01- A REUNIÃO
Faziam quase quinze minutos que Kate e Penélope estavam sentadas com mais duas colegas de trabalho ao redor da mesa de reunião. As pernas da mulher se mexiam inconscientemente com a ansiedade que tomava seu corpo. Sienna ainda não havia chegado na empresa.
Não fazia ideia do porquê a mulher convocou uma reunião tão cedo se nem ao menos chegaria dentro do horário para dá-la.
A Sharma olhou de escanteio para o rosto de Penélope, está não estava com um semblante nada agradável em seu rosto enquanto digitava bruscamente no celular.
As outras duas mulheres faziam o mesmo, talvez com um pouco mais de paciência do que Penélope, mas seus olhos não saiam de seus aparelhos telefônicos.
Kate sabia que poderia estar fazendo o mesmo, mas a ansiedade que invadia seu peito não a permitiu passar mais de 2 minutos no Twitter sem desligar o celular e voltar a procurar sua chefe com os olhos.
Afinal, para que era aquela reunião? No geral, Sienna preferia as reuniões à tarde após um dia produtivo na empresa. Para ela estar convocando uma reunião naquele horário e não conseguir chegar a tempo, algo ou alguém importante deveria querer falar com a revista.
Descascava o esmalte roxo que usava em suas unhas enquanto esperava a mulher chegar para o trabalho. Na verdade, estava nervosa com a próxima matéria que teria que escrever.
O que Sienna inventaria para aquela semana? Kate já não aguentava mais ser chamada por “A garota do Como…” em suas redes sociais, por isso quase nunca usava sua conta principal, apenas a privada.
Algumas pessoas - principalmente homens - eram cruéis com as matérias que ela era forçada a escrever. Gostaria genuinamente que aceitassem o artigo que escreveu, mas tinha quase certeza que seria impossível.
Penélope se aproximou de Kate com a cadeira giratória, ficando perto o suficiente para poder sussurrar:
— Ela nos fez vir para a empresa mais cedo para chegar atrasada. – seu tom era de amargura
A Featherington sempre teve sentimentos ruins referentes a chefe. Não sabia muito bem o porquê, era algo além do profissional. Algo com a família do namorado dela.
No entanto, Kathani nunca se interessou o suficiente para se aprofundar no assunto. Já odiava demais sua própria chefe pelo profissional, não precisava odiar a parte pessoal também pegando as dores da amiga.
— Deve existir algum motivo para isso. – Kate garantiu, mesmo sem ter certeza se o que falava era verdade, precisava se agarrar a isso para não surtar de ansiedade – Ela não costuma fazer isso.
— Na verdade, costuma sim. – Penélope murmurou
— Mas não quando marca uma reunião a esse horário da manhã. – Kate diz
— Ela ama chegar atrasada para chamar a atenção de todos… – Penélope sussurrou, deitando a cabeça no ombro da Sharma – Ela fazia isso constantemente nas festas de família da Eloise.
Eloise era a melhor amiga de Penélope na época da escola, também irmã do namorado dela. Kate tinha a visto algumas vezes em sua própria casa, mas nunca formou uma grande amizade com a garota.
Sempre se manteve afastada, afinal, ela estava ali para ver Penélope e, apesar de morarem todas juntas, sempre achou que deveriam manter o máximo de conforto para todas. Incluindo seus momentos de privacidade com família e amigos.
— Acha que ela precisaria de mais atenção do que já tem aqui? Ela é dona desse lugar… – Kate sussurrou
— Não é como se fosse por mérito dela. – Penélope disse – O único esforço que ela fez foi se dedicar o suficiente para fazer os Bridgerton comprarem esse lugar e passarem para o nome dela.
Kate respirou fundo, cansada.
— Tome cuidado com o que fala aqui dentro, Pen. – pediu a Sharma – Pode ser demitida por justa causa.
Penélope levantou a cabeça do ombro da amiga.
— Ela não me faria tão feliz. – brincou a ruiva
A porta da sala de reunião se abriu. As quatro mulheres que estavam esperando ajeitaram a postura assim que Sienna Rosso passou pela porta parando perto da mesa.
Levou alguns segundos para a mulher analisar como todos estavam.
