I

"O pior da morte é a morte em vida!"
JoeFather


Houve um tempo em que eu sentia medo de tudo: do mais leve arranhão num metal; de uma aranha que caberia facilmente sob minha bota; de aquecer minha comida numa embalagem plástica, dentro do microondas, com medo do câncer.

Qualquer pequena ação acabaria me levando para mais próximo da morte que, enquanto vivi, me perseguiu obstinadamente.

Disse um filósofo certa vez que, ao nascermos, já damos o primeiro passo ao encontro do fim da nossa existência, pois mortais que somos, já fomos gerados com um prazo de validade, que vai variar de acordo com os nossos atos durante a vida.

Então, por que será que eu, ainda tão jovem, fui apresentado a dona Morte, se sempre segui o melhor caminho e fiz de tudo que estava ao meu alcance para viver mais e com melhor qualidade?

Essa é a minha primeira e mais importante questão a ser desvendada, pois penso que o fim da minha existência não tenha vindo de uma forma, o qual entendo, seja considerada natural.

O lado bom é que agora, ao flutuar para longe do meu corpo, imóvel na base daquela escada, é que essa agonia que sempre me revestiu de pavor e que tanto colaborou para a minha personalidade arredia, agora deixou o meu ser, finalmente penso estar liberto dela.

Ainda sim um porquê parece algo razoável a se conceder, agora que serei apresentado aos mistérios do além-vida.

Puxando pela minha memória, nem me recordo mais do motivo de me encontrar neste local, aparentemente um prédio de apartamentos residenciais, já em adiantada hora noturna.

Me sinto ainda levitando lentamente, mas bem que poderia parar e aguardar para ver as consequências desta minha morte, mas não sei se eu tenho controle sobre isso.

O que vejo finalmente, já com a visão embaçada pela distância, é um homem se aproximando do meu corpo. Ele faz a costumeira verificação no meu pulso e pousa um dedo na veia do meu pescoço. Creio que logo tentará me ressuscitar, mas estou enganado, pois o que ele faz me assombra.

Vira os olhos na direção da minha alma flutuante e sinto que ele pode me ver. O sorriso maligno que enfeita a sua face faz com o que medo que eu sentia em vida retorne imediatamente para dentro de mim.

Agora não é mais medo da morte que eu sinto... Nesse momento o receio que me invade é do destino da minha alma... É o temor do que está reservado para a minha existência pós-morte...

Algo que vejo em seu rosto me faz acreditar que todo aquele medo que eu senti em vida pode ser insignificante, perto do que ele reserva para mim.

Apavorado, fecho meus olhos, tentando acordar daquele pesadelo ou ao menos torcendo para ser transportado para algum outro lugar, onde eu possa encontrar respostas.

Creio que algum anjo bom olhou por mim, pois meu pedido foi atendido...

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