Capítulo 32 _ Maksin
Hey Peoples, finalmente consegui concluir. Espero que gostem e boa leitura! 🥰
✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨
— Ora, ora... então você descobriu? — Ele solta, com um sorriso de canto. Parece uma pergunta, mas soa mais como uma provocação.
O prazer evidente no rosto dele me enerva, me repudia. Com todo o desprezo, eu retruco:
— Você não sente um pingo de vergonha?
— Não sei o que você acha, gênio — ele debocha, se apoiando numa pilastra e cruzando os braços, me encarando de cima. Não parece estar tentando me intimidar com a altura, mas olha com aquela superioridade de quem acredita que "venceu" um jogo que eu nem sabia estar jogando.
Um jogo perverso, sem lógica ou motivo. Algo bem característico de Dominick.
— Jura? Você tem ideia do que acabou de fazer?
Tranquilamente, como se tivesse todo o tempo do mundo, ou como se simplesmente quisesse enervar o mais profundo de minha alma, ele escorrega os dedos pelo casaco, tateia dentro de todos os bolsos, até que finalmente puxa um pirulito. Mas não acaba, ele segue no jogo de me irritar, e abre a embalagem suja lentamente até revelar o doce rosa que ele olha com tanto interesse que até parece ter sido feito com ouro. Apenas isso, somente isso, e já sinto meu sangue ferver.
Ele não leva o pirulito a boca de imediato, mas quando o faz, o degusta por segundos memoráveis, mas consigo notar que seu verdadeiro prazer é em me irritar. A custas de não lhe dar o prazer de me ver perdendo as estribeiras, me contenho para não explodir até ele finalmente se dar ao luxo de me responder:
— Sabe Makszinho, estou com uma séria, muito séria, demasiada séria, dúvida. O que você se refere com essa pergunta meio misteriosa é o que exatamente? Aquilo que aconteceu com Dani, uma pena, sabemos, ou ao espancamento do Ally?
Usar os apelidos dele me fez ter vontade de cortar sua fala no meio do caminho, mas ainda bem que não o fiz, apesar do gelo descomunal que se apoderou do meu corpo, minha razão me deixa com os pés no chão o suficiente para tentar preencher a lacuna faltante em toda essa lógica.
Dominick estava presente no momento de Dani, mas como sabe o que ocorreu com meu A... colega de quarto.
— Como você sabe disso? — Tento manter o tom de voz neutro, mas ou foi ineficaz ou Dominick é apenas podre, já que ri com escárnio, antes de dizer:
— Meu padrasto sempre expulsa os caras que eu transo das fazendas, sabe? Bom, sempre tem os que vale a pena manter contato, por um motivo ou outro. Um deles é peão na fazenda do Alejandro. Uma vez ele me contou horrorizado sobre o patrão maltratando o coitado do irmão.
Ele conta a história como alguém que narra a um amigo sobre um delicioso encontro que teve com o namorado, como se fosse gostoso, divertido. Demoro um tempo para digerir as palavras.
E mais alguns segundos para compreender como ele pode ser assim, mas não consigo, talvez por isso, em um impulso pouco característico de mim, solto:
— São seus amigos, porra, Dominick, por quê?
— Meios para um fim, Maks, meios para um fim.
E dado que eu não questiono mais nada, ele se vê impelido a prosseguir, como um vilão de um desenho antigo, querendo contar os detalhes de seu terrível plano para acabar com os mocinhos.
Mas não existem mocinhos e vilões nesta história, apenas vítimas e não vítimas.
— Como eu disse, tenho contatos, muitos aliás. Um deles faz parte do corpo docente e me contou da maravilhosa decisão que tomaram de unirem você e Allysson no mesmo quarto, acredita?
— Que essa escola tem um problema horroroso na escolha ética dos funcionários? Sim. Você ser uma tremenda escória filha da puta? Não.
Minha explosão arranca uma risada exacerbada dele.
— Não julgue o vício de alguém em um bom cu, seu namoradinho bem que foi um desses que se aproveitou da falta de ética.
Suas palavras fazem com que inconscientemente ele esteja mais perto de mim, porque eu me aproximo furioso, mas me contenho o que faz seu olhar brilhar com diversão.
