Capítulo Único
Alê nunca foi religioso, nunca acreditou no sobrenatural, nem nada do tipo, porém ultimamente ele vinha pedindo com força que Deus o mandasse um namorado. Ele queria um homem que o abraçasse quando fizesse frio, ou quando ele estivesse carente – e ele sempre estava carente. Queria sentir a segurança de se sentir bem quisto e devolveria todos os sentimentos em dobro.
Ele é um rapazinho de 19 anos que se mudou de sua cidade natal para tentar uma vida melhor do quê a que tinha. Não que a vida no interior fosse ruim ou cheia de necessidades, mas ele queria também dar algo melhor para seus pais a quem tanto tinha gratidão. Para isso ele teve que deixa-los, ambos já de idade e de coração doce. Foi uma tristeza. Nesse dia chorou tanto que pensou que ia desidratar, mesmo sabendo que isso era impossível.
Ele era um rapaz esforçado e estudioso.
Na cidade grande ele passou a morar sozinho e esse era seu maior medo, foram longos meses até realmente se acostumar. De 15 em 15 dias ele tomava a estrada e ia visitar seus pais, que morriam de orgulho do seu menininho. Alê só era carente de colo, de ser cuidado e mimado, não que não fosse por seus pais, mas eram coisas bem distintas.
Alê nunca foi religioso, mas agora todas as noites rezava com força para Deus lhe mandar um homem que o abraçasse em noites frias e dissesse que o amava, e ele ia gemer baixinho e dizer que o amava também.
Ele não se achava bonito, longe disso, tinha sua auto-estima lá em baixo e se achava até feio; era baixinho e tinha ombros estreitos, os quadris eram mais largos e sua cintura era fina, achava seu corpo muito parecido com de uma menina, e odiava sua bunda que tinha algumas estrias. Se ele pudesse, arrancaria com faca essas malditas listras. Odiava também sua cor pálida, que muitos ostentam como sendo coisa de pessoas superiores, ele adoraria ter muito mais melanina, também não gostava de seus cabelos encaracolados, embora muitas pessoas dissessem que eram de anjo, só nãos os cortava porque sua mãe o proibira.
Alê se achava feio, e só precisava de alguém que lhe mostrasse que não era bem assim.
E de tanto rezar acho que Deus ouviu as preces daquele menininho carente e de bom coração.
— Droga de vida! Preciso de alguém que me espere em casa com um sorriso aberto todas as noites, eu preciso disso! — José se senta no pequeno sofá e esfrega os olhos com força, fica li por alguns minutos – talvez horas? –, respira fundo e vai para a pequena cozinha que tem apenas uma mesa de quatro lugares, um fogão e uma geladeira, e alguns armários para guardar as panelas que ainda paga as prestações. Tudo muito modesto, mas conquistado com muito esforço e suor.
No fogão ele coloca o feijão de ontem para esquentar enquanto faz um novo arroz, já que o de ontem estragou porque ele se esqueceu de colocar na geladeira, o bife recém temperado vai para a frigideira que já com óleo não demora muito pra ficar pronto, ele gosta da carne um pouco mal passada.
O jantar não tem tanto gosto quando se come sem companhia. Há tempos que José era sozinho, uma mulher aqui, outra ali, mas nada que durasse muito, ele nem mesmo queria mais esse tipo de encontro.
José tinha 33 anos, era pedreiro e atualmente trabalhava em um prédio que ficava próximo a uma universidade, era deveras um trabalho maçante e cansativo, mas ele já estava acostumado, trabalhava como pedreiro desde os 15 para ajudar nas despesas de casa.
Enfim terminado o jantar, ele lava tudo para não acumular para o outro dia e vai ler o livro que ele deixou pela metade na outra noite; José não concluiu os estudos, mas o que sabia era o suficiente para viajar no mundo dos livros.
José não era religioso, mas naquela noite antes de dormir ele pediu a Deus para que ele lhe mandasse companhia, alguém que o quisesse bem ao findar da tarde – e em todas as outras horas do dia –, alguém que o amasse, e ele iria retribuir.
José era um homem alto, de corpo grande e massivo, não musculoso, apenas grande; moreno de sol, cabelos sempre rentes, cortados a maquina um, tinha sorriso fácil de dentes inferiores tortos, e ostentava uma leve barriga das cervejas de final de semana que tomava com os amigos companheiros de labuta; não tinha nada de atraente a não ser o charme natural. José era o tipo de pessoa que quando se conversa, não quer mais parar.
E ele só queria alguém para amar e chamar de seu.
