me chamou para o quintal, e ficamos em pé de frente um paro o outro. Ele colocou as mãos no bolso do jeans, e olha ao redor.

— Eu queria dizer, que me desculpe por tudo o que fiz — ele começa e eu fico quieto ouvindo. — Eu não fui um pai tão bom, tive problemas para lidar a relação minha com sua mãe. Sei que fiz você sofrer por isso. Não tem como passar uma borracha por cima de tudo o que aconteceu, mas tem como mudar o futuro. E eu quero ser um pai melhor e tratar a sua mãe muito melhor do que no passado.

— A Liv disse alguma coisa? — ele sorri.

— Eu estava falando com ela, sobre o que aconteceu com todos nós. E ela me mostrou, coisas que eu deveria ver de outro lado. Ela se preocupa com você, me contou coisas que eu não vi, não sabia o quão prejudiquei você.

— Pai, isso é passado. Eu também errei em ter colocado todo o peso e a culpa da situação no senhor. Você e a mamãe eram e são adultos, deveriam saber melhor como resolver os seus problemas. E… — suspiro. — Eu vi como a mamãe ficou, como ela agia, e isso só me fez ter raiva do senhor, o que não foi justo. Então eu também peço desculpas.

— Eu estou aprendendo com tudo, mas eu peço desculpas de verdade também. E como a sua namorada disse, temos que aproveitar o futuro. — ele sorri tímido. — Eu tenho um presente para você, na verdade para vocês dois. Eu vejo como são felizes, e ela, a Olivia é uma boa pessoa, e pelo o que vejo, vocês dois vão longe com essa relação. E espero estar vivo para ver os meus netos.

— O que é isso? — eu sabia o que era, eu reconheci o chaveiro do trevo, a chave que vivia guardada no porta-chaves.

Um lembrete da existência da cabana do meu pai, que fica no local onde ele nasceu, e agora é um resort. Passamos um tempo lá nas férias quando eu era mais novo, antes de tudo acontecer. Meu pai dizia que passaria para mim quando eu crescesse, mas não esperava que fosse agora.

— Uma chave, da sua cabana — diz enfatizando o sua.

— Mas pai, isso é seu!

— Agora é seu, e dela quando se casarem, e para os seus filhos, e os filhos dos filhos dele se você quiser. Para quando você e a srta. Olivia quiserem ter um tempo a sós só para vocês. E filho, seja feliz. E não seja como eu e sua mãe fomos — o abraço, sem saber o que dizer. — Não preciso dizer para você cuidar bem da sua mulher, porque eu sei que você já faz isso.

— Obrigado pai, muito obrigado.

°

O dia passou rapidamente, e um almoço se transformou em um lanche da tarde, e seu eu não insistisse que precisávamos ir embora, minha mãe teria insistido em que ficássemos até o jantar. Infelizmente, só temos dois dias para ficar aqui. Depois de amanhã voltaremos para a pousada. Foi o nosso combinado com a Giovana, já que mal comecei o trabalho. Eu não achei ruim, e entendi, mas depois em um futuro, quem sabe Liv e eu passemos mais dias aqui.

— Nossa programação amanhã após você ver a Vitória, e ir no restaurante e quero te levar em um lugar antes de a gente ir embora — abro a porta do carro para ela, entrar.

— Hm, fiquei interessada em saber em que lugar iremos.

Fecho a porta do carro, dando a volta e entrando no banco de motorista.

— Vai ser uma surpresa, vou te mostrar amanhã.

O almoço com os meus pais foi ótimo. Percebi que Liv estava se sentindo mais confortável, eu falei para ela que minha mãe amava ela, e o meu pai também. Conto para ela sobre a cabana, e do lugar agora ser nosso, e quando tivermos uns dias féria podemos ir lá para conhecer. 

— Quando ele começou a falar sobre ele e a sua mãe, eu não consegui me segurar e disse o que eu vi que estava passando. Me desculpa por ter contado algo sem te perguntar antes se podia estar contando.

— Não, tudo bem. Meu pai disse que você estava preocupada comigo, e eu quero que não se preocupe com isso.

— Não tinha como não se preocupar, vendo como você estava Alex. Eu só queria te ajudar a sentir melhor.

— Obrigado por tudo o que vem fazendo — pego na sua mão, quando paro em um sinal vermelho.

— É uma pena que vamos ficar pouco tempo, seus pais são tão legais.

— Percebi como você ficou mais a vontade com o tempo.

— Mesmo lidando com pessoas todos os dias, conhecer os seus pais me deixou sem jeito, não sabia como agir perante os meus sogros.

— Eu te falei que minha mãe te amava.

— Ela disse isso sem antes me conhecer pessoalmente, mas ela é um amor mesmo, qualquer pessoa se sente bem com ela.