— Bom dia. – ela cumprimentou, levando uma mão para a própria cintura – Peço desculpas pela demora. Eu estava… Preparando algo. A reunião de hoje contará com mais algumas pessoas importantes, devo dizer. Não vou me alongar muito, imagino que conheçam Araminta Gun, CEO da empresa de jóias “Silver Lady”.
Kate abriu a boca, um tanto chocada. O que a madrasta de Sophie estaria fazendo ali? A Rosso gesticulou em direção à porta.
Sem mais delongas, a cruel Araminta Gun passou pela porta. Ombros enrijecidos, nariz empinado, pele praticamente perfeita.
— Bom dia, Mayfair Girls. – Araminta Gun disse – Devem conhecer minha empresa e eu. Fico contente de todas as jornalistas que Sienna chamou estarem aqui para meu novo projeto.
Apesar de ser bem mais velha que Sienna ou só própria, a mulher não parecia ter idade para ser mãe de Rosamund que passou pela porta em seguida. Cabelos organizados em um lindo coque e maquiagem parecida com a da mais velha.
Diferentemente das outras duas, a terceira garota que entrou não tinha traços asiáticos. Provavelmente era uma britânica. Os cabelos loiros presos em um penteado estranho que uma criança facilmente usaria em uma fantasia.
— Ah, não… – sussurrou Penélope para si mesma
Kate desviou o olhar para Penélope por um segundo, perplexa com a reação da ruiva que praticamente se retraiu em sua própria cadeira. Seus olhos se estalaram um pouco ao notar o porquê dessa reação assim que voltou a olhar para a terceira garota.
Era Cressida Cowper, a valentona que fazia bullying com a Featherington na época da escola e responsável por boa parte das inseguranças dela.
A loira não disfarçou o olhar lançado em Penélope. Não tentou disfarçar o quão superior se achava em relação a Featherington.
Kate poderia continuar a analisar a garota e proferir mil xingamentos mentalmente a ela, mas a visão que teve pouco atrás das quatro mulheres, na porta, tirou sua atenção disso.
Sophie estava praticamente escondida sob diversas caixas - provavelmente de madeira - que a fazia andar devagar, quase cedendo com o peso em cima de si.
Quase inconscientemente a mais alta se levantou, dando dois passos em direção de Sophie para a ajudar com as caixas de jóias.
— O que você está fazendo? – Araminta foi ríspida na hora de fazer a pergunta
Kate se dispersou por um momento, demorando mais do que o costume para perceber que a Gun estava falando consigo.
— Pensei que ela precisaria de ajuda. – Kate respondeu – Parecem estar pesados.
— Minha assistente não precisa de ajuda. – Araminta disse, séria
— Mas… – Kate começou, mas não completou a frase
Sophie olhava diretamente para a amiga, mesmo entre as pesadas coisas. Seus olhos brilhavam com o cansaço e a força que fazia para segurar tudo o que carregava.
Mesmo assim, a Baek negou com a cabeça. Indicando que a amiga não deveria fazer qualquer coisa para ajudar. Mas Kate não conseguiu voltar para seu lugar.
Era uma ideia repugnante voltar a se sentar e deixar Sophie sendo humilhada por Araminta em sua frente. Era óbvio que esse era o intuito da mulher. Afinal, por que trazer ela como assistente e faze-la segurar tudo aquilo sozinha? Sophie era a faxineira da empresa, não assistente!
— Sente-se, Kathani. – Sienna pediu
Kate não se mexeu. Travando seu maxilar com a irritação que tomou conta de seu corpo ao passar seu olhar de Sophie para Araminta, Cressida - que ainda buscava mexer com Penélope - e Sienna em seguida.
Quando fez menção de ir em direção a Sophie, a Rosso voltou a falar:
— Sente-se ou serei obrigada a mandar uma carta de demissão sua para o RH. – Sienna disse – E garanto-lhe que não irá trabalhar em nenhum outro jornal ou revista da Inglaterra.
O coração e o cérebro de Kathani pareceram entrar em uma luta. Mas a informação nova a fez se sobressaltar.
Ela olhou para Sophie.
“Sente-se” sussurrou a coreana.
Em um suspiro, Kate deu dois passos para trás, voltando a se sentar. Conseguia ver a indignação nos olhos de Penélope que encarava Araminta, mas também sabia que ela não faria nada.
Não com Cressida ali.
Parecia errado ceder e deixar que tratassem sua amiga daquela maneira, mas o que poderia fazer? Precisava daquele emprego, não poderia arriscar aquilo. E isso a corroía por dentro.
