15
Olivia
Abro os olhos e me arrependo no mesmo segundo, ao sentir a luz forte em meus olhos. Minha garganta seca grita por água, o que me faz levantar da cama sentindo um desconforto nas costas. Olho ao redor percebendo que aqui não é o meu quarto, e sim um quarto de hospital. A alguns leitos ao redor do quarto, sendo cobertos pelas cortinas que dão um pouco de privacidade. Está tudo quieto, a não ser os bipes dos aparelhos ao lado.
Minha mãe está sentada na cadeira ao lado da cama, com a mão apoiada na cabeça. Ela está dormindo, e parece tão cansada que não a acordo.
Fecho os olhos por um segundo, e flashes do que aconteceu horas antes tomam conta da minha cabeça. O que me deixa com o coração acelerado, e a preocupação em ver o Alex. Tento me mexer na cama e sinto a intravenosa no meu braço me pinicar. Solto um gemido de dor, e olho para a minha mãe a vendo que ainda está dormindo.
Como eu vou poder levantar da cama, com essa agulha dentro de mim. Quando estava quase puxando de uma vez para tirar aquilo, alguém chega.
— Que bom que você acordou, vou chamar o médico! — meu pai diz eufórico e minha mãe acorda em um pulo.
Ele sai deixando nós duas agora as sós, e minha mãe se levanta vindo até mim me abraçando. Seu abraço é tão bom, que eu poderia ficar lá por horas.
— Que bom que acordou, ficamos tão preocupados com você!
— Não foi a minha intenção — falo um pouco rouca, sentindo sede. — Quero um pouco de água.
— Mas é claro, deveria ter perguntado. — ela se solta de mim, enchendo o copo na mesinha ao lado da cadeira.
Agora olhando a cadeira, percebo o quão desconfortável ela é. Minha mãe me entrega o copo, e sinto uma leve fraqueza nos braços, talvez seja pelo o tempo de ficar aqui deitada.
— Como está se sentindo? — pergunta ela.
— Estou bem.
— De verdade?
— Sim.
Meu pai volta com o médico junto, e ele é o mesmo que me atendeu quando o Alex me trouxe aqui.
— Fiquei surpreso ao ver você aqui novamente. Está com saudades do hospital? — diz verificando a prancheta que está nos pés do leito.
Olho para os meus pais, e vejo os dois me olhando sem entender.
— Depois eu explico. E não, não estava com saudades.
— É melhor mesmo, agora vamos te examinar — diz se aproximando de mim, tirando uma espécie de caneta do bolso, que logo descobri ser uma lanterna. — Sente alguma dor na cabeça?
— Não.
— Acompanhe a luz por favor.
Faço o que ele pediu, e de acordo com o mesmo estou bem. Meus exames não mostram nada grave, nenhuma fratura apenas algumas lesões na costa, que poderia ser melhoradas com remédios.
— Só para ter certeza, vamos fazer uns últimos exames, e se estiver tudo igual, logo logo poderá ir para casa — diz com um sorriso no rosto.
— E o Alex?
— Sinto muito, não sei o estado dele. Não sou o médico dele, mas acho que se perguntar no balcão pode ter informação dele.
— É uma ótima notícia que você está bem. — Meu pai muda de assunto rapidamente, colocando as mãos sobre o meu ombro.
— Bem, vou deixar vocês a sós, mais tarde faremos os exames.
Assim que o médico sai do meu campo de visão. Aproveito o momento para saber sobre o Alex. Tiro o lençol que me cobre, e tento me levantar, mas sou impedida por meus pais.
— Alex, eu preciso ver ele!
— Ele está bem, só descanse. Você ficou dois dias inteiro descardorda, precisa descansar — meu pai diz me segurando.
Dois dias? Eu jurava que só foram algumas hora.
— Eu já descansei o suficiente, não acha? Eu preciso ver ele, eu quero ver como ele está.
— Mas é melhor, descansar mais. O Alex está bem. — reafirma minha mãe.
— Tem certeza?
— Sim, quando você acordar, mais tarde, você vai poder vê-lo.
Não queria concordar e voltar para cama, mas eu estou me sentindo tão molenga e cansada, que eu me deito de volta. Acho que são esses remédios que eles colocam na gente. Mas como se eu estivesse morrendo de sono, fecho os olhos e descanso novamente.
