Capítulo 4 - Fale mais sobre você
Nathanael já me conhecia havia duas semanas. Ficáramos alguns dias sem fazer nada, porque tínhamos projetos próprios – e porque ele saía com os amigos pelo menos duas vezes na semana –, mas dávamos um jeito de evoluir as coisas, mesmo que fosse pelo WhatsApp ou o Discord. Dependia do que ele estava fazendo enquanto falava comigo. Havíamos avançado até que bem no enredo, mas ainda não tínhamos pensado em cenas, propriamente. Alguns dias ele foi até minha casa, o que proporcionou alguns momentos inesperados.
— Eu ainda não acredito que estou almoçando com o Celebrity! — Minha irmã suspirou e pegou o celular. — Posso mandar uma foto para os meus amigos? Eles estão achando que é mentira, mesmo tendo visto a Camille no seu Instagram várias vezes.
— Calma aí... — Ele levantou, fazendo-me franzir o cenho, então contornou a mesa e colocou os braços sobre meus ombros. Eu me senti bem. — Vai, pode tirar.
— Faz careta também, Camille! — Maíra, minha irmã, resmungou. — O pessoal tem que acreditar depois disso!
— Vocês formam um casal bonito.
— Mãe!
— Obrigado. — A voz de Nathanael estava calma, como se ele não tivesse se aborrecido com o comentário. Bem oposto a todos os outros caras que passaram pela minha vida. O que havia de tão diferente nele?
Nathanael e eu não conversávamos muito sobre coisas pessoais, então momentos como aquele eram raros. Entretanto, eu sentia que era mais fácil trabalhar com ele assim. Eu o conhecia como ídolo e sabia que ele não esconderia caso odiasse meu verdadeiro eu. E não queria ser odiada por quem estava trabalhando comigo. Por isso apenas preferia manter as coisas no âmbito profissional.
Isso até receber uma mensagem muito estranha, dizendo que precisávamos nos encontrar urgentemente. E, logo em seguida, uma ligação.
— Alô?
— Mille, tem como você vir aqui?
— Agora?
— Agora.
— Eu... — A desculpa que estava na ponta da minha língua teve que morrer. Se fosse sobre o roteiro, eu precisava ir. — Não tem como você me buscar? É mais rápido do que quando vou de ônibus.
— Já estou saindo de casa! — O barulho de chaves batendo ao fundo provava que ele estava falando a verdade.
— É tão urgente assim?
— Você não faz ideia — ele sussurrou.
Então desligou. Eu estranhei, mas não tinha muito a dizer. Ele era meu chefe, afinal de contas. Já tínhamos assinado o contrato oficial, com dois advogados, um para ele e um para mim. Meus direitos estavam garantidos, assim como os dele. Eu tinha que dar graças a Deus por não ser apenas uma ghost writer, que escreveria às escondidas. Ter a garantia de créditos já era muito bom. Muitos escritores nem sequer podiam contar com isso.
Arrumei minha mochila e avisei minha mãe. Não demorou muito para Nathanael chegar e fiz brincadeira com a pressa.
— Veio voando? — Sentei-me e coloquei o cinto.
— Você sabe que sou ansioso.
— E qual a urgência?
— Nós precisamos conversar, Camille.
Ah, não! Aquela frase era horrível! E ele me chamou de Camille, então talvez estivesse bravo comigo. Ok. O que eu fiz? Ou melhor, será que tinha feito algo? Ou ele estava irritado sem motivo algum? Será que não estava satisfeito com meu trabalho? Será que estava bravo porque não começáramos o roteiro? Não era muito bom dizer uma frase como aquela para uma pessoa ansiosa. Nathanael deveria saber disso, sendo uma. As minhocas carregando pensamentos ruins não me deixavam em paz. Ah, Deus...
Ficamos em silêncio até chegar em seu apartamento. Entramos no escritório e sentamos em nossas cadeiras habituais, encarando-nos.
