Quinto Passo - Esclarecer as coisas
"Não se proteja da dor com um muro, mas com seus amigos"
Provérbio tcheco
-------------------------------
Estava debruçado no balcão do hotel, aguardando a reunião começar enquanto Emma mexia em alguns papéis do outro lado. A sala que usávamos sempre ainda não estava aberta, então não tínhamos outra alternativa a não ser aguardar ali.
Eu observava cada traço da jovem, desde seus cabelos vermelhos até o queixo afinado. Mas o que mais me intrigava naquela garota, que parecia ser tão centrada, era sua tatuagem no rosto.
- Porque você está me olhando assim? - Ela ergueu o olhar, fazendo com que eu percebesse minha indiscrição.
- Desculpe, eu estava pensando em outra coisa - Eu desconversei, me ajeitando.
Ela me encarou por alguns segundos antes de suspirar e se aproximar do balcão.
- Oliver, posso te fazer uma pergunta indiscreta? - Ela mordeu o lábio inferior, me olhando com expectativa.
Eu estranhei, mas não me incomodou. E me deu oportunidade de também saciar minha curiosidade.
- Apenas se eu puder fazer uma também - Eu propus.
Ela olhou em meus olhos, com sua íris cor de mel, considerando minha proposta.
- Você consegue enxergar alguma coisa com esse olho? - Ela indicou meu olho esquerdo.
Eu levei minha mão até a cicatriz, a contornando com a ponta do dedo.
- Se a luz do ambiente estiver agradável, eu consigo ver alguns vultos - Eu expliquei - Fora isso, nada.
Ela balançou a cabeça em entendimento, observando com alguma espécie de estranha fascinação meu olho ferido. Não era a primeira vez que alguém reagia daquela maneira, e sempre me deixava um pouco desconfortável.
- Deve ter sido doloroso - Ela comentou, sem desviar o olhar.
- Sim, foi - Lhe ofereci um meio sorriso sem graça - Mas não é a única cicatriz que eu tenho.
- E qual é a sua pergunta indiscreta, Oliver?
- Qual a história dessa tatuagem? - Eu indiquei seu rosto.
Imitando o meu gesto de momentos atrás, ela levou a mão até a bochecha, tocando o arabesco florido com a ponta dos dedos.
- Foi algo que eu e minha irmã mais nova decidimos fazer juntas quando éramos adolescentes - Ela explicou - Na época parecia uma excelente ideia.
- E hoje? - Eu questionei, observando como a tinta começava a desbotar.
- Eu estou com 28 anos e percebi que uma tatuagem no rosto não é tão incrível assim. Mas não é tão simples remover, então... - Ela sorriu envergonhada.
- Scott, você vai vir ou não? - A voz de Anthony fez com que eu me virasse na direção do rapaz, ele estava encostado na parede com uma expressão pouco contente.
Os outros já estavam entrando na sala que havia sido liberada, eu acenei para Emma antes de seguir até a porta. Anthony se desencostou da parede, parecendo mais bêbado do que o costume.
Nós nos acomodamos, prontos para começar mais uma reunião. Anthony quase caiu da cadeira no processo, eu segurei seu ombro, o empurrando de volta, até que ele estivesse alinhado.
- Boa tarde a todos - Isabel começou - Como vocês passaram os últimos dois dias? Leah, se sente melhor desde nosso jantar?
- Sim, eu agradeço a vocês por tudo o que fizeram - Ela sorriu timidamente - Depois que saímos do restaurante, Brooke foi até minha casa e ajudou a me distrair.
Brooke... Eu me senti culpado ao ouvir seu nome. Ela tinha ido até minha casa depois de nossa interação na praia, e apesar de ouvi-la dizer que sabia que eu estava em casa, eu preferi não atendê-la.
Eu não sabia como encará-la depois de tudo. Eu posso estar exagerando, mas ela com certeza pensa que sou desequilibrado.
