08
Estou me sentindo como se estivesse em um sonho, ok, eu sei que estou exagerando, mas não imaginava que o Alex iria se importar com algo que eu disse, o que só comprova que ele é um bom amigo. Falta alguns dias até lá, o que me deixa ansiosa a cada dia que passa. Sei que tornamos amigos bem rápido, mas por mais que quando o conheci, fiquei um pouco desconfiada em relação a ele, agora eu confio nele plenamente.
Eu terminei o livro "O Fantasma da Ópera" em uns três dias, eu pensei que demoraria mais, mas quando li algumas páginas, a história me prendeu de um jeito, que eu não consegui largar mais. Ainda vi algumas cenas gravadas de peças do teatro, baseado na obra, e mal espero a hora de ver pessoalmente.
- Já decidiu o que vai usar? - pergunta Vi.
Estou na livraria da família dela, já que tive que vir no povoado resolver algumas coisas, resolvi dar uma passada aqui.
Além de que, a Larissa está me deixando louca a cada dia, com os pratos chiques que ela quer tanto comer. Sei que não sou obrigada a servir algo fora do menu, mas ela está começando a chatear outros visitantes, o que pode ser ruim para a pousada, ainda mais agora que está perto de começar a temporada de férias.
- Ainda não. Estou indecisa em um vestido, ou apenas uma calça e blusa, não quero parecer extravagante demais, ou usar algo errado.
- Hum. Não sei bem o que as pessoas costumam usar em teatro, mas posso te ajudar depois. Acho que algo meio básico, mas nada muito feio, vai cair bem. Mais tarde quando acabar aqui, eu vou lá.
- O seu pai vai te levar?
- Ah não, dessa vez ele me emprestou o carro.
- Só não vai bater! - brinco.
- Você está esquecendo que está falando com uma pilota!
Há um tempo atrás, quando eu e a Vitória tínhamos resolvidos ir até a cidade, fomos com o carro do pai dela. Ela sendo a única habilitada de nós duas na época, dirigia. Tinha dado tudo certo, só que na volta ela acabou batendo, ainda bem que não aconteceu nada de muito grave, mas já o carro saiu com um amassado feio, e às vezes ela fica receosa em dirigir o carro do pai dela.
- Sabe que não precisa ir se quiser, eu posso te mandar fotos. - sugiro.
- Não vai acontecer nada dessa vez, eu estou confiante. Amanhã vou voltar com o carro novinho em folha. E além do que, foto não é a mesma coisa de ver pessoalmente. Agora, me fale como está indo você e o Alex?
- Porque quer saber logo disso?
- Vocês vem se aproximando cada vez mais, eu até estou com ciúmes de ele acabar roubando o meu posto de melhor amiga sua.
- Vi, você é a minha melhor amiga, minha irmã. Alex é meu amigo, só isso. E não precisava ficar com ciúmes, eu amo você, e ele nunca vai roubar o seu posto. Além de que, logo, logo ele pode ir embora.
- Só cuidado para não acabar se apaixonando por ele, ou se apegar demais, e no fim sofrer com isso.
- Nada disso, não estou me apegando de mais. - minto para mim mesma, no fundo tentando acreditar em minhas próprias palavras. - E não vou me apaixonar por ele. E de qualquer forma, do que adianta me apaixonar por ele, e ele não sentir isso de volta? Ainda mais isso poderia acabar com a nossa amizade.
- Então, está afirmando? - pergunta com um sorriso malicioso no rosto.
- Não! Claro que não. - respondo rapidamente. - Eu só estou supondo.
- Hum sei. - me olha com os olhos semiverrados.
- O que vocês estão conversando? - Fernanda pergunta ao se aproximar com um bolinho em mãos.
- Nada que seja da sua conta.
- Nossa que grossa. Você quer um pedaço Olívia? - pergunta me oferecendo o doce.
- Não, obrigada.
- Eu quero!
- Que pena - ela coloca o resto do bolinho na boca o comendo. - Acabou!
- Nossa, que grande vaca é você em!
- Tá se olhando no espelho? - diz rindo ao perceber que atingiu a irmã.
