Décimo Passo - Volte a se Divertir
Tente continuar a sorrir.
Vá em direção à toda vida que existe com toda a coragem
que você consegue reunir e toda a crença que você tem.
Seja verdadeiro, Seja corajoso, enfrente.
Todo o resto, é escuridão.
Stephen King
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Eu estava prestes a enlouquecer, não sabia mais como agir. Eu não o queria me afastar mais uma vez de Brooke, não depois de tudo o que passamos para chegar a esse nível de nossa amizade, mas ainda assim eu me sentia mal ao pensar na forma como a desejei em nosso último passeio.
As palavras de Martha também rondavam minha mente. O que ela disse sobre Lizzy, seria possível ela ter percebido qualquer coisa acerca de meus pensamentos sobre Brooke?
Porque eu continuo me torturando sobre isso!?
Eu respirei fundo, pensando em como eu poderia me livrar daquele sentimento. Eu não poderia compartilhar aquilo com o grupo, Anthony e Leah perceberiam sobre quem eu estava falando!
Minha campainha começou a tocar, fazendo com que eu me levantasse do sofá e caminhasse até a porta, eu não precisei abrir para saber de quem se tratava, pude ouvir em alto e bom som.
— Eu sei que você está ansioso, mas pode parar quieto por um minuto, Baxter? — Brooke ralhou com o cachorro enquanto me aguardava.
Eu respirei fundo antes de abrir e atendê-la. Eu não a tinha visto ontem. Não que eu estivesse a evitando, já havia passado dessa época, apenas quis um tempo para mim. Um tempo para colocar a cabeça em ordem.
Decidi não deixá-la esperando mais, abri a porta apenas para encontrá-la se esforçando para controlar os dois São bernardos que pareciam eufóricos por conta da neve recém caída.
— Boa tarde, Brooke — forcei um sorriso.
Ela logo o retribuiu de maneira espontânea, tirando uma mecha do cabelo que caiu em sua testa.
— Oliver, oi. Você quer me ajudar a levar esses dois para um passeio pela cidade?
Meu sorriso se tornou um pouco mais sincero. Olhando em seus olhos naquele momento, eu soube que ela não faria grande caso sobre o que quase aconteceu entre nós. Ela respeitaria meu espaço.
— Eu vou colocar o casaco — eu decidi.
Vesti meu casaco e sai novamente ao seu encontro. Apanhei a guia do Baxter de sua mão e ofereci meu braço direito como apoio a ela, assim eu não teria dificuldade em vê-la.
— Não vamos à praia hoje? — eu questionei, quando ela me guiou na direção oposta.
— Não, na última vez os dois me arrastaram até a água e eu quase congelei — ela riu — vamos apenas caminhar um pouco pela cidade.
Nós dois caminhamos em silêncio, apenas aproveitando a companhia que o outro proporcionava. Cada vez que Baxter ou Kiara ficavam muito ansiosos, eu os controlava.
— Você sumiu ontem, não te vi e quando passei na sua casa estava tudo apagado — Brooke comentou despreocupada.
— Eu estava com uma dor de cabeça irritante, a claridade estava incomodando meu olho — eu expliquei.
E eu queria ficar sozinho.
Isso foi algo que preferi não dizer em voz alta.
— A dor passou? — ela virou o rosto em minha direção, com uma expressão preocupada.
— Totalmente, não se preocupe — eu a tranquilizei.
Nós voltamos a caminhar em silêncio, cumprimentando uma pessoa ou outra que cruzava nosso caminho.
— A mãe da Eliza é muito bonita — Brooke comentou.
— Sim, Martha é uma bela mulher. Eliza era muito parecida com ela — eu respondi, me sentindo um pouco nostálgico.
— Como vocês se conheceram? — Brooke questionou.
— Em uma festa. Ela havia brigado com a melhor amiga e estava chateada — eu relatei com um sorriso triste no rosto — eu a consolei e não consegui mais me afastar.
— O que te atraiu nela? — Brooke continuou sorrindo enquanto caminhávamos.