Talvez eu tenha tentado me aproximar de alguém muito cedo. Eu não estou pronto para isso.
- Fico feliz por isso, e quanto a você, Taylor?
- Apenas trabalhei, nada mudou - Ela sorriu em resposta, enquanto eu me sentia estranho por ser observado por Anthony o tempo todo.
Ele estava diferente do usual, parecia inclusive estar com raiva de mim por algum motivo. Minhas suspeitas se confirmaram alguns momentos depois, enquanto eu relatava minha experiência com Brooke e o que aquilo provocou em mim.
- Acho que eu apressei as coisas, eu não estava pronto e...
- Essa é a maior besteira que eu já ouvi - Ele desdenhou, com a voz embargada pela bebida.
- Anthony! - Taylor exclamou surpresa.
- Não, nós estamos aqui há semanas falando que é isso que ele precisa - O rapaz prosseguiu irritado - E quando ele finalmente consegue, joga tudo pra cima por... Eu nem entendo porque!
- Rivera, nós não agimos dessa maneira - Louis tentou intervir, enquanto Isabel franzia o cenho alternando o olhar entre Anthony e eu.
- Eu...
- Não, cara... Você está desperdiçando todas as chances - Ele me cortou - Você fica agindo como se não merecesse nada disso, ou como se fosse algum tipo de monstro por causa do que? Um olho esbranquiçado com uma cicatriz que as garotas parecem achar que te deixa mais atraente!
Eu fiquei sem palavras diante daquela explosão. Eu não conseguia ficar irritado ou ofendido por aquelas palavras, não quando eu via o olhar agoniado estampado em seu rosto por trás da embriaguez.
- Enquanto eu continuo aqui sem nenhuma chance, você desperdiça todas as que você tem - Ele cruzou os braços em um gesto irritado.
- Exatamente qual chance você está esperando, Anthony? - Leah perguntou.
- Qualquer uma! - Ele desconversou.
- Você parece ter bebido mais hoje, Anthony - Isabel observou - Aconteceu algo antes de você vir?
- Não.
Nós nos entreolhamos, Isabel respirou fundo enquanto traçava uma nova abordagem.
- E aquela garota de quem você tanto nos falou, Anthony? - Louis foi mais rápido.
- Eu já tentei de tudo, eu comprei tudo o que poderia agradar uma mulher, ela simplesmente devolve todos os presentes - Ele suspirou - Hoje recebi de volta um par de sapatos que eu pensei que ela gostaria; ela age como se eu não existisse. Mas com todas as outras pessoas ela é gentil.
- Anthony - Taylor começou.
- Não venha me falar para tentar ser uma pessoa melhor, eu já tentei isso e também não deu certo!
- Anthony, o que exatamente você veio fazer nesse grupo? - Isabel decidiu interferir.
Ele a encarou, parecendo confuso com a pergunta.
- Minha tia morreu - Ele desviou o olhar - Nós já não passamos dessa parte?
- Uma vez você nos disse que seus pais o obrigaram a vir - Ela prosseguiu.
- Sim, era isso ou o A.A. então eu pensei, dos males o menor - Ele deu de ombros, parecendo esquecer toda a irritação de momentos atrás.
Parece que Isabel encontrou um bom caminho para se aproximar do real problema do rapaz, e eu não me incomodava com aquela explosão, se ela conseguisse.
- E há quanto tempo você desconta todas as suas frustrações no álcool, Anthony? - Ela questionou com a voz calma, para surpresa do rapaz.
- Eu não faço isso! - Ele se defendeu.
- Não? Então o que o álcool significa para você?
Nenhum de nós ousamos nos intrometer ali, nos contentávamos apenas em assistir.
- Não é uma forma de lidar com frustração nenhuma, não é por isso que eu bebo - Ele murmurou parecendo uma criança.
- Então, porque? Qual é o conforto que você encontra no álcool?