— Eu te conheço mais que qualquer um aqui, bom, tirando o gostoso do seu primo. — Ele diz a última parte como se falasse de um manjar irresistível. — Você estava apaixonado pelo Daniel, colocar ele e o melhor amigo dele um contra o outro? Bárbaro, eu sei. Mas o Daniel estava apaixonado pelo Allysson, imagina você se dando o direito de perder as estribeiras com o Gonzales... Dani nunca te perdoaria.
— Por burrice sua não foi o que aconteceu. — Não por falta de vontade.
— Eu não acabei, Petrov. Esse era o plano A, mas como eu disse, te conheço. Sabia da sua atração pelo Gonzales, não podia ter certeza quanto a parte de você se apaixonar, porém, com esse seu irritante complexo de herói estava apostando que você acabaria gostando dele.
Seguro a língua para rebater que ainda que tenham me intrigado as fragilidades de Allysson, o motivo de eu ter caído por ele fora completamente diferente, Dominick não merecia saber disso, não sendo esse doente pervertido.
— Mais uma vez você está ferrando as pessoas por minha causa e aí?
— Mas não sou eu, Maks, eles ferram sozinhos! Por conta de macho, Allysson deixou de falar com Daniel, não por mim, por sua causa!
— Teve todo um contexto, Dominick.
— Mas se ele não tivesse beijado você, Allysson não teria ficado tão irritado.
Se Allysson soubesse que o melhor amigo preferiu transar ao invés de socorre-lo provavelmente ficaria bravo de qualquer jeito, mas não pretendo entrar em argumentações. Eu nem sei porque eu queria entender o porquê de ele ter feito isso, como se houvesse qualquer esperança para ele.
— Porque eu quis? Porque eu queria ver essa expressão latente em seu rosto? Porque foi divertido? — As palavras jorram de sua boca e percebo que ou soltei meus pensamentos em voz alta, ou ele é ainda melhor do que eu considerei em me ler.
— Você tem um problema muito, muito sério.
— Todos temos Maks, isso é o que torna o mundo esse belo poema de merda, não?
Suspiro, frustrado e irritado, não adianta, com Dominick nunca adianta.
— Fique longe deles, eles não merecem ter um sanguessuga como você por perto, ninguém merece.
— Eles não são muito melhores que eu, principalmente o Gonzales. Ele também é um ser podre e principalmente inútil, a diferença entre nós dois...
Mas ele não continua a frase, ao invés disso se interrompe no meio dela, medo passando por seu rosto antes de um sorriso perverso se abrir em seus lábios.
— Abaixe esse punho, nós dois sabemos que não vai rolar. Senão fosse sua ética para te conter, seria a promessa que fez a minha prima.
A frase parece se consolidar em uma pedra e atingir com força meu estômago.
— Não fale de Maria Antonieta. — É imperativo, mas sai quase que derrotado de mim. Dominick e eu, esse abismo e essa ponte sempre entre nós.
— Mas gosto tanto de falar dela, minha gêmea de outra mãe.
— Vocês não se parecem em NADA. — Praticamente rosno.
— Ah, pelo amor de Deus, se eu colocar uma peruca e fora eu ter um pau, seria o mesmo que ela ter voltado da tumba.
Odeio como ele consegue me atingir, odeio como suas palavras ferem, odeio olhar em seu rosto e ver a verdade por trás delas.
— Cale a boca.
— De fato, eu sou muito mais interessante, até hoje não sei o que viu naquela pobre, embora seus gostos sejam mesmo duvidosos. Eu diria que até existe uma semelhança entre o antigo e o atual amor, além de serem sem sal, é claro.
— Desapareça! — Rujo, tão enfurecido que mal me contenho.
— E mais uma vez chegamos neste impasse. Você me despreza, mas não há nada que possa fazer sobre isso.
— Sempre há algo a se fazer, Daniel já sabe sobre tudo.
— Ó, mas que pena, perdi um amigo, até que eu gostava dele. — Ele sorri como se não fosse nada.
— Maldito. — É a única coisa que consigo resmungar, os punhos tão fechados que consigo ver os nós dos meus dedos ficarem brancos.
— Amaldiçoe mesmo, mas não há muito o que você possa fazer, verdade? Maria Antonieta à parte, sua mãe não gostaria que você brigasse comigo. — Ele sorri com picardia. — Não se esqueça, Maksin, que você é herdeiro um Petrov e eu sou um Laurent, é melhor a gente tentar se engolir.
E dito isso ele marcha para longe. Cerro o punho para não ir atrás dele, mas ele tem seus pontos. Essa nossa guerra é aquém de nós mesmos e um dia refletirá em quem terá mais poder no futuro.