— Isso é justamente o que minha mãe e a sua tem em comum.

— É agora a relação do meu pai com você, foi outra história.

— Ele só estava sendo protetor com você, mas agora as coisas estão indo bem entre a gente, é claro que não ao ponto de ele chamar eu para beber ou algo do tipo — ela ri.

Chegamos no prédio e ao estacionar o carro na minha vaga de estacionamento, pego nossas coisas, que são apenas uma mochila minha e outra dela, e subimos juntos para o andar do apartamento. Após abrir a porta, fomos recepcionados por Miguel, que já estava a espera da nossa chegada.

— Que bom ver vocês aqui finalmente, certeza que a tia não queria deixar que vocês saíssem de lá por tão cedo.

— Acho que ela até ficou um pouco chateada por termos vindo embora. — sento no sofá ao lado dela, colocando nossas coisas no outro sofá, e Miguel senta no braço do outro sofá.

— A gente deveria ter ficado mais tempo — acrescenta ela. — Não quero que ela fique brava comigo por ter te afastado dela.

— Que isso, ela não vai ficar chateada com você, é impossível. E a tia Ally sabia que isso um dia iria acontecer. Sabe de uma coisa Olivia, você é a primeira mulher que o Alex traz aqui.

— É para eu me sentir honrada?

— Não liga para as coisas que o Miguel diz.

— Só estou brincando, e é verdade quem não soubesse da paixão que ele tinha por você, acharia que ele é gay. A tia achou que ele fosse.

— Minha mãe? Ela nunca me disse nada!

— Ela ficou com medo de você achar ruim.

— As pessoas deveriam desconstruir isso de que só porque você não está namorando, é porque você gosta de pessoas do mesmo sexo que você. Não que tenha algum problema disso, mas deveriam parar — diz ela e Miguel concorda. — Minhas tias, que graças a Deus não moram perto de mim, pensam desse jeito. Mas agora mudando de assunto, e você Miguel, apaixonado por ninguém?

— No momento não. — Diz olhando para qualquer lugar, menos para a gente.

— Mas certeza que está saindo com muitas garotas. — acrescento, o que era verdade, o conheço bem. Ainda mais por eu não estar mais aqui. 

— Bem, isso sim, é verdade. Como eu vou saber quem é o amor da minha vida, se eu não sair e descobrir? Nem toda história de amor é igual a de vocês dois — ele sorri malicioso.

— Eu sou grata por ter sido assim. Se Alex nunca tivesse aparecido, e eu não tivesse me apaixonado por ele, dificilmente eu estaria com alguém.

— Que nada, certeza que uma garota bonita como você não tivesse cheio de pretendentes — fala ele.

— Acredite se quiser, mas eu não tive. Para a maioria dos caras, eu não encaixava no padrão que eles queriam, e a maioria era idiotas.

Hoje em dias as coisas andam bem assim, com as redes sociais e a internet cada vez mais bombando nas mãos de todo mundo, e crianças com menos de dez anos usando celulares, dá para perceber como a manipulação, e o famoso corpo padrão que tantas pessoas esperam encontrar na realidade, e veem na internet, está crescendo cada vez mais, como se as pessoas esquecessem que existe Photoshop, e que isso de padrão certo não existe, fica cada vez mais difícil.

— Para mim você é perfeita, e que bom que nenhum dos idiotas conquistou seu coração, senão eu nunca teria tido chance — beijo sua bochecha e escuto Miguel tossir.

— Bom, para continuarmos a conversa, nada melhor do que um bebida, vou pegar para nós.

O resto da noite foi assim, contando sobre algumas coisas que aconteceram, e alguma história que Miguel fazia questão de contar. Quando chegou na hora de preparar o jantar ele me proibiu de chegar próximo da cozinha, alegando que Liv tinha que provar a comida dele. E depois de descansarmos a comida, e irmos para o meu quarto, deixei que ela tomasse um banho primeiro, e depois tomei o meu.

Ao sair do banheiro, me deparei com a cena dela adormecida na cama, com o celular em mãos. Com cuidado para não acorda-lá, desligo a tela do celular, sem reparar no que ela estava vendo, já que é da privacidade dela que estamos falando, e a cubro com a coberta. Verifico se tudo está certo, e apago a luz, me deitando ao lado dela. Ela se mexe e eu pensei que ela estivesse acordado, até que eu senti ela me abraçando e sua respiração calma, ela ainda está dormindo.

Só de lembrar do dia que eu contei a verdade para ela, e pensar que isso nunca iria acontecer novamente, eu fico feliz por ter contado tudo, e agora poder ter momentos assim com ela.

De agora para sempre.

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