— Algum problema?
— Temos um grande problema.
— Qual? — Mantenha a calma, Camille.
— Eu não tenho como trabalhar com você do jeito que estamos.
— O quê? Como assim? — Eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer. Será que ele ia me demitir?
— Nós não nos conhecemos, Mille. Não dá para continuar assim, pois não sei nem se você é a favor ou contra o que estamos fazendo.
— Ah... — Ufa! — Não é difícil de resolver isso, certo?
— Bem, depende de como você está disposta a se apresentar.
— Não tenho nada a esconder.
— Posso fazer as perguntas mais imbecis que existem?
— Só se você me responder as mesmas coisas.
— Podemos alternar quem faz perguntas.
— Ok.
— Posso começar? — Nathanael não deixou de me encarar. Fiz que sim com a cabeça e ele sorriu. — Quantos anos você tem?
— Que pergunta péssima! — Eu ri, mas entendi o que ele estava fazendo. Ele nunca me perguntara isso, apesar de já ter lido em algum lugar na internet. Nathanael estava me conhecendo desde o começo, como se nunca tivéssemos nos visto. — Vinte.
— Eu tenho vinte e um — ele disse o que eu já sabia. — Posso fazer mais uma? — Ele continuou quando eu anuí. — Você não tem nenhum namorado que se irrite com nosso trabalho, né?
— Não. Você?
— Não, nem namorada — brincou, fazendo-me sorrir.
— É uma boa informação. — Uma pergunta passou pela minha cabeça, como um cometa, e decidi verbalizá-la antes que perdesse a coragem. — Quais as coisas que mais te fazem feliz?
— Uau, que pergunta difícil. — Ele piscou, então girou na cadeira de rodinhas e voltou a me encarar. — Calma. — Pensou, como se tivesse dificuldade em encontrar uma resposta. — Acho que minha família, YouTube e Twitch e... amigos e Garfield. — Piscou novamente. — Nossa, eu realmente não sei se essa foi a melhor resposta. Você sabe a sua? Digo, usando as primeiras coisas que passarem na sua cabeça?
— As primeiras coisas que passarem na minha cabeça? — Fiz careta. Nunca é recomendado dizer a primeira coisa que vem à sua cabeça. — Ok. — Fechei os olhos e deixei meu coração guiar minha boca. — Minha família, animais, amigos, meus leitores... sorvete, batata, brócolis, livros, jogos... água potável... — Então abri os olhos e me arrependi do que estava dizendo. Nathanael estava boquiaberto. Ele soltou um palavrão, demonstrando admiração por algo. — O que foi?
— Você é feliz com tanta coisa simples.
— O que tem isso?
— Ninguém mais é feliz com a simplicidade.
— As pessoas deveriam ser — murmurei, envergonhada. Ninguém nunca vira nada de mais nisso.
— Gostamos de várias coisas iguais, como animais, por exemplo.
— Falando nisso, qual o seu favorito? De todos os existentes.
— Essa é fácil! — Ele sorriu, unindo os dedos indicadores. — Suricato.
— O quê? — Arregalei os olhos, pega de surpresa.
— Melhores animais! Sempre ficam fofos, não importa o que fazem. — Então ele correu para o computador e começou a me mostrar fotos dos bichos. — Olha isso! — ele fez uma voz absurdamente doce, quase gritando. — Suricato olhando pra você... Suricato tímido... Aliás, eles parecem sempre tímidos.
— Eu ia responder cachorro! Você acabou comigo!
— É isso que dá ser clichê — provocou, me dando uma cotovelada de leve. Mas ele é um pé no saco, não é mesmo? Por que gosto dele? — Mano, olha isso! Olha como são fofos esses filhos da...
— Eu tenho essa mesma reação com cachorros.
— Você gosta de filmes de terror?
