Sua coragem me pergunta do que tenho medo, e o que eu sei sobre o amor. 

Sara Groves

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Eu observei a pintura antes de embalá-la. Em minha opinião, havia ficado perfeita, eu espero que Brooke goste. Aquele era meu presente de natal para ela, mas acabei não entregando na data correta por conta da agitação da comemoração. 

Anthony não apareceu depois que seu pai teve uma viagem de última hora, deixando sua mãe sozinha. Leah por outro lado  decidiu convidar Bradley para se juntar a nós e ele acabou hospedado em minha casa pelos últimos quatro dias, o que acabou me desnorteou um pouco. Eu nem sabia que os dois estavam se dando tão bem. Mas agora eu tive minha chance, e não pretendia desperdiçá-la.

 Terminei de me arrumar, peguei o embrulho e um buquê de lavandas antes de me dirigir à porta. Poucos minutos depois estava tocando a campainha da casa de Brooke, aguardando com certa ansiedade que ela abrisse a porta.

— Você chegou cedo, grande artista — Brooke abriu a porta sorrindo ao me ver.

Ela estava descalça e segurava uma escova de cabelos em uma mão, mas eu pude ver o quanto ela estava linda. Brooke usava um vestido creme de mangas compridas um pouco acima do joelho todo bordado com flores da mesma cor, seu cabelo ainda estava um pouco bagunçado, e sua maquiagem como sempre era suave, apenas para realçar sua beleza natural.

 — Desculpe, pensei que nossa reserva era para as oito. Eu trouxe isso para você — eu lhe estendi o buquê.

Brooke aceitou o buquê, levando as flores até o rosto para absorver seu perfume antes de sorrir.

— Flores? Começamos bem, Oliver — ela sorriu abrindo espaço para que eu entrasse — o que você planeja para o resto da noite?

— Eu pensei em começarmos com o de sempre, sabe... Eu te trouxe flores, vou te levar em um bom restaurante, te dizer o quanto está linda — eu caminhei despretensiosamente por sua sala, enquanto Brooke voltava a pentear os cabelos.

— O que mais? — ela mordeu o lábio inferior.

— Então, nós pediremos sobremesa, caminharemos juntos para casa — eu prossegui — E quem sabe um beijo de boa noite.

Brooke se esticou, capturando meus lábios em um beijo carinhoso. Seus lábios se moviam sobre os meus, enquanto sua mão seguia até minha nuca, se embrenhando em meus cabelos. Corri minha mão livre por sua cintura, a prendendo junto ao meu corpo. 

Cedo demais, ela quebrou o beijo, se mantendo próxima a mim, eu encostei nossas testas, olhando em seus olhos com um pequeno sorriso no rosto. Ela levou sua mão até minha bochecha, secando a lágrima que correu de meu olho esquerdo.

— Era pra esperar até o fim do encontro — eu avisei.

— Foi só pra ter certeza que valeria à pena — ela piscou descendo o olhar para o embrulho em minhas mãos — o que é isso?

Eu sorri me afastando o suficiente para estender o pacote para ela.

— É o seu presente de natal, está um pouco atrasado, mas eu espero que você goste — ela o pegou, depois de deixar a escova em um aparador. 

Ela rasgou o papel que envolvia o quadro, observando boquiaberta a pintura. Desde meu aniversário eu tinha tomado minha decisão sobre o presente de Brooke, eu a pintei deitada em meio a algumas flores, e tinha que admitir que o meu trabalho havia ficado perfeito.

— Oliver, ficou lindo — ela balbuciou.

 — Você gostou? — eu a contornei, parando diretamente atrás dela — Achei que alguém tão bela merecia mais do que apenas servir de ilustração para um livro de fantasia.

— Livro de fantasia? — Ela se virou em minha direção com o cenho franzido.

Foi quando notei meu deslize. Eu nunca tinha revelado a ela que ela tinha sido minha inspiração para aquela série de ilustrações.

— Bem, talvez seja possível que eu tenha te usado como inspiração para ilustrar uma princesa em um dos trabalhos do estúdio — eu esclareci sem graça.

Brooke sorriu, parecendo sem palavras diante da informação.

— Eu vou colocar um sapato e nós poderemos ir, assim você me conta essa história direito — ela mordeu o lábio inferior antes de se afastar com o quadro em mãos — e eu preciso escolher um lugar para pendurá-lo.

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— Eu sei que faz pouco tempo e eu não deveria ficar tão empolgada, mas Bradley faz com que eu me sinta bem — Leah relatou para todos, após Isabel questionar sobre seu envolvimento com o sobrinho de Lizzy — eu me sinto mais como eu mesma ao lado dele.

— É natural que você se sinta dessa maneira, Leah. E se esse rapaz realmente faz com que você se sinta assim, então você não deve ter medo de se envolver — ela garantiu.

— Você não se importa, certo Oliver? — ela perguntou timidamente.

 — É claro que ele não se importa — Anthony revirou os olhos enquanto dava algumas cenouras na boca de Wilson.

— Bradley é um bom rapaz — eu o ignorei — e parece corresponder seus sentimentos.

Leah sorriu, desviando o olhar. Os dois finalmente tinham assumido um relacionamento, e no último mês Bradley havia se tornado um hóspede usual para os fins de semana. 

— E quanto à você, Oliver? — Isabel me observou — você não falou mais sobre você e Brooke...

