Olivia

Não, eu não estava com ciúmes dele. Eu só fiquei com raiva do nada, acho que foi o tempo de espera, ou a dor. Mas ciúmes não foi, tenho certeza... eu acho. E por que eu teria ciúmes também?

Ao chegarmos em casa, expliquei que realmente estava tudo bem para João e para Maria, e ainda bem que eles me ouviram e não contaram nada para os meus pais. Ao chegar em casa, tomei um banho quente para ver se meus músculos relaxavam, e a dor amenizasse um pouco. Tomo alguns remédios e volto ao trabalho de casa mesmo.

Alex insistiu em querer me acompanhar para onde eu fosse, ele tinha medo que eu desmaiasse do nada, ou passasse mal, mas pedi para ele que queria ficar sozinha e se acontecesse alguma coisa, eu o avisaria.

Coloco o meu notebook e alguns papéis de contas a pagar, e burocracias em cima da mesa da cozinha.  Amanhã ou depois eu termino de limpar as janelas, do jeito que estou, não consigo terminar de limpar aquelas janelas por tão cedo. Maria realmente não contou nada para os meus pais, nem para ninguém, porque se não agora teria mensagens e ligações deles querendo saber o que aconteceu. Meus pais já tem problemas demais para se preocupar com uma simples queda minha.

Ao terminar a metade, ou o que consegui fazer hoje, consto que já são 17h, e daqui a pouco o sol vai se por, e eu esqueci de guardar as coisas de mais cedo. Guardo todos os papéis de cima da minha mesa e o notebook em seus devidos lugares, e saio de casa indo até a recepção e em seguida para fora. Os baldes estão todos em um canto, com a escada, que está apoiada em outra janela, e alguém está terminando de limpar as outras janelas. Pensei que estava ficando maluca, mas ao me aproximar vejo que é realmente quem eu acho que é, em cima da escada.

— O que você está fazendo? — pergunto para o Alex.

Eu não queira estar olhando, mas é impossível não olhar para o suor que escorria pelo seu rosto descendo para a camiseta que ele estava usando. Ao perceber que estou olhando, desvio o olhar fingindo estar ver a janela, e de canto de olho o vejo sorrindo.

— Limpando as janelas, para que você não precise limpar. — explica depois de descer as escadas.

— Mas Alex você é hóspede. Não deve fazer os meus trabalhos.

— Trate isso, como um bônus. Não ia quebrar a mão limpar para você. E é melhor eu do que você se machucar de novo.

— E você também não pode se machucar? — cruzo os braços descontente.

— Eu posso, você não.

— Eu vou terminar de limpar então. — coloco o pé sobre um degrau, mas ele me impede.

— Não precisa, eu termino. Além de que achei algo que pode te ajudar.

Ele se afasta para pegar uma das vassouras, e eu subo mais um degrau, sentindo meu corpo reclamar. Subo mais outro degrau, e lembro que não peguei nada. Me estico para baixo tentando pegar o balde.

— O que você está fazendo?

— Eu...

Meu pé escorrega, e eu tento me segurar na escada para não cair, mas quando deu por mim estava caindo do mesmo jeito. Vejo Alex tentar me segurar, mas mesmo assim nós dois caímos no chão, e para piorar a situação, eu caí em cima dele. Como se tudo estivesse em câmera lenta, vejo a escada caindo em nossa direção, e antes que nos acertasse, Alex nos empurra para o lado, e eu fecho os meus olhos esperando o impacto, mas só escuto o barulho dela caindo ao nosso lado. Abro os olhos e encaro Alex, nos quais eu não consigo desviar. Eu não tinha percebido como eles eram tão bonitos. Sinto algo diferente em mim, que não consigo explicar.

Acho que estou ficando maluca.

— Você está bem? — pergunta desviando o olhar e se levantando, novamente estendendo a mão para que eu me levantasse.

— Sim. E você? Eu caí em cima de você.

— Não foi nada. Estou bem também. Acho bom ficarmos um bom tempo longe dessa escada. Inclusive, eu queria te mostra isso — ele paga a vassoura, mostrando que o cabo dela aumentava de tamanho, o dobro, o que alcança as janela sem precisar da escada. — Você pode usar com a vassoura, esponja, e o rodo. Não vai precisar mais se machucar.

Eu nunca que teria pensado nessa opção, até que é prático e pelo menos não vou cair da escada novamente.

— Eu não sei o que faria sem você, sério Alex! Você é um ótimo amigo. Depois de tantas coisas que eu já te fiz passar, eu se fosse você já teria se afastado de mim, a muito tempo.

— Ainda bem que eu não sou você, não me afastaria e deixaria de ser seu amigo só por algumas coisinhas — ele passa o braço por cima do meu ombro me dando um braço. — Mas por favor, não me mate do coração novamente como hoje.