— Eu não sei, no começo foi a beleza, obviamente — meu sorriso se alargou — mas conforme eu comecei a conhecê-la, ela era a pessoa mais dedicada, leal, inteligente e engraçada que eu já tinha visto, e de repente, eu não conseguia mais imaginar minha vida sem ela.
— Você teve sorte, sabia? Eu nunca senti algo assim por ninguém — ela mordeu o lábio inferior, desviando o olhar.
Eu absorvi aquelas palavras, pensando em seu significado. Eu realmente posso me considerar com sorte por ter tido uma pessoa tão especial quanto Eliza ao meu lado.
— Você ainda pode encontrar essa pessoa, sabe, sentir algo assim — eu comentei após coçar a garganta.
Brooke me observou por alguns momentos com uma expressão enigmática antes de suspirar e desviar o olhar, passando a observar a rua à nossa frente.
— Sim, eu suponho que sim.
O silêncio voltou a reinar entre nós dois. Nossa conversa acabou tomando um rumo estranho, um que eu não esperava e eu queria desfazer aquele clima que se formou entre nós.
— E quanto a você e o Anthony? — Eu decidi satisfazer minha curiosidade sobre o assunto de uma vez — o que aconteceu entre vocês?
Brooke gargalhou atraindo a atenção dos dois cachorros, que olharam para trás com um olhar curioso.
— Você ainda não esqueceu essa história? — ela voltou a olhar para mim com uma expressão divertida.
— Apenas estou curioso, você disse que já tinha acontecido alguma coisa entre vocês — eu apontei.
Brooke balançou a cabeça com o sorriso ainda estampado no rosto, ela era tão bonita, ainda mais quando sorria dessa maneira. Seu rosto se iluminava cada vez a cada sorriso, espalhando aquela alegria que parecia ser exclusiva de Brooke.
— Você não desiste, não é, grande artista? — ela inclinou a cabeça para o lado.
Ela é linda. Apenas isso, é tão bonita que me tira o fôlego.
— Vai me contar? — eu insisti.
— Anthony e eu namoramos por quatro meses — ela relatou — logo que eu me mudei para Cape May.
— E porque terminou? — eu questionei.
— Nós percebemos que havíamos cometido um erro ao começar o relacionamento — ela suspirou — na época ele também era diferente, sabe. Não estava bebendo tanto e... Eu não sei, era mais simples.
— Você não se sente mais atraída por ele? — acabei soltando com mais interesse do que deveria demonstrar naquela situação.
— Não é como se eu dissesse que ele não é atraente — ela riu — ele é, eu ainda o acho muito bonito e aqueles olhos verdes.
Eu senti algo estranho ao ouvir Brooke falando daquela forma sobre Anthony. Sua menção aos olhos verdes de Anthony fez com que uma insegurança em relação ao meu próprio olho esbranquiçado me atingisse. O que ela pensa sobre ele? Acha que é algo repulsivo?
— Mas não me interesso por ele romanticamente — ela completou — e ele parece estar se dando bem com a Emma. Então...
Eu ofereci um sorriso simpático a ela e voltamos a caminhar em silêncio, nos aproximando de casa.
— É aqui que eles ficam, Grande artista — Brooke sorriu parando em frente a uma casa que ficava a alguns metros de distância da sua — obrigada por me acompanhar.
— Estou sempre aqui — eu garanti, caminhando ao seu lado até a entrada da casa.
Brooke tocou a campainha e tentou acalmar os cachorros que se agitaram com a iminente chegada de sua dona. Uma senhora que provavelmente beirava os setenta anos abriu a porta, ralhando com Brooke imediatamente.
— Você demorou muito dessa vez, Brooke — ela murmurou, abrindo caminho para que os cachorros entrassem.
— Apenas dei uma volta pela cidade, Srª Olsen — Brooke revirou os olhos — não demorei tanto.
