04
Olivia
O pouco tempo em que passei com o Alex, me fez tirar as minhas preocupações da cabeça. Ele é uma boa pessoa, e escuta as coisas que para mim são idiotas, e ele acha normais. Eu falei que não ia convidar ele para a festa, e quando eu percebi, comecei a falar e não parei mais.
Sento na cadeira, enquanto arrumo algumas pendências do dia, enquanto espero a minha mãe voltar, e falando nela, desce as escadas, e dá a volta no balcão sentando na cadeira ao meu lado, o que me faz lembrar de momentos de quando eu era mais nova, e ela e papai ficavam aqui trabalhando, atendendo as pessoas, ou mexendo no computador, enquanto eu ficava desenhando atrás deles.
- Conseguiu resolver o que tinha para resolver? - pergunto e ela assente.
- Eram poucas coisas. E o tour com o Alex?
- Foi legal.
Minha mãe deve ter gostado de Alex, supostamente a intuição dela foi boa com ele, se não, não teria me mandado mostrar o lugar para ele.
- O que a senhora achou dele?
- Alex é uma boa pessoa, o pouco que conversei percebi que não tinha perigo algum.
- Só isso? Nenhum comentário a mais, ou a menos?
- Não. Então, conseguimos fechar a venda? - pergunta mudando de assunto.
- Sim. Vamos precisar resolver algumas coisas na cidade, em relação à documentação, e depois o dinheiro será depositado na nossa conta. Aliás, tenho que ir amanhã à cidade, eles querem resolver isso o mais rápido possível, e eu acho bom também.
Minha mãe mesmo com o sorriso no rosto, sinto a tristeza em seus olhos. Ela não me diz nada, mas sei que está sendo difícil para ela.
- Eles vão querer reformar a casa? - assinto e uma lágrima escorre do seu rosto, e eu a abraço. - Era de se esperar. Sua avó surtaria se soubesse.
- Mas ela iria entender depois. O importante é que ainda temos aqui.
- Mas até quando? - saio do abraço e a olho.
- Vai dar tudo certo, vamos sair do vermelho. Isso tudo é só uma fase. Depois que tivermos o dinheiro em mão, pensamos nisso.
- Não sei o que faria sem você, minha filha.
- Eu que não saberia o que fazer sem você e o papai, e falando nele, por que não veio?
- Ele disse que estava cansado demais, mas que na próxima vem. A cada dia que passa ele vive dizendo estar cansado. - diz em um tom preocupado. - Mas ele diz estar bem.
- Talvez isso seja por conta do tempo, desde novo ele trabalhava no pesado, e agora tudo isso está pesando nele.
- Está nos chamando de velhos? - ela pergunta levando a mão sobre o peito.
- Não, claro que não. Mãe, a senhora entendeu bem o que eu quis dizer.
- Eu sei, só estou brincando. - sorri. - Mas que estamos velhos, estamos mesmo.
- Mas eu não quis dizer para ofender a senhora.
- Eu sei, só que hoje em dia na cidade, eu vejo bastante os jovens sem nenhum respeito aos mais velhos.
- E como se eles nunca fossem chegar na mesma idade.
- Ah, cada dia mais esse mundo está perdido, na verdade as pessoas é que estão. - assinto concordando. - Eu acho melhor ir, antes que eu acabe ficando aqui até mais tarde.
Levantamos nós duas, e acompanho até o lado de fora, indo até o seu carro. Nos despedimos, e fiquei do lado de fora, vendo até o carro dela sumir na estrada. Mesmo sabendo que eles não estejam muito longe, sinto saudades deles.
°
Já faz quase 30 minutos que todos desceram para jantar, enquanto eu estou na frente do computador, calculando o valor de algumas dívidas na planilha, quando dona Maria aparece com um prato de comida.
- Te esperei para ir jantar, e nada de você aparecer. - diz ela irritada.
Maria é responsável pela equipe de limpeza, que na verdade é só ela, e mais duas pessoas, e também ajuda a supervisionar a equipe terceirizada que temos para preparar as refeições do dia a dia, além de me ajudar a deixar tudo aqui em ordem, ou seja, ela é praticamente meus pés e mãos daqui. Depois que meus pais resolveram ir para a cidade, e deixaram a pousada em minhas mãos, ela me ajudou e muito, ela praticamente faz parte da família.
