Décimo Primeiro Passo - Caminhe Devagar
O luto nos desafia a amar mais uma vez
Terry Tempest Williams
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Eu me tranquei em casa após beijar Brooke. Aquilo não parecia real, minha mente estava um completo caos, as lembranças de Lizzy se misturavam às de Brooke. A forma como ela retribuiu o beijo, como se agarrou a mim. Aqueles pensamentos me afligiam e eu não conseguia falar para ninguém.
Eu sentia algo por ela, algo mais forte que amizade, mas não sabia como classificar. Eu ainda amava Lizzy, nossas lembranças ainda estavam vivas em minha mente, mas...
— O que está acontecendo comigo!? — eu respirei fundo caminhando em círculos pela minha sala.
Com quem eu posso me abrir sobre isso? Se eu falasse sobre o assunto no grupo, Anthony e Leah saberiam a quem eu me referia. Eu não posso recorrer à minha sogra, o que ela pensaria? E Alex? Me julgaria?
Dormir não adiantou, os mesmos pensamentos rondavam minha mente inconsciente, e quando despertei no meio da manhã seguinte com o toque de meu celular, ainda me sentia desnorteado.
Eu observei a foto de Brooke estampada na tela do aparelho, não sentindo muita vontade de atendê-la naquele momento.
Eu esperei até que ela desistisse da chamada, notando que ela já havia me mandado algumas mensagens. Sem me importar em abri-las, eu fui até o banheiro, tomei um banho e coloquei a cabeça no lugar antes de tomar qualquer atitude. Eu precisava estar com os pensamentos em ordem para poder falar com ela!
Depois de vestido, fui tomar meu café da manhã. Meu estômago protestou por conta da fome e eu decidi resolver aquilo imediatamente. Não que eu estivesse adiando o assunto o máximo de tempo possível.
A quem eu queria enganar!?
Em posse de minha xícara de café e um pacote de cookies, eu respirei fundo, abrindo a primeira mensagem, notando que outras haviam chegado após a ligação.
"Bom dia, grande artista, tudo bem?" — 07:00 Am
"Eu sei que está cedo, mas eu vim trabalhar e não conseguia parar de pensar em você. Você não me parecia bem ontem, então..." — 07:25 Am
" Ok, eu acho que você está dormindo, mas pode me ligar assim que acordar?" — 8:45 Am
" Oliver, sobre ontem, a gente pode conversar, certo?" — 9:15 Am
" Ok, você não atendeu o telefone, e provavelmente deve estar me achando uma maluca, mas eu só estou preocupada com você... Nós podemos conversar sobre ontem e resolver como amigos, não foi nada demais, certo?" — 9:55 Am
" Ou a gente pode fingir que nada aconteceu. Não precisamos falar sobre isso se você não quiser, podemos recomeçar outra vez, o que me diz?" — 10:24 Am
Eu chequei o horário, 11:32 Am. Respirei fundo ao notar que ela provavelmente havia desistido de tentar falar comigo, pelo menos por enquanto.
Qual seria meu próximo passo?
Eu precisava acertar as coisas com ela, não poderia deixar tudo como está, mas não me sentia capaz de lidar com toda a confusão que dominava minha mente. Fiquei andando de um lado para outro na casa, pensando qual seria a melhor coisa a se fazer no momento até que chegou o horário de ir para a reunião.
Tentei seguir minha rotina de maneira natural, mas as coisas não seriam tão simples. Nós já estávamos sentados, prontos para iniciar a reunião, encarando o lugar vazio de Leah, quando ela me ligou.
— Leah, você está bem? — Eu decidi atender no meio de todos, já que seu paradeiro já era motivo para especulação.
— Oliver, oi... Eu estou — ela começou apressada — avise que eu não vou poder ir hoje, por favor?
— Aconteceu alguma coisa?
— Brooke teve uma encomenda enorme de última hora e eu vou passar o dia a ajudando — Leah explicou — não é nada demais.
— Tudo bem, eu aviso.
— Algum problema? — Isabel questionou assim que eu encerrei a chamada.
— Não, Leah pediu para avisar que teve outro compromisso de última hora, por isso não pode vir — eu relatei.
— Podemos começar então — ela decidiu — Como vocês passaram desde a última reunião?
— Bem... — Taylor comentou — Não fiz nada de diferente.
— E você, Oliver? Ainda tem saído com Anthony e Leah?
— Sim, nós assistimos filme ontem — eu comecei.
— E ele se mostrou um completo fracasso em me ensinar a desenhar — Anthony interrompeu descontente.
— Como é? — eu o encarei.
— Ele é um péssimo professor, e não conseguiu me ajudar a encontrar meu hobby — ele cruzou os braços, bufando.
— E quanto ao psiquiatra? — Louis o lembrou.
