III

"Se tudo tem começo, meio e fim, o fim, enfim, é inevitável!"
JoeFather


No fim, não havia solução, acabei descobrindo...

Ao abrir meus olhos novamente, como num passe de mágica, fui sugado daquele ambiente onde me encontrava, num tipo de recordação do passado.

Me vi passando por um redemoinho de luz colorida e a minha alma retornou para a minha primeira cena e avistei meu corpo ainda imóvel na base da escada.

A primeira diferença que notei eram que dois homens em macacões azuis se debruçavam sobre mim.

Sem eu poder fazer nada para evitar, a minha alma começou a descer rapidamente e se encaixou no meu corpo, que passava por socorro.

Dizem que quando a gente nasce e damos o nosso primeiro suspiro, é como se buscássemos todo o ar que está a nossa volta e o aspirássemos com tudo, para encher o nosso corpo de vida.

Creio que a sensação que senti foi semelhante...

De repente eu quis respirar muito, como se não houvesse mais oxigênio dentro de mim e cheguei a me engasgar com o próprio ar.

Consegui ouvir um dos socorristas apertando meu ombro e me pedindo calma, pois tudo terminaria bem.

Uma sensação de alívio tomou conta de mim, como se ele fosse o meu anjo da guarda. E rapidamente adormeci.

Apesar de ainda ter os pensamentos confusos dentro da minha mente, quando acordei mais tarde e vi o frasco de soro ligado por um tubo ao meu braço, dei um sorriso involuntário, mesmo com todo aquele medo que eu sentia de hospitais.

Apertei uma campainha ao lado da minha cama e quando a enfermeira surgiu com sua cara rosada e me perguntou se eu estava bem, antes de lhe responder eu pedi uma máscara, para evitar qualquer risco de contaminação hospitalar.

Já mais calmo e devidamente protegido, deixei minha mente me transportar em busca de respostas.

Acredito que eu tenha passado por uma experiência de quase-morte, onde muitos afirmavam que a alma se desprendia do corpo e ficava observando tudo ao redor.

Pouco a pouco a confusão que me tomava foi se dissipando e eu fui recordando os acontecimentos que me levaram até ali.

Me recordei de alguns dias antes, no Halloween, quando fui incomodado em minha casa pelo novo vizinho.

Depois que os seus filhos, muito bem treinados, pediram doces, eu, de muito mal humor, queria ter uma barra açucarada de qualquer coisa para dar logo e assim me ver livre daquela perturbação, mas o pai entrou em cena com uma ideia diferente.

- John, não é mesmo! Sou Paul!

Ele estendeu a mão e eu o cumprimentei.

- Não se preocupe com minhas crianças, só os estou levando para passear. Cumprindo um protocolo, por assim dizer - completou ele sorrindo.

"Estou aproveitando também para deixar o meu cartão com os vizinhos. Sou um corretor de imóveis..."

Ele aproveitou para dar uma olhada em minha casa, enquanto seus filhos foram correr no quintal.

- Você tem uma bela residência aqui. Eu conseguiria um bom preço por ela.

- O que lhe faz pensar que eu quero vendê-la? - disse-lhe curioso, pois no fundo eu já cogitara esta possibilidade.

- Suposição, John. Apenas suposição! Um homem sozinho vivendo numa casa tão grande...

Antes que eu pudesse retrucar, ele continuou.

"Não fique chateado. Os vizinhos geralmente falam demais quando começam uma nova amizade e eu sou um bom ouvinte."

"Mas é verdade! Eu conseguiria um bom preço por essa sua residência..."

Conversamos mais um pouco e nos despedimos, pois eu tinha um turno noturno para iniciar em pouco tempo.

Alguns dias depois, na minha folga, liguei para ele e pedi para ver um apartamento, num lugar que fosse também sossegado. Pensei que poderia vender a casa por uma boa soma, morar em outro local com mais privacidade e ainda guardar um dinheiro no banco, coisa que raramente eu conseguia.

Marcamos de nos encontrar naquela mesma tarde e Paul me levou para uma outra região, mais ao norte, onde um belo conjunto de apartamentos estava sendo construído, já em fase de acabamento.

Ele me deu a chave da entrada e do apartamento 35 e retornou para o carro, para buscar uma garrafa de água que havia esquecido.

Fui entrando e subindo os degraus, pois não iria de elevador de jeito nenhum. A claustrofobia de ficar num lugar fechado, mesmo que por pouco tempo, fazia meu coração acelerar.

Quando cheguei ao segundo andar fiz a besteira de me debruçar sobre a lateral da escada e olhar para baixo. Senti na mesma hora uma vertigem muito forte, minhas pernas bambearam e meus sentidos devem ter apagados e eu caí.

Por sorte, segundo o médico que me atendeu, eu devo ter, por puro reflexo, me amparado na queda e não causei nenhuma lesão mais grave em nenhuma parte do meu corpo.

Segundo ele somente um grande hematoma ficara em meu peito, pois eu havia batido essa região e ficara sem ar por algum tempo, o que me levara a desmaiar.

A minha alta estava marcada para a manhã seguinte, um tempo muito longo na minha opinião, mas saber disso já me acalmava um pouco.

Saber também que tudo que eu senti nesta experiência de quase-morte foi fruto do meu medo ajudou bastante.

E mais tarde, quando o vizinho veio me visitar, eu até fui bem cordial e lhe agradeci imensamente por ele ter me encontrado e chamado o socorro.

Paul sorriu e se aproximou mais para poder sussurrar.

- Eu só chamei o resgate quando achei que você já estava morto, John. Foi um simples engano...

Com uma mão enluvada e forte ele pressionou meu pescoço e eu comecei a sufocar. O pavor de ficar sem ar nos pulmões novamente era imenso, mas antes de desmaiar eu consegui dizer-lhe uma palavra.

- Por quê?

Se ele respondeu, eu não sei dizer, pois a escuridão me abraçou.

Justo eu que tenho tanto medo do escuro...

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