- É complicado explicar...
- Nós estamos aqui para entender, Anthony - Ela insistiu - Você nunca vai melhorar se não se abrir.
- Vamos Anthony - Taylor o incentivou.
- Ninguém está aqui para te julgar, Rivera - Louis garantiu.
Ele olhou em volta, parecendo encurralado antes de respirar fundo, desfazendo a postura defensiva que havia adotado.
- É difícil, sabe. Eu vejo todas essas coisas e...
- Que coisas? - Isabel o interrompeu.
- O mundo - Ele esclareceu - Já faz algum tempo que é assim.
- Assim como?
- Eu não consigo enxergar as coisas boas - Ele esclareceu - É como se eu conseguisse enxergar a tristeza que existe por trás de tudo. Eu olho as pessoas e é quase como se eu pudesse enxergar essa aura negra que as cerca. Eu estava cansado dessa sensação e a bebida começou a mandá-la embora, ou pelo menos, adormecê-la.
Eu o observei, tentando entender como ele se sentia. Desde que Lizzy se foi eu me sinto triste, mas não é como se eu não visse a felicidade em nenhum lugar. Muito pelo contrário, eu sempre via a felicidade em todos os lugares, mas não parecia mais algo acessível para mim. Mas ele vê a tristeza em tudo.
Como é possível viver pensando que em todo lugar, não existe nada além da tristeza?
- Entendo, e quanto à sua tia? - A psicóloga prosseguiu.
- Eu me sentia bem com ela, era como um refúgio para mim. Um refúgio da hipocrisia do meu pai e a futilidade da minha mãe - Ele desviou o olhar - Mas isso terminou também. Meu pai reclamou por causa da conta do meu cartão de crédito e quis me obrigar a me juntar ao A.A., minha mãe não aguentaria passar por algo tão vergonhoso e decidiu que eu estava em processo de luto por minha Tia.
- E assim você acabou aqui - Taylor comentou.
- E onde essa garota entra na história? - Leah questionou.
- Desde a primeira vez que a vi foi diferente - Ele suspirou - Eu não vejo tristeza nela, eu a observei por algum tempo e ela é diferente de tudo o que já vi.
- Isso é bom, Anthony - Leah começou.
- O que adianta ser bom, se ela me rejeita?
Eu pisquei atordoado com aquela frase. De certa forma, eu conseguia me identificar com aquele sentimento. Eu também me sentia assim com Brooke, quero dizer, não em relação ao sentimento, e sim, em relação à alegria e vivacidade que ela exala. Quando estou perto dela, de alguma maneira eu sinto como se pudesse me reerguer.
Eu tenho isso à minha disposição e estou jogando a chance fora. Enquanto Anthony, tenta se agarrar a isso de todas as maneiras, e é rejeitado!
- Desculpe por antes, Scott - Ele suspirou.
- Não foi..
- Talvez eu deva pegar umas dicas com você, no final. Ou talvez, conseguir uma cicatriz dessas no olho, pelo menos eu teria algum assunto com ela.
Aquelas palavras finalmente me fizeram entender o motivo de eu ter sido o alvo de toda a sua fúria.
A garota que ele está interessado é a Emma?
- Anthony, não seja bobo - Taylor o repreendeu.
- Anthony, sua situação vai além do processo de luto - Isabel retomou as rédeas da situação - O melhor pra você nesse momento é procurar um psiquiatra.
- Eu não sou louco - Sua expressão se tornou obscura - Isso é besteira.
- Ir a um psiquiatra não significa que você é louco, e sim que você precisa de ajuda - Foi a primeira vez que vi Louis tão sério - E você precisa de ajuda antes que as coisas piorem.
- Eu não vou fazer isso - Ele ameaçou se levantar.
- Você tem algum Hobby, Anthony? - A psicóloga tentou uma nova tática.
- Hobby? - Ele franziu o cenho.