- Eu não estou com fome. - o que não era mentira.
- Mesmo sem fome, tem que comer pelo menos um pouco. - ela coloca o prato sobre o balcão.
Resolvo obedecer o pedido dela, e deixo o computador de lado pegando o prato, que está com um cheiro delicioso como sempre.
- Muito obrigada. - agradeço.
- De nada. Eu estava lá na cozinha, quando ouvi falar que chegou um hóspede novo...
- Alex? Ele chegou ontem.
- Sim. Ele me pareceu familiar, ele já veio alguma vez aqui?
- Ele disse que não. Eu também pensei nisso, mas acho que posso o ter visto em algum lugar.
- Pode ter sido mesmo, ou ele se parece com alguém que já vimos.
- Pode ser.
- Ele parece ser legal. Conversou com ele?
- Ele é legal sim, fizemos um tour pela propriedade hoje. Até que foi interessante.
- Agora tem no pacote da pousada tour por aqui? - ela sorri.
- Não, eu só fiz de boa vontade. Ele parece interessado. - brinco com a comida na minha frente com a colher.
Aqui na pousada normalmente vem pessoas em épocas de férias, como famílias. Nessas épocas como agora, vem mais alguns jovens querendo um tempo longe da cidade, ou pessoas mais de idade querendo paz dos seus familiares, e quando se tem pessoas diferentes do usual, e se for homem e bonito ainda por cima, as pessoas ficam em cima querendo saber tudo sobre a pessoa, então era de se esperar se hoje todo mundo daqui da pousada e se não do povoado saiba quem ele é.
- Vai na cidade amanhã? - pergunta mudando de assunto.
- Sim, tenho que resolver algumas coisas. O João vai estar de volta?
O João é o filho dela, que fica na recepção, nos dias. Eu só fico no lugar dele quando ele não pode ficar, como hoje. E aos fins de semana quem fica é a Fernanda, só que o horário é reduzido. Mas às vezes os dois revezam, dois dias da semana ela fica, e ele fica no fim de semana. Nós não temos uma sala para a administração, então normalmente eu fico em casa, ou no balcão junto com eles.
- Sim. E aproveitando que você vai, poderia trazer algumas coisas novas que estamos precisando?
- Claro, pode fazer a lista.
- Vou fazer agora. - entrego um pedaço de folha sulfite e uma caneta, para ela poder fazer a lista.
Depois te terminar, e pegar a lista, nos despedimos e eu levo o prato para a cozinha. Não há mais ninguém na sala de jantar, então eu começo a arrumar e limpar tudo, costumo fazer isso quase todas as noites, para ficar mais fácil o trabalho no outro dia para outras pessoas, e em seguida vou para a cozinha.
°
Tudo está organizado e limpo como eu queria as 23h. Então tranco a pousada, e apago as luzes voltando para casa, que eu consigo acessar pela porta no fim do corredor da pousada, no qual só eu e os meus pais tem acesso. O espaço que antes era dos funcionários que antigamente trabalhavam aqui, transformamos no nosso lar, dois quartos, um meu e o outro que é para os meus pais quando eles vierem dormir aqui, e a sala e cozinha juntas em estilo americano.
Deito no sofá, querendo tomar coragem para levantar daqui, e ir tomar banho, mas a preguiça não deixa. Pego o meu celular do bolso, e vejo que chegou uma mensagem da Vitória, uma hora atrás e eu não respondi.
"Convidou o seu amigo?"
"Que amigo?"
Respondo, e na mesma da hora ela aparece online.
"O Alex?"
"Não somos amigos."
"Ainda. Mas você pediu para ele ir na festa?"
"Sim"
"Ótimo, pensei que você não teria coragem de o chamar. "
"Você com essa animação toda, tá me fazendo arrepender de o ter chamado"
"Não diga isso, não tenha um ataque de ciúmes. "
"Não é ciúmes. Eu vou dormir, tchau. "
" Ótimo jeito de desviar de uma conversa.
Tchau então, tenha uma boa noite, e sonhe comigo. "
Mando um emoji revirando os olhos, e ela manda outro dando risadas. Levanto do sofá indo direto para o banheiro.