Foi quando o olhar dela se prendeu em mim, ela me avaliou de maneira demorada, fazendo com que eu me sentisse um pouco desconfortável com aquilo. Quase que imediatamente, um sorriso iluminou seu rosto, evidenciando seu nariz grande e pontudo.
— Eu não te conheço.
— Eu sou Oliver Scott, Srª Olsen — eu logo estendi a mão para cumprimenta-la — é um prazer conhece-la.
— O prazer é todo meu, Sr Scott — ela continuou sorrindo, sem soltar minha mão — o Sr é novo na cidade?
— Eu cheguei há alguns meses — eu respondi de maneira educada, tentando recolher minha mão delicadamente, sem muito sucesso.
Porque essa mulher é tão forte?
— Ele se mudou em outubro para a casa dos Bills, Srª Olsen — Brooke explicou.
— E porque você não me apresentou ele antes, Brooke? Sabe que eu gosto de receber bem nossos vizinhos — Ela ralhou, ainda com o sorriso estampado no rosto.
O que está acontecendo!?
— Obrigado, mas eu fui bem recebido, Srª Olsen — eu garanti — Brooke cuidou disso.
— Fico feliz, o senhor merece — ela gracejou — mas saiba que eu sou uma ótima cozinheira, você pode se aproveitar disso sempre que quiser.
Brooke engasgou ao meu lado, passando a tossir em busca de ar enquanto eu piscava atordoado sem saber ao certo se tinha entendido corretamente o que ela tinha acabado de falar.
— Talvez você queira entrar e beber uma limonada, o que me diz? — Ela ofereceu.
— Nós temos um compromisso agora, Srª Olsen — Brooke se apressou, segurando minha mão e me puxando para longe do alcance da velha senhora.
Ela apressou os passos, me arrastando junto não segurando mais sua risada.
— Foi impressão minha ou... — eu comecei a me contagiar com sua diversão.
— Pelo amor de Deus, Oliver — ela parou na porta de sua casa, tomando fôlego apenas para voltar a rir — você conquistou o coração da velha!
— Nem uma palavra sobre isso, Brooke — eu passei a mão pelo cabelo, me sentindo um pouco constrangido.
— Sim, senhor Scott — ela gracejou — O que o senhor me diz de uma limonada?
— Engraçadinha — eu me aproximei — eu poderia aceitar, e te obrigar a preparar uma limonada para mim.
— Eu preparo uma se você quiser — ela me desafiou, cruzando os braços.
Nós passamos alguns segundos nos encarando, tentando não rir, quando um arranhar de garganta atraiu nossa atenção.
— Seja lá o que você for preparar, eu também quero — Anthony declarou parado na calçada, fazendo com que nós nos afastássemos imediatamente — Scott, você está atrasado!
— Eu estou? — eu franzi o cenho, tentando me lembrar de ter marcado qualquer coisa com o Rivera.
— As aulas de desenho, você esqueceu? — ele revirou os olhos.
Eu caminhei até ele, pensando bem em minha resposta.
— Nós não marcamos nada — eu murmurei.
— Eu esqueci de te avisar — ele deu de ombros — Você vem também, Brooke?
— Eu não perco por nada — ela gargalhou.
Nós fomos até minha casa, Eu preparei tudo para começar a ensinar Anthony enquanto ele aguardava ansiosamente.
— Está pronto para começar? — eu questionei ao vê-lo sentado na frente do papel.
— Eu nasci pronto — ele respondeu sério, antes de virar para Brooke que nos observava com curiosidade sentada no sofá — Eu sempre quis falar isso!
— Tudo bem, Rivera — eu respirei fundo — Vamos começar com algo simples, aqui estão o lápis e a borracha, esses serão os instrumentos que você mais irá utilizar.
— Isso parece simples pra mim — ele revirou os olhos — não precisa agir como se eu estivesse prestes a fazer um transplante de cérebro em alguém!
Eu fechei os olhos na tentativa de ignorar o que o rapaz havia acabado de falar. Eu vou conseguir, é simples. Ele só precisa desenhar alguma coisa e pronto, eu estarei livre!
