Capítulo 17



Diana me puxou pela mão e me sentou no sofá, depois pegou uma das sacolas e a abriu, retirando um monte de potinhos, bisnagas, pincéis e toda aquela frescura que mulher usa. Dei um pulo do sofá na hora em que ela, após apertar a bisnaga e colocar o conteúdo em uma almofadinha, tentou tocar meu rosto.

Era só o que faltava, ia querer me fantasiar de palhaço ou o quê?

— Sei o que estou fazendo, para de frescura!

Ela me obrigou a sentar novamente. "Me obrigou", ultimamente essas palavras estranhas andam fazendo parte do meu vocabulário.

Suspirei olhando o relógio de pulso, estava ansioso demais para perder tempo com seja lá o que ela estava tentando fazer.

— Agora feche os olhos!

Um assassino em série nunca fecha os olhos, ficando assim desprotegido, mas que porra! Por que diabos eu acabava fazendo tudo que ela queria?

Para piorar a situação, eu dormi, acordei com a cabeça pendendo do encosto do sofá e com o pescoço doendo. Aparentemente já era bem tarde, pois tudo estava apagado e silencioso.

Olhei pela janela e, pelo azul intenso do céu, calculei ser cerca de umas três horas da manhã. Voltei meus olhos para o sofá e não havia mais traços de toda porcaria que ela comprou. Notei um bilhete, escrito em papel de pão.

"Você dormiu, não consigo te carregar para o quarto, mas não quis te acordar, só para constar, eu já te achava lindo antes."

Minhas sobrancelhas se estreitaram e amassei o bilhete, jogando-o pelo chão. Sacudi a cabeça em outro bocejo, não tinha a menor ideia do que essa doida estava falando agora.

Fui à cozinha e tomei um copo de leite. Eu estava desanimado, minha caçada ficaria para outro dia, decidi então voltar para meu quarto e tentar dormir decentemente o resto da noite.

Meus pés pesavam toneladas enquanto eu subia o degrau. Minha cabeça estava um turbilhão. O que eu ia fazer com essa garota? Os dias estavam passando rápido e eu havia ganhado uma colega de quarto sem que me desse conta. Mas o pior disso tudo era ela acreditar que sou um justiceiro. Ela pode até concordar que eu mate pessoas que ela acredita serem más, mas terá estômago para ouvir as torturas? Terei que arrumar outro lugar, pois MINHA CASA não pode mais ser um lugar horrível e temível.

Entrei em meu quarto e fui em direção ao banheiro, e a última coisa de que me lembro foi sair correndo de volta ao quarto após ver meu reflexo no espelho.

Me senti exatamente como um animal acuado que dá pequenos passos, apenas para ter certeza de que o inimigo não está por perto. No caso, o inimigo era meu reflexo. Parei em frente ao espelho e cheguei a tocar meu rosto para ter certeza de que ela não havia executado nenhuma cirurgia, não pude evitar sorrir com tal pensamento. Seja lá o que ela fez, não havia mais nenhum traço da cicatriz.

Um verdadeiro milagre! Há muitos anos que eu havia me esquecido de como meu rosto deveria ser.

Milhões de pensamentos invadiram minha mente, sei que deveria estar pensando que agora eu poderia abordar vagabundas sem despertar suspeitas. Pedir informações para senhores idosos para logo depois apunhalá-los no estômago, mas tudo o que eu pensava era que poderia levar Diana à praia, a um parque, quem sabe uma discoteca? E ninguém mais me olharia como uma aberração.

Me lembrei do bilhete, desci correndo as escadas para encontrá-lo amassado exatamente onde o havia jogado. Reli. Ela me achava lindo antes. Coitadinha, só deveria ser cega, além de ser burra. Dobrei o bilhete com cuidado e coloquei no bolso da calça. Não pude evitar um sorriso ao colocar minha cabeça no travesseiro e me imaginar com Diana em um lindo dia de sol, nós dois em um barco, sentindo a brisa tocar nosso rosto, enquanto olhamos satisfeitos para os corpos que despachamos mar adentro.


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