Ironicamente tal como minha mãe e Louis Laurent, estamos destinados a ser aliados em meio a um desejo sangrento pelo pescoço um do outro.
Com Dominick, com um Laurent, nunca é simples.
E isso se torna ainda mais evidente quando ele volta e da porta solta:
— Considere isso como uma generosidade de minha parte. A semelhança deles? O quão bons são em guardar segredos... e também, são muitooo fotogênicos.
E antes que eu fale alguma coisa ele vai embora me deixado com amargas lembranças e muitas preocupações.
No que ser fotogênico é tão importante?
Pode não ser nada ou ter algum significado oculto... não irei arriscar, já que nunca sei o que esperar, o melhor é investigar.
Estremeço só de pensar em algo de ruim ocorrendo a Allysson.
A ligação feita para investigar a pulga que Dominick deixou atrás da minha orelha, minou em problemas mais sérios relacionados a outros assuntos.
Quando, por fim, resolvo sair da sala estou exaurido.
Isso está mais para um eufemismo, estou mentalmente exausto. São tantas coisas para resolver e no final de tudo ainda tenho que lidar com os negócios, sempre existe um abutre que imagina que pode se aproveitar da minha pouca idade para me ludibriar.
Existem diversas maneiras de lidar com uma situação assim, mas dessa vez roubaram fundos do dinheiro destinado para uma ONG que recebe mulheres em condições vulneráveis, aquelas que sofreram de estupro, aborto ou violência doméstica. Isso eu não vou perdoar.
O melhor, constato por mim mesmo, é consultar com Arthur antes de dar o aval, mesmo dentro da lei existem maneiras de tornar o destino de alguém pior ou melhor. E desta vez tendo para que seja o pior.
Disco o número do meu primo, a ligação cai direto na caixa postal, incomum, dado que o infeliz vive com o celular na mão. Mais uma vez no automático digito os algarismos, quando do nada escuto um lamurio de uma voz rouca, muito, muito rouca e extremamente familiar.
Um alarme de preocupação acende em minha cabeça. Virando a esquina do prédio o encontro: largado num canto, próximo a uma árvore, a pele clara marcada por lacerações e hematomas dos mais variados tons de roxo e vermelho. A camisa está rasgada, no peito vejo mais machucados, seu braço pende em um ângulo estranho e sua calça está rasgada como se ele tivesse rolado na terra ou sido chutado muitas vezes por um sapato muito sujo.
Eu respiro fundo.
Por um segundo vejo todas as lições de controle de raiva que já passei. Relembro a condição dada pelo advogado, relembro de meu pai implorando para eu não me permitir ser assim. Relembro tudo, mas é a raiva que domina.
Incandescente, latente e tão intensa que sinto minha visão nublar enquanto analiso mais uma vez o corpo do meu primo largado como se fosse lixo em um canto. Tento respirar, mas aspiro fogo, meu coração bombeia mais forte e meus músculos enrijecem ao mesmo tempo em que vejo tudo na mais absoluta clareza:
— Vou mata-lo.
Ele olha nos meus olhos, o máximo que consegue graças ao inchaço que tem em sua pálpebra. Sua respiração por um segundo para, ele escuta minhas palavras, as interpreta, fica estático por um segundo, seu olhar volta a mim e vejo um medo se apossar em seu semblante quando ele percebe minha certeza.
— Maksin, não. — Arthur pede, praticamente se arrasta até conseguir se erguer com dificuldade, o lábio partido sangra ainda mais excessivamente enquanto ele me olha implorando. — Não foi culpa dele.
Uma risada de escárnio escapa de meus lábios, quase tão pungente quanto a fúria que me domina.
— Não foi culpa dele? Não foi culpa dele? O que você fez Arthur? Cuspiu no túmulo da mãe dele? O violou? Mandou espancarem o pai dele? O que você fez de tão grave que justifica algo assim?
Arthur para, desesperadamente pensativo, Arthur nunca é pensativo. O que me deixa ainda preocupado, as apancadas em sua cabeça foram assim tão fortes?
— Aquilo que eu falei... e eu acabei procurando ele, merda, eu sei que ele tem um temperamento explosivo, mas...
— Gente morta não surta.
— Maksin, por favor, Maksin, se escuta. Sei que você está bravo e não está falando de forma literal, mas não quero, não quero que aquela situação ocorra mais uma vez, principalmente se a culpa for minha, o tio nunca vai me perdoar, eu nunca me perdoaria.
