16

Alex

Flores, não sabia qual flor ela gostava. Muito menos qual escolher, sendo que eu nem entendo de flores. Fiquei surpreso com a notícia que a Liv queria falar comigo, sem nem mesmo ter precisado pedir ou dar um jeito que a fizesse querer falar comigo, ter recebido o bilhete por baixo da minha porta me deixou feliz, por mais que eu tivesse que esperar algumas horas para vê-la.

Aproveitei o tempo para pensar, sobre o que eu iria falar para ela, mas percebi que não era bom ter um textinho pronto, e sim abrir o meu coração de verdade e dizer tudo a ela. Pedi a ajuda do João, sobre onde encontrar algumas flores, e ele me lembrou do rochedo. Só não esperava que as flores mais bonitas estivessem tão perto assim, da borda. Mas valeria a pena. Só não esperava que um escorregão me fizesse cair em direção a morte, quer dizer, o mar.

A altura não era tão grande, mas o meu medo era do que eu iria encontrar ali embaixo. Segurei bem a flor em minha mãos, e fechei os olhos esperando o impacto.

°

Acordo sentindo minha cabeça latejando, e lugares em meu corpo doendo. O que significa que eu sobrevivi, de alguma forma, ou morri.

— Até que enfim a bela adormecida acordou. — escuto a voz sarcástica do meu amigo, e tento me sentar, mas a dor é grande e permaneço sentado. — Sem movimentos bruscos. Vou chamar a médica.

— Não — peço baixo sentindo minha garganta seca. — Liv, onde ela tá? Eu ia me encontrar com ela, eu preciso falar com ela agora.

Meu Deus, ela deve achar que eu não fui encontrá-la, e que não quis mais falar com ela.

— Ela tá bem, não tem como você falar com ela agora. Foi uma pena, eu queria poder falar com ela, mas não deu.

— Ela esteve aqui? — então ela sabe o que aconteceu.

Menos mal.

— Não, claro que não. A Olivia salvou você cara. Ela pulou do penhasco, e puxou você de dentro d'água!

— Como assim, a Liv me salvou?

— Pelo o que a amiga dela me contou, você tava sumido, porque foi procurar uma flor, e não foi encontrar a Liv, aí elas foram te procurar e encontraram você no mar. Você deu sorte de que ainda não estava escuro aquele dia, sabe sei lá quando elas poderiam ter te encontrado naquela água. A Vitoria foi procurar ajuda, enquanto ela ficou esperando, mas acabou pulando na água para te salvar.

A Liv me salvou.

A Liv me salvou.

A minha Olivia, ela pulou de um penhasco para me salvar…

Como ela pode fazer algo tão perigoso? Por mais que fosse eu, ela não precisava ter se arriscado a esse ponto.

Ela está doida?

— Onde ela tá, eu preciso falar com ela! — tento me sentar novamente esquecendo da dor de minutos atrás, e gemo de dor.

— É impossível no momento, como eu disse. Nada de movimentos bruscos, e você não está de alta.

— Me leve até ela Miguel! — falo sério.

— Ela tá em outra cidade, seus pais pediram que vocês fosse transferido para cá.

Agora olho o quarto individual, e bem arrumado diferente do hospital em que levei Liv quando caiu da escada.

— Bem vindo de volta a casa mano. — diz abrindo a cortina da janela ao lado, e eu fecho os olhos com a claridade do sol. Ao me acostumar com a claridade de lá fora, vejo os prédios e o ouço o som do trânsito lá embaixo.

É, eu realmente voltei para a cidade. Mas não para onde eu queria estar agora.

— Preciso de água — peço.

°

Meu celular está acabado, não posso mandar mensagem para a Vitória perguntando como a Liv tá, e não posso sair daqui enquanto não me recuperar. Por que eu não decorei o número pelo menos?

— Meu filho, você está bem? — minha mãe emotiva, já com lágrimas nos olhos, me abraça apertado e eu contenho soltar um gemido de dor. — Ah, me desculpa.

Em pé na porta, está o meu pai cabisbaixo com as mãos dentro do bolso da frente da calça. Ele está deslocado, sinto isso, ele não sabe se está permitido de se aproximar de mim ou não. Não o culpo, depois que ele e minha mãe se separaram, deixei bem claro que não queria ter contado com ele, e quando os dois voltaram, continuei com a mesma opinião. Ele não iria esperar que eu o aceitaria de braços abertos.