— Honestamente? — Eu podia ver que ele estava ansioso pela resposta, por motivos óbvios, então suspirei. — Não, mas adoro suspenses.
— Você considera minha história como...?
— Suspense. — Não precisei sequer hesitar.
— E o que você mais gosta de ler ou assistir?
— Romance.
— E o que mais gosta de escrever?
— Romance.
— Você é romântica então?
— Você não? — Tentei desviar da pergunta.
— Nunca pensei nisso. Talvez apenas não tenha encontrado meu lado romântico.
— Você não podia estar mais de acordo com o que acredito. — Não consegui conter um sorriso.
— Como assim?
— Acho que todos temos um lado romântico, apenas precisamos descobri-lo.
— Faz sentido. — Ele colocou o dedo sobre a bochecha. — De quais músicas gosta?
Caramba! Qual a linha de raciocínio dele?
— Não do rap que você gosta.
— Mas eu gosto de indie também!
— Então temos isso em comum. — Sorri. — Gosto bastante de pop também e um pouco de rock... No geral, em inglês.
— Queen ou Beatles?
— Queen. E você?
— Também. — Ele sorriu, parecendo satisfeito. — O que você escutava quando criança? Nacional?
— Como presume que eu ouvia músicas nacionais? Acabei de dizer que eu mal ouço nacionais.
— Não tem muito como ter vivido nesse país sem ouvir algo nosso na infância. Vai, fala.
— Você vai me julgar?
— Eu vou te testar depois. Apenas diga.
— Sandy e Junior, KLB e Rouge, mas não ouço há uns dez anos.
— Você acha que lembra alguma?
— KLB provavelmente não, mas te garanto que o resto sim.
— Duvido! — E ele começou a digitar. — Fecha os olhos.
— Vai me testar como te testei?
— Sim. Quero ver se sabe cantar.
— Ok. — Fechei meus olhos e aguardei. Uma melodia muito escutada em minha infância começou. Vários segundos dela, aliás. E eu sorri ao reconhecer imediatamente e me lembrar da letra. — A noite cai, o frio desce, mas aqui dentro predomina esse amor que me aquece, protege da solidão — cantei os primeiros versos de As quatro estações de Sandy e Junior.
— É sério isso?
Abri os olhos para ver Nathanael rindo.
— Como você consegue lembrar? Disse que não escuta há dez anos!
— Eu tenho uma boa memória... e essas músicas me marcaram. — Entortei a boca e continuei balbuciando a letra. — Passa o inverno, chega o verão. O calor aquece minha emoção, não pelo clima da estação, mas pelo fogo dessa paixão. — Ok, aquela não era a melhor música para cantar na frente de Nathanael.
— Acabo de descobrir que você tem jeito para cantar, apesar de não ser como as cantoras que vemos por aí.
— Eu gosto de cantar, me deixa feliz.
— Você faz muito isso?
— Só quando estou sozinha. Você é o primeiro cara a me ver cantando.
— Interessante.
— Outono é sempre igual, as folhas caem no quintal. Só não cai o meu amor, pois não tem jeito, é imortal...
— Eu posso testar outra música?
— Vá em frente. — Fechei os olhos novamente e a melodia de A lenda começou. Eu já sabia de cor que a letra só começava mais de vinte segundos depois. — Bem lá no céu, uma lua existe, vivendo só no seu mundo triste... — Puxei uma respiração rápida. — O seu olhar, sobre a Terra lançou e veio procurando por amor.
— Mille?
— Sim?
— Então o mar, frio e sem carinho, também cansou de ficar sozinho. Sentiu na pele aquele brilho tocar e pela lua foi se apaixonar. — A voz levemente desafinada de Nathanael me fez sorrir.
— Você conhece!
— Nós vivemos na mesma época, Mille. As músicas que passavam no rádio eram as mesmas.
— Mas você sabe a letra!
— Confesso que eu gostava dessa música. — Ele sorriu para mim, levantando seu dedo indicador. Estava me alertando que o melhor momento ia começar.