— E quanto à ação de graças? — Anthony retrucou.
— É um feriado americano, eu não sou americano — Louis deu de ombros.
— Mas está na América, então deveria comemorar, ou existe algum motivo..
— Anthony, isso é o suficiente — Isabel interrompeu — Nós combinamos que Louis falaria quando se sentisse confortável.
— Eu levo uma vida normal, apenas não comemoro um feriado — ele murmurou.
— Você não quer compartilhar nada conosco, Louis?
— Eu fui na feira, consegui ótimos tomates — ele comentou — sabe, é para uma receita nova.
— Ok... Porque não vamos por partes? — ela recomeçou — você sempre morou em Cape May?
— Não, eu vivia em Bethesda, Maryland — ele respondeu — era agradável.
— Ótimo, isso é um avanço — Isabel sorriu — Você vivia com alguém?
— Sim.
E foi quando o rapaz se fechou novamente. Ele começou a falar de sua infância na Inglaterra e coisas assim, enquanto minha mente estava presa em um eterno dilema. Eu deveria ou não falar sobre Brooke?
No fim, optei por não dizer nada, eu precisava conseguir resolver algo sozinho, certo?
Saí da reunião com minha mente ainda presa em Brooke. Mais um dia... Amanhã eu decidiria o que fazer em relação a nós, mais um dia...
— Sabe uma das coisas que eu mais admiro em você? — Lizzy sorriu deitada em meu colo enquanto observava as estrelas no céu.
Nós estávamos fazendo um piquenique noturno, do lado de fora do chalé que alugamos para o fim de semana na cidade de Stowe, Vermont. A noite estava com uma temperatura agradável e alguns vaga—lumes voavam por ali, concedendo ao lugar um clima lúdico.
— Posso adivinhar. São os... meus braços — eu pisquei para ela, fazendo com que ela gargalhasse.
— Não seja bobo — ela revirou os olhos esticando o braço para tocar meu rosto — O que eu mais admiro, é a sua determinação, a forma como você sempre sabe o que quer e vai atrás.
— Como assim? — eu achei graça de sua descrição.
— Você sabe... — seu olhar voltou a se focar nas estrelas — você parece sempre saber o que você quer, você me viu na festa, foi falar comigo e de alguma forma me convenceu a namorar com você. Depois decidiu que não era o suficiente e nós nos casamos e agora isso. Um fim de semana romântico e espontâneo em Vermont? Não entendo como você me convenceu a cancelar todos os nossos planos e vir.
— Eu tenho meus truques — eu brinquei.
Eu parei de caminhar olhando para o céu diante daquela lembrança. Eu sempre soube o que eu queria. E agora? O que eu quero?
— Vamos, o que eu quero? — eu murmurei.
Eu quero voltar a ser o que eu era antes.
Eu quero que Brooke esteja em minha vida, independente de como for.
Com esses pensamentos, mudei meu rumo. Eu estava próximo à Washington Street, de maneira que cheguei na frente da confeitaria de Brooke em alguns minutos. Através da porta de vidro, pude avistá-la.
O lugar estava movimentado, Brooke parecia perdida enquanto se esforçava para atender os clientes.
Pensei que Leah estivesse aqui!
— Bem vindo, eu.. — Brooke ergueu o rosto arregalando os olhos ao me ver, abrindo um sorriso logo depois — grande artista.
Eu não respondi, ignorei os olhares curiosos que recaíram sobre mim e fui até ela, me lembrando da primeira vez que estive aqui em uma situação semelhante. Como ela ainda tem paciência comigo!?
— Pensei que a Leah estivesse aqui — Dei a volta no balcão, me inclinando e beijando seu rosto.
— Ela saiu faz uns minutos, ela me ajudou a adiantar bastante as coisas — ela explicou, dando o troco para uma cliente — mas tinha alguns compromissos a noite. Obrigada, volte sempre...
— Você conseguiu terminar as encomendas? — Eu questionei quando ela enfim se virou em minha direção.
— Não, falta pouca coisa, isso aqui virou uma loucura depois que a Leah saiu — ela suspirou.
Eu segui até a pia que tinha na entrada da cozinha, retirando minha aliança e a guardando no bolso antes de começar a higienizar minhas mãos.
— O que você está fazendo? — ela se aproximou.
— Você pode voltar pra cozinha, eu cuido de tudo aqui — eu pisquei para ela, arrancando um sorriso sincero de seus lábios enquanto vestia um avental vermelho, que provavelmente fora utilizado por Leah antes.
Eu me saí bem atendendo os clientes de Brooke, e aproveitei o tempo que tive ali para pensar no que eu deveria dizer a ela. Eu poderia explicar a confusão em minha mente e pedir que deixássemos aquilo de lado por enquanto.
— Oi, eu nunca te vi por aqui — uma garota me cumprimentou.
