11

Alex

Pedi para a Maria se ela tinha um cabo extensor, que é útil para para usar o rodo, vassoura ou esponja em lugares altos, já que ele aumenta de tamanho, e ela disse que não sabia, então tive que a ajudar procurar no quarto de limpeza. E por sorte encontrei um, que ela e ninguém da limpeza usou, e nem ao menos sabia que tinha um ali. Pelo menos Liv e nem ninguém precisará se arriscar para limpar janelas, em uma altura alta que precise subir no último degrau da escada.

Eu sei que tenho medo de altura, mas depois da queda da Liv mais cedo, eu tenho que suportar alguns medos. Enquanto ela não estava por perto, aproveitei para terminar o resto das janelas, assim ela não precisaria se preocupar. Mas quando eu estava acabando de terminar a última ela aparaceu. E ainda por cima me assustou, quase caindo novamente, e dessa vez eu estava lá para salva-lá.

Naquele momento em que nossos corpos estavam tão próximos, eu só consegui reparar o quanto ela é linda. Eu só queria poder beija-la naquele momento. Eu nem sei se vou ter oportunidade de fazer algo assim, se eu contar para ela a verdade. Se eu tivesse um pouco a mais de coragem, e eu terei perdido todo o meu controle naquele momento.

Durante o jantar, não a vi Liv em momento algum na sala, não vou dizer que não estou ansioso, porque aí estaria mentindo. Eu estou decidido que de hoje não passa, não importa o que aconteça.

°

Termino de ajeitar a roupa de cama pela trigésima vez. Desde que voltei do jantar, meus olhos não saem do relógio, esperando ela a qualquer momento bater na minha porta. Pedi para a Maria se tinha pipoca, e ela deixou eu preparar um pouco, assim como pegar um suco. E eu não sei se vamos realmente chegar a comer ou assistir o filme, estou esperando contar para ela o mais rápido o possível.

Batidas na porta me tiram dos meus pensamentos, e eu me levanto indo até a porta, abrindo-a.

  — Oi Alex — não sei se foi impressão minha ou não, mas quando eu abri a porta, percebi suas bochechas coradas.

  — Oi, entra.

  Dou espaço para que ela entrasse, e ao passar por mim sinto o cheiro maravilhoso vindo dela. O cabelo dela está solto, o que a deixa ainda mais linda.

— Você deveria deixar o cabelo solto mais vezes, ele valoriza a sua beleza.

— Ah, obrigada pelo elogio. Você também está sempre bonito. — ela sorri sem graça.

O que está acontecendo? Será que foi algo que eu fiz, para ela ficar tão tímida assim?

— Consegui um pouco de pipoca e suco para gente.

— Nem tinha pensado nisso. Já escolheu o filme? — pergunta apontando para a tv ligada.

— Sim, e não escolhi o filme de terror, é claro. Espero que goste, não sei se você vai curtir muito, qualquer coisa eu posso mudar.

— Se for igual os daquele dia, é claro que vou gostar.

Já tinha deixado tudo preparado, o meu notebook já estava conectado na tv. E o filme já estava pronto para começar, era só despausar. Encontrei na internet um filme do Mágico de Oz, mas antes de tudo sobre a Dotothy, pensei que ela poderia gostar.

— Quer uma coberta? — ofereço a pegando dos pés da cama, mas ela nega.

— Não precisa.

Ela senta na cama, levantando um pouco a altura do travesseiro, e  a entrego a vasilha com a pipoca para ela, que a coloca sob o seu colo. O bom que a cama deste quarto é de casal, então cabe nós dois perfeitamente. Desligo a luz deixando uma dos abajures ligado, e dou play no filme. Sento do lado dela na cama, e ela oferece a pipoca e eu pego um pouco. Sinto minhas mãos suarem, e eu passo ela sobre minha roupa, em seguida estralo os dedos da minha mão, sentindo o quarto ficar um pouco quente.

— Eu preciso contar algo para você. — falo rapidamente, me virando olhando para ela.

— Pode me dizer — diz concentrada na tela da tv.

  O filme começa a rodar, e eu respiro fundo sentindo o meu coração bater no meu peito cada vez mais rápido.

— Uhh, eu como você conseguiu achar esse filme? Eu assisti uma vez quando criança com os meus pais, e nunca mais o encontrei — diz animada, e suspirei fechando os olhos por alguns segundos. —O que você queria me dizer?