- Praticar algum esporte, pintar, qualquer coisa - Ela explicou.
- Eu não sei - Ele parecia confuso.
- Seria bom para você adquirir um. Sabe? Algo que você realmente goste de fazer e que te ajude a externalizar esses pensamentos obscuros - Ela prosseguiu.
Não pude deixar de pensar em suas palavras, eu me sinto melhor desde que voltei a desenhar. Estamos todos no caminho certo.
Eu saí da reunião com uma decisão em mente, não fugiria mais de nada. E pra começar, eu me desculparia com Brooke por minhas atitudes. Voltei para casa e passei algum tempo na praia, esperando que ela aparecesse, mas quando o sol estava quase se pondo eu percebi que ela não viria.
Será que eu consegui estragar tudo de vez?
Eu esperava que não. Eu queria aquela amizade, apesar de tudo!
Com uma determinação que era típica de minha personalidade antes de tudo acontecer, eu me levantei da areia e segui até a rua. Eu não sabia qual casa era a dela, nunca me interessei nisso, mas eu tinha uma informação.
Caminhei até a Washington Street, na esperança de que ela estivesse trabalhando até tarde mais uma vez, com sorte eu a encontraria lá.
A urgência que tomava conta de mim era algo ligeiramente assustador. Eu estava desesperado e com medo de terminar como Anthony. Não, eu precisava seguir seu conselho e aproveitar as chances que estava tendo.
Sua confeitaria não ficava longe da minha casa, então eu demorei poucos minutos para chegar até lá, encontrando a luz ainda acesa.
Olhei pela porta de vidro e a encontrei de costas para mim, arrumando algo sobre o balcão. Experimentei empurrar a porta que se abriu sem resistência.
Será que é seguro que ela fique aqui até tarde sozinha?
- Desculpe, mas eu estou fechando por... - Ela se virou, parando de falar ao me encontrar parado ali - Oliver.
- Oi - Eu a cumprimentei sem graça.
- Oi, o que... eu... - Ela estava perdida com minha aparição.
- Eu posso falar com você? - Questionei um pouco deslocado, ainda parado junto à porta.
Se ela estivesse irritada comigo, eu iria embora. Mas esperava que não estivesse.
- Claro - Ela mordeu o lábio inferior, me observando, parada perto do balcão.
O silêncio reinou entre nós, enquanto eu pensava o que eu falaria para ela. Porque eu não pensei nisso enquanto caminhava?
- Oliver, eu sinto muito se eu fiz algo que te ofendeu - Ela desviou o olhar para o chão - Eu sei que nós ainda não nos conhecemos, e se eu falei algo...
- Não, eu que vim te pedir desculpas por estar te evitando - Eu a cortei - Você não fez nada errado, nada mesmo, o problema sou eu.
Aquilo fez com que Brooke soltasse uma gargalhada forçada, interrompendo meu discurso.
- Meu Deus, eu sou muito azarada mesmo - Ela revirou os olhos, irritada - Olha, primeiro eu tento te dar boas vindas e você "sutilmente" me avisa que é casado, como se fosse impossível para mim evitar me jogar aos seus pés, Sr. Irresistível!
Eu pisquei atordoado diante daquele ataque de fúria, sem saber o motivo de seu ataque. Eu estava me desculpando! Eu sei que fui um idiota ao pensar que ela estava flertando comigo, mas pensei que tínhamos superado aquilo.
- Brooke...
- E agora eu recebo a desculpa de "não é você, sou eu" quando sequer nos conhecemos! - Ela cruzou os braços antes de bufar.
- Não é nada disso, você entendeu errado - Eu tentei me aproximar - Eu não estou lhe dando essa desculpa!
- E o que você está fazendo então? Garantindo que sua esposa não vai se irritar porque nós passamos algum tempo conversando? Aliás, onde está ela? Você está sozinho na casa, a única mulher com quem eu já te vi, foi Leah e ela se recusou a me contar de onde te conhece.