— Olá, seja bem vinda — eu cumprimentei enquanto arrumava alguns cupons.
— Eu com certeza me sinto bem vinda — ela sorriu — Brooke finalmente decidiu contratar um atendente bonito? Já era tempo!
Não consegui conter um pequeno sorriso ao ouvir aquilo. A garota era bonita e por mais que eu não estivesse interessado, era bom ser elogiado.
— Obrigado, mas estou apenas ajudando Brooke hoje. O que você deseja?
— Sabe, eu consigo imaginar muitas maneiras de responder isso — Ela me mediu, aumentando seu sorriso — como você prefere que eu responda?
Como eu quero que ela responda. Essa é boa. Decidi entrar em seu jogo, me inclinando em sua direção e abaixando minha voz para um sussurro.
— Eu prefiro que você responda depressa, pra eu poder atender as outras pessoas na fila.
Ela olhou para trás, voltando a olhar em minha direção com uma expressão divertida, afinal, ela era a única pessoa ali.
— Eu quero um pedaço de torta de abóbora — ela disse, enquanto revirava a bolsa atrás de sua carteira — e quero que você me ligue. Meu nome é Amber.
Ela estendeu um cartão de visitas que eu instintivamente aceitei e coloquei no bolso da calça. Era óbvio que eu não pretendia telefonar para ela, mas queria apenas acabar com aquilo depressa.
— Eu vou buscar sua torta, Amber — Eu respondi após fazer a cobrança.
— Brooke, se você contratar esse cara, eu vou passar a frequentar aqui diariamente — Ela gracejou, fazendo com que eu olhasse para trás e encontrasse Brooke parada na porta da cozinha.
Ela parecia um pouco sem jeito, mas acabou disfarçando depressa com uma de suas piadas.
— Se for pra aumentar a clientela, eu o coloco para atender sem camisa — ela zombou — Até mais, Amber...
Nós ficamos em silêncio, observando o movimento diminuir nos minutos seguintes, até que o último cliente deixou a loja perto das nove horas.
— Obrigada pela ajuda, Oliver — ela sorriu, indo até a cozinha — eu vou limpar a loja enquanto espero a Srª Rivera vir buscar a encomenda.
Bem, ela sabe que nós estamos bem. Eu posso ir embora e...
" O que eu mais admiro, é a sua determinação, a forma como você sempre sabe o que quer e vai atrás."
A voz de Lizzy ecoou em minha mente. Eu sei o que eu quero, apenas não sei como conseguir.
— Eu não vim aqui pra te ajudar, Brooke — eu tomei minha decisão, a seguindo até a cozinha.
— Não? Você queria comprar alguma coisa e eu acabei te alugando? — ela questionou preocupada.
— Eu vim porque pensei que poderíamos conversar — eu suspirei — me desculpe por não ter atendido seu telefonema ou respondido suas mensagens... Eu estava...
— Surtando? — ela sugeriu ao notar minha incapacidade em terminar a frase.
— Um pouco — Eu respirei fundo, a observando pelas costas — Brooke, eu não sei porque eu fiz aquilo, eu só...
Ela parecia estar evitando olhar diretamente para mim, se ocupando em limpar as coisas e balançando a cabeça para mostrar que estava me ouvindo. Eu odiei vê-la agir daquela maneira.
— Oliver, não foi nada demais. Foi apenas um beijo. Nós dois somos adultos, não estamos na quarta série — sua voz falhou um pouco enquanto ela levava algumas tigelas sujas até a pia.
Ela pensa que estou falando do beijo? Não é isso!
— Brooke, pára com isso — eu pedi me aproximando — olha pra mim.
Eu a vi morder o lábio inferior antes de respirar fundo e virar em minha direção. Nós dois estávamos próximos. Tão próximos que eu poderia beijá-la novamente.
Dei alguns passos para trás, me afastando deliberadamente dela.
— Brooke, eu não estava me referindo ao beijo, eu sei porque fiz aquilo — eu comecei minha explicação ao vê-la desviar novamente o olhar — mas... Eu não sei porque eu reagi daquela maneira, eu...
— Então, você não acha que foi um erro me beijar? — ela perguntou, voltando a olhar em meus olhos.
Um erro? Sim, eu pensei isso ontem, mas hoje...
— Eu não sei.
Aquilo parece tê-la atingido com a força de uma bofetada, ela piscou algumas vezes, tentando claramente disfarçar seus sentimentos, mas não era tão simples assim.
— Você não sabe? — ela tentou manter a voz firme — Oliver, ontem você me levou para casa, você se inclinou e me beijou, e agora está me dizendo que não sabe se foi ou não um erro!?
— Brooke, não é tão simples...