Ela diz se virando pra mim, e vejo a felicidade estampada em seu rosto.

Você realmente quer estragar isso agora, Alex?

Sorri, e balanço a cabeça em negação.

— Não era nada demais, no final do filme eu te conto, vamos assistir.

Eu tentei, tentei mesmo prestar atenção em cada cena do filme. Eu gosto dele, não é porque eu não goste, ou odeie, longe disso. Mas é que depois esse filme vai acabar, e eu direi tudo, se eu estava tão decidido antes porque eu fico evitando cada vez mais?

Os créditos rodam pela tela, e a ansiedade para contar a ela volta novamente. Eu me levanto para desligar a tv e o notebook. Acendo a luz e conto de uma vez.

— Liv, eu preciso te dizer uma coisa que eu não posso evitar mais, e espero que você me perdoe — falo sem a olhar nos seus olhos. — Eu menti para você todo esse tempo, eu te conheço desde a dez anos atras... eu... — paro de falar ao não ouvir nada dela, a olho e a vejo dormindo, segurando a vasilha de pipoca em mãos.

Fico por alguns minutos a encarando, e levo a minha mão em frente ao seu rosto, acenando e paro por um momento percebendo que ela realmente está dormindo. Me afasto me sentindo frustado. Quando eu realmente tomo coragem para dizer algo, isso acontece.

Droga, meu plano foi de agua abaixo. Eu não posso acordá-lá e nem dizer agora. Tiro a vasilha vazia das mãos dela,  a colocando na mesinha ao lado. Pego uma camiseta minha a molhando no banheiro, e limpo suas mãos. Pego a coberta nos pés da cama, e a cubro. Confiro mais uma vez se está dormindo, e tranco a porta do quarto, e desligo a luz novamente, deixando só a do abajur. Em seguida e vou até o banheiro, fechando a porta. Me olho no espelho ligando a torneira e jogando a água fria no meu rosto.

É Alex, não foi dessa vez.

Sinto o meu celular vibrar no meu bolso. E o pego vendo uma notificação de mensagem do Miguel.

Pelo silêncio todo, ainda não contou. ”

“ Não desisti, só que não deu. Estavamos assistindo um filme, e ela acabou dormindo antes de eu contar.
Amanhã, eu direi tudo. ”

Volto para o quarto, e apago a luz do abajur, e ando até o outro lado da cama com o auxílio da lanterna do celular. Desligo a lanterna, e coloco o celular na mesinha do lado. Deito ao lado dela, me cobrindo com a coberta. Liv se mexe e se ajeita na cama, pensei que ela poderia ter acordado, mas ela não diz nada.

Todos esses dez anos, eu e ela estávamos tão longe um do outro, e agora estamos tão perto um do outro, que uma confissão minha nos separe novamente.

Me viro na cama, ficando de costas para ela e fecho os olhos tentando dormir, porque amanhã, será um novo dia.

Olivia

Acordo de manhã, sentindo par de braços em minha cintura. E um cheiro familiar. Abro os olhos devagar, e vejo Alex ao meu lado na cama. Minha cabeça está apoiada em seu peito, o que me faz escutar seus batimentos cardíacos. Ontem a noite eu deveria ter ido para o quarto, mas certamente acabei dormindo em meio ai filme, de novo. 

 Droga, eu tinha falado para ele que tinha gostado, e dormi. Ele certamente ficou bravo comigo. 

 Me mexo devagar, tentando sair do abraço do Alex, e percebo que ele está acordado. 

 — Me desculpe te acordar — peço me afastando e ele olha para mim. 

 — Você não me acordou. E Olívia, a gente precisa conversar. 

 Seu tom é sério, nada de Liv, ou um bom dia, ou até menos um sorriso, o que me assusta. Ele realmente está bravo comigo. 

 — Me desculpe, me desculpe mesmo eu não queria ter dormido no meio do filme. Eu entendo que esteja bravo comigo, eu…

 — Não, não é sobre isso. Eu não estou bravo com você, e tudo bem se acabou dormindo. E sobre outra coisa. 

 Fico aliviada por uns instantes, mas em seguida a preocupação volta. 

 — É tão importante assim? Você está me chamando de Olívia, então é sério? 

 Levanto da cama, procurando o meu celular. O encontrando embaixo do travesseiro. Alex se senta na cama e passa as mãos sobre o cabelo. 

