13

Alex

Termino de arrumar as minhas coisas dentro da minha mala, já deixando tudo pronto. Não tenho mais o que fazer aqui, eu tentei que ela ouvisse a minha explicação, mas Liv não quer me ver. Me doi isso, mas é melhor respeitar a opnião dela. Também não posso ficar mais um segundo aqui, com todo mundo me odiando, mesmo que eles não falem, dá para ver seus olhos jugativos.

  Quando Vitória me encontrou no meu quarto, a primeira coisa que ela fez foi acertar um soco na minha cara, e eu não fiquei bravo com isso. Quando o seu Fernando me viu, quase acabou comigo e se não fosse a esposa dele, que o tivesse segurado quando eu fui falar com a Liv, eu teria tomado outro soco, mas estava desejando que dona Júlia  não o segurasse, quem sabe assim depois que ele me bastasse, essa dor não amenizaria um pouco?

Fico pensando, como seria se meus pais não tivessem inventado da gente sair de férias, ou se eu tivesse tido a oportunidade de me despedir dela. Então nada disso teria acontecido, eu teria voltado para cá, sem segredos ou preocupações. Eu não teria dito que amo ela em uma situação como aquela.

Como eu pude estragar tudo?!

Meu celular toca, jogado do outro lado da cama, e eu me deito no colchão, pegando o celular. O nome do Miguel aparece na tela, e eu atendo, colocando o celular no ouvido.

Aconteceu alguma coisa? Você não respondeu as minhas mensagens — por ligação sinto sua voz preocupada do outro lado.

De tantas coisas que aconteceu, eu esqueci totalmente de avisar o meu amigo sobre o ocorrido.

— Eu contei ontem de manhã para ela, assim que acordei. E ela ficou devastada. Não tive cabeça e nem tempo para mandar mensagem para você, foi mal.

Não, tudo bem. Era de se esperar que ela não ficaria feliz depois da notícia que recebeu.

— Tentei falar com ela hoje a tarde, mas ela não quis falar comigo. Olivia me odeia.

De um tempo para ela. Talvez vocês consigam se acertar, e ela só está falando as coisas da boca para fora.

— Eu não sei, eu não tiro a razão dela se não quiser me ver nunca mais. Miguel, eu disse que amava, de verdade… pelo menos pude contar antes de ir embora. Acabei de arrumar as minhas coisas, estarei voltando amanhã.

— Está doido! Vai embora já? Não vai ao menos esperar a poeira baixar? E me conte exatamente o que você disse para ela.

Explico detalhadamente, sobre as partes que eu lembro de falar com ela, e depois do encontro com ela a tarde.

— Você nem explicou a verdade para ela. Não pode ir embora enquanto não tiver oportunidade de se explicar. Depois vai ficar igual um cachorro que acabou de cair do caminhão de mudança. Eu te proíbo de voltar! Espero mais um pouco, não vamos tomar decisões precipitadas.

Suspiro.

— Só mais alguns dias, e se ela insistir que não quer me ver, eu vou embora.

Tudo bem. Só se esforça um pouquinho, tenta conquista-lá. E por favor coma, e se cuida. Não quero que me liguem dizendo que você está ruim. Pode sofrer por amor, mas cuida de você também.

Batidas na porta, interrompe nossa conversa. Pensei que poderia ser a senhora Maria de novo querendo saber se eu irei comer, acho que ela ainda não está sabendo o que aconteceu, ou sabe esconder muito bem sobre.

— Miguel, estão batendo na porta, eu preciso desligar. Depois falo com você.

Ele responde com um Ok, e eu desligo a chamada, jogando o celular em cima da cama. Me levanto e ando até a porta, enquanto pensava que quem poderia ser, e desejando que atrás dela estivesse a Liv.

Abro a porta, e fico um pouco surpreso ao ver Vitória junto com o João.

Infelizmente não é a Liv.

— Veio terminar de me matar logo, e chamou ele para te ajudar? — pergunto.

— Por mais que eu quisesse, não acho que vale apena gastar o meu réu primário com você. Mas viemos aqui para ajudar nossa amiga, e não por você, então não fique muito feliz.

Fico parado por um momento pensando no que ela acabou de dizer.

— Vai deixar a gente entrar ou não? — pergunta curta e grossa.

— Entrem claro. Mas como assim ajudar a Liv? — dou espaço para que eles passem, e fecho a porta em seguida.

— Olivia é nossa amiga, estamos vendo como ela está. E vocês precisam se resolver. — responde João.

Vitoria senta na cama, concordando com o que ele disse. Já ele fica em pé com os braços cruzados, como uma expressão séria, e eu faço o mesmo.

— Se dependesse de mim, eu já teria me resolvido com ela. Mas a Liv não quer me ver, ela quer que eu vá embora.

