Capítulo 8
Meu coração estava acelerado enquanto olhava pela janela do táxi. Já era noite e as luzes dos bares e lojas do centro iluminavam quase todo o caminho, chamando a atenção. Pessoas riam e conversavam sentadas nas mesas da calçada, enquanto comiam e bebiam.
— Chegamos. — O motorista avisou e percebi que já estávamos parados.
Agradeci entregando o dinheiro e sai do carro encarando o bonito prédio logo a frente. Várias luzes estavam acessas e contei até o sexto andar vendo uma pequena iluminação em uma das janelas. É, ele estava em casa.
Segui até a entrada encontrando com o porteiro sentado atrás de uma pequena mesa. Ele levantou assim que me viu e veio em minha direção.
— Pois não? — Questionou sorrindo gentilmente.
— Oi, sou Anaju e gostaria de falar com o Fábio, do 602. — Avisei mordendo o lábio em sinal de nervosismo.
— Só um minuto. — Pediu e assenti concordando.
O porteiro se afastou indo até o interfone, discou nele e falou com alguém. Uns três minutos depois ele voltou com um pequeno e discreto sorriso.
— Pode subir. — Avisou abrindo a porta e indicando que eu entrasse no prédio.
— Obrigada. — Agradeci sorrindo.
Entrei no hall e segui direto ao elevador. Para minha sorte, ou não, ele já estava ali no térreo, então apenas apertei o botão do sexto andar e vi as portas se fecharem. Agora era questão de minutos até estar frente a frente com Fábio.
Sinceramente não sei o que diria, na verdade, não sabia nem o que estava fazendo ali, mas sabe quando você simplesmente sente a necessidade de fazer algo? Então, era isso que eu estava sentindo. Precisava ver Fábio, nem que fosse para dizer que o final nada agradável daquela noite não foi culpa dele e sim minha.
Ouvi o bip do elevador avisando que havia chegado e enfim as portas se abriram. Respirei fundo duas vezes e sai dele. Segurei a alça da bolsa de lado com mais força, como se aquilo fosse aliviar um pouco a pequena tensão que se concentrava no meu corpo.
Olhei pelo corredor reparando nos quadros pregados na parede branca e na pequena mesa com um vaso de flores roxas mais ao canto.
Foi quando o barulho de algo abrindo chamou a atenção e me virei vendo a porta de um dos apartamentos agora aberta. Senti um pequeno solavanco no coração quando a sua figura apareceu no meu campo de visão. Fábio me encarava com um misto de surpresa e incompreensão.
— Oi... — Sussurrei ainda parada no meio do corredor.
— Anaju. — Cumprimentou ainda me olhando daquele jeito.
— Espero não estar atrapalhando. — Me desculpei.
Afinal Fábio estava de mudança e devia ter muita coisa para fazer.
— Não, venha. — Chamou indicando que eu entrasse.
Caminhei devagar até seu apartamento e passei por ele, enfim entrando. Dei alguns passos para dentro e parei perto da sala.
O lugar era bem bonito. As paredes eram cor de gelo e os móveis em tons de branco misturados com a madeira escura, quase preta. Era chique e até bem arrumado para ser de um homem. Vi algumas caixas ao lado do sofá, mas pareciam ainda vazias.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou fazendo com que me virasse.
Fabio estava parado perto da porta com as mãos no bolso do moletom. Reparei que ele usava um conjunto de agasalho cinza escuro e estava de pés descalços. Natural e bonito.
Respirei fundo e encarei meus all stars por alguns minutos. Eu tinha vindo até aqui e não podia simplesmente deixar essa oportunidade passar.
— Na verdade sim, — Olhei novamente para ele — Ou não...
Fábio franziu a testa enquanto me olhava de um jeito que claramente podia ser interpretado como, "Você tem algum tipo de problema garota?".
Suspirei alto e dei um passo em sua direção. Não que mudasse alguma coisa, porque ainda estávamos a uma boa distância um do outro.
— Não aconteceu, mas devia ter acontecido. — Expliquei.
Vi a compreensão passar por seus olhos e ele assentir minimamente concordando. Tinha entendido que me referia a nossa noite e ao quase beijo.
— Não se preocupe com isso, eu disse que seria sem pressão. — Deu de ombros.
— E não teve. — Afirmei — Só me pegou desprevenida... Eu acho.
Fábio assentiu concordando e em saber muito bem o que fazer desviei os olhos novamente para meus tênis. Um silêncio meio constrangedor preencheu o ambiente, mas eu não sabia o que dizer, ou como dizer.
— Anaju. — Chamou fazendo com que o olhasse novamente — O que você quer?
Encarei profundamente seus olhos. Eu via uma pontada de esperança ali e imaginei se era a mesma que a minha. A esperança em um futuro feliz e juntos. Era isso que eu queria, um futuro junto com ele, queria me permitir isso.
— Quero não ter mais medo. Quero ser completamente feliz. Quero me permitir isso. — Confessei colocando para fora tudo o que estava sentindo.
Seus olhos se iluminaram um pouco e vi um minúsculo, quase imperceptível, sorriso surgir em seus lábios. Meu peito estava apertado e parecia que viraria pó a qualquer momento.
Fábio tirou as mãos do bolso do agasalho e andou devagar em minha direção. Imediatamente meu coração deu um solavanco e em seguida disparou consideravelmente.
— Então se permita. — Sussurrou parando a minha frente a menos de um palmo de distância — Não sei o que aconteceu com você, mas acredite quando digo que jamais vou machuca-la, não propositalmente.
Assenti concordando e engoli a saliva com certa dificuldade. Minha garganta estava fechada e meus olhos começavam a ficar meio úmidos, mas não queria chorar, não ali na sua frente.
— Se você quiser me contar o que aconteceu vou estar aqui, — Continuou calmamente com sua voz baixa — E se não quiser... Tudo bem, porque é uma escolha sua e eu respeitarei. — Afirmou pegando minha mão que estava parada ao lado do corpo e a apertando gentilmente.
— Só é complicado e doloroso... Ainda... — Sussurrei olhando para nossas mãos unidas — Eu achei que não, mas de certo modo ainda me afeta.
— Quando você estiver pronta. — Assegurou me tranquilizando — Vai ser tudo no seu tempo.
Olhei novamente para Fábio que tinha seu bonito sorriso de canto no rosto.
— Tem certeza disso? — Perguntei mordendo o lábio inferior.
— Tenho. — Garantiu — Vai valer apena. Eu sinto isso.
Assenti concordando enquanto chegava mais perto dele, agora com poucos centímetros nos separando. Já podia sentir o tecido do seu moletom roçando contra o do meu vestido e a pele do braço, aquecendo de alguma forma o meu coração.
Seu polegar acariciava a palma da minha mão, fazendo uma pequena onda de minúsculos choques subir pelo meu braço. Então devagar sua outra mão segurou um lado do meu rosto, entre minha bochecha e a parte detrás da orelha, fazendo com que eu levantasse um pouco mais o rosto e fatalmente nossos olhos se encontrassem
Sabe quando parece que uma cena acontece em câmera lenta? Era isso que estava acontecendo agora. Em câmera lenta vi seu rosto abaixar um pouco e chegar mais perto. Meus olhos foram se fechando conforme sentia sua proximidade e uma ânsia crescia em mim de um jeito que não conseguia controlar.
Então finalmente seus lábios encontraram com os meus. Delicados e calmos. Totalmente diferente do que já tinha experimentado antes e muito, mas muito, melhor do que sequer imaginei.
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