— Transplante de cérebro? Isso nem é uma coisa real, Anthony — Brooke gargalhou.
— Você está tirando toda a minha concentração, Brooke — ele ralhou — está atrapalhando minha aula, Vamos, Sr Scott, qual é o próximo passo?
— Por favor, não me chame dessa maneira — eu fiz uma careta.
— Porque, Sr Scott? Isso te traz lembranças? — Brooke gracejou.
— Brooke, se você quiser continuar na minha casa, é melhor manter a boca fechada — eu ameacei.
Ela fez como se fechasse a boca com um zíper, arrancando um sorriso involuntário de meus lábios. Ela é única. Porque o Rivera não lutou por ela?
— Você vai escolher algo para desenhar, se concentre nas curvas, faça devagar — eu instrui o rapaz — não tenha medo de usar a borracha, se não ficou como você imaginou, apague e tente outra vez.
Brooke levantou a mão ansiosamente, tentando chamar a minha atenção.
— O que você está fazendo?
— Pedindo permissão para falar, Senhor — ela fez uma expressão séria me arrancando uma risada.
— Silêncio, deixa ele desenhar — eu me aproximei dela, me sentando ao seu lado no sofá, deixando Anthony na bancada da cozinha.
Nós o observamos por alguns momentos, Anthony nos olhava constantemente antes de voltar sua atenção para a folha, apagando seus traços quando achava necessário.
— Você acha que ele vai conseguir? — Brooke sussurrou.
— Claro, não é tão difícil — eu garanti.
Nós voltamos a ficar em silêncio. Eu gostaria de ir até ele e ver como estava se saindo, mas decidi dar um pouco mais de tempo a ele.
— Eu terminei — Anthony exclamou após alguns minutos com um sorriso orgulhoso estampado no rosto.
Brooke e eu caminhamos até a bancada, observando o desenho estampado na folha. Eu olhei para ela, esperando para ver a reação dela diante daquele absurdo. Ela estava com o cenho franzido, e inclinando o rosto em várias direções na tentativa de entender o desenho.
— O que é isso, Anthony? — ela perguntou por fim.
— Eu desenhei você, Brooke — ele piscou — considere uma homenagem.
— Você não acha que meus olhos estão grandes demais? — Ela o encarou com as sobrancelhas erguidas.
— Esses são seus seios — ele apontou com o lápis.
— Ohhh... uau, eu sou gostosa — ela parecia não saber exatamente como reagir.
— Você não se esqueceu de desenhar o rosto, Anthony? — eu respirei fundo, tentando manter minha paciência.
— Eu desenhei as coisas importantes — ele deu de ombros.
— Você é um idiota, Rivera — Brooke bufou pegando o lápis de sua mão e circulando uma mancha no papel — desde quando isso é importante?
— Isso é aquela marquinha de nascença que parece uma lua que você tem na...
— Calado — ela ergueu a voz algumas oitavas.
Brooke apanhou a folha de cima da bancada, a amassando e jogando na cabeça do rapaz.
— É melhor você começar outra vez, Rivera — ela murmurou indo até o sofá — e não me use como modelo!
— Porque ela ficou brava? — Anthony questionou ao vê-la se sentar no sofá, emburrada.
— Aqui Anthony, desenhe isso — Eu peguei uma fruteira perto da pia e coloquei na frente do rapaz.
Caminhei até onde Brooke estava acomodada, me sentando no braço do sofá ao seu lado. Ela parecia genuinamente desconfortável, e eu resisti ao meu instinto de perguntar sobre a tal marca apenas para vê-la corar mais uma vez.
— Então...
— Nem uma palavra, Sr Scott — ela cruzou os braços.
Sr Scott? Eu estou tentando não deixá-la desconfortável e mesmo assim ela não esquece essa história de Sr Scott!?
— Essa sua marca de nascença parece uma lua mesmo, ou...
Eu não consegui terminar a frase, Brooke usou toda sua força para me empurrar do sofá, fazendo com que eu caísse no chão, rindo de seu rosto corada.