— Ela está dizendo isso de boca para fora. Se você for embora, ela vai se arrepender. E pelo visto você já estava pensando em ir embora mesmo. — diz ela olhando para a mala fechada ao lado da cama.

— Estava pensando mesmo, em ir embora amanhã. É melhor para nós dois. Mas não tenho certeza.

— Não acho que seja melhor para nenhum dos dois — acrescenta ele.

— João e eu estamos aqui para uma missão, fazer com que vocês dois façam as pazes. E isso só vai dar certo se você estiver aqui. Então eu preciso que você esteja certo sobre realmente querer que as coisas fiquem boa entre vocês.

— Isso é o que eu mais quero. Mas tem certeza que vocês querem me ajudar?

— Estamos fazendo isso pela a Olívia. Ainda estamos bravos por você ter mentido, mas ainda bem que disse a verdade logo. — diz João.

— Então está de acordo? — pergunta ela.

— Sim, claro! E obrigado?

— Me agradeça depois que tudo der certo. Se Olivia descobrir que estou te ajudando, ela vai me matar.

Pelo visto, não irei embora amanhã.

°

O resto da tarde foi planejando minuciosamente o que eu poderia fazer, na verdade Vitória e o João falavam, e eu só escutava. Eu já não queria contrariá-lá, porque se eu dissesse algo que eu não quisesse, ela poderia muito bem ir embora, e deixar as coisas como estão, por mais que ela queira ajudar a amiga dela.

— Eu quero te ajudar, mas não vou tentar convencê-lá a conversar com você. Eu só vou dizer que você realmente está planejando ir embora amanhã. Então vai ter que dar um jeito — ela aponta o dedo para mim, dizendo de modo autoritário, como se dissesse: “ eu mando e você obedece.” —, já você terá que conquista-lá. Seja criativo e pense em algo que ela possa gostar. E se ela aceitar falar uma última vez, o resto será com você. Eu não poderei ajudar em mais nada.

— E se caso ela não quiser falar comigo?

— Não estamos pensando no “e se”. Mas caso aconteça, ai vamos para o plano B. — responde João.

— E qual é o plano B?

— Não planejei ainda, estou torcendo para que o A, de certo. — diz ela em resposta.

— Me responde uma coisa, ela está bem?

— Está, segundo o que ela diz, ela está. A Olivia não está chorando por você pelos cantos pelo menos. Mas está que nem você, não saem do quarto.

Menos mal.

Me sentiria mais pessímo se ela estivesse pior.

— Os pais dela ainda estão ai? Não acha que o seu Fernando, vai querer que eu fale com ela, e nem que chegue perto novamente.

— Essa parte não se preocupe, deixe comigo. — ela levanta da cama. — Acabamos por hoje e já está anoitecendo, vamos João?

Ele assente, e eu abro a porta deixando os dois passarem. Me despeço deles, e quando eu ia fechar a porta, ela me impede.

— Eu vou tentar falar com ela amanhã, e ai eu te aviso sobre o que deu. Agora que eu tenho o seu número, eu vou conseguir entrar em contato.

— Ok.

Os dois viram as costas e vão andando. Fecho a porta e suspiro um pouco aliviado. Pelo jeito não vou ir embora por tão cedo.

Mando mensagem para o Miguel, o atualizando sobre o que aconteceu após a ligação, e falei sobre a minha decisão de continuar aqui por um tempo. Dessarrumo a minha mala, colocando pelo menos a metade das roupas no guarda-roupa, e guardo a mala. Depois tomo um banho, me preparando para descer e poder jantar.

No caminho, não encontrei e nem vi ninguém. Ao chegar na sala, ninguém reparou em mim, como tinha pouco hospedes, e eles também não estariam sabendo, me senti menos mal. Eu também tenho que parar com isso, de ficar ligando para o que as pessoas estão pensando.

Sirvo a comida no meu prato, e procuro uma mesa bem longe de todos, principalmente da irritante da Larissa. As pessoas dizem que não é educado comer mexendo no celular, mas é o que eu faço para passar o tédio, e não ficar precisando olhar pra ninguém.

— Quanto tempo sem te ver aqui, pensei que estava morto lá sem ter comido. — A voz da Maria na minha frente me chama a atenção, e eu guardo o meu celular. Arrumando a minha postura.

Ontem e hoje, eu vivi a base de água. Não estava com coragem de descer aqui mesmo, mas como Miguel disse, preciso me cuidar também.

— Não estava com tanta fome.

— Mesmo sem fome, deveria comer. Tem pessoas que se preocupam com você. — A olho nos olhos e ela está sendo tão gentil comigo.

— A senhora sabe o que aconteceu? — ela assente. — A senhora não está brava comigo? — ela nega.

— Tudo o que aconteceu ontem, esse problema é seu, não posso te julgar. Não é da minha conta, mas fico feliz que você resolveu contar a verdade. — ela sorri. — Eu achei que já tinha te visto aqui antes. Quanto tempo faz? 9 anos?

