Epílogo
É engraçado como nossa vida pode mudar. Na verdade, vivemos em constante mudança, algumas boas e outras nem tanto. Acho que o que realmente importa é conseguir lidar com elas da melhor maneira possível.
A minha era um exemplo claro disso. Depois de sair de um relacionamento abusivo, onde tinha chegado quase no fundo do poço, aqui estava eu, usando um lindo vestido branco e segurando o arranjo bem feito de rosas amarelas, isso enquanto esperava meu pai avisar que já era o momento.
Meu estomago estava meio revirado e dei graças a Deus por não ter comido nada durante a tarde. Olhei pela janela do quarto em que esperava e vi ao longe o sol começando a se por, formando um tom amarelo, quase puxando para o alaranjado.
Pensei nos últimos anos e no quanto a vida tinha me surpreendido. Mudar para Santa Catarina a quatro anos atrás foi uma das melhores coisas que já fiz. Outra delas foi ter tido coragem de tentar de novo. Me permitir.
— Terra chamando Ju. — Alguém chamou a atenção, estralando os dedos em frente aos meus olhos.
Pisquei algumas vezes focando-os novamente e encontrei o sorriso largo de Jess. Ela estava linda em seu vestido azul claro de madrinha. Óbvio que ela e Nat quem escolheram o modelito, já que alegaram que seriam elas quem o usariam e não queriam nada brega. Como se eu fosse escolher algo brega.
Tinha acabado de me formar em moda na faculdade. Depois de quatro anos de dedicação e estudo, finalmente me formei e agora tinha um lindo diploma pendurado na parede da sala do meu apartamento.
Outra mudança em minha vida. Agora tinha um apartamento só meu, na verdade, nosso. Meu e de Fábio. Depois de bastante tempo conversando, nós decidimos que iriamos morar juntos. Dar um passo a mais em nossa relação.
Desde o começo nós nos propomos a irmos aos poucos. Construindo nosso relacionamento tijolo por tijolo, com calma, e foi o que fizemos. Primeiro nos conhecemos de verdade, nossos gostos, preferencias e histórias de vida.
Acho que essa foi a parte mais difícil. Contar a Fábio sobre meu passado e tudo que aconteceu. Sobre Gabriel e como isso, por mais que não quisesse, ainda me deixava retraída quanto a entregar-me novamente. Mas ele pacientemente entendeu, ajudou e hoje posso dizer que estou completamente curada.
— Anaju! — Jess chamou segurando meu rosto com as duas mãos.
— Desculpe, — Segurei suas mãos e tirei do meu rosto, apertando-as gentilmente — Estou nervosa! — Admiti.
— Isso é totalmente compreensível. — Assegurou sorrindo — Você vai se casar!
— Eu vou casar! — Sussurrei mais para eu mesma.
— Você vai casar Ju! — Nat exclamou entrando no quarto.
Junto com ela estava Luiza, minha amiga e ex-colega de trabalho, além de Tauana, Marisa e Virginia, minhas amigas de ensino médio que me aceitaram de volta de braços abertos. Hoje tínhamos nosso 'Clube da Luluzinha' no WhatsApp, onde passávamos o dia falando várias besteiras e raramente algo sério e adulto.
— Ainda não acredito que não teve uma despedida de solteiro. — Marisa reclamou fazendo uma careta.
— Já estava sonhando com gogo boys... — Virginia comentou me fazendo dar risada.
Ter elas por perto me deixava feliz. De vez em quando saímos para algum barzinho, cinema ou restaurante japonês. Posso dizer que hoje eu não era mais sozinha.
— Onde está minha menina? — Meu pai questionou surgindo no quarto.
— Bem aqui! — Sorri indo até ele, que me olhou visivelmente emocionado.
— Você está... Linda. — Elogiou.
— Obrigada! — Agradeci segurando suas mãos.
Era muito grata aos meus pais. Principalmente por terem me apoiado em tudo, desde sempre.
Quando eles souberam de Fábio logo quiseram conhece-lo e como já era esperado gostaram muito dele. Nestes quatro anos nós passamos todos os natais juntos, na casa deles, com toda minha família, inclusive meus avôs que visivelmente o adotaram como neto.
— Está quase na hora. — Avisou beijando minha bochecha.
— Ok. — Concordei sorrindo, mas já sentindo meu coração dar uma pequena acelerada.
Isso era meio irracional, final vinha me preparando para esse dia a três meses. Três longos meses escolhendo vestido, lugar, convidados e tudo mais. Coisa da minha mãe, é óbvio, que fazia questão de um casamento grande para sua única filha. Enfim, era para já estar acostumada com a ideia, mas não estava e o buraco gelado no meio do meu estomago mostrava isso.
As meninas saíram do quarto desejando felicidades e dizendo que estariam esperando lá embaixo, já que todas eram minhas madrinhas. Sim. Não consegui escolher apenas uma ou duas, então resolvi chamar todas.
Meu pai ofereceu seu braço e agradeci o aceitando. Segurei a barra do vestido e então com calma nós saímos do quarto.
Tínhamos escolhido uma bonita casa de campo para realizamos a cerimônia. O gramado estava todo decorado com cadeiras brancas e no meio delas foi feito um corredor com uma espécie de tapete de flores, com pétalas de rosas brancas. Além disso um pequeno altar foi posto no final dele, dando-nos uma vista privilegiada do pôr do sol mais ao longe.