Vitória a olha com raiva, e joga um caderninho na mais nova, que desvia saindo correndo para dentro. Para quem não as conhece, vai achar que uma é ignorante com a outra. Mas essa só é uma forma de dizer que se amam, é, sei que é meio estranho, mas irmãos são assim mesmo.
- Eu já vou indo, deu a minha hora. - digo olhando o relógio. - Vejo você mais tarde.
- E lá vai ela desviando de assunto de novo, mas tudo bem. Te vejo mais tarde.
Nos despedimos e segui para o carro, só espero que o resto do meu dia não seja estragado pela irritante da minha futura vizinha.
°
Chego na pousada por volta das 15h. Ultimamente quando eu chego aqui, parece que o ar me sufoca, e uma dor de cabeça sempre acaba aparecendo. Acho que desde que aquela chata chegou, trouxe esse ar pesado junto com ela, e também essa reforma só deixa tudo pior.
- Viu ela em algum lugar? - pergunto para Maria que está junto com o filho no balcão.
- Não. Acho que passou o dia no quarto.
- Maravilha! - sorri.
Espero que ela não saia de lá por tão cedo.
Sigo para a cozinha, guardando as coisas que eu tinha comprado, e vou para a sala de jantar arrumando tudo no lugar para hoje a noite. Quando eu me viro para sair, me assusto ao vê lá na minha frente.
- Trouxe o que eu pedi? - pergunta enquanto passa as mãos sobre a toalha de uma das mesa, em seguida a colocando em frente aos olhos.
- Sim, claro que eu trouxe - me esforço para não revirar os olhos.
- Ótimo. Já não estava aguentando esse arroz sem sal.
Aperto minhas mãos em punho, e tento ficar calma. Ela endireita um jarro de flores, em seguida faz o mesmo com outra mesa, me deixando irritada. Eu vou acabar cometendo um assassinato logo, logo.
- Espero que o jantar de hoje a noite, seja melhor do que ontem.
- Foi mal que a comida não te agradou muito. Mas seria melhor, se a senhora mesma cozinhasse? Assim não reclamaria tanto.
- É, acho que seria muito melhor. Acho que todo mundo iria preferir a minha.
- Sério? Mas de acordo com os seus gostos, e a forma que trata todo mundo, sua comida deve ser tão boa quanto você - perco a paciência, eu estou de saco cheio de todo dia alguma coisa para ela reclamar.
Sei que há pessoa que dizem, o cliente sempre tem razão e que temos que manter o profissionalismo, mas essa mulher só falta me enlouquecer. Ontem foi uma toalha que não era macia o suficiente, anteontem foi o lençol da cama que segundo ela era "aspero". Sei que nem sempre pessoas ricas agem assim, mas sempre tem que ser um. Eu não sei se ela está acostumada a tratar pessoas de fora, dessa forma, que se ela fosse superior, mas ela tem que entender que aqui é diferente.
- Olha garota, como me trata!
- Com todo o respeito, eu não estou mais aguentando. Todos daqui, comem a comida, sem reclamar, apenas você é quem está reclamando. Se não está satisfeita, poderia sair daqui, e voltar para sua casa!
Sou surpreendida por mãos em meus ombros, mas pelo cheiro do perfume, percebo que é Alex. Ficar tão próxima dela ultimamente, me faz perceber detalhes como esse.
- Está tudo bem aqui? - pergunta.
- Controle sua namorada, ela anda muito estressada. Ela deveria se controlar. Se não quiser perder um cliente. - diz brava dando as costas, e finalmente saindo.
Ele me vira ficando de frente para ele.
- Não pode deixar que ela te tire do sério.
Suspiro frustrada.
- Eu sei, só que ela é tão irritante. Fica fazendo exigências, como se fossemos um hotel cinco estrelas. Além do mais, eu não ligaria que ela fosse embora.
Na verdade seria uma benção. Sei que meus pais vivem dizendo, que devemos sempre deixar que o cliente tem razão, mas as vezes cansa disso. E nesse caso, ela nao tem um mínimo de razão.
- Vira.
- O que? - pergunto sem entender.
- Fique de costas.
Faço o que ele pediu, e suas mãos vão em encontro ao meu ombro novamente. Seus dedos em contato com a minha pele, me faz ter calafrios, e não por que elas estão geladas, e sim como suas mãos são tão macias.