°
Abro os meus olhos percebendo que ainda estou no hospital, e não que tudo era só um simples sonho. Vitória está na cadeira onde minha mão estava mexendo no celular, agora os meus pais eu não os vejo em lugar algum.
— Oi.. — falo após perceber que ela não me viu acordada.
— Ah, que bom que acordou. Fiquei preocupada que você não acordasse mais, foi minha culpa ter te colocado nessa situação. — Ela se levanta chegando próxima de mim.
— Não foi sua culpa, não foi culpa de ninguém. Foi a minha decisão salvar o Alex, então por favor não se culpe.
Ela suspira.
— Por que não esperou que eu voltasse?
— Eu não iria aguentar ver ele lá embaixo. Enquanto estivesse ali em cima, sem fazer nada para o ajudá-lo.
— Bem, você me matou de susto. Seus pais ficaram indignados com a situação. Sua mãe ficou preocupado, agora o seu pai, ele estava super irritado.
O bom da Vi, é que tem coisas que eu nem preciso me dar o trabalho de perguntar, pois ela sempre explica as coisas antes de eu dizer.
— Quando encontramos vocês na areia, eu pensei que vocês tinham morrido, você estava abraçada a ele, também desacordada. Mas graças a Deus vocês não estavam — uma lágrima escorre pela sua bochecha, e ela limpa. — Eu fiquei me culpando, eu pedi para o Alex caprichar em te reconquistar, e tudo aconteceu e eu te deixei sozinha lá.
Dificilmente eu via a Vitória chorar, mas agora lá está ela chorando. Abro os meus braços, e a puxo para um abraço.
— Não se culpe, o que aconteceu com o Alex foi um acidente. Eu ter pulado, foi porque eu quis. Vamos esquecer disso, e vamos lembrar do presente. E o Alex está bem, não está?
Ela assente se afastando, pegando algo no bolso.
— Aqui está o seu celular, eu encontrei no rochedo.
— Muito obrigada.
Meus pais aparecem, e a Vi seca rapidamente o rosto. Não sei se eles perceberam, mas também não disseram nada.
— Eu estava dizendo para a Olívia, de como ela dormiu tanto depois que acordou, que fizeram os exames com ela dormindo — comenta Vi, e eu concordo, mesmo sabendo disso só agora.
Eu não costumo ter sono pesado, mas esses remédios me doparam mesmo em. Olho para o meu braço e vejo que a agulha que estava no meu braço foi tirada, sendo substituído por um curativo. Que bom.
— De acordo com os exames você está ótima. A qualquer momento pode receber alta. — Meu pai diz, sentando aos pés da cama.
— E o Alex?
Meu pai suspira.
— Sua mãe e eu fomos atrás de informações, mas as enfermeiras disseram que não poderiam passar informações de outro paciente para pessoas que não são da família.
— Eu sou amiga dele. Isso não conta?
— Elas disseram que precisava verificar com o médico responsável por ele, para saber. Mas acho que nem devem ter perguntado — responde minha mãe.
E eu murcho por dentro. É melhor eu procurar por mim mesma.
— Mas, nós demos um jeito — disse Vi com um sorriso no rosto. — Descobrimos onde ele estava, e falei com o amigo dele, o Miguel. Não falei com o Alex, por que estava desacordado que nem você, mas parecia bem.
— Então eu preciso ir vê-lo agora — tiro o lençol de cima de mim.
— Não! — dizem em uníssono.
— Por que não?
— Hoje, eu fui atrás para saber mais, e soube por uma enfermeira que ele foi transferido para outro hospital.
— Qual hospital? — pergunto.
— Em outra cidade, ela não sabia dizer o nome.
Ele não seria mandado para outra cidade, se o que tivesse acontecido com ele fosse grave. Eu deveria ter sido mais rápida, não tivesse demorado tanto para saber o porquê de ele não ter me encontrado. Será que eu demorei demais na hora de o reanimar. Mil e uma coisa passam por minha mente, sobre o que poderia ter acontecido..
— Filha, quando eu disse que o vi, eu o vi sim. Assim como a Vitória. Ele está bem, vai ficar bem. Só precisou ser mandado para outro hospital por conta da família. — tenta me tranquilizar minha mãe, e eu não respondo nada.