Já faz pouco mais de um mês desde o nosso primeiro encontro, e Brooke e eu estávamos nos dando bem. Quase todos os dias eu a buscava na confeitaria e nós fazíamos alguma coisa juntos, assistíamos filmes, levávamos os cachorros para passear ou saíamos juntos. Aos poucos, nossa relação estava evoluindo e eu não me lembrava da última vez que fui tão feliz.

— Nós estamos bem... 

— E quando é que você vai parar de usar essa aliança? — Anthony interrompeu — sabe, se você está namorando a garota, não é estranho sair de aliança por aí?

 — Dessa vez, eu preciso concordar com o Anthony — Taylor suspirou — eu me sentiria desconfortável se estivesse no lugar da garota.

— Vocês acham que é mesmo necessário? — Eu balbuciei, observando o anel em meu dedo. 

Aquela aliança tinha muito significado, muita história, eu não poderia simplesmente me desfazer dela.

— Será necessário quando você estiver pronto para isso, você está indo bem, não deve se precipitar — Isabel garantiu.

 Apesar das palavras dela, aquela situação ficou em minha mente, e o fato de Anthony ter me acompanhado na volta para casa, me dando várias sugestões sobre o que fazer com a aliança, e tagarelando sobre como Brooke estava tendo paciência não me ajudou.

 Eu me sentia mal por pensar que ela poderia estar chateada com aquela atitude minha e queria encontrar uma maneira de consertar isso. Acabei não indo buscá-la por conta disso, eu precisava tirar um tempo para pensar, colocar a cabeça no lugar. No fim, fui caminhar na praia, tentando tomar uma decisão, parei de frente para o mar, observando as ondas se quebrarem mais adiante. Eu retirei a aliança de meu dedo, pensando no que fazer a seguir.

"Jogue-a no mar" Foi o que Anthony sugeriu. Eu poderia fazer isso? Seria a coisa certa? Eu já me livrei de todas as coisas de Eliza, mas isso... 

Eu observei seu nome gravado no interior da aliança junto à data de nosso casamento. Será que para seguir em frente eu serei obrigado a tomar uma atitude tão drástica? 

— Vamos Oliver, não é o fim do mundo — eu murmurei em minha língua materna — Você está feliz, e sabe que ela é a razão disso.

Mas ainda não conseguia. Eu não poderia tomar aquela atitude, por mais que eu gostasse da Brooke. Algumas lágrimas caíram em minha mão me fazendo enfim nota-las. Porque isso precisa ser tão difícil?

 — Oliver? — a voz de Brooke fez com que eu me virasse em sua direção, secando o rosto rapidamente.

O que ela está fazendo aqui? Como soube onde me encontrar? Eu pisquei atordoado enquanto ela vinha em minha direção com a expressão tranquila de sempre.

— Brooke... Como você...

Ela segurou a mão que eu tinha fechado em torno do anel, me obrigando a abri-la, como se soubesse exatamente o que iria encontrar ali.

 — Leah nunca comenta nada sobre o que acontece nas reuniões... Ela diz que prefere manter tudo entre vocês e eu respeito isso — ela esticou a mão limpando meu rosto — mas hoje ela ficou preocupada com as coisas que o Anthony falou...

— Ahh, isso.. Brooke.. — eu balbuciei, tentando encontrar uma maneira de mudar de assunto. Eu não queria que ela pensasse que eu ainda não tinha superado ou não queria seguir em frente.

— Oliver, ela foi sua esposa — Brooke me cortou olhando em meus olhos — foi alguém que você amou. É claro que você não deve apagá-la de sua vida, eu nunca pediria isso.

 — Mas isso não te incomoda? — eu desviei o olhar.

— A aliança? Eu te falei, vou esperar até você estar pronto e quando isso acontecer, não quer dizer que você tenha que jogá-la fora — ela explicou.

— Mas Anthony...

Ela soltou minha mão enquanto eu ainda tentava compreender suas palavras, levando até sua nuca, tirando uma fina corrente de ouro que ela estava usando junto à corrente que prendia o crucifixo de sua mae, antes de colocá-la ao lado da aliança em minha mão. 

— Quando você estiver pronto — ela garantiu.

Brooke sorriu e deu alguns passos para trás, se afastando antes de se virar e começar a caminhar em direção à rua. Eu voltei a olhar a corrente e a aliança em minha mão, tomando minha decisão em seguida. Guardei ambas no bolso da calça antes de correr atrás de Brooke.

Eu a alcancei quando estava quase em frente à minha casa, segurando sua mão e a puxando em minha direção apenas para beijá-la. Eu sentia a urgência crescer em mim conforme Brooke correspondia o beijo, naquele momento eu soube que estava pronto, eu poderia retirar a aliança. Eu a queria em minha vida, e a queria por completo. 

— Você... — Brooke suspirou se afastando um pouco ao quebrar o beijo

— Obrigado — eu a cortei antes de depositar mais um rápido selinho em seus lábios.

— Vamos, eu vou preparar o jantar — ela me puxou em direção à sua casa.

Eu entrelacei meus dedos aos dela, pensando em como ela havia mudado tudo em minha vida. Ela me mostrou um lado da vida que eu desconhecia, me deu motivos para sorrir, mesmo com toda a dor. Dia após dia, ela me desafiou, sua coragem me perguntava do que eu tinha medo e me ajudava a seguir em frente. Ela viu mais em mim do que eu era capaz de ver em mim. Brooke me ajudou a viver novamente e a encontrar a beleza que existia no mundo e eu jamais poderia ser mais grato.