- Você está tão tensa. - ele começa uma massagem, que me leva aos céus, de tão confortável. - Precisa relaxar mais.
- Nossa, se eu soubesse que você sabia fazer uma massagem tão boa assim, eu teria pedido antes.
- Obrigado pelo o elogio.
- Você é um bom cozinheiro, bom massagista. Cada dia mais descobrindo coisas novas sobre você Alex.
- Espero que coisas boas.
Fico quieta enquanto sinto a tensão indo embora aos poucos.
- Você acha que a comida daqui é ruim? - pergunto.
Não sou eu e nem ninguém daqui que prepara, fechamos um negócio com o restaurante mais popular do povoado, que é considerado por ter as refeições mais gostosas, além de ter ganhado concursos da cidade. Eles trabalham com a gente, já tem anos, e nenhum hóspede que já passou por aqui reclamou da comida, na verdade só tivemos elogios. Como eu disse, o gosto deve ser bom demais para ela conseguir não gostar.
- Não. Eu acho boa, por quê? Não vai me dizer que está acreditando no que a madame está dizendo?
- Não, é que você é chefe, é bom ter uma segunda opção.
- Qualquer um pode ter um bom paladar, e se todos dizem que está boa, precisa acreditar que está. Além do mais, quem prepara tudo?
- É terceirizado, eu pago para que a Giovana, dona daquele restaurante do povoado que eu te levei aquele dia, lembra? - viro a minha cabeça rapidamente vendo ele assente. - Eles vem aqui todos os dias, ficam aqui durante amanhã, preparando o café e o almoço, e depois retornam no final da tarde para o jantar, assim todos os dias.
- A comida de lá é boa mesmo. Acho que ela é mesquinha de mais.
Depois de alguns minutos de massagem, ele para e eu me sinto completamente melhor. Fico triste só de imaginar como serão os meus dias depois que o Alex for embora, como é que vou conseguir aturar pessoas como a Larissa, se ele não estiver aqui?
A cada dia que passa, acho que estou cada vez mais apegada a ele.
°
Com a noite chegando, deixei o jantar pronto para a chegada da Vi, e antes de ir para casa certifiquei de que tudo estaria em ordem, e que alguém pudesse fechar a pousada após o horário.
- Cheguei! E trouxe uma sobremesa. - diz segurando o pote de sorvete em mãos.
- Preparei um jantar gostoso para gente. - fecho a porta assim que ela passa.
- Hum, pelo cheiro até sei. Sabe que eu amo um Strogonoff.
- Acertou, fiz especialmente para você.
Fomos para a cozinha, e eu coloca o sorvete no congelador. Enquanto jantamos, atualizo ela sobre hoje a tarde, o que me faz acabar contando sobre o Alex.
- Quer dizer, que ele fez uma massagem em você? - ela sorri com um olhar malicioso, e eu reviro os olhos.
- Sim.
- Cara, ele não poderia ser mais perfeito do que já é. Lindo, gostoso, com todo o respeito.
- Por que com todo o respeito?
- Não quero que você fique com ciúmes.
- Não estou, você só está dizendo verdades. - dou de ombros, e no fim acabei sorrindo.
- Ele ainda cozinha e sabe fazer uma boa massagem! - continua. - Onde será que eu encontro alguém tipo assim? Mas é claro que alguém mais bad boy. É difícil achar pessoas que prestem hoje em dia amiga, então aproveita o bofe e não perde ele.
- Só você mesmo, nós somos só amigos - dou ênfase no só para que entre na cabeça dela.
- E mudando de assunto, tenho uma novidade para te contar.
- Qual?
- Sabe a resposta daquela faculdade que eu estava esperando?
- Sim.
- Eu passei! Vou começar no semestre que vem!
Me levanto animada e abraço. Desde quando acabamos a escola, o sonho dela era cursar arquitetura. Mas pelo valor das parcelas, eram um pouco salgadas demais, então durante esse tempo ela focou em estudar, e em juntar dinheiro para uma reserva financeira futura. E agora a minha amiga está conseguindo realizar o sonho dela!
- Hoje é uma noite a se comemorar. Você será uma futura arquiteta. E finalmente vai sair da zona de conforto!