Ela estava furiosa, em nada lembrava a mulher gentil com quem eu conversei na praia.
Eu cometi um erro, agora eu via isso. Era tarde demais.
- Eu não devia ter vindo - Eu respirei fundo, tentando não permitir que suas palavras me afetassem.
- Agora você não deveria ter vindo? - Ela se aproximou, segurando meu braço - Onde está sua esposa, Oliver?
Eu fechei os olhos, respirando fundo mais uma vez. Ela tinha o direito de se irritar, mas estava se aproximando de um ponto perigoso.
- Sabe o que eu acho, você fez besteira e agora está tentando provar...
- Ela está morta - Eu soltei entredentes.
Brooke estancou, largando meu braço em seguida. Eu não tive coragem de olhar em sua direção, me sentia envergonhado por toda aquela situação.
Deveria ir embora, mas ainda assim queria me explicar, não queria que ela tivesse uma imagem tão ruim de mim.
- Eu sinto muito, eu realmente vim aqui me desculpar pela forma que agi com você - Eu abaixei o olhar - Eu participo do grupo de apoio com Leah, estou apenas tentando recomeçar minha vida.
Brooke soltou um gemido envergonhado antes de passar por mim, ir até a porta, virando o aviso de "aberto" para "fechado", trancando a porta em seguida.
- Oliver, me desculpa - Ela implorou
- Brooke, não...
- Você veio aqui e... Meu Deus! Toda essa explosão - Ela escondeu o rosto com as mãos - Eu poderia cavar um buraco no chão agora, me perdoa.
- Brooke...
- De verdade, eu me sinto péssima - Ela começou a caminhar de um lado para o outro.
Eu não me sentia ofendido com ela, queria apenas tranquilizá-la sobre aquela situação, mas não sabia como.
- Que tal se começarmos outra vez? - Eu propus
- Mais uma vez? - Ela sorriu - Essa será o que? Quarta, quinta vez?
- Que tal a última? - Ofereci um meio sorriso a ela.
- Brooke Davis, 27 anos, confeiteira e tenho a tendência a me colocar em situações embaraçosas - Ela estendeu a mão para mim.
Não pude deixar de achar graça de sua apresentação, envolvendo sua pequena mão com a minha.
- Oliver Scott, 32 anos, desenhista e tenho a tendência a não conseguir me explicar bem.
Eu soltei sua mão, a observando. Ela estava com os cabelos parcialmente escondidos por uma bandana estampada, calça jeans e um suéter cor de vinho. Ela parecia cansada por mais um dia de trabalho.
Mas ela era linda, realmente linda! E aquela constatação me assombrava. Sim, eu já a considerava bonita antes, mas olhando agora, percebi que era mais do que isso. Ela é linda.
- Bem, acho que vou pra casa - Eu desviei o olhar, desconcertado com meus pensamentos.
- Eu vou em alguns minutos - Ela comentou - O que você acha de experimentar uma torta, enquanto eu limpo minha cozinha e nós podemos ir juntos?
Pensei naquela proposta, parte de minha mente me dizia para fugir naquele momento, mas consegui ignorá-la. Seria mais seguro para ela se eu fizesse companhia e a acompanhasse até em casa depois.
Brooke passou pelo balcão, se dirigindo a uma porta que levava a uma pequena cozinha. Eu a segui, observando o ambiente pequeno e funcional.
- Eu tive uma encomenda de torta de última hora - Ela explicou, levando alguns potes sujos de chocolate que estavam na bancada para a pia.
- Você trabalha aqui sozinha? - Eu decidi ajudá-la a colocar a louça suja na pia.
- Quando eu abri a confeitaria no início do ano, não imaginei que seria tão trabalhoso - Ela relatou, pegando um avental - Geralmente eu consigo dar conta do recado, mas quando surgem essas encomendas não planejadas.