— Vocês dois são idiotas — ela revirou os olhos, segurando um sorriso que ameaçou despontar em seus lábios.
Eu não conseguia me lembrar da última vez que me diverti daquela maneira. Mesmo quando Lizzy ainda estava viva, nós estávamos tão envolvidos em nossos afazeres e todos os problemas, que nos cercavam que acabamos nos esquecendo dessa diversão tão simples e espontânea.
E de alguma maneira, foi bom relembrar isso.
Eu me levantei, me sentando ao seu lado no sofá e passando o braço por seu ombro, a envolvendo em um meio abraço.
— Ok, me desculpe... Sem mais piadas, o que você me diz de pedir uma pizza e assistir algo? — Peguei o controle da TV e passei a procurar um filme, em uma tentativa de manter a paz.
— Ótima ideia — Anthony declarou se levantando — Brooke, eu peço as pizzas e você avisa a Leah que ela precisa vir imediatamente.
— Anthony, você não está incluído, tem uma fruteira para desenhar — eu o repreendi, enquanto Brooke procurava o contato de Leah no celular.
— É, eu desisti disso. Desenhar está abaixo de minhas habilidades, eu preciso de um novo Hobby — Anthony desconversou enquanto mexia no celular — marguerita?
— Abaixo de suas habilidades? Admita que você não tem habilidade nenhuma para isso — Brooke desdenhou — eu voto por comida Tailandesa.
— Comida tailandesa então — eu concordei — o que você quer assistir?
— Leah chega em vinte minutos — Brooke informou — Eu vou querer Khao pad¹ e a Leah um Pad thai².
— Eu vou querer o mesmo que a Leah — eu avisei notando que ainda mantinha meu braço ao redor de Brooke.
Eu o recolhi, me levantando com a desculpa de arrumar as coisas antes que Leah chegasse. A garota chegou junto com a comida, Brooke havia escolhido assistir "a maldição na residência Hill". Nós quatro nos acomodamos na frente da TV, prestando atenção na série.
Brooke estava sentada ao meu lado, Leah no outro sofá e Anthony deitado no chão. Nós assistimos alguns episódios, ela constantemente se assustava e soltava pequenos gritos ou se agarrava a mim.
Anthony gargalhava cada vez que isso acontecia, provocando a amiga, puxando seu pé quando ela estava distraída, fazendo com que eu não resistisse a provocá-la também.
— Mas que droga, vocês querem parar? — Brooke choramingou, colocando os pés em cima do sofá e se aninhando ainda mais a mim.
Eu voltei a colocar meu braço em volta dela, a trazendo para próximo de meu corpo. Ela se aconchegou ali fazendo meu coração disparar. Porque estou me sentindo assim? Não faz sentido! Meu primeiro instinto foi recolher meu braço, mas ao ver o sorriso satisfeito no rosto de Brooke decidi esquecer aquilo e me focar no filme.
Nós dois acabamos adormecendo em algum momento. Teoricamente, eu não deveria me sentir confortável com a posição que acabei dormindo, eu estava sentado, com a cabeça inclinada sobre o encosto do sofá abraçando Brooke, que estava meio deitada, apoiada em meu peitoral.
— Oliver, acorda — Leah me cutucou suavemente.
— O que? — eu pisquei atordoado, focalizando meu olhar nos cabelos quase platinados de Leah.
— Anthony vai me levar para casa, já é quase uma da manhã — ela explicou.
Eu me ajeitei no sofá, fazendo com que Brooke se movimentasse ainda dormindo e se aconchegasse mais a mim, eu a observei ali, tão tranquila. Eu não queria acordá-la.
— Brooke... Vamos, o Anthony vai nos levar — Leah a sacudiu para meu descontentamento.
Deixe-a dormir!
— Eu a levo, podem ir — acabei soltando ao tentar impedir Leah de acordá-la.
Meus esforços porém foram em vão, Brooke piscou atordoada, parecendo não saber exatamente onde estava.