Diferente de mim, que quando fiz administração preferi fazer online. Eu amo esse lugar, é não estava afim de sair daqui, entendo que Vi também tenha um pouco desse medo, e admiro a coragem de ela persistir atrás do sonho dela. A faculdade dela tem duração de 10 semestres, ou seja, cinco anos. Estou um pouco triste por conta que vamos ficar todo esse tempo longe uma da outra, mas a minha felicidade por ela, é muito maior do que a tristeza. Ela merece, e eu não posso ser egoísta, esse momento é sobre ela.
- Eu não quero ficar longe de você. - diz me abraçando de volta.
- Que isso, será só por um tempo, vai ser uma ótima experiência, você vai poder fazer novos amigos, conhecer novas pessoas.
- Nenhum amigo irá te substituir.
- É bom mesmo em. Quando você for ver o campos, me chama para ir junto com você. - ela assente e nos afastamos. - Agora vamos comemorar, comendo aquele pote de sorvete enquanto assistimos algo do seu gosto, já que não temos bebida.
Terminamos de assistir um filme que ela escolheu, já eram quase 23h, e esquecemos completamente de escolher a minha roupa. Então antes de deitarmos, decidimos achar algo bom rapidamente.
- O fantasma da Ópera, está lendo? - pergunta pegando o livro de deixei em cima da minha mesa.
- Já acabei.
- Quanta marcações. Você comprou?
Cada cena, ou frase que eu achava interessante eu colocava pedaços de poste-it para marcar, quando no futuro eu pudesse ler novamente e lembrasse disso tudo. Claro que após terminar, eu assisti o filme, o que me deixou ainda mais apegada pela história.
- Não comprei, Alex que me deu, junto com um bilhete dentro me pedindo para ir ao teatro com ele, ver exatamente uma peça sobre esse livro.
- Uau, ele foi um fofo te convidando dessa forma.
Vi pega algumas roupas dentro do meu armário, e fico grata por ter arrumado dias atrás, e não ter deixado tudo bagunçado, se não seria uma hora para achar algo bom. Ela coloca em cima da cama, algumas roupas de tons mais escuros, e menos chamativo.
- Uhm, deixe me ver. Esse vestido é lindo, com um salto fica perfeito. - ela pega o de cima da cama e eu tenho que concordar.
Pego o vestido e sigo para o banheiro. Visto ele, em seguindo de volta para o quarto ficando em frente ao espelho. Pelo reflexo vejo que ela está surpresa, e gostou do vestido, assim como eu. Mas acho que ele não é bom o suficiente.
- Ele é lindo, mas acho que ele é demais para a noite. - falo me virando na direção dela.
- Te deixa sexy, mas se não quer, podemos escolher outro.
Troco o vestido por uma calça preta, e uma blusa de alça da mesma cor, colocando um blazer também da mesma cor por cima.
- Ele é casual, te deixa bonita, e perfeito para a noite. Só colocar um tênis e tá ótimo.
- Preto já combina com tudo. E vou deixaro meu cabelo solto. O que acha?
- Sim, seus cachos soltos ficam vai ficar a coisa mais linda. Pronto, resolvido, agora só esperar o dia.
Colocamos as roupas de volta no armário, e preparamos a cama. Como a minha cama é grande o suficiente para nós duas, deitamos uma do lado da outra, apago a luz da luminária ao lado, a escuridão toma conta do quarto.
- Muito obrigada por ser a melhor amiga de todos. - falo após uns minutos em silêncio, sem saber se ela já tinha dormido.
- Eu sei, sou a única. - rimos. - Obrigada por ser a minha amiga também.
Ela sabe que é a única amiga que eu tenho, e também o quão grata eu sou a ela.
°
Olho duas vezes no espelho, confirmando de que eu estou pronta, e que nada está fora do lugar. Passo um pouco de perfume, e pego uma bolsa da mão pequena, colocando o meu celular dentro e saio indo para a sala. Confiro tudo ao redor duas vezes, porque o meu cérebro sempre tem mania de me deixar preocupada depois, dizendo que eu esqueci alguma coisa. Esperei tanto para esse dia, que os outros se passaram tão rápido que parece que eu pisquei.
