Um dia

"Tudo acontece no seu tempo. Tudo acontece, exatamente, quando deve acontecer."

Pov Katherine

Éramos como personagens Shakespearianos, em um intenso espetáculo de amor e ódio, atuando em sua cena favorita, mas alguém chegou, alterou o roteiro. Ele gostou e foi atuar com ela.

Uma semana já se passou desde nossa briga, não o vi mais, Olivia resolveu grava as cenas com figurantes e me deu folga a semana inteira. Eu sei que foi por causa de tudo que aconteceu, ela sabe que era tudo mentira, mas também sabe o quanto nós apegamos esses últimos dias e o quanto me machucou. Ele estava com ela momentos antes de me levar para viagem dos meus sonhos e estragar tudo, momentos depois.

Mas hoje tenho que enfrentar o mundo, vou ter aula pela manhã e à tarde tenho gravação. Já estamos na reta final, passou tão rápido, parece que foi ontem que fizemos os testes.

Levanto cedo, coloco o café na cafeteira e faço alguns ovos e torradas para Lizzie. Tomo um banho rápido e me arrumo, tenho que correr para aula, estou com várias matérias atrasadas.

Dylan manda uma mensagem avisando que já está nos esperando. Ele costuma dar carona para Lizzie e eu. Antes eu não ligava de pegar ônibus para faculdade, evitaria ele atravessar a cidade todos os dias enfrentando o trânsito insuportável de Nova Iorque para me buscar. Mas agora é impossível até de andar na rua sem ser parada várias vezes, eu ainda não conseguir me acostumar com isso, então é melhor ir com ele.

O caminho foi um tremendo silêncio, nenhum dos três são muito matinais, então coloco meu fone de ouvido e vou escutando as músicas da Olivia Rodrigo. Quando começa a tocar Drivers License  meus pensamentos voltam ao Jason. Cantarolo baixinho o último refrão no qual fala, eu sei que não éramos perfeitos, mas nunca me senti assim por ninguém. 

A música termina e enxugo uma lágrima que insiste em cair em meu rosto. Foi burrice minha achar que não iria me apaixonar, ou que, no fundo, ele iria perceber que ela não presta e iria ficar comigo?

Sim, claro que foi. Ele sempre foi cego por ela e era óbvio que ele nunca iria mudar de ideia, agora tenho que imaginar ele feliz, com ela, ou sendo um idiota iludido, porque tenho certeza que ela nunca o amou.

O caminho do estacionamento até minha sala de aula foi torturante, todos olhando para mim, rindo e me filmando achando que eu não estava vendo. Logo eu que amava ser a invisível, agora sou o centro das atenções na faculdade.

— Não ligue para eles, estão com inveja de você — sorrio para o meu melhor amigo. Agarro seu braço e deito minha cabeça em seu ombro — amo você.

— Amo você.

A aula passou mais rápido do que eu queria. Agora tenho gravação de uma linda cena romântica com o cara que quebrou meu coração. Eu sei, é exagero, eu nem gosto dele tanto assim, só estou chateada.

Hoje o Dylan vai ter uma cena de figurante, de tanto que ele frequenta o estúdio me acompanhando, a Olivia colocou ele no meio e hoje ele vai ter uma fala.

Quando chego vou direto para meu camarim, comprimento as meninas e elas começam a me produzir. A cena que vamos gravar agora, vai ser em uma festa, então tem uma produção maior, já que a maioria das outras cenas ela está com roupa social e uma maquiagem básica.

— Kat, Jason, você — ela aponta para o Dylan — vamos gravar agora a cena da festa de casamento, estão com os textos decorados? — Eles assentem — tudo bem? — Ela pergunta a mim e apenas confirmo.

— Todos em posição — o diretor manda.

A cena é na festa de casamento do meu irmão, na qual vou beijar um cara, que vai ser interpretado pelo Dylan e o personagem do Jason vai ver e vai causar uma confusão. Vamos até o painel onde vai ser gravado, é literalmente um grande pano verde e depois é onde a magia acontece, com a edição. Confesso que sempre achei um máximo o que as pessoas conseguem fazer com um computador, mas eu nunca conseguir aprender.

— Gravando — Olivia grita e começamos.

— Vemos dançar — seguro na mão do Dylan e começamos a dançar no meio dos outros figurantes — preciso me divertir — olho para o Jason.

— Você não estar se divertindo, estar provocando aquele cara babaca e tem jeito melhor para isso e sou voluntario para ajudar — volto a olhar para ele.