Por que eu fiquei desacordada durante dois dias nessa cama, se eu estou bem? Fala sério.
— Doutor, ela está realmente bem mesmo não é? — pergunta meu pai novamente, quando o médico retorna para me ver.
— Como eu tinha tido, os exames dela não mostram nada que a impeça de voltar para casa. Olivia, você está de alta, pode ir embora quando quiser.
— Ótimo — diz meu pai animado, enquanto eu nem tanto, assim.
Só espero que tudo o que fiz para salvar o Alex, tenha funcionado. Se não eu nunca me perdoarei.
°
Estamos no carro dos meus pais a caminho da pousada, minha mãe está dirigindo, meu pai está no banco do carona, e Vitoria e eu no banco de trás. Meu pai estava tão ansioso para que eu tivesse alta, que nem esperou muito minutos para começar a me passar um “sermão”. Acho que por isso ele estava tão animado.
— Eu quero deixar aqui bem claro, não quero mais saber de você arriscando a sua vida por aquele garoto! — diz bravo fazendo questão de se virar na minha direção, e já eu não tiro os olhos da janela.
— Pai, eu não arrisquei a minha vida. Eu fiz o que faria por qualquer um!
— Pular de lugar como aquele? Sua mãe e eu dissemos desde quando você era mais nova…. até parece que a sua vida não é tão importante assim. Não sabia esperar pelo resgate... — o interrompi, por mais que eu não goste de fazer isso.
— É claro que a minha vida é importante. Vocês me ensinaram a se arriscar pelas pessoas que amamos não é? Vocês não fariam o mesmo?
— Ama… ama ele? Estamos falando do mesmo cara, o que mentiu para você? — pergunta incrédulo.
— Vocês dois fizeram o mesmo, mas mesmo assim eu não os odeio.
— Mas é diferente.
Minha mão freia o carro bruscamente.
— É melhor vocês dois pararem com essa discussão idiota. E fernando já parou da hora de ficar enchendo o saco, esqueça de tudo o que aconteceu. Aceita o que a sua filha está falando, se ela o ama, não devemos opinar de maneira alguma. Além disso, não é como se Olivia não ligasse para a vida dela, ela está bem e salvou Alex.
Muito obrigada mãe.
As palavras dela, parecem ter sido o suficiente para o deixar em paz. E eu não disse mais nada. Vitória aperta minha mão, de modo reconfortante e eu sorri levemente. E continuamos a viagem em silêncio, com apenas o som do rádio que fica baixo.
Depois de eu ter insistido que precisava de um tempo sozinha, meus pais me deixaram na pousada e depois levaram a Vitória para casa. Com a minha bolsa com as minhas coisas e roupas, entro na pousada encontrando João na recepção, atrás do balcão.
— Oi, como está Olivia? — diz com um sorriso receptivo.
— Estou bem. E você? Como estão andando as coisas na pousada?
— Estão tranquilas, não teve muito aumento no fluxo de novos hóspede, então conseguimos dar conta de tudo.
Assinto, e o silêncio fica entre nós. Olho ao redor vendo que nada mudou, o que é óbvio, não fiquei longe nem mais do que quatro dias, mas parece que foi uma eternidade.
— O que eu faço com as coisas do Alex? — pergunta João um pouco receoso, e eu olho para ele.
— Deixe o quarto como está. E não deixe ninguém pegar nada das coisas dele. Se alguém vir procurando atrás das coisas dele, ou até mesmo ele aparecer me avise.
— Ok... Ah, antes de você ir. Tenho uma boa notícia.
Só uma boa, e bem boa notícia para me animar agora.
— Qual?
— A Dona Larissa e os acompanhantes dele, foram embora.
Eu acho que ela estava demorando isso sim.
— Ainda bem, não vou precisar mais aturar ela. A única coisa boa que poderia ter acontecido nesses dias. Você sabe me dizer o porquê?
— Parece que as obras deram uma pausa, e ela vivia reclamando que estava cansada daqui. Fechou a diária e foi embora.
Me desculpe, sei que é hospedes. Mas espero que ela não volte tão cedo, tem coisas que a gente prefere evitar.