— Você não tem culpa.
— Eu tenho. Eu e o Renan temos, mas eu não sou ela, ok? Eu sei me defender e eu sei que é estúpido e sem sentido falar isso quando estou assim quebrado, mas, por favor, eu vou dar um jeito eu prometo.
— Você promete, mas não cumpre. Como você se sentiria, Arthur? Como se sentiria se fosse eu no seu lugar? — Falo e vejo pelo endurecer de sua expressão que finalmente ele compreende minimamente. — Nós crescemos juntos, nós nos protegemos desde que éramos crianças, sei que foi há muito tempo, que éramos дети, mas você ao menos lembra da sua promessa?
Isso o deixa impactado.
Noto que ele o vê o mesmo que eu: dois garotos se olhando no meio da noite escura, rostos magros demais para crianças vindas de família abastada, olhos fundos e uma sombra que não sairia jamais de nossas almas. A interpretação, para tenra idade, que nada mais seria o mesmo e a compreensão, única, de que como éramos dois lados da mesma moeda. Então veio a promessa, de nunca mais nos machucarmos, nunca mais permitir que nos machucassem ou que se ferissem por nós. Que estaríamos um pelo outro, sempre.
Penso em falar mais alguma coisa, mas com uma voz tão pequena que sequer parece com ele mesmo, Arthur fala:
— Eu não vou vê-lo mais. Não vou o procurar.
Isso é um alívio, mas não uma solução, não uma de verdade.
— Ele é tão perturbado quanto você Arthur. — Nós dois sabemos que Renan, por alguma razão, também não consegue se manter cem por cento longe.
— Mas não vou atender se ele vier, você não sabe ainda, não quero ter que falar, mas o que ele disse... está doendo muito mais do que esses machucados, isso vai se curar, mas aquilo... vai demorar muitos anos, talvez jamais se cicatrize.
— Sinto muito.
— Eu sei que sente, eu... só peço que não o machuque, Maksin, é a única coisa que eu vou te pedir. — Ele me encara mais sério. — Porque por mais que eu o odeie, não suporto vê-lo ferido, você entende, não é?
Por mais que doa, não consigo deixar de entender e concordo. Prometo a ele que não vou cruzar o caminho com Renan, uma promessa dolorida, quase um sacrifício, mas um que Arthur não pensaria duas vezes em fazer por mim, que ele já fez por mim.
O silêncio perpetua por poucos segundos, quem o quebra sou eu:
— Vamos, você tem que ir para um hospital. — Falo, já me aproximando dele, mas hesito antes de encostar, ele lê a dúvida em meu olhar.
— Me pegue feito uma princesa, irmão, o que é minha preciosa masculinidade se comparada a dor em meu corpinho?
Isso quase me arranca uma risada, ironicamente, até a segunda hora no hospital, Arthur já consegue arrancar algumas, deixando o clima levemente menos pesado.
Pena que as coisas podem mudar em questão de segundos.
O tempo passou rápido e, quando dei por mim, olhei meu telefone em busca de uma mensagem especifica. Infelizmente haviam duas mensagens que gelaram meu coração de maneiras diferentes.
A primeira eu ignorei, sem ter cabeça nem para pensar naquilo.
A segunda, como em piloto automático eu contestei, não por mensagem e sim por ligação, essa que durou brevemente antes de ser atendida.
Silêncio.
E depois soluços quebrados.
— Mãe...
Nem percebi direito o momento em que entrei no quarto, ironicamente rapidamente meu cérebro assimilou que Allysson não estava ali, tento não pensar muito nisso e apenas lanço meu telefone na cama antes de marchar para o banheiro.
Ligo o chuveiro na água fria, esperando, como um idiota, que ela lave tudo de dentro de mim.
Não funciona.
Tão cansativo.
A conversa com minha mãe poderia ser descrita por uma única palavra:
Fatigante.
Não foi nenhuma surpresa também. Meu pai entrou com o pedido de divórcio, sem aviso, sem ameaça, apenas a surpresa que caiu sobre ela quando estava a 12 horas do Brasil, em outro país, resolvendo assuntos diplomáticos.
O mundo dela desabou e, pela primeira vez em anos, não havia mais um trabalho superimportante e inadiável, ela voltou correndo para o país na esperança de salvar seu casamento e suas esperanças ruíram quando encontrou Viktor irredutível.