Todos os dias Alê acorda cedinho para tomar um banho daqueles para despertar por completo, ele lava os cabelos e massageia o couro cabeludo por alguns minutos, o que o relaxa e o deixa pronto para mais um dia de curso.
Ele arruma a bolsa e pega o jaleco branco, item essencial para um estudante da área, as 6:30 ele pega o ônibus que o deixa mais ou menos perto de onde estuda e o resto do percurso ele faz a pé.
Ele é o típico menino gay que não esconde quem é, seus próprios pais já sabiam qual sua sexualidade antes mesmo dele se descobrir, por isso foi muito fácil assumir que gostava de garotos, e não das garotas. Ele tem o jeitinho delicado que um menino hetero não tem, e apesar de sofrer preconceito por causa disto, não se reprimia, apenas era quem era.
Para chegar em sua universidade ele tinha que passar por uma obra que agora com dois andares, se podia ver os homens rústicos trabalhando arduamente. Eram homens assim que atraía o menino. Fortes, braçais e com cara e jeito de homem; até tentava namorar algum garoto da sua idade, mas a falta de virilidade lhe brochava.
Ele passava de cabeça baixa por vergonha de olhar aqueles homens tão viris, nossa, lhe dava um comichão dentro da cueca, até olhava disfarçado, mas encarar, ele jamais faria.
Nesse dia em especial um grupo desses homens fumava seu cigarro antes de iniciar o dia de trabalho, e ele precisava passar justamente por eles para poder seguir. Seu coração errou uma batida e ele sentiu que todo o seu sangue fugiu do seu rosto.
“Ai meu Deus, o que eu faço?”, mas não tinha nada a fazer, apenas seguir ou iria se atrasar, e seu professor não tolerava atrasos. Respirou fundo e foi.
Logo que o notaram começaram a se cutucar para mostrar a belezinha que vinha de encontro, homens do tipo mesmo sendo heteros convictos, nunca deixam escapar uma provocação do tipo, e Alê era o tipo certo para eles mexerem e se divertir.
— Oi, princesa. Não quer conhecer a minha obra? — o mais desinibido falou pegando no pacote que se formava entre suas calças. Alê olhou rapidamente e corou, não tinha como não corar. Os outros riram e puxaram provocações e o pobre garoto com o coração batendo na garganta, até que ouviu uma voz grossa, firme e controlada falando com os operários para deixarem daquilo.
Alê olhou para o homem que chegou para acabar a brincadeira e acenou minimamente com a cabeça para o grandão que tinha de alguma forma o “salvado”. O homem lhe sorriu em retribuição que logo foi interrompido pelos amigos de trabalho o chamando para começar a labutar.
O contato visual se quebrou e Alê seguiu rumo a faculdade com um sorriso bobo nos lábios. Do mesmo modo José trabalhou aquele dia, com um sorriso idiota nos lábios finos. Eles não sabiam, mas nascia ali o início de uma história de amor quase incontrolável.
— Bom dia, amor. Eu fiz café fresquinho, tô saindo pro meu curso, levanta senão você vai atrasar!
Alê tinha um jeito todo especial de acordar seu homem. Levantava e tomava um banho demorado, passava um café bem forte do jeito que seu companheiro gostava e colocava disposto sobre a mesa, pães e frios. Comia pouco porque não sentia fome pela manhã, embora José o obrigasse a comer algumas vezes.
— Dá um beijo no seu homem, pitoco. — José o puxa pelo braço e faz o menino, que agora tem 21 anos, cair sentado em seu colo. Ele beija a testa do garoto e logo depois a sua boca. Enquanto isso Alê lhe alisa o peitoral peludinho que ele tanto gosta em José.
— Ai, Zé... não faz assim que eu me atraso. — Alê rebola manhoso no colo do homem que sempre acorda "tarado" e José lhe aperta a cintura fazendo ele soltar um gritinho. Ele adora o jeito delicado do seu pequeno homem.
— Passo na faculdade pra almoçarmos juntos? — José pergunta afastando um fio de cabelo do garoto.
— Embora eu odeie andar naquela moto, eu faço esse sacrifício pra ter a companhia do meu homem. — ele beija mais uma vez o mais velho e se levanta soprando um beijo para ele.
— Te amo, Zé!
José também fala que o ama e o menor some pela porta do quarto que eles dividem.
Em uma oração silenciosa José agradece aos céus por terem o ouvido antes, e por colocar alguém tão querido em sua vida, de sobra ele ganhou uma nova família, a de seu esposinho. Embora a vida coloque dificuldades e alguns percalços no caminho, ele agradecia todos os dias, sem Alexandre ali com ele, viver não teria a menor graça, e ele sabia que Alê compartilhava desse sentimento.
FIM
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