— Eu vou guardar as coisas, e já volto para te ajudar aqui.
— Não precisa, você precisa descansar.
— Nos últimos dois dias eu só fiz isso. Eu já volto.
Eu só preciso ocupar minha mente.
°
Acordo sentindo frio, e abro os olhos me deparando que estou dentro da água. Respiro água de susto, e sinto a água entrando no meu nariz e queimando todo o caminho dela, como se fosse fogo. Me desespero e procuro uma saída, olhando para cima vejo uma luz, e prendo a respiração e tento nadar para cima, mas cada vez mais que eu subo parece que não estou saindo do lugar. Tento nadar em outra direção, mas nada acontece, meu corpo se meche, mas não sai do lugar.
O meu tempo está acabando, e a falta de oxigênio é cada vez maior. Vejo algo vindo na minha direção, e no primeiro momento pensei que poderia ser um tubarão. Mas entro ainda mais em desespero ao ver o corpo desacordado do Alex. Tento nadar até ele, mas é em vão. Estico meus braços tentando alcança-lo, mas parece ser tão impossível. Sinto o cansaço tomar conta de mim, e meus olhos pesam se fechando.
Acordo ofegante, sentindo um aperto no peito. E vejo no relógio ao lado da minha cama que ainda nem são 02h da manhã.
— Foi um sonho, só um sonho... — repito para mim mesma enquanto massageio minha tempora.
Me viro na cama, fechando os olhos. Tentando dormir logo, enquanto torço para não ter mais nenhum pesadelo, porque eu já estou cansada disso, de fechar os olhos e ter medo do que vou sonhar.
Cansada de ficar deitada, me virando de um lado de outro tentando dormir, saio debaixo da coberta, e ligo a luz do quarto. Vou para a cozinha, e pego uma água dentro da geladeira, encho um copo e sento na cadeira, com o copo em mão, bebendo a água devagar. Mas percebo que isso não vai trazer o meu sono de volta. Deixo o copo em cima da mesa, e deito no sofá da sala, ligando a TV para ver se tem algo que preste.
Coloco em um filme qualquer, e fico pensando de quando Alex e eu passamos a tarde aqui, deitados no chão enquanto assistimos um dos filmes que ele indicou. Naquele mesmo dia ele se mostrou atencioso e preocupado comigo, quando senti a câimbra na perna.
Isso me lembra, de como eu cheguei a me apaixonar por ele. Será que foi nesse dia? Ou de quando ele me trouxe para casa após eu tomar um banho de chuva, ou quando ele me deu o livro do Fantasma de ópera, ou quando ele me levou até a ópera? Não tenho certeza, acho que cada um desses dias e momentos me fizeram me apaixonar por ele, mas eu só fui entender isso tarde demais.
Como eu queria poder voltar no tempo.
°
Fazem exatamente quinze dias que eu tive alta do hospital, e estou aqui esperando algum sinal de Alex aparecer, mas até agora nada. Não deveria ficar contando os dias, mas para mim está sendo impossível. Tento me ocupar o maximo, assim não preciso pensar nele a cada segundo.
Fico me perguntando como eu era dez anos atrás, como eu reagi quando o conheci, e quando ele foi embora. Queria poder lembrar, tento forçar, mas não lembro de nada, as vezes eu tenho pensamentos de anos atrás, que eu não sei se são verdades ou apenas a minha mente me fazendo acreditar em algo.
Meus pesadelos ainda continuam, as vezes tem dias que eu sonho que estou naquele mar, e não consigo o salva-lo, em outros, sonho que estou tão perto dele no fundo do oceano, e nem consigo alcança-lo. Consegui encontrar uma pisicologa na internet, que pudesse me atender online. É um pouco estranho, mas as conversas tem ajudado um pouco, mesmo que muito pouco já é alguma coisa.
Vitória quer procurar na internet sobre o Alex, mas eu achei melhor que não. Tem um ditado que diz, “se você ama uma pessoa, tem que deixar ela ir. Se ela voltar, é porque ela é sua, mas se não, é porque ela nunca foi”. Eu prefiro esperar e ver no que dá, caso ele não volte e não queira mais falar comigo, eu vou entender. Não posso parar a minha vida por uma pessoa, por mais que me doa.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top