Abro a porta, me deparando com Alex, que estava pronto para bater na porta. Um sorriso se forma em meus lábios ao o ver na minha frente. O cheiro do seu perfume é tão bom, e a roupa que ele está vestindo o deixa tão sexy e bonito.
- Eu já ia te chamar. - seus olhos percorrem o meu corpo de cima abaixo, e sinto meu rosto queimar. - Você está linda demais, é claro que você já é, mas você está radiante.
Eu não sou tímida, mas as vezes em momentos como esse me faz ser. Nunca tive um cara que me chamasse para ir em algum lugar, ou me elogiasse como ele está fazendo agora.
- Você também está lindo.
- Podemos ir? - pergunta estendendo a mão, para que eu pegasse.
- É claro.
Tranco a porta, e seguro em sua mão, deixando que ele me leve para fora até o seu carro.
No caminho até o teatro, fomos ouvindo um jazz baixinho, enquanto íamos em silêncio. Minhas mãos estavam um pouco suadas, e eu estava nervosa demais e ansiosa, para falar muito. Meus olhos não desgrudam da paisagem que passa pela a janela, mesmo de noite, dá para enxergar um pouco das árvores ao redor.
Ao chegarmos no teatro, Alex cruza seus braços com o meu, e me guia até nosso acento. Eu olho ao redor, tentando não parecer uma criança animada com o seu doce. Sentamos na cadeira, e analiso o papel que foi dado na entrada sobre a peça. Os atores pareciam bons, lembravam algumas características dos personagens. As pessoas ao redor pareciam animadas, e pelo tipo de roupas que eles estão, percebo que não errei ao escolher a minha. Não demora muito para começar, me deixando totalmente entretida.
A hora passou tão rápido, que quando eu vi os atores se curvaram em agradecimento e as cortinas se fecharam. Não chorei no final, mas me senti da mesma forma quando li o livro pela a primeira vez, ou de quando eu assisti o filme, completamente devastada.
- O que achou? - pergunta Alex assim que chegamos até o seu carro.
- Foi perfeito, eu amei. Eu não sei como te agradecer, nada que eu faça será capaz de demonstrar o qual feliz eu estou.
- Eu sei, só o seu sorriso já agradece tudo. Você acha que está muito tarde? Gostaria de te levar a outra lugar.
- Não tudo bem.
Entramos no carro, e em poucos minutos ele para em um drive thru, depois de pedirmos e o pedido estar pronto, seguimos para outro lugar.
- A onde está me levando?
- Em uma praça, é melhor.
Ao chegarmos, sentamos em um banco que ficava de frente para uma fonte de água, na qual crianças corriam ao redor, com seus pais. Ele me passa o hambúrguer que está com o cheiro ótimo.
- Sei que não é um dos melhores lugares, e que seria melhor um restaurante. - fala olhando para as árvores e em seguida seu olhar para em mim.
- Não querendo ofender você, por ser chefe, mas eu gosto de momentos mais assim que podemos ser nós mesmos sem sermos julgados, e comer coisas não saudáveis do que ir em um lugar chique. E essa noite está sendo perfeita, melhor do que eu esperava. - vejo seu semblante tranquilizar, e ele sorri. - Já foi em um teatro antes?
- Uma vez, com os meus pais. Mas eu era criança e nem me interessava muito pelo o que estava acontecendo. Então não me interessei muito em ir depois nisso ou em uma orquestra. E lembro que não foi tão legal assim que nem foi com você, até me fez mudar de ideia sobre o que eu achava sobre teatro.
- Sério? Espero não ter te obrigado a ter feito isso tudo.
- Não, claro que não. Eu gostei.
- Você não fala muito sobre seus pais. Como eles são? - nunca chegamos a falar sobre isso, mas pela reação dele, acho que não deveria tocar nesse assunto. - Não precisa me dizer se quiser.
- Não tem problema, só lembrei de umas coisas... Eles são como todos os pais. Só que tem costume de brigar demais, o que acaba sendo chato. Em momentos de família, em que eu pensava que estava tudo bem, eles sempre achavam alguma coisa para discutir, até mesmo na frente de outras pessoas.
Meus pais não costumavam brigar tanto, tinha uma discussão ou outra, mas nada muito tão sério, que logo não os fizesse fazer as pazes. Mas sei que nem todos tiveram ou tem pais assim.