— Tem certeza? — Leah se endireitou, sem perceber que a amiga despertara.
— Sim, podem ir.
— Vamos então, Leah — Anthony a chamou da porta — Até amanhã Scott, Não se atrase para a reunião.
Eu acenei para ele antes que fechasse a porta enquanto Brooke se levantava, se espreguiçando em seguida. Como ela consegue ser tão bonita mesmo após acordar?
— Não acredito que eu dormi — ela se queixou com uma voz manhosa enquanto se esticava — Quanto eu perdi?
— Não sei, eu também dormi — eu me levantei, estralando o pescoço ao senti-lo um pouco dolorido.
— Nós fizemos uma bagunça aqui — ela olhou em volta — vou te ajudar a arrumar.
— Não é necessário, eu arrumo depois que te levar.
— Já estou arrumando — ela cantarolou, recolhendo as embalagens de comida que estavam espalhadas na sala.
Nós trabalhamos juntos, colocando tudo no lugar, terminando após alguns minutos. Brooke apanhou o casaco dela no cabideiro próximo à porta enquanto eu trancava o resto da casa para acompanhá-la.
A neve tinha voltado a cair, fazendo Brooke se encolher ao meu lado, estremecendo suavemente quando um vento gelado nos atingiu.
— Você quer meu casaco? — eu questionei preocupado.
— Não, estou bem, é que a temperatura lá estava agradável — ela pareceu escolher bem suas palavras — desculpe por ter dormido em cima de você.
Eu passei o braço por seu ombro, a puxando para mim, tentando aquecê-la de alguma maneira.
— Eu também dormi, não foi nada — eu garanti
Brooke respirou fundo, parecendo um pouco ansiosa enquanto minha mente vagava até a sensação de tê-la tão próximo a mim. Era tão confortável e fazia eu me sentir tão bem.
Antes do que eu gostaria, nós chegamos até sua casa, eu a levei até a porta, esperando que ela a destrancasse antes de me despedir.
— Obrigada por me trazer, Oliver — ela se virou antes de abrir a porta para entrar.
— Eu que agradeço, Brooke. — Eu sorri — Fazia muito, muito tempo que eu não me divertia como hoje, muito obrigado.
O sorriso que surgiu em seu rosto foi uma imagem magnífica que fez meu coração se aquecer novamente, apesar do vento gelado que nos atingia trazendo pequenos flocos de neve. Brooke se aproximou, envolvendo meu pescoço em um abraço e aproximando seu rosto do meu na expectativa de me dar um beijo no rosto. Foi quando minha mente desligou.
Antes que ela pudesse reagir, eu virei meu rosto, capturando seus lábios em um beijo rápido. Brooke afastou o rosto com um olhar surpreso, mas antes que eu tivesse tempo para pensar direito em meus atos, minha mão que estava em sua lombar seguiu até sua nuca, a puxando novamente para mim.
Brooke não hesitou em retribuir o beijo, suas mãos seguravam meu rosto enquanto eu descia a minha de volta para sua lombar, grudando mais o seu corpo ao meu. Seu aroma doce invadia minhas narinas enquanto sua língua dançava junto à minha. Aquele beijo era faminto, urgente, e...
Errado.
Eu quebrei o beijo, soltando-a em seguida, piscando atordoado por conta de minhas ações. Brooke parecia tão desnorteada quanto eu, mas seu olhar estava preso em mim.
— Oliver?
— Eu preciso ir, Obrigado por tudo Brooke — eu dei alguns passos para trás, vendo ainda a confusão estampada em seu rosto.
Antes que ela me chamasse novamente, me virei e segui meu caminho de maneira apressada, tentando calar a dor e a culpa que ameaçavam me dominar completamente.
O que eu fiz!?
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¹Khao pad – arroz salteado com porco (moo).
²Pad thai – arroz frito com camarões, amendoim, tamarindo, ovo, nam pla, coentro, cebolinha, açúcar, e vegetais.
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