Consigo sentir sinceridade da voz dela, pelo menos nem todo mundo está bravo comgo.

— Dez na verdade, eu tinha 16 e hoje 26.

— Dez anos, como o tempo passa depressa. Mas que bom que voltou, dizem que é melhor tarde do que nunca. E você e a Olivia têm muito tempo para ficar juntos ainda.

— Como a senhora sabe?

Quando eu contei para a Vitória e para os pais da Liv, eu não disse nada sobre eu amar ela.

— Não precisava nem dizer, eu vejo. Esta estampado no seu rosto quando vê ela. Eu espero que vocês se acertem, de verdade.

— É, eu também espero. — murmuro.

— Agora eu vou indo que eu tenho outra coisas para fazer, e vê se você se alimenta direito.

— Pode deixar.

Ela se despede e sai andando, e eu termino o jantar, sozinho.

Ao voltar para o meu quarto, perdido em pensamentos, nem vejo ele parado no meio do corredor, e eu faço o mesmo, o encarando.

— Podemos conversar? — olho para o corredor atrás de mim, procurando alguém com quem ele estivesse falando, mas perceboq ue realmente é comigo.

— Sim. — destranco a porta do quarto, e deixo que ele passe entrando.

Seu Fernando, olha o comodo de cima abaixo. E agradeço a mim mesmo mentalmente, por ter arrumado tudo mais cedo, quando pensei em ir embora. Ele já me odeia, certamente está procurando algum outro defeito para colocar na lista dele “Do que odiar no Alex”.

— Eu te ofereceria algo, mas só tem água.

— Eu não quero nada. Só vim falar com você, como dois adultos.

— Tudo bem, sente-se. — sugiro a cama, mas ele balança a cabeça em negação.

— Vou ficar em pé, não quero demorar muito.

Ele diz que quer falar como adulto, mas parece uma criança agindo desse jeito. Já eu me sento na cama.

— Pois bem, sobre o que o senhor quer falar? — pergunto já que ele mesmo diz, que não quer demorar muito.

— Quais são as razões para você estar aqui? Porque voltar depois de tanto tempo?

— Quando eu conheci a sua filha, eu só tinha 16 anos, nós nos tornamos amigos, e eu senti algo mais, que eu não fazia ideia do que era. Eu passei os ultimos dez anos, com saudades dela, e com raiva dos meus pais por terem me levado embora sem que eu pudesse me despedir dela. Nesses anos, em que ficamos longe, eu comecei a entender que o que eu sentia, e não entendia quando tinha 16 anos, era amor.

Não fiquei pensando, ou com cuidado em dizer cada palavra, falei tudo o que eu penso sim, se doa nele ou não.

— Eu estou apaixonado pela sua filha, desde os meus 16, eu voltei por ela. As razões de eu estar aqui são por ela.

— Porquue não contou a verdade assim que chegou? — seu tom de irritação subiu um pouco, mas pelas suas mãos fechadas em punho, ele estava se segurando.

— Eu queria, eu quiz. Mas eu fui covarde, assim como fui, quando não disse que a amava, e deixei para falar tudo quando… eu confessei.

— Por que não continuo mentindo, vocês dois poderiam estar juntos!

— Não estava gostado de mentir ainda mais para ela, prolongar o tempo só iria piorar tudo. Ela podia lembrar de tudo também a qualquer momento.

— Então agora você já teve o que queria. Então já vai embora, não vai? — nego. — Por que simplesmente não só viu ela, e depois foi embora? Por que causar toda essa dor?

— O senhor sabe do que é ficar longe da pessoa que você ama? Não teria como eu simplesmente vê-lá e ir embora. Eu queria tanto falar com ela, que eu não podia simplesmente ir embora antes disso. E quando nós dois começamos a ficar mais próximos, eu não consegui ficar longe.

— Eu vou te pedir uma única coisa, para o bem da minha filha. Fique longe dela, e vá embora! — ele aponta o dedo em meu rosto, enfatizando cada palavra, como se eu não fosse capaz de compreendê-las.

— Não.

— O que disse?

— Não. — me levanto se aproximando dele, ficando cara a cara.

Cansei de ser covarde.

— Não o que?

— Não, eu não vou embora, eu não vou ficar longe da sua filha só por que você quer. Eu só vou fazer tudo isso, se a Liv disser. Queira você ou não gostar disso.

Ele me olha sério, e se pudesse já estaria soltando fumaça pelas orelhas. Mas ele relaxa, se afastando de mim. Sem dizer nada, ele abre a porta rapidamente, e sai batendo ela fortemente atrás de si.

— Ele só pode estar maluco. — murmuro.

Tranco a porta, e me deito na cama pensando no que acabou de acontecer.

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