— Ótimo. – Araminta disse, virando-se para Sophie – Pode colocar as jóias sobre a mesa. Com cuidado. Um por um.
Kate se esforçou para não demonstrar para as outras pessoas o quão irritada aquilo a deixou. Seus dentes rangeram. Ela olhou para as próprias mãos voltando a descascar seu esmalte enquanto Sophie obedecia a madrasta.
Penélope não estava tão diferente, visto que encarava Araminta como se ela fosse o próprio diabo na Terra.
Deus! Kate tinha certeza que Penélope estava esperando aquela mulher dar um passo em falso publicamente para poder expor ela no Lady Whistledown. E a Sharma precisava admitir: também não via a hora disso acontecer.
— Certo, devem estar imaginando o porquê a senhora Gun está aqui. – começou Sienna, mas foi interrompida pela Araminta
— Como sabem, minha joalheria é muito famosa. E quando eu digo muito famosa, quero dizer muito famosa mesmo. – Araminta se vangloriou da joalheira que deveria ser de Sophie – E, como todas sabem, o evento de apresentação dos melhores e mais bonitos diamantes dessa temporada ocorrerá em dez dias.
Ela parou de falar. Todas ficaram em silêncio por alguns segundos até perceberem que tinham que ter alguma reação.
— Claro que sabemos. – a garota que estava do outro lado da mesa disse
— Devem saber mesmo, será o evento do ano. – Rosamund comentou
— Muitas celebridades e pessoas importantes. – Cressida concordou
— E eu sei que toda a imprensa irá cobri-lo, mas escolhi a Mayfare Magazine para ter exclusividade dentro da festa. – Araminta disse
— Escolhi vocês a dedo. – Sienna disse – E garanto que essa será uma oportunidade única.
A Rosso lançou um olhar quase no mesmo momento para Kate. Não sabia se era por ter batido de frente com ambas ou se era um recado que a mulher queria dar pedindo para não pisar na bola.
A Sharma desviou o olhar para Sophie novamente que continuava a colocar as joias delicadamente sobre a mesa.
— Como exclusividade significa confiança, quero ter certeza de que vocês são capazes de fazer um trabalho impecável. – Araminta disse – Por isso, irei acompanhar a reunião de vocês e as matérias da semana. Quero ter a certeza de que escolherei a melhor de vocês para fazer a matéria sobre “El Diamante”! – ela estalou os dedos, como se ordenasse que Sophie o pegasse. Quando ela não respondeu instantaneamente, Araminta deu um passo à frente sussurrando algo que Kate leu como “Você é imprestável?” Para a mais nova.
O instinto de irmã mais velha de Kate se abriu instantaneamente. Odiava ver como Araminta tratava a enteada. Odiava ver como Cressida mexia com Penélope. E mais do que tudo, odiava não poder fazer nada para protegê-las.
Araminta voltou com seu sorriso mais falso no rosto.
Sophie segurava um grande colar de diamantes praticamente ao seu lado. O tremor em suas mãos era quase imperceptível.
— Este é o “El diamante”. A peça central do evento e quero a garantia de que a melhor de vocês escreverá sobre ele. – Araminta disse – Guarde tudo, Sophia.
Sophie engoliu em seco, respirando fundo algumas vezes. Kate sabia que ela se controlava para não surtar com sua madrasta.
Ela havia acabado de tirar todas as jóias das caixas e agora a mulher ordenou guardar tudo novamente.
— Mas já? São tão lindos, queria poder admirar mais um pouco. – Penélope tentou ajudar Sophie
— Entendo que não ve coisas tão caras com frequência. Mas já admirou o suficiente, Featherington. – Cressida disse, em tom de provocação
Penélope se calou. Sophie obedeceu sua madrasta. Kate apertou seus próprios dedos, buscando o autocontrole que sabia que tinha.
Araminta riu:
— Podem continuar a reunião como se eu não estivesse aqui. – mas ela estava ali e fez questão de deixar isso claro, sentando-se praticamente no centro da roda de reunião
Sua filha e a amiga dela não foram tão diferentes.
Sienna continuou a reunião como fazia normalmente, dando instruções para as outras duas sobre o que escrever, visto que ambas falavam sobre moda e se voltando para Kate em seguida.