— Se a lenda dessa paixão faz sorrir ou faz chorar, o coração é quem sabe. Se a lua toca no mar, ela pode nos tocar, pra dizer que o amor não se acabe. — E a junção de nossas vozes, gritando o refrão, apenas mostrou como aquele momento era precioso.
— Essa música tem uma magia, não é possível!
— Como assim?
— Você não sente vontade de gritar no refrão, Nathanael? Essa parte que eles estão cantando acaba comigo.
— Olha esse solo de guitarra!
— Olha esse violino! — E gritamos o refrão novamente. Cantamos a música até o fim, parecendo um dueto muito desafinado e, ao mesmo tempo, extremamente feliz.
— Eu nunca pensei que fosse cantar essa música na frente de uma garota.
— Eu nunca pensei que escutaria essa música de novo.
— Você sabe outras? — Ele parecia animado. O que estaria se passando pela sua cabeça?
— Tem as músicas que são versões de outras.
— Como assim?
— Calma. — Empurrei sua cadeira com rodinhas para o lado, substituindo-a pela minha. Então coloquei No fundo do coração em seu computador, deixando a música até o refrão. — Prestou atenção na melodia e no jeito que eles cantam os versos? — Ele balançou a cabeça e eu pausei a música, colocando Truly Madly Deeply do Savage Garden. — Veja como é a mesma melodia, apenas um pouco mais lenta.
— A versão de Sandy e Junior é mais animada — ele pontuou após ouvir uma boa parcela da segunda música. — O refrão é igual, no jeito de cantar os versos.
— Exatamente! Mesmo sendo línguas diferentes. — Sorri, pausando a música. — Agora presta atenção nessa aqui. — Coloquei Olha o que o amor me faz, deixando a música evoluir até o primeiro refrão acabar. Então troquei para All By Myself, de Eric Carmen, deixando-a no momento certo para relacionar com a outra música.
— A melodia é a mesma! Com poucas modificações.
— Sim! Eles até deixavam isso bem claro. — Pausei a música ao me lembrar de outra. — Mas nenhuma é mais fiel do que essa aqui... — Um anjo, do KLB, começou a tocar. Depois Angels, do Robbie Williams, tomou lugar.
— Você sabia dessas coisas quando era criança?
— Essa do KLB eu só soube na adolescência. Pior que tocava muito nas rádios e eu nunca imaginei que fosse uma versão.
— Agora eu posso te testar de outro jeito?
— Espero que eu não falhe — brinquei, vendo-o digitar Ragatanga. — Está falando sério?
— As pessoas dizem que ninguém normal sabe dançar isso.
— Bem... — Esperei o refrão chegar e me levantei, provando mais uma vez como eu não era normal. Eu sempre soubera a coreografia de trás para frente. Em todas as festas, eu arrasava dançando enquanto as outras pessoas tentavam imitar.
— Como você sabe isso? — Os olhos azuis dele estavam arregalados, tamanha era a sua surpresa.
— Eu tinha uma banda cover de brincadeira com a minha irmã. Nós sabíamos todas as músicas e dançávamos na sala de casa.
— Eu queria muito ter visto isso! — Ele deu risada, provavelmente imaginando a Mille de seis anos fingindo ser uma integrante do Rouge.
— Quer tentar?
— O quê?
— Imitar.
— Vai ser um desastre, mas não quero te deixar sozinha. — Então ele esticou seu braço direito, junto com o meu, acompanhando toda a movimentação de braços e pernas. — Como você rebola tanto assim ao mexer os braços?
— Elas rebolam a dança toda, então eu não sei não rebolar.
— Você sabe tudo?
— Coloca desde o começo para você ver! — Pisquei um dos olhos para ele, tentando parecer engraçada. Ele não esperou nada, e eu dancei a música inteira, só percebendo perto do final como isso me cansava agora. Parece que não tenho mais o mesmo pique de antes. Cheguei ofegante ao fim da música.
