Capítulo 31
(Jeff)
Não faço a menor ideia se todas as pessoas supersticiosas possuem essa sensação, mas não sou supersticioso, tampouco acredito em um Deus que venha julgar os vivos e os mortos, mas tenho ultimamente tido a sensação de que alguém me observa. Isso é bem ridículo, pois essa casa está localizada no meio do nada, eu já andei para cima e para baixo e não passa uma viva alma por aqui. Até mesmo os correios pararam de passar, sabem que sempre busco as correspondências nas agências da cidade, então eu não sei por que diabos estou com essa sensação.
Se fosse antes de Diana entrar em minha vida, eu provavelmente pensaria se tratar de "sede", geralmente quando eu estava aborrecido, procurava mais vítimas para saciar minha sede, mas infelizmente ou quem sabe felizmente após essa maldita mulher aparecer em minha vida, até essa sede estou perdendo.
É triste, senão um absurdo, confessar que toda a sede que possuo atualmente se converte em conseguir um minuto de sua atenção.
Olho no espelho, estou sem maquiagem alguma, minha cicatriz é bem visível, abrindo um sorriso doentio em meu rosto. Diana não gosta que eu use maquiagem pela casa, só quando saímos. Não sei se isso me faz sentir melhor ou pior, não a vejo me tratar ou me olhar de forma diferente, independente dessa marca.
De repente, um pânico toma conta do meu peito. E se ela resolver ir embora? E se, por algum motivo, ela conhece alguém e Deus me livre, resolve se casar. Deus me livre? Agora cheguei ao fundo do poço! Até minha convicção essa idiota está me tirando, ela tirou meu ar, meu ódio, meu propósito de vida! Então começo a pensar novamente que talvez eu devesse matá-la. Tal pensamento só ocupa alguns segundos minha mente, depois como uma brisa fresca soprando em um dia quente de verão vejo a solução para isso.
Não iremos nos mudar nunca! Aqui nesse fim de mundo, ela jamais iria conhecer alguém. É exatamente isso, sinto a euforia baixar em meu corpo e começo a relaxar, olho novamente para a janela com aquela sensação incômoda, abro a porta, rodeio a casa, olho para todos os lados e chego à conclusão de que estou ficando maluco.
Diana continua grudada com seu saco de pulgas no tapete da minha sala, juntos assistem filmes em minha televisão e ela nem ao menos responde meu boa noite quando torno a abrir a porta e desço os degraus, me sentindo miserável.
A lua está gigante esta noite, uma brisa suave balança meus cabelos, reviro os olhos pensando que inúmeras vezes já cortei ou deixei de cortar os cabelos, mas somente após Diana que passo incontáveis minutos na frente do espelho medindo se estão no comprimento certo. Ela disse que meus cabelos ficam melhores na altura da nuca, nem um centímetro para cima ou para baixo, então o cretino aqui deixa o cabelo do jeito que ela gosta e o que eu ganho com isso? Ganho uma noite solitária, com uma caçada solitária enquanto ela e aquele sarnento vivem em um mundo só deles.
Entro no carro desanimado, mesmo assim dou partida, quem sabe no meio do caminho encontre algo que me traga de novo aos velhos tempos. Horas se passam rodando à toa pelas ruas da cidade. Sempre que eu avistava uma vítima em potencial, um desânimo do tamanho do mundo me inundava e tudo que eu queria era voltar e ir para casa e ficar com ela. No entanto, com a mesma rapidez com que tal pensamento chegou, ele se esvai, pois ela estaria com a verdura ambulante e não teria espaço para mim.
O relógio marcava quase quatro da manhã em meu carro, parado com tudo desligado no meio da floresta. Na trilha que leva à minha casa, meus dedos congelam pelo frio e a chuva fina começava a cair do lado de fora. Eu, já de saco cheio de tudo aquilo, resolvi voltar para casa e matar aquele cachorro de uma vez por todas e então teria Diana só para mim, nem que para isso eu precisasse acorrentá-la no sótão, ela iria ser só minha e de mais ninguém.
Um grito cortou o ar não muito distante e fez meu coração pular na garganta, não que eu tivesse medo ou que qualquer coisa me assustasse, mas por alguma razão pensei que poderia ser a minha Diana em perigo e isso me fez tremer. Logo esse pensamento saiu da minha cabeça, avistei em meio à neblina uma garota correndo, sei que não era Diana, pois essa era bem mais alta e seus cabelos também eram curtos. Sabia que era uma garota, mesmo com a visão embaçada pelo balanço do vestido.
Limpei o vidro por dentro e forcei meu rosto para olhar melhor, ela parecia bem desorientada, e logo entendi o motivo da fuga, um garoto da mesma altura que eu corria segurando as calças. Nenhum dos dois parecia notar o carro estacionado devido à escuridão e eu adivinhei mentalmente o que acontecia. No mínimo, eram um casal de adolescentes idiotas que haviam saído para acampar, só por esse motivo eles já deveriam morrer, por terem a audácia de entrar em minha floresta. Então, algo não ficou bem entre eles e ele decidiu forçar a garota a fazer algo. Não sinto nenhuma piedade, é uma vagabunda por querer se enfiar no meio do mato com um escroto como ele.
A voz de Diana gritou em minha cabeça, eu sou um justiceiro, talvez eu devesse apenas dar uns bons tapas na piranha e mandá-la para casa, mas com certeza o babaca tarado receberia um tratamento mais especial. Abri a porta cuidadosamente e segui pela mesma trilha onde ambos haviam desaparecido.
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