— Eu disse para você que eu estava bem, e que não era uma queda tão grande assim. Você não imagina a quantidade de vezes que eu já caí daquela árvore — aponto para a mangueira, a minha árvore favorita que já mostrei a ele. — E nunca quebrei um braço.

— Não sei como ainda está viva. — rimos. — Agora acho melhor a gente arrumar essas coisas, está quase anoitecendo e precisamos tomar um banho.

Concordo com ele, e começamos a guardar os baldes, escada e outras coisas no quartinho de limpeza.

— Sobre o filme de hoje, ainda está de pé? — pergunto depois que acabamos.

— Você tem certeza que quer assistir mesmo assim?

— Eu estou bem da quada, só um pouco dolorida. E já essa você me salvou. Então se você quiser, ainda podemos assistir ao filme.

— Então que tal depois do jantar?

— Pode ser. Então nos vemos mais tarde.

E cada um vai para um canto. Ao invés de ir tomar um outro banho, dou uma passada para ver como as coisas estão indo para o jantar. Ao chegar até a sala onde ocorrem as refeições, encontro Maria dando os últimos retoques de arrumação nas mesas.

— Quer ajuda? — pergunto, e ela que não tinha me visto chegar, tomou um susto colocando a mão sobre o peito.

— Que susto menina, quer me matar do coração?

— Desculpe não foi a minha intenção, pensei que tivesse me visto chegar.

— Não, eu estava tão concentrada aqui, que nem vi chegar. E por que você está suja de terra?

— Ah, eu caí.

— Da escada de novo? — assinto com a cabeça. — Se tá querendo se matar? Deveria estar descansando, e já foi aprontar de novo!

— Foi só uns três degraus, mas coitado do Alex, ele tentou me ajudar e eu acabei caindo em cima dele.

— Ele tava com você?

— Sim. Eu o peguei terminando de limpar as janelas, sendo que eu pedi para que ele não fizesse.

— Ele tinha me procurado mais cedo perguntando sobre algumas coisas de limpeza. Ele até um extensor sabe? Eu nem sabia que aquilo existia. Ele é um fofo, se importando tanto com você. Ele realmente gosta de você. — ela sorri.

— Gosta? Como amigo certo? — pergunto rapidamente.

Ela para por um momento pensando na minha pergunta.

— Não sei… — ela semicerra os olhos como se pudesse ver minha alma. — Talvez. Quem pode te dizer é ele, mas que ele tem carinho e respeito por você tem mesmo. Agora vá tomar um banho e tirar essa terra do corpo, antes que algum hóspede te ver. Se a Larissa chegar aqui, e ver você, já sabe como ela vai ficar reclamando.

— Por mais que eu goste de estressar ela também, eu já vou indo.

Ao chegar em casa, ao invés de tomar um banho. Pego o meu celular mandando mensagem para a pessoa que eu sei que posso ter respostas para as minhas perguntas.

“Está ocupada agora?
Preciso falar com você. ”

A mensagem só chega nela, o que deve significar que ela deve ou estar trabalhando, ou ocupada, então vou ter que esperar. Tomo um banho, lavando o cabelo, e em seguida visto um pijama, que não é exatamente um pijama, é um conjunto de moletom que eu uso como pijama. Tomo um comprimido para dor, que está razoável agora, e nada que uma noite de sono não resolva.

Sinto um frio na barriga, só de lembrar que daqui a algumas horas terei que ficar perto do Alex... Eu estou ficando maluca, porque eu to agindo assim, é só um filme.

O que está acontecendo comigo? Isso não aconteceu antes. Talvez seja só fome.

Na cozinha, procuro algo para comer. Não estava com muita fome, então preparo algo mais rápido, ou seja, miojo, e ao sentar na cadeira, meu celular começa a tocar, e no visor vejo o nome da Vi.

— Você me deixou curiosa com aquele “preciso falar com você” E não, não estou ocupada. O que aconteceu?

— Hoje aconteceu algumas coisas, que eu não estou entendo muito bem, e estou bem confusa.

— Explica.

— Eu estava limpando a janela hoje, as que fica no andar de cima que já tem tempo que ninguém limpa, eu acabei me desequilibrando e cai da escada. Altura não era muito alta, mas o Alex viu. E me obrigou a ir no hospital, mesmo eu dizendo que estava tudo bem. Chegando lá, na hora de ir embora, ele disse que ia ir pegar algo na cantina, e demorou, e eu fui atrás já que tive alta. Só que chegando lá, eu vi ele com uma enfermeira, e os dois estavam em um papo muito bom, que me deixou irritada, porque enquanto eu estava lá plantada esperando ele, Alex estava de papo com ela. E eu fiquei brava com ele depois, por ele ter me deixado lá esperando.