— Pensei que poderia escrever algo do tipo “Como conquistar o bofe da irmã”. – Sienna sugeriu
Kate, Penélope e Sophie se entreolharam buscando segurar o riso. Era exatamente o que tinham comentado mais cedo.
Kathani deu de ombros.
— Posso escrever algo assim. – ela disse, como se estivesse indiferente sobre o assunto
Sienna concordou com a cabeça e virou-se para Penélope.
— E você, Penélope… – Sienna disse – Alguma novidade sobre o relacionamento de algum artista? Pode tentar falar sobre o casamento secreto de Lana Del Rey, tenho informantes que sabem sobre.
— Como quiser… – disse a ruiva, sem ânimo algum
Sienna concordou com a cabeça.
— Então eu…
O som de soluços de choro conhecidos pelas três mulheres que moravam juntas foi ouvido por todos na sala. Inclusive pelas visitantes, que se viraram para a porta confusas.
— Ah não… – murmurou Kate sabendo que sua irmã estava prestes a fazer
A porta se abriu. Uma das secretárias de Sienna tentando avisar que Edwina estava ali quando a adolescente entrou.
Sienna olhou confusa para a garota que chorava.
— Me desculpem. – Kate pediu com urgência se levantando
— Eu quem peço desculpas. – Edwina disse, entre soluços – Mas eu preciso de você, Kate.
— Podemos resolver isso depois?
— Não, o Frei pediu de volta o chaveiro que me deu de presente e eu o deixei na sua bolsa. Ele quer que leve o mais rápido possível. – Edwina pediu
Kate andou rapidamente até a irmã.
— Edwina, eu estou trabalhando, não…
— Espere! – Sienna pediu – O que diabos está acontecendo? – ela encarou Edwina parecendo preocupada – Por que está chorando tanto, querida?
— Por que o namorado dela terminou com ela após uma semana de namoro. – Penélope explicou, simples
Em outro momento, Kate chamaria a atenção de Penélope pela forma direta que falou do problema de Edwina. Mas a irmã mais nova a irritou o suficiente naquele momento para simplesmente concordar.
— E isso não é um problema que se traga para o trabalho de sua irmã. – Kate praticamente rosnou para Edwina
— D-desculpe. – Edwina pediu
— Não! É exatamente o problema que se trás para cá. – Sienna disse – O que fez para um fim tão precoce?
Edwina piscou algumas vezes, confusa.
— Eu?
— Ela é bem grudenta. – Sophie arriscou dizer – E nova. Já estava falando sobre filhos com ele, não é, Ed? – Sophie deu de ombros – E invadiu o trabalho dele uma vez “com saudades”.
Kate fechou os olhos, negando com a cabeça e respirando fundo. Precisaria ter uma conversa séria com Edwina depois, sabia que a irmã era nova, mas também sabia que ela não era burra.
Onde já se viu invadir o trabalho das outras pessoas?
— Isso é péssimo. Mas… – Sienna disse – É a matéria que eu precisava para você, Kathani.
— O que? – as duas Sharma perguntaram ao mesmo tempo
Kate estava perplexa demais para tentar prestar atenção na reação de suas duas outras amigas. Mas pelo silêncio ensurdecedor que veio a seguir, imaginou que não só elas como todas as outras garotas ficaram em completo choque.
— Você já deu conselhos de como conquistar um homem, dê conselhos do que não fazer para continuar com ele. – Sienna falou – Se não quiser se basear na experiência de sua irmã, teste você mesma. Encontre um homem, faça ele se interessar por você e depois se desinteressar.
Kate piscou algumas vezes. Usar um homem simplesmente para escrever uma matéria? Isso parecia loucura total.
— Isso é… – Kate foi interrompida
— Esplêndido! – Araminta disse, levantando-se – Completamente genial. Terá até o meu evento para fazer a matéria. “Como perder um homem em 10 dias” com exemplos reais.
— Eu não… – Kate gaguejou por um segundo, recuperando a postura em seguida – Eu não sei se é uma boa ideia.
— Se conseguir completar essa matéria, deixarei você escrever sobre o “El Diamante”. – Araminta disse
O apoio de Araminta, indubitavelmente foi o que a fez ter mais certeza de que não deveria fazer aquela matéria.
— Tenho certeza que inúmeras pessoas queriam ter a chance de fazer essa matéria no seu lugar. – Sienna comentou – Não desperdice, Kathani. Se conseguir a matéria do “El Diamante” pode conseguir matérias mais sérias no futuro. Não é o que você quer?