- Eu te ajudo com isso - Eu peguei o avental de suas mãos.
Não deixaria ela limpar tudo sozinha enquanto eu só olhava.
- Não é necessário - Ela relutou um pouco - Eu posso fazer isso depressa.
- Eu também posso, enquanto eu cuido da louça, você arruma o resto - Sugeri.
Nós nos ocupamos por alguns minutos em silêncio, nos concentrando na limpeza do cômodo.
- Então, Oliver... Você trabalha desenhando, não é? - Ela perguntou, terminando de limpar a grande bancada de mármore.
- Sim, faço ilustrações para livros, quadrinhos, esse tipo de coisa - Eu expliquei, enxugando minhas mãos em toalhas de papel enquanto a observava - Eu consigo trabalhar em casa.
- Você é ótimo no que faz, eu guardei aquele desenho - Ela me olhou por sobre o ombro, com um sorriso no rosto.
- Obrigado.
Brooke se virou para mim, sorrindo abertamente.
- Eu que agradeço pela ajuda, Oliver. Eu com certeza demoraria muito pra ir pra casa se não fosse por você.
- Vamos, então?
Brooke terminou de colocar as coisas no lugar e alguns minutos depois estávamos caminhando juntos, saboreando a Whoopie Pie que Brooke pegou da confeitaria.
- Gostou? - Ela questionou, parecendo ansiosa pela resposta.
- É delicioso - Eu garanti - Você é muito boa nisso.
- Se eu estiver de bom humor, sim - Ela lambeu a ponta dos dedos, que estavam sujos de Marshmallow.
- Então você estava de bom humor quando fez isso.
- Sim, estava.
Nós deixamos que o silêncio voltasse a reinar entre nós. Não precisávamos dizer nada, a situação era confortável. Seguimos assim até o início de nossa rua, quando Brooke decidiu se manifestar.
- Você disse que está no grupo de apoio com Leah, não é?
- Sim - Eu lhe lancei um olhar desconfiado, sem parar de caminhar.
Qual o interesse dela no grupo?
- Eu queria agradecer pelo o que fizeram por ela - Ela parou de caminhar - Leah estava péssima com o aniversário da mãe, e vocês conseguiram fazer com que ela se sentisse melhor.
Sua expressão era sincera. Brooke estava mesmo agradecida pelo o que fizemos por sua amiga, e eu não pude deixar de me sentir orgulhoso de ter feito parte daquilo. Eu gostaria de ter tido aquele tipo de apoio durante o aniversário de morte de Lizzy.
Mas eu ainda não estava pronto para me abrir, e acabei sozinho, olhando para o mar.
- Vocês são muito amigas, não são?
- Você não faz ideia - Ela suspirou - Obrigada por me trazer, Oliver. Eu gostei da companhia.
Eu ergui o olhar confuso, demorei alguns segundos para entender que já tínhamos chegado em sua casa, e pra minha surpresa, estávamos em frente ao grande sobrado que eu vinha admirando desde que cheguei em Cape May.
- Você mora aqui?
- Sim. Nós nos vemos depois? Amanhã, talvez? - Ela parecia esperançosa, totalmente alheia à minha surpresa.
Ela vive nessa casa enorme sozinha!?
- Claro. Nós podemos nos ver - Eu garanti - Boa noite, Brooke.
- Boa noite, grande artista - Seu sorriso foi imediato, antes que ela caminhasse até a entrada.
Eu aguardei até que ela estivesse segura dentro de sua casa para retomar o meu caminho. Eu me sentia satisfeito pelo desfecho daquele dia, eu tinha conseguido consertar os erros de antes e tinha ganhado uma amiga. Não era o que eu esperava, mas estava feliz.
- Finalmente você apareceu - A voz de Alex me surpreendeu.
Ele estava encostado em seu carro, parado à porta de minha casa. Hoje era sexta, eu tinha esquecido totalmente sobre sua visita!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top