— Não vai vir falar com o seu filho, pai. — tanto tempo que não o chamo de pai, que parece até estranho.

Vejo um sorriso se formar, mas logo se desfaz ao percebe que estou de olho nele. Roberto coça a garganta, e aproxima de mim.

— Como está sentindo? — pergunta nervoso.

— Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, cinco vezes.

— Você teve sorte, nasceu de novo. — diz e eu assinto.

— Agora me conta, o que exatamente aconteceu, para você parar aqui? — minha mãe pergunta. — Eu fiquei em choque quando recebi a notícia, que você tinha caído de um penhasco.

Olho para o Miguel que dá de ombros. Pelo visto ele não explicou tudo.

— Foi um acidente. Fui colher algumas flores, e acabei escorregando. Mas a Olivia me salvou — explico sendo direto, não quero contar para ela sobre a Liv, e de ela ser o motivo de eu ter ido para a pousada. — E como vocês dissem, tive sorte.

— Mas por que você foi colher flores, e que lugar mais estranho para se ter flores.

— É, mas se vocês vissem, elas eram maravilhosas. Eu que fui descuidado de me aproximar tão perto de um rochedo.

— Não vamos ficar pensando mais nisso, quero lembrar de um dia agradecer essa garota. E na verdade quem é ela?

— Uma amiga minha — ou era —, ela é filha dos donos do local onde eu estava. E mãe, porque vocês me pediram para me transferir para cá?

— Era mais perto para mim e o seu pai, e lá a gente não conhecia ninguém, não tinha o porquê de te manter em uma cidade desconhecida.

— Minhas coisas ficou lá, eu preciso voltar e pegar as coisas que ficou na pousada.

— Você quer que eu vá buscar, ou mande alguém? — pergunta Miguel e eu nego.

— Não são coisas importantes, tem o meu carro, mas não tem problema ficar lá. Eu mesmo quero voltar lá e resolver tudo.

Mas só depois que eu levantar dessa cama.

— A quanto tempo eu estou aqui? Um dia?

— Uma semana? — responde Miguel em dúvida.

— O que?!

— A médica disse que seu corpo precisava descansar. E você pegou hipotermia filho. — diz meu pai.

— Como é que vocês souberam sobre o que aconteceu comigo?

— Sabe aquela mulher da faculdade, que fazia enfermagem?

— A Camila.

— Pelo visto lembra dela, ela disse que assim que soube que você chegou na emergência, precisava entrar em contato com a sua família. Ela só não sabia como, então ela me encontrou nas redes sociais, e eu avisei os seus pais. E assim eu fui até o hospital, enquanto os seus pais esperavam aqui.

  A porta é aberta por uma mulher com jaleco, que certamente deve ser a doutora.

— Pelo visto acordou, você teve muita sorte — diz se aproximando de mim.

— Estão me dizendo muito isso hoje, doutora. Como está minha situação? Eu sinto dor em várias partes do corpo.

— Você teve algumas lesões nas partes da costas, e braços, e duas costelas quebradas. Creio que foi por conta da sua queda próximo às pedras na água. Não teve nenhuma lesão cerebral, apenas uma concussão. Indico agora que siga a receita médica, tomando todos os remédios necessários, e não faça esforços bruscos, nada de exercícios durante um mês, e repouso.

Um mês… não posso esperar esse tempo todo.

°

Tive alta três dias depois, e agora estou no apartamento. Eu fico horas e horas sem fazer nada, enquanto Miguel está trabalhando, queria poder ir junto, mas ele me proibiu completamente. Eu só queria poder ocupar a minha mente. Quando eu me olhei no espelho pela primeira vez depois do acidente. Percebi que tenho alguns arranhões pelo corpo que eu não percebi, e no rosto também.

Só espero que a Olivia não esteja tão machucada quanto eu, e que ela esteja bem.

Os dias foram se passando, uma semana, duas, e em seguida um mês. Não estava 100% ainda, mas poderia trabalhar, andar por aí e fazer o que eu quiser, desde que não fosse por a minha vida em perigo, e o mais importante, agora eu posso ver a Olívia.

Olivia

— Me desculpa por ter feito você adiar sua visita ao campus — falo para a Vi, que está dirigindo o carro do pai dela.