 — Sim. Eu... eu preciso de contar uma coisa, eu não sei se você vai querer olhar na minha cara, ou me perdoar depois...

 — Claro que eu te perdoaria, eu não deixaria de olhar na sua cara. Nada é tão ruim ao ponto disso. 

 — Isso sim. — ele estende a mão, e eu dou a volta na cama, me sentando ao seu lado, e estendo a minha de volta. Ele segura na minha mão, apertando fracamente.

 — Você está me assustando Alex.

 — Desculpe, eu deveria ter te contado a muito tempo. Mas eu não tive coragem. 

 — Contar o que? — eu estou começando a ficar assustada, meu coração está batendo acelerado com medo do que ele quer dizer. 

 — Eu te conheço a muito tempo, eu menti para você quando eu disse que era a primeira vez que eu vim aqui. A dez anos nós nos conhecemos, éramos amigos, só que eu tive de ir embora.... 

 — Não. Eu me lembraria de você se eu já o tivesse conhecido. 

 Suas palavras que antes mesmo sendo rápidas, consegui pegar cada uma. Mas não estou conseguindo compreender cada uma corretamente. 

 — Você está errado! — solto minha mão da sua, me levantando. 

 — Não, eu não estou. E o que estou falando é verdade. Eu menti para você. Você não se lembra de mim porque você sofreu um acidente, no mesmo dia que eu fui embora. 

Sinto um baque dentro de mim, faz com que eu acorde de vez, como um choque.  Eu sofri um acidente, no qual ninguém nunca me contou. O Alex já veio aqui, eu deveria saber dele, como poderia ter esquecido isso em um acidente? A outras coisas que eu também não sei? 

 — Você está mentindo, não está? É algum tipo de brincadeira, não é? — ele nega. — Como? Como eu te conheci? — minha voz saiu um pouco trêmula, mas não me permito chorar. 

 — Naquela árvore que você mostrou para mim, você estava em cima dela, e eu sentado embaixo quando você derrubou uma manga na minha cabeça. 

 Fecho os meus olhos tentando lembrar, mas não lembro de nada...

 — Os médicos, disseram que a sua perda era temporária, parece que todos os momentos em que eu tive com você sumiram.

 — Como você sabe disso tudo, você não esteve aqui... Meus pais sabem? Eles te conhecem? 

 — Sim. Eu pedi para eles não contarem a você. Eles queriam contar mas... 

 Parei de ouvir tudo o que ele dizia, cada palavra que sai dela me machucava. Eu só conseguia ouvir mentiras atrás de mentiras saindo da sua boca. Eu desconfiei que já o tinha visto antes, será que é por isso? 

 Traída. É assim que me sinto, as lágrimas querem escorrer dos meus olhos, mas as forças a voltar. Eu estou me sentindo um lixo. 

 — Me desculpa Liv. 

 — Não me chame de Liv, você não tem esse direito! — olho em seus olhos e sinto ainda mais raiva. — Todo esse tempo e você não me disse nada! 

 — Por favor, me desculpa. Você disse que nada seria tão ruim... 

 — Você mentiu para mim Alex, da pior forma que eu imaginava. Me enganou, pediu para que meus pais mentissem por você. Poderia ter chegado aqui e me contado tudo! Mas não, você achou legal brincar comigo, me fazer me aproximar de você. 

 — Eu nunca, nunca quis brincar com você. Eu queria contar a verdade desde o começo! 

 Seus olhos demonstram dor, mas ele deveria ter pensado em tudo isso antes. 

 — Eu não quero ver mais você, acabou. Qualquer tipo de coisa que poderia acontecer com a gente, nossa amizade. Não merecemos isso. 

 — Olívia! 

 Viro as costas para ele, e destrancou a porta rapidamente a fechando atrás de mim. A batida da porta, quebra tudo dentro de mim. Desço as escadas indo diretamente para casa. Ao fechar a porta, permito que as lágrimas escorram pelo o meu rosto, e sento no chão encostando as costas na porta. 

 “Eu te conheço a muito tempo”

 “Eu menti para você”

 As palavras dele estão na minha cabeça, como se estivessem grudadas com uma caneta permanente. Por que Alex? Demorou todo esse tempo, e voltou, e nunca me disse nada. Meus pais? Como puderam não me dizer nada, eles viram o Alex. 

 Puxo meus joelhos em direção ao meu peito, e apoio a cabeça, sentindo ela começar a doer. E deixo as lágrimas escorrerem.  

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