— Você não é nada normal! — Nathanael fechou a janela da internet e levantou da cadeira novamente, mostrando que dizia isso como um elogio.
— Obrigada. — Respirei fundo, tentando não morrer por falta de ar.
— Vamos para a sala, para descansar um pouco. — E começou a andar, sendo seguido de perto por mim.
— Deus! — Joguei-me no sofá, observando-o fazer o mesmo, bem ao meu lado. — Cansa mostrar a você meu verdadeiro eu — brinquei, esperando que ele tivesse gostado do nosso momento mais íntimo. Até então...
— Eu fiquei bastante tempo pensando no roteiro, de manhã. E agora tentei dançar como um integrante do Rouge. — Olhou para o teto. — Estou exausto! — E, sem mais nem menos, Nathanael deitou em meu colo. Prendi a respiração só por um instante. Por algum motivo, não era estranho, mesmo que ele nunca tivesse agido assim antes. Aliás, mesmo que ninguém tivesse agido assim antes. — Podemos ficar um pouco parados antes de começarmos a trabalhar? Estou cansado. — O volume de sua voz estava tão baixo que tive que inclinar minha cabeça para ouvir.
— Claro. — Usei o mesmo tom. — Você vai fazer live hoje?
— Não, eu quero focar no que estamos fazendo. — Ele sorriu após sussurrar, dando um duplo sentido às palavras. Estava se referindo ao roteiro ou ao que estávamos fazendo naquele momento? Porque, se fosse a segunda opção, ele estaria definitivamente aberto a intimidades. Mas por quê?
— Você quer ligar a TV enquanto isso ou...?
— Não, eu estou bem só conversando.
— Fico feliz. — Sorri, porque eu também estava gostando.
— Mille, posso te dizer uma coisa? — ele perguntou, a voz cada vez mais baixa. Tive que me aproximar ainda mais.
— Sim. — Instantaneamente eu senti que algo havia mudado. Os olhos dele se conectaram aos meus, hipnotizando-me. Ele passou a língua pelos lábios e minha pulsação ficou fora de controle. Era óbvio que um clima acabara de nascer. E eu não era contra. Nathanael também não parecia ser. Ele ia me beijar?
— Uma das melhores coisas que fiz foi te contratar — murmurou, sorrindo logo em seguida. Então sua mão parou em minha bochecha. — Sinto que estou tendo uma evolução criativa muito forte com você.
— Fico feliz em ajudar. — Minha bochecha esquentou sob seu toque. Ele obviamente percebeu, mas não se afastou. Ele ia me beijar?
— Eu espero que esteja te ajudando da mesma forma. — Ele aproximou a cabeça da minha e acariciou minha bochecha. Ele ia me beijar?
— Você está. Criei várias cenas novas depois de algumas conversas com você.
— Acho que nos completamos de certa forma, Mille.
Senti sua respiração em meu pescoço e fiquei arrepiada. Nunca tinha acontecido isso comigo antes, nem junto com meu ex. Ele continuou:
— Não acha?
— Acho. — O que mais poderia dizer diante daquilo? Era óbvio que eu concordava e que não me sentia estranha com a situação. Aliás, não me preocupava se evoluísse. Sentimentos não atrapalhariam o processo, certo?
Certo.
Talvez não para Nathanael. Talvez, para ele, sentimentos pudessem atrapalhar tudo e, pela forma como agia e falava, parecia querer evitar. Eu só não saberia dizer se era apenas por causa do projeto ou se ele tinha algum trauma. De qualquer forma, estava cedo demais para ter uma resposta como essa.
Ele voltou a deitar no meu colo, logo iniciando um novo assunto. Eu até me envolvi na conversa, mas uma pergunta não deixou de martelar na minha cabeça.
Por que ele não me beijou?
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