Décimo quarto passo - Decisão
Perder quem amamos é morrer um pouco, mesmo que o coração insista em bater
Cris Guerra
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A expressão embasbacada de Isabel refletia bem a de todos os outros presentes na reunião. Com exceção de Anthony, mas ele era culpado por aquela situação.
— O que você disse que é isso mesmo? — Louis decidiu se manifestar.
— Nossa nova mascote, Wilson — eu expliquei, acariciando a cabeça dela.
— Wilson? Não é uma fêmea? — Taylor perguntou.
— Wilson é um bom nome, ela tem cara de Wilson — Anthony explicou com simplicidade.
— Não tentem entender — Leah gemeu — eu estou tentando fazer isso nos últimos dois dias e ainda não encontrei um sentido em toda essa situação.
No fim, eu decidi ficar com Wilson após perceber o quanto ela — por algum motivo que eu ainda desconhecia — era importante para Anthony. Eu consegui negociar com o rapaz e chegamos em um acordo razoável sobre a alpaca.
— De onde você tirou essa alpaca, Oliver? — Isabel perguntou.
— Foi meu presente de aniversário — Anthony declarou orgulhoso.
— E você aceitou? — Taylor me encarou perplexa.
— Foi uma negociação — eu suspirei.
Anthony revirou os olhos se movendo desconfortável na cadeira, ele não ficou muito satisfeito com o desfecho de tudo. Eu estava decidido a devolver Wilson para a fazenda de Bárbara, mas ao vê-lo tão apegado com a pequena alpaca, acabei propondo cuidar dela, com a condição que ele procurasse um psiquiatra, como Isabel havia sugerido semanas atrás.
— Foi chantagem — ele murmurou.
— Chantagem? — Isabel franziu o cenho.
— Anthony aceitou se consultar com um psiquiatra — Leah relatou — se Oliver aceitasse cuidar da Wilson.
Aquilo parece ter atraído a atenção de Isabel, ela se endireitou na cadeira, mostrando todo seu interesse no assunto.
— E isso funcionou? — Ela perguntou.
— Bem, sim — ele fez uma careta — eu consegui um cara. Ele disse que é possível que eu tenha transtorno bipolar, e isso acaba aumentando um pouco minha impulsividade.
— Impulsividade? Que tipo de impulsividade? — Taylor nos olhou desconfiada.
— O tipo que faz ele gastar quase cinco mil Dólares em uma alpaca, só porque ela supostamente o ajudou a encontrar o hobby perfeito — eu revirei os olhos.
— Então você encontrou um Hobby? — Isabel tentou mudar o foco.
— Encontrei algo perfeito para mim — ele garantiu.
— Nem tente descobrir, ele não quer contar — Leah avisou.
— Nós só sabemos que tem algo a ver com alpacas — eu completei.
E eu realmente espero que esse hobby não seja me transformar em um criador de alpacas.
— Vamos Anthony, é bom falar — Taylor provocou.
— Se eu quisesse falar, não seria um segredo — Anthony murmurou.
— Samantha sempre dizia isso — Louis deu um sorriso fraco e saudoso.
Aquilo chamou a atenção de todos. Eu sabia quem era Samantha de certa forma, mas creio que era a primeira vez que os outros o ouviam cita-la.
— Quem é Samantha? — Anthony questionou.
— Ela... — ele foi pego de surpresa pela pergunta, como se não tivesse percebido seu deslize até então.
— É a esposa dele, certo, Louis? — eu o incentivei.
— Sim, ela... era.. — ele piscou atordoado.
— Você pode nos contar sobre a Samantha, Louis? — Isabel incentivou o rapaz a se abrir.
Eu assisti todas as defesas dele se erguer a cada segundo, mas Anthony se adiantou.
— Vamos Louis, você mesmo disse que falar faz bem. O Scott também não queria no começo e tudo mais...
— Como eu disse na época, essa demonstração sentimental que você tem tentado evitar, pode ser o que você precisa — Isabel deu sua cartada final.
Louis abaixou a cabeça, respirando fundo. Acho que finalmente saberemos o que se passa por sua mente.
— Samantha era minha esposa — ele começou ainda de cabeça baixa — ela era linda, nós nos conhecemos em um cruzeiro e eu não consegui mais me afastar. Ela era perfeita em todos os aspectos.
— Ela parece ser uma mulher incrível — Leah sorriu.
— Ela era... Ela conhecia meus piores defeitos e não se importava, sabe — ele soluçou — ela... ela era o amor da minha vida e de repente se foi.
— O que aconteceu com ela, Louis? — Taylor questionou com uma voz suave.
— Eu a pedi em casamento um ano depois que nos conhecemos, a irmã dela pensava que estávamos fazendo uma loucura, mas foi a melhor coisa que fizemos — ele garantiu tentando ignorar as lágrimas que corriam por seu rosto.