Falo tudo de uma vez, sentindo aliviada em poder dizer tudo o que está acontecendo para ela, quem sabe a Vi seja a única que possa me ajudar.
Como um pouco do miojo, enquanto espero ela dizer alguma coisa, mas ela ficou quieta e eu até pensei que a ligação tivesse caído.

— Você está aí?

— Claro, só estou processando o fato de você ter ido parado no hospital, e não me contou nada!

— Só essa parte você ouviu?

— Eu ouvi tudo, mas quero saber porque a bonita não me contou que tinha se machucado.

— Vocês falam como se fosse algo tão ruim assim, eu já caí de alturas como aquelas estou inteira. Não queria preocupar você e nem ninguém com isso.

— Alex esteve certo de levar você no médico — até você Vi? —, agora sobre a garota, a mulher do hospital, acho que ficou com ciúmes mesmo, e se for o que tem? Vocês são amigos.

— Eu confesso que sim, eu senti uma pontada de ciúmes…. é que eu tenho medo do que pode acontecer depois, no futuro. O Alex não vai ficar aqui para sempre, ele certamente vai encontrar uma mulher no futuro no qual vai se casar, e vai esquecer daqui.

— Esquecer de você ou dai? Eu não acho que ele vai esquecer, vocês tem uma amizade grande. Ele seria um filho da mãe se esquecesse. Mas não precisa se preocupar com isso. Vocês são amigos, não é como se um namoro dele fosse acabar isso entre vocês dois.

— Mas tem outra coisa…  hoje a tarde eu o encontrei terminando de limpar as janelas, e eu acabei querendo terminar, porque não era algo que era para ele estar fazendo. Nisso, eu subi em cima da escada, e me desequilibrei de novo, e cai.

— Eu acho que sua cota de azar do ano foram todas deixadas para hoje. Você já tinha se machucado, e foi caçar de novo!

— Não é como se eu tivesse feito de propósito. Só que o pior é que o Alex me segurou, e nós dois acabamos caindo um em cima do outro. E essa aproximação nossa me fez sentir coisas que eu não sentia antes. Eu senti vontade de beijar ele esses dias, além de que eu estou começando a olhar para ele mais do que amigo… Vi, eu acho que estou gostando do Alex.

— Uh, isso aqui tá ficando bom que nem novela mexicana. E pelo visto alguém está tendo um crush.

— E o que eu faço agora? E se eu estiver apenas confundindo as coisas, os sentimentos, pela forma que ele me trata?

— Acho que você está realmente se apaixonando por ele. E está tudo bem.

Deixo a colher cair da minha mão, e mesmo sem acabar o miojo, sinto que a minha fome foi embora.

— Como assim tudo bem? O que eu faço? Conto tudo para ele, e acabo com nossa amizade? — meus olhos vão até o relógio vendo que falta menos de uma hora para o horário do jantar acabar.

— Hum, acho melhor você contar para ele. Não acho que sua amizade só vai acabar por conta de você dizer seus sentimentos, é melhor do que você se preocupar. E vai que ele goste de você também?

— E se ele não gostar?

— Ele é quem está perdendo. Mas depois de tudo o que ele fez até aqui, acho que pode ter uma possibilidade de ele gostar de você, não sei se dá mesma forma, mas a gente só pode ter certeza se perguntar.

— Meu medo, é de isso acabar com a nossa amizade. E acabar passando vergonha.

— Olivia, ele vai embora a qualquer dia. Não vai passar vergonha, e a amizade de vocês não vão acabar, talvez pode ficar estranho, ou talvez não. Mas não precisa ter medo, e se você perder um bom tempo que poderia ter com ele, se não dizer o que sente?

Sinto vontade de rir e, ao mesmo tempo, de chorar. Por um momento, eu estava normal, éramos apenas amigos, e as coisas começaram a acontecer tudo rapidamente, eu me sentindo confusa, e agora estou cogitando em contar a ele que gosto dele? O Alex tem sido tão bom comigo, e se eu estiver embaralhando os meus sentimentos e confundido as coisas?

Suspiro.

— Eu preciso conversar com ele. — decido por fim.

— Tudo bem, boa sorte. E lembre-se que um não você já tem. E se ele te magoar, pode deixar que eu quebro a cara dele.

— Ok, obrigada por tudo.

— Magina. Eu amo você e quero te ver feliz. Só conte para ele quando você se sentir preparada.

— Tudo bem, agora tenho que ir, vou assistir filme no quarto dele hoje — falo lembrando que não a contei.

— Aproveita então, e lembra do que eu falei. Qualquer coisa estarei aqui, pode me ligar ou mandar mensagem.

Desligamos a chamada, e sinto um pouco aliviada, por mais que não completamente. Coloco meu prato de lado, e deito minha cabeça sobre meus braços, tentando colocar meus pensamentos em ordem.

Mas tudo o que eu consigo pensar em tudo o que aconteceu entre mim e o Alex até aqui, e eu per