Tipo o quê? — Pergunto

— Assim — ele me puxa para um beijo e como no roteiro mostro que estou surpresa no começo, mas logo retribuo o beijo. Eu amei quando a Olivia escalou o Dylan para isso, já é desconfortável suficiente beijar ele na frente de todo mundo, imagine um desconhecido.

Agora é a hora que o Jason vai me puxar e dá um soco no Dylan, mas ele acabar exagerando na atuação. Ele me puxa com força e dá um soco de verdade no Dylan, ao ponto de sair sangue.

— Solta minha mulher, seu imbecil — Jason grita indo para cima dele.

— Para — eu grito tentando tirar ele de cima do meu amigo — o que você está fazendo — grito e ninguém percebe que eles estão brigando de verdade — alguém me ajuda — começo a chorar e só então eles percebem que não é encenação e vão me ajudar — seu idiota, olha o que você fez — Jason me olha com raiva e deixa o estúdio limpando suas mãos na roupa. 

Olho para Olivia, que está nos olhando sem reação. Ela aponta para sua sala, mandando eu entrar. Sento em uma das cadeiras enquanto ela chama o Jason. Não acredito que ele vai fazer eu perder meu emprego novamente.

— Você é um idiota — grito assim que ele entra na sala — se você bater no meu melhor amigo de novo, eu arrebento essa sua cara feia, seu caipira desgraçado — eu deveria ficar calada e tentar melhorar a situação, mas é algo impossível perto dele.  

— Vai lá, defende seu namoradinho mesmo, ele é louco por você, só você não ver.

— Não interessa, que eu saiba sou solteira, posso ficar com quem eu quiser, foi isso que você me disse quando eu descobrir que você estava com aquela nojenta, ou estou errada? — exclamo irritada.

— Então fique, eu não estou nem aí para você — ele grita.

— EU TE ODEIO — tento ir para cima dele, mas a Olivia não deixa.

— PARA, OS DOIS, QUE SACO, VOCÊ, SENTA, AGORA — obedeço ela, apesar de tudo ela ainda é nossa chefe e a ultima coisa que estamos sendo ultimamente, é profissionais — eu já cansei dos dois, vocês são duas crianças, ou adultos responsáveis? Eu vou dá um dia para os dois se resolverem, ou eu juro que demito os dois, nem que eu tenha que grava a droga desse filme todo novamente, mas eu coloco os dois na rua.

— A culpa é desse caipira.

— Katherine, eu vou dá um dia para vocês resolverem se vão querer continuar trabalhando comigo, ou o único lugar que vocês vão conseguir emprego como atores novamente é sendo palhaços em festinha de criança — ela fala sério, fazendo eu e o Jason olhar um para o outro — vão para casa agora e só precisam voltar aqui amanhã se forem para ser profissionais, caso não, podem ir direto assinar a demissão de vocês, eu amo os dois, mas eu não vou admitir violência no meu set de filmagens.

Ela senta na sua cadeira atrás da mesa e ele sai me olhando ainda irritado.

— Oli, me desculpa. Não queria causar toda essa confusão para você.

— Você sabe o quanto eu lutei para chegar até aqui? O quanto eu bato de frente para colocar você como protagonista desse filme, por favor, não faz eu me arrepender.

— Muito — baixo a cabeça envergonhada. Você não é assim Katherine, porque está fazendo isso, você não precisa, nunca precisou — eu sinto muito o trabalho que estou dando, eu não sei porque de tudo isso, eu simplesmente não consigo.

— Vamos — ela levanta e pega sua bolsa — vamos fazer uma festa do pijama — ela segura no meu braço e sai me puxando. Vamos até o estudio — estão todos liberados, descansem porque amanhã vamos passar o dia gravando.

Ela não vai mais me demitir?

— Para onde vamos?

— Sua casa, meu apartamento está em reforma, odeio barulho — minha chefe, rica, indo para meu apartamento no Brooklin, ok. — Você precisa comprar um carro — acho que ela pirou, certeza.

— Não vou comprar um carro, agora vamos embora, já estou ficando com medo de você. Do nada enlouquece.

Pedimos uma pizza e passamos a noite conversando no meu sofá e assistindo filmes com homens gatos, estamos as três sofrendo por caras, ou melhor, eu e a Oli, a Lizzie está dando apoio moral.

Acordo com alguém batendo na porta, olho no relógio e percebo que é bem tarde para alguém está batendo na porta. Levanto sem fazer muito barulho, me aproximo do olho magico para ver quem é o louco que está nessa hora batendo na minha porta.

— O que você quer, caipira. Vá embora, estar tarde — digo baixinho para não acordar as meninas.

