Capítulo 2


(Diana)


Estava cansada dessa vida, na verdade, eu ansiava pela morte. Quem sabe agora encontrei meu merecido descanso. Acordei em um buraco escuro, digo buraco e não quarto, pois as paredes não eram retangulares e uniformes. Havia massa chapiscada de concreto como se alguém tivesse preparado aquilo exclusivamente para ser um cativeiro, não chegava a ser redondo, mas a aparência era que eu estava presa em uma cápsula.

A última coisa de que me lembro é de encontrar com um garoto estranho que havia acabado de matar os meus agressores, e eu o reconheci imediatamente. Nos últimos meses, tudo que os jornais e a TV falavam era sobre "o maluco da cicatriz" que matava homens, mulheres e crianças.

Talvez eu seja maluca, mas o fato de saber que ele nunca havia matado um animal, ou ao menos eu nunca tenha escutado tal coisa, me fez desenvolver um carinho por ele. As pessoas são ruins e quem somos nós para julgar aqueles que desenvolvem o gosto pela morte? E a única coisa ruim nisso é que eu não era um animal, ou seja, estava em sua lista.

Não queria morrer. Até queria, mas antes, enquanto era agredida. Mas dentro de mim eu ainda tinha esperança de ter uma vida legal, com pessoas que se importem comigo, poder arrumar um bom emprego, ir para a escola. De repente, começo a me imaginar indo à faculdade com ele.... Poderíamos ser melhores amigos e sei que nossa vida seria maravilhosa. Balanço a cabeça tentando ajustar os parafusos.

Eu só posso ser doida mesmo. Mas me deem um desconto, que diabos eu ficaria fazendo aqui nesse lugar? Chorando de medo? Posso ser doida, mas sou uma doida otimista e acredito que foi exatamente meu otimismo que me manteve viva até agora. Prefiro pensar que tudo vai acabar bem no final. Continuo viva, não estou? Em um buraco estranho, mas viva e consciente para usar minha imaginação para coisas muito agradáveis.

Eu havia fugido de casa, estava cansada de ser feita de empregada pela minha mãe e meu padrasto. Minha irmã caiu fora uns seis meses antes e nunca mais ouvimos falar dela. Nesses seis meses, tudo que recebi foram xingamentos e praticamente todos os dias eu era espancada. Criei coragem e fui embora, levando comigo tudo que eu tinha, ou seja, nada.

Dormi uns dois dias embaixo dos bancos das praças sem ser perturbada, até que, procurando algo aproveitável para comer naquelas latas de lixo, um grupo de garotos me cercou. Eu não sei qual era a intenção deles, a única coisa que senti foi quando uma garrafa atingiu minha cabeça, eu caí. Pude ouvir eles rindo e bebendo, e continuei me fingindo de morta. Quem sabe eles iam embora se achassem que eu já tinha morrido.

Foi quando o estranho chegou, parecia tomado de superpoderes. Cortou a garganta de todos eles em uma rapidez incrível, eu assistia hipnotizada em meu canto escuro. Se eu não tivesse levantado, ele, com certeza, teria ido embora sem me notar. Mas eu quis ser notada! Disse a ele, quase implorando que me matasse também, a vida nas ruas parecia ser tão boa quanto a que eu tinha em meu antigo lar. Não lembro de mais nada, só sei que não estou morta, ao menos não ainda.

Tenho certeza de que ele me trouxe para cá. Começo a sentir medo, talvez ele seja ainda mais maluco que aquele grupo de meninos. Eu não pude ver bem o seu rosto, mas sei que se trata do cara que aparece nos jornais. Ele estava com um capuz preto, como eles sempre mostram nas reportagens, ele era muito branco, quase transparente, uma palidez intensa que se tornava ainda mais macabra com o capuz. Também não sei como ele fez para que eu não me lembre de absolutamente nada além de minha última frase, mas espero do fundo do meu coração que ele não seja tão ruim quanto ouvi no rádio.

Eu estava sentada fazendo um lanche rápido que uma senhora idosa gentilmente me ofereceu em uma praça e, a poucos metros de mim, tinha dois mendigos sentados perto da fonte ouvindo um rádio velho. Ouvi que tinha um maníaco à solta que andava degolando as pessoas. Disseram ser o pior psicopata que já tinham ouvido falar, que ele não tinha sentimentos e seria idiotice caso alguém tentasse ajudá-lo. Um psicólogo também falou, dizendo que a psicopatia não tinha cura. Não sou psicóloga nem nada, mas será mesmo que os psicopatas não podem amar, tipo, nunca? Ah, eu sei lá, eu acho que tem algo errado.

Eu assisti todas as temporadas do Dexter e ele era maluco, sim, mas ele não saía matando qualquer pessoa, a energia dele foi canalizada para pessoas ruins. É isso! Esse cara não é ruim! Ele é um justiceiro! Tenho certeza de que é. Ele apenas está limpando o mundo de pessoas ruins e quem pode culpá-lo?

Sim, eu o vi matar aqueles garotos, mas não sei se ele já os conhecia, se foi acerto de contas ou qualquer coisa do tipo. Pensei que, se ele fosse o cara que sai esfaqueando todo mundo à toa, eu deveria ter sido mais uma, não?

Sendo sempre otimista, coloco minhas mãos apoiando minha cabeça no chão rústico e adormeço com um sorriso.

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