— Onde você está vendo simplicidade no que eu acabei de dizer? Está na cara que não é simples — ela ergueu a voz, claramente chateada — eu estava apavorada pensando em tudo o que isso poderia significar, e agora você não sabe!
Eu fechei os olhos, tentando colocar minha mente em ordem. Isso não está saindo como eu esperava.
— Porque você fez isso? — sua voz sentida fez com que eu voltasse a abrir os olhos.
Eu odiava fazê-la sofrer, eu queria voltar a ver o sorriso estampado em seu rosto, eu não queria estragar isso.
— Porque? — ela insistiu.
— Eu fiz porque eu quis — eu parei de falar, pensando melhor em minhas palavras — eu quero você, e já faz algum tempo, mas assim que a realidade me atingiu eu... Eu não sei! Eu pensei que fosse errado, eu me senti culpado.
— Eu fiz você se sentir culpado? — seus olhos estavam marejados, me colocando em estado de alerta.
— Não, a culpa não foi sua, foi minha — eu me aproximei, segurando seus braços — Brooke, você faz eu me sentir vivo de novo e.. Como eu posso me sentir assim? Eu tenho esse direito?
Ela não respondeu, se limitando a olhar em meus olhos com uma expressão diferente. Eu não conseguia identificar os seus sentimentos, apenas queria que ela me entendesse.
— Eu posso seguir em frente e deixar Lizzy para trás? Eu sou capaz de fazer isso?
— Oliver — Ela estendeu a mão para tocar meu rosto.
— Eu estou te perguntando... Eu preciso que você me ajude a entender isso — eu praticamente implorei a ela, fazendo com que seu olhar demonstrasse todo o seu choque.
— Como? — ela piscou atordoada.
— Você me aconselhou antes, você sabia as respostas — eu apontei — você deve saber melhor do que eu.
— Você não pode me colocar nessa posição, Oliver! — ela se desvencilhou de mim — Você precisa conversar sobre isso com outra pessoa, eu não posso te ajudar!
— Porque? — eu tentei me aproximar novamente, sentindo que poderia perder tudo o que havia conseguido até ali.
— Porque!? Bom, Oliver, nós temos um claro conflito de interesses aqui — ela deu um sorriso nervoso — eu poderia muito bem falar que você precisa seguir em frente, e eu sou a pessoa certa pra isso. Mas eu não posso tomar essa decisão por você! Você deve fazer isso quando estiver pronto, e por mais que eu queira que você esteja, eu não sei se está.
Eu absorvi suas palavras com pesar. Se ela não tem as respostas que eu preciso, quem as terá?
— Você precisa conversar com alguém — ela voltou a se aproximar, segurando minhas mãos — Converse com o grupo ou com algum amigo. Um que esteja de fora dessa história.
Nós ouvimos o sino que ficava sobre a porta da frente tocar, provavelmente a Srª Rivera chegou para buscar sua encomenda.
— Você vai fugir de mim e dessa situação? — eu olhei em seus olhos, tentando decidir como agir a seguir.
— Oliver, eu gosto de você e se no fundo você sente o mesmo por mim, eu vou esperar até que você esteja pronto — ela garantiu — nós podemos continuar como estamos agora e quando esse dia chegar...
Ela se esticou, me beijando de maneira carinhosa. Esse beijo, nada tinha em comum com o da noite anterior, era algo delicado, simples, puro. Eu não hesitei em puxá-la para mim, me sentindo grato por tudo o que ela representava em minha vida.
— Opa... — uma voz fez com que nos afastássemos imediatamente para encarar Anthony parado na porta da cozinha — desculpa, eu volto depois.
Brooke abaixou a cabeça, com um sorriso constrangido no rosto antes de se desvencilhar de meu abraço e seguir seu amigo.
— Anthony, espera. Você veio buscar a encomenda? — ouvi sua voz vinda do salão.
— Sim, você pode só me falar onde está e eu pego. Assim vocês podem voltar a se engolir e tudo mais.
Eu segui em silêncio até o salão, vendo Brooke entregar três caixas para Anthony.
— Está aqui, e não seja um babaca sobre isso, ok? — ela abaixou a voz o acompanhando até a porta.
— Eu não ser um babaca? — ele parecia irritado — Brooke, que merda você está fazendo!?
Meu primeiro instinto foi seguir até eles, mas ao perceber que não havia sido notado, decidi aguardar.
— Eu sei o que eu estou fazendo.
— Sabe? A mulher do cara morreu, Brooke! Ele é louco por ela e está arrasado! Tem certeza que você sabe?
— Eu não estou me aproveitando dele.
— Você não sabe onde está se metendo, e é melhor descobrir antes que se machuque e acabe de quebrar o cara — Anthony balançou a cabeça em negação.
Eu voltei para a cozinha, pensando nas palavras que ouvi. Ponderando se Anthony poderia ou não ter razão em seus temores.
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