Ele finalmente decidiu que amor já não era o bastante.
Que não compensava as horas de distância, a falta de tempo de qualidade quando ela vinha ou as crises de ansiedade que ele tinha. O amor não é o bastante quando faz mais mal que bem, foi o que ela disse que meu pai falou.
Varvara não aceitou, tentou de todas as maneiras convencê-lo e, por fim, como o ser egoísta que sempre teve capacidade de ser, apelou para mim.
Se meu pai soubesse nunca a perdoaria e ela sabia disso, tal como sabe que a amo demais para sequer citar isso a ele, e tal como sabe que o amo demais para sugerir, pedir ou implorar para que ele não a deixe.
Porque já faz anos que ela não faz bem a ele e por mais que a ame, também amo meu pai e não quero vê-lo mal como estive vendo todos esses anos.
A conversa durou minutos. E foram alguns dos piores da minha vida.
Mas gastar a água do chuveiro claramente não fará com que nada melhore, então resolvo me resignar em minhas merdas e saio dali apenas com uma toalha enrolada na cintura, percebo já meio tarde que não peguei a roupa para trocar no banheiro.
Quando abro a porta ele está ali:
Com o rosto envergonhado, por sei lá qual razão, jogado em sua cama e tamborilando os dedos pelo lençol. Ele escuta a madeira rangendo e vira o rosto em minha direção, me permitindo ver um mundo de sensações passar por seu rosto e, de repente, meu dia já está melhor.
Surpresa, vergonha, desejo.
Consigo ler tudo na fração de segundos em que seu semblante muda, ficando o misto delas pelos segundos que nos encaramos.
Sua pele adquire um tom sutilmente avermelhado que faz com que meu pau reaja naturalmente se movendo na toalha. Allysson também percebe, seus olhos abaixam na direção dele, ficam ali por uns segundos antes de subirem novamente e encontrarem meu rosto.
Segundos depois ele o abaixa e dessa vez não para meu pau e sim para meu ombro. Um frio acomete meu estômago quando percebo que ele está analisando os desenhos sobre minha pele. Em passos calmos atravesso o quarto e visto a camisa, cobrindo meu tronco, é a primeira vez que Allysson me vê sem camisa, eu já tinha reparado nisso antes, mas hoje é a primeira vez que eu percebo que, provavelmente, foi inconscientemente proposital este tempo todo.
— Tatuagem maneira. — Ela fala tentando soar casual e falhando miseravelmente em manter a curiosidade oculta no tom de voz.
— Fiz há um tempo já, obrigado. — Digo sem deixar margem para o assunto, não que o Allysson entenda exatamente dessas sutilezas, já que quando abre a boca já sei que virá outro questionamento, então corto com a primeira coisa que vem a minha cabeça: — E o Renan?
Ou minha voz soa mais ríspida do que eu pretendia ou Allysson já sabe o que o "amiguinho" aprontou, pois seu corpo endurece e seu rosto assume uma sombra incontestável.
— Olha. Eu meio que fiquei sabendo do que rolou. — Ele pensa demais nas palavras, elas soam estranhas como serragem em sua boca, como se estivesse raciocinando cenários em que poderiam ser justificados os feitos dele.
Mas não vou permitir. Me recuso a vê-lo defendendo aquele traste para mim.
— Não se atreva a prosseguir com essa frase se o intuito dela é defender o Renan!
— Você nem ouviu o lado dele! — Rebate injuriado e isso faz com que eu sinta algo estalar dentro de mim, há tempos que não sinto tanta raiva direcionada a Allysson e, este dentre todos, não poderia ser um dia pior para discutirmos.
— O lado dele? O lado dele? — Minha tentativa de diminuir a raiva em minha voz é totalmente fracassada, dado que praticamente as rosno. — Ele quebrou três costelas do meu primo, tem sorte de eu não o virar do avesso.
Allysson me encara com uma fúria latente e, pela primeira vez na vida, vejo-o abrir a boca e depois fechar se contendo, realmente pensando no que deveria ser dito.
— Não deveria se meter na briga deles. — É para ser amenizador, é para ser uma trégua e é absolutamente impensável.
— Arthur é uma das pessoas mais importantes da minha vida Allysson, você não tem ideia de até onde eu iria por alguém que eu amo.
— É claro que eu sei! Como eu não saberia? Eu experimentei na pele, lembra? — Ele fala como se não fosse nada, como se fosse algo normal, como se apenas de rememorar eu não sentisse vontade de voltar lá atrás e me bater, mesmo que ele tivesse merecido na época.