A proposta pegou Kate desprevenida. Era o que mais queria, ser uma jornalista séria. Não que as outras e ela não fossem, mas queria escrever sobre algo que realmente importasse pra ela.
Ela respirou fundo, abrindo um pouco os braços.
— Então minha próxima matéria será “Como perder um homem em 10 dias”! – disse Kate, fingindo estar animada com a proposta
— É, não irá ser tão difícil para você… – ouviu Cressida sussurrar
Mas ela não se importou. Estava decidida: iria ganhar a chance de seus sonhos.
(...)
Já havia dado o seu intervalo de 15 minutos de almoço quando Kate recebeu mensagens de Edwina alertando que havia deixado o Newton no pet shop. O único problema é que ela estava do outro lado da cidade e não conseguiria buscar ele.
Mesmo cheia de fome, Kate deixou suas coisas na mesa em que ela e Penélope dividiam e pediu um Uber para deixá-la no local. Sabia que poucos eram os motoristas que deixavam os animais entrar, por isso arquitetou um plano em sua mente para não se atrasar: pegaria o Newton e juntos andariam até sua casa, em seguida ela chamaria um Uber de lá para seu trabalho de novo.
Sua cabeça ainda estava uma bagunça com os acontecimentos da manhã, não tinha certeza se deveria fazer aquela matéria. Especialmente usando “uma experiência real”.
Mas agora já tinha aceitado. E ela se corroía por dentro por causa disso.
Apesar disso, já bolava o que faria em sua mente: flertaria com algum homem no restaurante, se a convidasse para ir para… Bom, outros lugares, iria desistir em cima da hora deixando a bolsa no carro dele para usar de desculpa para falar com ele no dia seguinte. Depois que conquistasse, seria mais fácil.
É sempre mais fácil fazer alguém se desinteressar por você do que se interessar.
Depois de chegar no Pet Shop, Kate precisou fazer o pagamento pelo banho e pela tosa do cachorro. Depois de agradecer a mulher que a entregou Newton, Kate colocou a coleira que sempre levava em sua bolsa e ambos foram caminhando.
Kate suspirou ao sair do pet shop com Newton, seu corgi. Sabia que o seu plano era simples, assim como sabia que a fome e a sensação de atraso constante martelavam em sua mente.
Já havia pisado na bola duas vezes naquela manhã e, embora não se arrependesse tanto, não precisava de mais motivos para ser demitida.
Assim que tentou virar a esquina, Newton a puxou para o lado oposto. Kate fez uma careta, percebendo que estavam em frente ao parque em que costumavam passear com ele.
— Não, Newton. Isso não é hora, vamos. – ela murmurou, o puxando para o outro lado.
Newton latiu, não se permitindo ser puxado com facilidade. Já estavam quase na metade da rua quando o cachorrou latiu alto, dando um puxão tão repentino que Kate quase foi puxada junto.
Mas ao tentar o segurar, um estalo alto foi ouvido. A coleira arrebentou e o Corgi correu na direção oposta que Kate deveria andar.
— NEWTON! – ela gritou, correndo atrás do cachorro em desespero
O Corgi começou a atravessar a rua, Kathani não se importou em olhar para os dois lados antes de o seguir e conseguir agarra-lo pelo restante da coleira que ainda estava nele. O som alto do guincho de uma moto derrapando e parando bruscamente a centímetros dela e de Newton foi ouvido.
Ela nem ao menos havia percebido o perigo da situação agarrando Newton o mais forte que conseguiu para que ele não voltasse a correr, até o motociclista tirar o capacete. Ele não parecia nada contente com a situação.
E Anthony realmente não estava. Já havia sido um susto e tanto ver um cachorro entrando na sua frente, junto de uma mulher então… Céus! O que ela tinha na cabeça?
— Mas que droga. – xingou ele
Kate respirava de maneira ofegante, um tanto pela corrida e um tanto pelo medo de perder seu cachorro.
— Desculpe, a coleira arrebentou e… – ela foi interrompida
— Arrebentou? Você não revisa essa coisa não? – Anthony perguntou, rude
Ele não costumava agir assim, sabia que não, mas além de estar atrasado para um compromisso ainda havia levado um susto achando que iria machucar um deles.