— Abre a porta, quero falar com você — ele insiste, que droga de condomínio sem porteiro.

— Não, amanhã a gente conversa.

— Não vou embora enquanto não falar com você — resolvo abrir a porta antes que acabe acordando todo mundo. — Por favor, precisamos conversar, não podemos permanecer assim — assinto e mando ele entrar, como as meninas estão dormindo no sofá, mando ele ir para varanda do prédio. Sento na escada que dá acesso ao apartamento de cima e ele na poltrona bem na minha frente — eu gosto daqui, não tem uma vista bonita, nem nada, mas a calmaria é relaxante, diferente do meu, que é uma zona de carros passando.

— É sem dúvidas meu lugar favorito, costumava vir aqui para pensar, escrever.

— Porque não vem mais? — Hoje eu não estou afim de mentir, brigar, só quero ser sincera e acabar logo com isso.

— Você — ele me olha — quando me beijou após recita uma linda cena de amor, e depois tivemos uma noite perfeita, por algum momento, acho que queria que fosse verdade — penso um pouco se realmente deveria terminar de falar, mas já comecei, então... — Naquele dia eu acho que me apaixonei e sempre que venho aqui, lembro de você, ou pelo menos daquele dia, do cara perfeito que narrou o sonho de qualquer garota.

— Desculpa ter estragado seu lugar favorito, mas eu não me arrependo de ter criado nosso melhor momento aqui, nunca esquecerei daqueles idiotas saindo de um bar, na verdade, um dia tenho que agradecer eles, por ter feito eu criar coragem de te beijar — sorrio de lado — naquele dia, você estava tão linda, você não tem ideia — ele levanta e senta na escada, ficamos um de frente para o outro — tão simples, meiga, você estava feliz, eu amo quando você está feliz, de verdade.

— É bom saber que não foi importante só pra mim, me faz me sentir menos burra.

— Você não é, pelo contrário, nunca conheci ninguém como você, talentosa, dedicada, corajosa, você é tudo de bom — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha — Katherine, temos que parar com isso, não está fazendo bem a nenhum dos dois.

— E nem a quem está por perto, estamos prejudicando nossos amigos, trabalho, por causa das nossas brigas.

— Falta pouco, algumas semanas e acabamos as gravações.

— Passou tão rápido, parece que foi ontem que você mentiu para a diretora da Lizzie e hoje já estamos quase terminando as gravações.

— Quero propor um acordo — respiro fundo me preparando para o que ele vai dizer — quero uma trégua na nossa guerra, eu errei demais com você, peço desculpas por ter te jogado nessa furada e ainda feito todos rirem de você, agradecer também por não ter falado toda a verdade para as pessoas. Quando acabar as gravações vamos sair em turnê para divulgação do filme e depois disso, não precisamos mais se ver, só precisamos aguentar mais algumas semanas e tudo acaba, nossas brigas, aborrecimentos, a gente — sinto um nó se formando em minha garganta.

Sei que é o certo a se fazer, mas porque dói tanto?

— É eu posso fazer isso, vamos evitar se encontrar fora do trabalho e tudo vai ficar bem.

— Então certo, temos um acordo, não vamos mais se ver — assinto tentando segurar minhas lágrimas — eu não sei como vou ficar longe, apesar de você ser insuportável, eu gosto da sua companhia — sorrio e a tentativa de não chorar, não conseguir, mas dessa vez pelo menos não estou com raiva, só é tristeza por perder a pessoa que eu mais odeio na vida, isso não deveria ser ruim, eu deveria estar feliz e porque não estou?

— Adeus caipira, nós vemos no trabalho, só no trabalho.

— Foi um prazer ser seu namorado — nos abraçamos por um bom tempo. Não sabia que ia ser tão difícil me despedir dele, mesmo sabendo que vamos se ver diariamente, mas não vai ser a mesma coisa.

Ele levanta e vai embora, volto para escada e começo e choro mais ainda. Minha irmã aparece na porta e me abraça quando me ver chorando.

— Vocês adultos são tão complicados e você nem é tão adulta ainda. Eu e minhas amigas são muito mais inteligentes, quando queremos ficar com alguém, falamos, vocês ficam brigando, eu não entendo — sorrio, queria que minha preocupação fosse com qual carinha iria beijar depois da aula.

— Vai dormir, amanhã você tem aula, eu estou bem.

— Você gosta dele, não é?

— Está tão na cara assim? — Ela assente — mas ele ama outra, então o melhor a se fazer é ficar o mais longe possível. Agora vamos dormir, amanhã é um novo dia. Volto para minha cama e tento dormir.










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