— Calma, vai dar tudo certo. — Meu pai sussurrou afagou minha mão que estava em seu braço.
— Eu sei... Obrigada! — Sorri agradecida — Por tudo, sempre.
— Só quero que seja feliz filha. — Confessou beijando minha bochecha carinhosamente.
Afaguei seu rosto e antes que conseguisse falar mais alguma coisa Jessica apareceu avisando que estava na hora. Finalmente. Respirei fundo e caminhei junto com meu pai e ela em direção ao jardim. Mary e Bruna, as duas priminhas de quatro anos de Fábio logo apareceram segurando a calda do meu vestido e sorri acenando a elas.
Quando estávamos quase chegando ao lugar da cerimônia ouvi o som dos violinos começando. Tínhamos contratado uma pequena orquestra, na verdade, dois violinistas, um acordeão e um flautista.
Respirei fundo mais uma vez quando chegamos no começo do tapete de flores. Olhei mais ao longe encontrando o pequeno altar de madeira e foi inevitável que um pequeno sorriso surgisse em meu rosto quando vi o homem parado na frente dele. Fábio.
Meu pai começou a andar e eu o acompanhei. Seguíamos com calma, acompanhando a melodia da música. O tempo parecia passar em câmera lenta, como nos filmes.
Quanto mais me aproximava, mais meu coração parecia bater forte e rápido no peito. Um pequeno calor se espalhando pelo meu corpo, mas não era algo ruim, pelo contrário, era uma sensação boa. Muito boa.
Quando enfim chegamos ao altar meu pai beijou minha testa e se entregou minha mão a Fábio.
— Cuide dela. — Pediu olhando-o com seriedade.
— Sempre. — Fábio prometeu agora me olhando.
Sorri apertando gentilmente sua mão. Meu pai assentiu concordando e então saiu, se juntando a minha mãe na primeira fileira de cadeiras. Olhei para ela que sorriu acenando discretamente e percebi seus olhos já marejados.
Nós nos viramos de frente para o padre que sorriu começando com suas tradicionais palavras. Senti o dedo de Fábio afagando a palma da minha mão e foi impossível não lembrar do dia em que ele me pediu em casamento.
*Lembrança*
Fábio segurava minha mão e a afagava com calma. Nós voltávamos do cinema onde tínhamos assistimos um filme de comédia que eu estava querendo a tempos. Olhei de canto para ele, que estava mais quieto do que o normal, na verdade, Fábio estava bem estranho hoje.
— Aconteceu alguma coisa? — Questionei sem conseguir me conter.
— Oi? — Sussurrou me olhou meio confuso.
— Você está um pouco estranho. — Comentei.
— Ah, não, eu... — Começou a falar, mas o bip do elevador nos avisou que havíamos chegado ao nosso andar.
Saímos do elevador e esperei Fábio tirar a chave do bolso da calça e depois abrir a porta do seu apartamento. Tirei minha sapatilha e sentei no sofá, cruzando as pernas.
Fábio seguiu direto a cozinha e encheu um copo com água, bebendo tudo de uma única vez. Dei uma risada baixa enquanto ele voltava, chamando sua atenção.
— Que foi? — Questionou franzindo a testa.
— Você.... Está estranho mesmo. — Comentei analisando-o melhor — Parece... Nervoso.
Fábio respirou fundo e me encarou sério. O que me preocupou um pouco. Será que tinha acontecido alguma coisa? Devagar ele se ajoelhou a minha frente e segurou minhas duas mãos.
— Era para ser mais romântico e bonito do que isso. — Murmurou olhando nossas mãos unidas.
— Do que está falado? — Franzi a testa confusa.
— Você sabe que é uma das melhores coisas que já me aconteceu, não é? — Perguntou, mas sem me dando tempo de responder — Que eu te amo, mesmo, e que quero muito ficar com você!
— Fábio... — Sussurrei, mas ele me interrompeu.
— Só não quero que se sinta pressionada a me dar uma resposta positiva, ou... — Respirou fundo e soltou uma das minhas mãos para pegar algo no bolso da sua calça — Anaju... Você aceita se casar comigo?
Vi então a pequena caixa preta de veludo em uma de suas mãos. Ela estava aberta e dentro havia um delicado anel, com uma pedra brilhante em cima, bem no meio.
Encarei o anel por alguns minutos e depois olhei para ele, que me observava com visível expectativa. Meu coração estava apertado e então sem dizer nada apenas me joguei encima dele, derrubando-o no tapete da sala. Enchi seu rosto de beijos enquanto Fábio dava uma risada alta entendendo claramente que aquilo era um sim.
*Fim da lembrança*
— E eu vos declaro, marido e mulher. — O padre declarou sorrindo — Pode beijar a noiva.
Virei de frente para Fabio, que sorriu soltando minha mão. Delicadamente ele segurou meu rosto e encostou nossos lábios por alguns segundos, me deixando sentir sua macies e calor.
Ouvi as palmas dos convidados e sorrindo nós nos viramos na direção deles. Meus pais estavam abraçando os de Fábio, e as meninas sorriam animadas enquanto batiam palmas. Virei o rosto olhando para o homem ao meu lado, sabendo que fiz a escolha certa.
Agora era só continuar seguindo em frente, sempre. Uma vez li certa frase em algum lugar e acho que se encaixa perfeitamente com agora: Se você deseja o bem, o bem te deseja também.
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