O impacto disso faz com que eu sinta, por um instante, areia em minha boca, que impede brevemente que eu formule as palavras, que eu esqueça o nosso passado e meus arrependimentos.
— Não é disso que eu estou falando Allysson, aquilo foi porque vocês eram um bando de filhos da puta com o rei na barriga que se atreviam a humilhar e massacrar os outros. Isso é muito mais pessoal, Arthur é como meu irmão e você não faz ideia do ódio que eu estou sentindo agora.
— Claro que tenho, geralmente você é todo meio robotizado, mas agora tá aí meio explosivo, até parecendo o Renan. — Algo em meu rosto deve ter denunciado que isso foi a coisa errada a se dizer, porque ele ergue a mão em gesto de paz. — Ok. Ok. Calma, calma. Não se estresse mais, eu não vou falar mais dele, eu lembro da história do cara da cadeira de rodas e...
De repente ele não fala mais nada, a expressão assustada e é tão fácil ler seu rosto, a direção dos seus pensamentos. Eu não me lembro de muita coisa daquele dia, só da raiva explosiva e de socar alguém até meus punhos abrirem e não sabermos dizer de quem era o sangue no final, o meu ou o do cara aos meus pés. Eu estava irritado e só parei quando Arthur me desacordou.
Acordei no hospital com meu pulso algemado a cama e o rosto do meu pai banhado em lágrimas.
Eu lembro de perguntar se ele estava bravo comigo e ele simplesmente ter respondido: "Não, apenas estou decepcionado, eu não queria estar, mas é que eu esperava muito mais de você, Maks." Foi a primeira e única vez na vida que decepcionei meu pai. E também a primeira e a última vez que me deixei levar tão forte por minhas emoções.
Com a lembrança disso, resolvo responder à pergunta que vejo no rosto de Allysson, a que ele não se atreve a pronunciar.
— Eu não sei o que eu queria, Allysson, só sei que ele tinha machucado alguém que eu amava da pior forma possível.
— Renan não vai fazer mais isso. — Ele murmura com certo temor.
— É claro que não vai. — Murmuro furioso, não por minha sede de vingança, mas sim por conhecer meu primo.
Diferente de mim, Arthur não é explosivo. Anos depois ele confessou que, em partes, tinha culpa na sequela do imbecil. Ele tinha chegado lá minutos antes de tudo poder se tornar pior, mas apenas me parou quando achou que o cara jamais esqueceria com quem mexeu.
O castigo de Renan não será físico, mas, se eu fosse uma pessoa melhor, chegaria a ter dó do que estar por vir para ele.
— Maks, por favor não faz nada com ele.
Ele reitera o pedido trazendo uma nova onda de raiva sobre mim.
— Como você se atreve a me pedir algo assim? — Como se tivesse algum tipo de influência sobre mim.
Mas seu rosto está angustiado e daí eu percebo, quando sinto meu estômago torcer e meu peito queimar, que ele tem sim algum nível de influência por mim. E isso me corroí.
— Eu sei que não deveria, mas por favor, ele só teve um rompante, Renan é assim, mas é boa pessoa, e ele precisa se sustentar e...
Eram tantas defesas apelando para o absurdo que dessa vez sinto meu peito queimar por razão distinta, como se eu tivesse bebido vinagre.
— Tanto faz. — Solto, rude, o cortando. Só para ele parar de implorar por Renan e antes que ele abra a boca para soltar qualquer vocábulo em defesa daquele verme eu digo: — Não vou fazer nada.
— Sério? — O alívio em suas palavras faz com que eu sinta meu ouvido estalar e meu maxilar trincar.
Nunca pensei que poderia ser tão ciumento. Potencialmente com os nervos em ponta vou em direção a minha cama e me deito. O silêncio, de uma maneira confortável e desconfortável, é quebrado em segundos.
— Você está bem parecendo estressado.
— Meu primo está no hospital.
— Mas acho que não é só isso. — Ele fala "inocente" jogando verde para colher maduro e com uma perspicácia mal contida na voz que me põe em alerta.
Rapidamente faço um ensaio dos últimos eventos: cheguei, lancei meu telefone na cama, fui ao banheiro, fiquei cinco minutos, Allysson chegou nesse interim onde provavelmente encontrou meu celular com a tela acesa.