Desde que ele chegou, 90% do meu dia só se refere a ele. Todo mundo quer conhecer o novo hóspede, o novo "cara" que chegou. As pessoas poderiam ter mais empatia, e se colocar no lugar dele, não há porque ficar enchendo o saco dele para saber mais sobre ele, e também parar de serem curiosos.
É... eu sei que também fui um pouco curiosa sobre ele, mas eu tenho os meus limites.
Visto o meu pijama, e coloco o meu celular para carregar, e me jogo na cama para dormir, porque sei que amanhã vai ser um grande dia.
°
Acordei hoje cedo, e fiquei o dia inteiro conversando com pessoas, e resolvendo a papelada da casa com os meus pais. E ao chegar na pousada já eram quase 15h. Tive uma péssima noite de sono, o que me deixou um pouco mal-humorada, e com uma dor de cabeça horrível, e sem estar afim de falar com mais ninguém, me fez sair de casa.
Fiquei andando pela trilha até que parei em frente a casa, meus pés agiram mais rápido que o meu cérebro. Ao estar na porta de trás da cozinha, pego a chave reserva debaixo de um vaso de planta, sei que deveria ter avisado aos donos da casa que tinha essa chave reserva, mas agora já não adianta, falo depois.
Eu não seria presa só por dar uma última olhada aqui não né? Pelo menos é o que eu espero.
Entro na casa, e passos as mãos sobre as paredes e os móveis, como se pudesse memorizar cada cantinho. Subo as escadas, e vou até um dos quartos, que tem uma pequena varanda, com bancos feitos de troncos de madeira. Sento em um deles, e coloco meus ombros sobre a grade, e coloco o meu rosto para cima pegando um pouco de ar e sol, antes que anoiteça.
Estava quase pegando no sono, quando um farfalhar de folhas secas de árvores chama a minha atenção. Viro o meu corpo procurando o que poderia ser, vai que seja um lagarto. Mas na verdade é o Alex. Ele está andando descontraído pelas árvores, e senti uma curiosidade de saber aonde ele estava indo. Desço a escadas e corro para a cozinha, trancando a porta e jogando a chave debaixo do vaso de planta. Corro na direção que eu tinha visto ele, e paro, começando a andar devagar ao estar a poucos metros dele.
Credo, eu estou parecendo uma perseguidora.
Ele olha para trás, e eu me escondo atrás da árvore rapidamente. Olho discretamente, e vejo que ele continuou andando, e eu também.
- Para onde é que ele tá indo? - murmuro para mim mesma.
Descemos uma trilha, e eu comecei a reconhecer para onde ele está indo. A torre de pedra em forma de cilindro. Está há anos, ou é o que parece, aqui nessa área. Mas como ele sabe daqui? Como ele seguiu exatamente a localização exata daqui, se fosse para encontrar aqui, ele pelo menos teria que seguir várias trilhas, até acertar esse lugar.
"Ele me pareceu familiar, ele já veio alguma vez aqui?"
O que a Maria disse ontem, me fez lembrar e ficar com dúvida.
Alex disse que nunca venho aqui, mas será mesmo? Mas eu lembraria, não lembraria? E ele disse que nunca veio aqui, ele não teria o porquê de mentir. Subo as escadas que levam até o topo, e me aproximo da porta, parando atrás dele, que está de costas.
- Não precisava me seguir. - diz ele se virando para mim, com um sorriso no rosto, que logo se desfez ao ver a minha cara.
- O que está fazendo aqui? Ninguém conhece esse lugar. E eu nem te mostrei. E não, não diga que estava apenas andando e encontrou do nada.
- Eu só estava aqui de passagem!
- Não, diga a verdade!
- Não precisa ficar brava comigo, e-eu estou falando sério... Eu vim aqui hoje mais cedo, e encontrei. Se você estiver achando ruim, e está com desconfiança, eu vou embora. - diz sério.
Abro a boca para falar, mas o mesmo me dá as costas indo embora. Fiquei na janela, vendo ele descer as escadas e ir embora. Sei que fui muito rude com ele, e nem sei o porquê agi assim. Suspiro, e passo a mão sobre os meus cabelos, e em seguida no meu rosto massageando as minhas têmporas.
Ele me deve odiar agora, é só um lugar, qual é o meu problema? Até parece que ninguém iria descobrir esse lugar.
Olívia, o que você fez!
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