Kate se levantou com Newton no colo. Ela encarava Anthony, tão irritada quanto ele.
— Reviso perfeitamente. – Kate respondeu – Mas imprevistos acontecem. Ou acha que estava na minha agenda deixar meu cachorro quase ser atropelado?
Anthony não deixou de notar a beleza da mulher que o encarava como se ele fosse o ser humano mais estupido da Terra. No entanto, como ele poderia estar errado se ela quem quase causou um acidente?
— Deveria prestar mais atenção, poderia ter causado um acidente sério! – Anthony insistiu, ríspido
Ela já estava irritada com as coisas que aconteceram durante aquele dia e um encontro com um motociclista rude não ajudou em nada.
Até porque percebeu o quão rápido ele estava.
— Eu poderia ter causado um acidente sério? Bom, não era eu correndo como um lunático em cima dessa moto. – Kate disse, apontando para o veículo com a cabeça.
O Newton tremia em suas mãos. O Bridgerton olhou desacreditado de sua moto para a mulher.
— Correndo como um lunático? Eu estava a quarenta quilômetros por hora! – Anthony se defendeu
Ela abriu um sorriso irônico.
— É mesmo? A placa de “20km/h”. – alertou ela
O homem olhou na direção que ela olhava, percebendo que ela estava correta. Ele estava com tanta pressa que nem ao menos percebeu.
Mas aquilo não o deixou menos irritado a situação. Principalmente agora com o orgulho seguido por saber que ela estava certa.
— E tenho quase certeza de que aquele semáforo dizia “fechado para pedestres”. – apontou para o farol de pedestre que ainda estava vermelho
Os dois entraram na defensiva, ambos com o orgulho um tanto quanto ferido. Kate o encarou, se esforçando para não fazer uma careta ao notar que o motoqueiro usava terno.
Os cabelos bagunçados que a moto deixou com certeza não combinavam com aquilo.
— Eu só estava tentando salvar meu cachorro. – Kate disse
— E eu só estava tentando chegar no meu destino a tempo. – Anthony disse
— E por isso precisa passar por cima das pessoas na rua?
— Eu não… – ele praticamente grunhiu – Eu não passei por cima de vocês! Muito pelo contrário! Quase cai da moto tentando te proteger. Eu poderia ter atropelado você!
Só naquele momento que Kate percebeu que poderia, literalmente, ter morrido correndo atrás de seu cachorro na rua.
Estava com a cabeça tão cheia que nem ao menos notou aquilo. Apenas despejou sua raiva em cima daquele homem. Ela voltou a olhar para Anthony. Respirando fundo tentando se acalmar antes que pudesse responder o homem com uma resposta que ele não merecia ganhar. Não tanto.
Mas Newton latiu para ele, fazendo com que o Bridgerton encarasse. Kathani não soube se via irritação ou preocupação em seu olhar.
— Ele está bem? – se referiu ao cachorro, dando um passo a frente
— Sim, Newton só julga o caráter dos outros muito bem. – Kate rebateu, Newton quase avançou em Anthony – Viu?
Ele desistiu, negando com a cabeça. Subindo na moto novamente.
— Só… Tente tomar mais cuidado. – Anthony disse
— E você tente desacelerar um pouco, pode não ter tanta sorte de conseguir parar a tempo da próxima vez. – Kate falou, saindo do meio da rua
— Compre uma coleira mais resistente, esse cachorro é mais forte do parece. – Anthony rebateu, colocando o capacete em seguida
— Fique de olho nas placas de trânsito. A cidade usa bastante o metrô, então é mais propenso de ser pego fazendo uma infração. – disse Kate por fim
— Olhe para os dois lados antes de atravessar, nem todos os motoristas são tão habilidosos quanto eu para desviar. – ele concluiu, voltando a pilotar
Kate revirou os olhos. Como os homens poderiam ser tão insuportáveis? Era óbvio que ele teria que dar a palavra final. Óbvio…
Anthony, porém, se arrependeu no instante que deu a partida na moto. Se sua mãe soubesse que quase atropelou uma mulher e nem ao menos ofereceu carona para ela depois, ele estaria morto. Onde estava sua educação?
Não costumava agir assim, mas algo no olhar da mulher. Algo no jeito dela… Não poderia continuar a pensar nisso. Estava a caminho de comprar flores para ser educado com Araminta e tentar fazer a negociação acontecer.
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