— Mexeu nas minhas coisas. — Não é uma acusação, é uma afirmação. E Allysson se sobressalta no lugar consolidando o fato e explicando seu semblante incialmente envergonhado.
— Eu não vi nada... ou melhor, não mexi em nada... de propósito. — Ele se defende o rosto assumindo uma nova onda avermelhada, ele foge do meu olhar antes de decidir me enfrentar e com a voz ainda gaga começa: — É só que eu vi a mensagem e achei que, bem, achei que você gostaria de falar sobre isso.
— Não, não gostaria.
Quando minha voz sai, é cortante e Allysson a recebe como pancadas nele mesmo, não há tempo para arrependimento, já que ele absorve o impacto e retorna:
— Já passei por isso antes, lembra a história do meu cunhado? Só achei que podia ajudar.
Mas não pode, por cada palavra sua só me relembra da mensagem dela. "Me atende filho, seu pai quer me deixar, eu não quero viver sem ele, prefiro a morte". Me lembra a responsabilidade que ela quis transferir a mim, me lembra a mensagem do diretor com uma nova testemunha que jura ter visto Allysson por perto naquela noite.
— Não quero falar disso. — Sou contundente. Porque preciso pensar em uma boa estratégia que não o mande para casa, porque preciso garantir que as palavras de minha mãe não se tornem reais, porque preciso suprimir a fúria que me invade ao recordar Renan, preciso coordenar minhas empresas, preciso me organizar para o próximo ataque de Dominick, preciso...
— Mas se você falar comigo, as coisas poderiam melhorar.
— Melhorar como, Gonzales?
— Não me chame assim, porra, Maks, eu só quero ser seu confidente! — As palavras sem irritadas e quase chorosas.
São o estopim:
— Confidente? Confidente? Caralho, Allysson, mal, mal somos amigos.
E são essas palavras. As que marcam a divisa entre o antes e o depois. Entre a fúria e a razão. Entre nossa amizade e o momento em que vejo seu coração partir e, dessa vez, não é por conta de suas péssimas decisões.
É por ele ser invasivo, mas principalmente, por minha incapacidade de conseguir descer uma muralha, por mais que, ao ver seus olhos cheios de lágrima, meu coração murche, fazendo toda fúria perder o sentido.
— Entendi.
Sua voz sai como um murmúrio ferido, antes dele partir e eu o deixo ir, porque não consigo ter a força necessária para deixa-lo ficar.
Não demora muito para eu me arrepender.
Segundos, para ser exato, mas nem tenho tempo de ir atrás dele quando meu celular brilha novamente, a terceira mensagem do dia, o terceiro impacto forte:
A imagem degradante de Allysson sendo manejado pornograficamente por três indivíduos. O significado das palavras de Dominick e o redirecionamento de toda minha raiva para um único momento e para um alguém específico:
O detentor destas imagens.
E os indivíduos das fotos que, se não me falha a memória, e nunca falha, foram os responsáveis pelo hematoma visível no seu pescoço semanas atrás.
Mais uma vez, mais uma ligação, no terceiro toque sou atendido.
— Tio, ...., sim Arthur está bem.... não, não foi incômodo algum ajuda-lo... sim, passo aí para te ver depois... preciso de um favor seu e é extremamente urgente...
Porque não importa quem seja ou se estava consciente ou não de seus atos, irão pagar por isso.
✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨✨
E mais uma vez, Maksin fez merda. Ok, mas essas todos já esperavam, certo? 🤭 Ou não teriámos a cena do prológo que, nem preciso dizer, está mais perto do que você imaginam.
Desculpem a demora (e os erros ortográficos). Foi a união de faculdade, concurso e bloqueio criativo 😬. Mas tive a inspiração perfeita para finalizar este capítulo e iniciar o próximo.
Espero que tenham gostado dele... o que vocês acharam das razões de Dominick para ser um cuzão?
E bem terá o livro dele, se um dia lerem entenderão melhor. (P.S: Ele será um bundão lá também kkkkkkkkk).
Por falar em livros, eu estava mexendo no canva e vi uma ferramenta bem legal de criar personagens (mexi no Bing, mas esse fica para a próxima) então pensei em colocar aqui, de vez em quando, personagens gerados que me lembram Maksin, Allysson e o restante.
MAKSIN
ALLYSSON
Tem mais duas versões deles que eu gostei, mas... ficará para a próxima. Até breve (eu espero) kkkkkk 🥰
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