Nós duas vamos amanhã até a faculdade dela na cidade, são quatro horas de viagem, que vão valer a pena. Quero ver a minha amiga feliz, e o local onde ela vai ficar, e saber se é bom para ela.

— Sem problemas, eu não perderia por nada te levar até lá. Amanhã de manhã bem cedinho, venho te buscar aqui, e vamos para a rodoviária pegar um onibus que vai nos levar até a cidade, depois vamos ficar o dia todo lá, depois pegamos o ônibus para voltar.

— Certo. Mas cedinho, que horas?

— 05h.

— Ok

— E você está entregue. — diz ao chegarmos em frente a pousada.

Desço do carro pegando minhas coisas no banco de trás, e me despeço dela.

— Nos vemos amanhã! — aceno me despedindo.

E espero ela partir, antes de entrar.

Meus olhos sempre acabam parando, no carro do Alex que está estacionado no estacionamento. Isso é um lembrete para mim todos os dias, de que ele ainda não voltou, e que espero que ele volte, nem se pelo menos for para ele pegar as coisas dele, ou outra pessoa, preciso saber como ele está.

Entro na recepção, encontrando com o João.

— Onde está a Maria? — pergunto.

— Minha mãe estava lá na cozinha. Não sei se ela saiu de lá.

— Ok, vou guardar essas coisas. E vou atrás dela.

Depois de guardar cada coisa em seu canto, ou seja no quartinho da limpeza e outros na dispensa. Entro na cozinha, encontrando dona Maria limpando as bancadas, enquanto escuta e canta a música da caixinha de som.

— Oi! — falo chamando a sua atenção para não assusta-lá.

— Oi menina, chegou já? — ela abaixa o som.

— Eu passei o dia inteiro praticamente fora — pego um pano molhado e outro seco, passando produto em cima da bancada, a ajudando a limpar. — A Vitória acabou de me trazer.

— Sabe que eu não precisa me ajudar.

— Mas eu quero. E não custa nada.

— Ultimamente você vem se ocupando tanto, já descansou? Precisa cuidar bem da saúde, você tem que viver um dia de cada vez.

— Sim, eu sei. Eu descanso no fim de semana, e nem são tantas coisas assim que faço. Vocês todos, fazem tanta coisa por dia e todos os dias os vejo felizes, com um sorriso no rosto, eu posso ajudar.

— É, mas nem todo mundo é igual a todo mundo — ela dá uma batidinhas em meu ombro.

— Amanhã eu ficarei o dia fora, vou visitar a faculdade e o campus em que a Vi vai ficar — aviso já logo com antecedência, mesmo que seja amanhã.

— Fiquei sabendo mesmo que ela iria fazer faculdade, e fico feliz por ela, e é bom você sair com ele. Mas tudo bem não precisava me avisar. Pode aproveitar o dia.

— Eu precisava dizer é claro, sei que mês passado eu passei mais tempo fora, sem resolver as coisas, do que ajudando aqui em tudo.

— Não se preocupe, a gente sabe o que aconteceu, e tudo bem. Nós conseguimos dar conta de tudo.

Eu sou grata por minha família ter conhecido a Maria, ela é um amor de pessoa, compreensiva e prefere ouvir antes de julgar as pessoas.

— Você é uma preciosidade Maria.

— O que quer dizer com isso?

— Que não existe pessoa melhor do que você no mundo — me aproximo dela a abraçando.

— Eu estou toda suja de suor, e produto de limpeza.

— Eu não ligo.

°
Acordei às 04h foi o tempo em que eu enrolei um pouco na cama, depois tomei banho e me arrumei me vestindo de forma confortável e simples, uma jardineira jeans, e uma camiseta,, tênis e uma blusa de frio para caso eu sentisse, e deixei meu cabelo solto, certificando de levar uma elástico para o amarrar caso precise. E coloquei algumas besteiras na minha bolsa, caso sentisse fome no caminho.

Vi chegou as 05h, ela estava me esperando em frente da pousada.

— Cadê o seu pai ou sua mãe? — pergunto ao entrar no carro, me sentando no banco do carona — A gente não ia de ônibus?

— E nós vamos, vou deixar o carro no estacionamento próximo a rodoviária, e a gente vai de ônibus. Meu pai deixou que eu fizesse isso. — Diz dando partida.

— Está animada?

— Claro. A cada dia que passa, é menos um dia para começar a faculdade.