- Sinto muito - cubro sua mão com as minhas.
- Não sinta, eles quem deve sentir. Mas eu e a minha mãe somos mais próximos do que o meu pai, ela é legal, apoiou a minha carreira e tudo, devo muito a ela. Agora vamos mudar de assunto, e comer isso antes que esfrie.
Percebi que falar sobre isso não o deixou muito confortável, então deixei que mudássemos de assunto, e comemos o lanche.
- Está sujo aqui. - aponto para uma pequena mancha de molho em seu bochecha.
- Onde?
- Quer que eu limpe? - ele assente e eu pego o guardanapo levando até o canto do seu rosto.
Por que eu estou olhando tanto para ele, estou percebendo detalhes que antes eu nunca prestei atenção, como uma pequena pinta que ele tem no canto esquerdo do rosto, próximo a sua boca. Ou a forma que seus olhos castanhos escuros são tão cativantes, mesmo sendo a noite, ou como seus lábios parecem ser tão macios que me dá vontade de beijá-los....
O que é que eu tô pensando?
- Pronto - me afasto colocando o guardanapo junto com os outros plásticos e papéis.
- Obrigado, Liv.
- Do que você me chamou? - pergunto surpresa.
- Liv... me desculpe se não gostou, eu posso parar.
- Não, claro, eu amei. Sério, normalmente as pessoas só me chamam de Olivia, ou Livia, mas Liv, é diferente e único. Teve um dia que você me chamou assim, Liv, eu gosto.
- Você me assustou, por um momento achei que não teria gostado. - ri sem graça.
- Foi mal, não foi minha intenção. E sabe que você não precisava ter pago os lanches.
- Nada disso, eu te convidei, eu que faço questão de pagar.
- Você me mima demais.
- Que nada. Isso é apenas o mínimo que eu posso fazer.
Apoio minhas costas no banco, e levanto a minha cabeça olhando para o céu.
- Melhor irmos acho que vai chover. - falo apontando para o céu que já está cheio de nuvens.
- Sim vamos.
A chuva começou quando estávamos chegando, o que foi bom já que não é muito legal deixar que Alex dirija em baixo dessa chuva. Isso também me lembrou da vez em que Alex me encontrou no caminho, quando eu vim embora cedo da festa dias atrás, e eu estava bravo com ele, o que foi uma besteira minha.
- Como naquela vez. Só que dessa vez não estamos brigados uns com os outros. - diz Alex lembrando também.
- Ainda bem, nem me fale. E eu não tomei um banho de chuva dessa vez.
- É, e dessa vez eu tenho guarda-chuva. - diz tirando um do porta luvas. - Espere aqui.
Ele desce do carro, abrindo o guarda-chuva e da a volta no carro abrindo a porta do carro. Desço, indo para debaixo do guarda-chuva, e como não era muito grande, ficamos um grudado no outro.
- Cuidado para não escorregar. - diz após eu tropeçar em um pedra, e ele coloca o braço envolta da minha cintura.
- Obrigada.
Não escorreguei, ainda bem. A pousada já estava fechada, e antes de ir para cama, verifiquei se tudo estava fechado, com a ajuda de Alex.
- Vai me levar até a minha porta? - pergunto ao ver ele me seguindo até o corredor.
- Como da outra vez, só certificando que você está bem.
- Não é como se fosse acontecer algo comigo no caminho, mas obrigada. Dessa vez a luz não vai faltar - paramos em frente a minha porta, e eu me viro ficando de frente para ele.
- E chegamos, está entregue.
Destrancou a porta, e me viro novamente antes de entrar. Meu corpo age mais rápido do que minha mente. Minhas mãos passam por seu rosto, em seguida por trás da sua nuca, e sem pensar duas vezes o beijo na bochecha.
- Boa noite Alex.
- Boa noite Liv.
Fecho a porta atrás de mim, sentindo minhas bochechas queimarem, pelo o que eu acabei de fazer. Mas também feliz por ter feito isso. Eu sei que disse que estava gostando do Alex, como amigo, mas será que é só isso mesmo? Ou estou apenas tentando mentir para mim mesma?
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