— Eu imagino que vocês tenham sido felizes — eu comentei.
Eu sabia exatamente como ele se sentia, mas o que eu não conseguia entender era como ele conseguia ainda sorrir e estar disposto a ajudar a outras pessoas, sendo que passou pelo mesmo que eu.
Taylor ofereceu uma caixa de lenços de papel para ele, segurando sua mão como forma de confortá-lo enquanto Isabel ouvia o relato com uma expressão solidária.
— Quando eu pensei que não poderíamos ser mais felizes, ela engravidou — ele respirou fundo — nós estávamos casados há dois anos e foi uma surpresa maravilhosa. Eu quis participar de cada detalhe, era meu menino que estava ali, sabe?
Eu engoli em seco. Ela perdeu o bebê? Morreu quando estava grávida? Foi um acidente? Ele se culpou tanto quanto eu?
— Ele era um menino lindo — ele soluçou parecendo incapaz de prosseguir.
Taylor voltou a segurar sua mão, tentando confortá-lo.
— O que aconteceu, Louis? — Isabel perguntou.
— Eu queria participar de tudo — ele voltou a relatar — eu dizia para Samantha que ela não precisava fazer tudo sozinha, eu estava ali. Não me importava de acordar de madrugada e trocar fraldas.
— Mas ela não te ouviu? — Leah suspirou.
— Eu tive um dia agitado no serviço, e Dylan estava doente — ele respirou fundo na tentativa de terminar com aquilo de uma vez — nós dois não dormiamos direito há algumas noites e estávamos exaustos. Nós o fizemos dormir e decidimos aproveitar.
Eu não queria nem pensar no que poderia ter acontecido com aquela criança. Que tipo de doença ele teve?
— Ele piorou? — Anthony externou meus pensamentos quando Louis guardou o silêncio.
— Eu acordei com os gritos da Samantha — Louis fechou os olhos com força — ele não estava respirando e...
O silêncio tomou conta do ambiente, fazendo um clima pesado cair sobre nós. Como ele consegue?
— Louis, eu sinto muito — Isabel suspirou.
— Ela acordou durante a noite para amamentá-lo, eu devia ter acordado com ela, mas estava tão cansado — ele voltou a relatar — ela dormiu com ele no colo. Ele tinha apenas três meses.
Eu pisquei atordoado com aquela informação, mas antes que pudesse reagir, ele voltou a falar, deixando o desespero transparecer por sua voz.
— Não foi culpa dela, eu tentei fazê-la enxergar isso após o enterro. Eu juro que tentei, mas ela não aceitava. Eu tentei convencê-la a pedir ajuda, nós precisávamos superar aquilo juntos, eu estava do lado dela, mas...
— Ela não superou — Isabel completou ao notar que ele não conseguiria.
Ele balançou a cabeça em negativa, usando os lenços de papel que Taylor continuava fornecendo a ele.
— Eu a encontrei no banheiro quando voltei do trabalho — ele contou — eu tentei, mas não pude salvá-la.
Aquele parecia ser o fim da história. Se quando ele começou a relatar eu me sentia atordoado, agora eu não sabia o que sentir.
Como ele consegue?
— Eu fico feliz que você tenha compartilhado conosco, Louis — Isabel suspirou — nós todos estamos aqui para te apoiar e te ajudar a superar isso...
— Vocês ajudam — ele sorriu apesar das lágrimas — eu não cometeria o mesmo erro que a Samantha, eu...
— Você fez o correto — ela garantiu.
— Como você consegue? — Anthony franziu o cenho o encarando — Como você ainda sorri com tanta dor?
— Anthony — Taylor ralhou.
— Bem, eu posso sorrir ou posso chorar — Louis respirou fundo antes de contemplar a todos com o olhar — eu escolho sorrir, vocês me ajudam.
— Você não faz ideia de como eu me sinto feliz em ouvir isso, Louis — Isabel declarou em meio a um sorriso — Na verdade, eu tenho me sentido dessa maneira ao acompanhar a evolução de todos vocês desde que começamos esse grupo.
Enquanto Isabel discursava sobre nosso desenvolvimento, eu só conseguia pensar em tudo o que aconteceu. As coisas que Martha me falou, a história de Louis e agora Isabel falando sobre nossa evolução. Tudo aquilo me fez perceber tudo o que eu queria em minha vida e tudo o que eu estava perdendo.
Eu sabia o que eu precisava fazer, eu já vinha pensando nisso desde meu aniversário, quando comecei a trabalhar no presente de natal que daria para Brooke. Eu sabia que era hora de agir, eu não poderia mais adiar.
— Você quer falar algo, Oliver? — Isabel perguntou, quando eu sinalizei, chamando sua atenção.
— Sim, eu tomei uma decisão. E preciso de ajuda.
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