— Mal vejo a hora da nossa futura arquiteta se formar — digo animada. — Vai planejar bastante plantas, quem sabe não fazemos até uma reforma na pousada, e não peço sua ajuda para planejar?

— Eu adoraria, quanto emprego melhor. — ela suspira desanimada. — Eu não sei se vou conseguir achar um emprego na minha área aqui no povoado. Tenho medo de fazer a faculdade em vão.

— Não vamos pensar nisso agora, é o seu sonho, realize. Se não tiver emprego para você aqui, há em outro lugar. Vamos viver o presente.

Ela assente, ficando um pouco mais confiante. Ao chegarmos no estacionamento, saímos do carro, e esperei a Vi pagar, e em seguida fomos em direção a rodoviária. O ônibus já estava ligado, e os passageiros estavam entrando, Vi mostra nossas passagens, que compramos com antecedência, e entramos no ônibus, procurando nossos assentos.

— Estou sentindo um friozinho na barriga. — diz e eu concordo.

— Eu também, nunca viajamos sozinhas assim para outra cidade. — coloco o cinto de segurança e ela faz o mesmo.

Durante o trajeto, conversamos enquanto olhava as paisagens pela janela, e quando canssava disso, dividimos o mesmo fone para ouvir música, e inclusive comemos algumas das coisas que eu trouxe. Ao chegar na cidade, era grande, e o fluxo de pessoas e carros era maior. As pessoas normalmente dizem que pessoas do interior parecem bestas quando chegam na cidade grande, o que eu acho uma idiotice. Ficamos surpresos, admirados as vezes, mas a forma como a cidade é sufocante, é mesmo. Sol quente, poucas sombras e sem árvores para refrescar, além da poluição, mas cada um gosta do que bem entende, eu não trocaria minha vida por nada pela cidade.

Conheci a faculdade da Vi, e ela ficou animada por mostrar cada canto. Depois fomos para o campus, que nada mais era do que um prédio de três andares, cheio de quartos, um lado do prédio era para as mulheres, e o outro para os homens.

— Aqui parece ser confortável. — falo olhando bem o quarto, que é bem espaçoso para duas pessoas, além de um banheiro grande o suficiente.

— É, só vai ser estranho dividir o quarto com uma pessoa que nunca vi.

— Trate isso como um desafio.

— E eu vou ter que procurar um emprego, minhas economias não vai durar para sempre.

— Quem sabe você não encontre um estágio? Seria bom para pegar experiência, e sair depois da faculdade já com emprego.

— É uma das minhas ideias. Espero que dê certo. Agora que já acabamos aqui, podemos ir comer? Estou com fome, e aproveitamos o resto do dia.

Saímos do campus e seguimos para o centro, até uma lanchonete. Depois pegamos um milkshake e saímos andando pelas ruas, procurando algo que nos interessasse, até passarmos horas e horas, entrando e saindo de lojas, algumas saindo com sacolas e outras não. Ainda bem que temos o maps, porque se não nos perderiamos facilmente.

— Olha a hora! Precisamos voltar para a rodoviária.

— Vai dar tempo de chegarmos lá? Estamos um pouco longe não? — pergunto.

— O ônibus sai daqui a meia hora, da tempo de eu achar um carro por aplicativo, mas vamos andando enquanto eu procuro.

Seguro as sacolas dela, enquanto ela meche no celular, procurando o carro.

— Eu tenho uma coisa para te perguntar, e não sei se você vai gostar ou não — diz.

— Fale.

— Você tem certeza que não quer que eu procure o Alex? Não deve ser tão difícil, já que você disse que ele é chefe e dono junto com o amigo dele, de um restaurante.

— Acho melhor não. Eu não quero ser desesperada para encontrar ele, se for pra a gente se encontrar um dia, a gente vai se encontrar. E achou o uber? — ela assente.

— Vamos andando, tem um chegando nessa rua.

— Olivia! — escuto alguém gritando o meu nome, e me viro procurando mas não vejo ninguém.

E eu estranhei pensando que fosse um engano.

— Escutou isso? — pergunto.

— O que?

— Alguém me chamou, disse o meu nome.

— Não, acho que não é com você. Pode ser outra chara sua. Vem, o nosso uber chegou — diz pegando no meu braço me puxando em direção ao carro.

Por um segundo, eu poderia jurar que era a voz do Alex, mas acho que estou começando imaginar de mais.

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