Blue
Only seeing myself when I'm looking up at you.
(Blue - Troye Sivan)
Depois de ter beijado Clark, Dianna ficou terrivelmente inquieta. Não como normalmente se fica depois do primeiro beijo de um casal, mas inquieta do jeito achando que o namorado é um possível super herói alienígena. Foi algo no rosto de Clark, seus traços, seus olhos, seus segredos presos que ficaram ameaçados no ar enquanto ela o olhava nos olhos e colocava os óculos de volta em seu rosto. Como não havia um modo muito certo de soltar caramba, você parece o Superman, Dianna se convenceu de que sua obsessão com o herói estava ficando preocupante.
Voltou para casa naquele dia e deixou os sapatos na entrada depois de ter fechado a porta, correu para o quarto e logo revelou a foto que havia tirado na primeira vez que almoçou com Clark, o brilho amarelo do sol iluminou bem o sorriso ou era o brilho do sorriso dele que iluminava todo o restante, era difícil dizer. Olhou bem a linha do rosto, o maxilar e seus olhos foram em direção ao mural que tinha com suas melhores imagens do Superman.
Ela se aproximou devagar do mural, conseguia cada pixel daquelas imagens, cada traço que poderia até mesmo desenhá-las. A suspeita que sentiu ao ver o rosto de Clark mais cedo se tornou certeza. Dianna respirou fundo.
Havia beijado o Superman.
Várias vezes imaginou como poderia tocar nesse assunto com Clark ou se deveria tocar, talvez ele não quisesse mostrar essa parte de sua vida. O que faria total sentido, eles mal se conheciam e Dianna cogitou fazer jogo duro se ele demorar a revelar. Riu de si mesma, ela nunca faria esse tipo de coisa, não quando os olhos de Clark sobre ela. Mas não teve a chance de descobrir se ele surgiria com o assunto, já que ele não apareceu no trabalho seguinte.
Também não apareceu nos outros três dias seguintes.
As reportagens do Superman só pioravam, mesmo quando ele não aparecia ou não tinha ocorrências. havia um grande grupo de críticos crescendo na indústria da comunicação e eles escolheram o herói como alvo.
No fim do quarto dia, Dianna não suportou ficar sem notícias e Clark nem mesmo retornava suas ligações, então ela precisou recorrer a quem menos desejava: seu chefe Perry White.
-Ele está de licença. -Ele disse simplesmente e fez um sinal para que ela saísse de sua sala e voltasse ao trabalho.
O evento da Lexcorp passou e nada de Clark. Mas Lex Luthor cumprimentou Dianna e comentou que havia visto as imagens do Planeta Diário e admirado o trabalho.
-Até parece que você conhece o Superman. -Ele havia dito com uma risada, mas um brilho perigoso no olhar.
Ela riu como se fosse a ideia mais ridícula do mundo e Lex não perguntou de novo.
Depois de uma semana, ela não tolerou mais a esperava e pediu para que Lois conseguisse o endereço de Clark na ficha que tinha no trabalho. Lois, como a boa repórter investigativa que era passou para Di o endereço e ainda deu a chave de uma das vans do Planeta Diário. Depois de terminar o trabalho, no início da noite Di saiu de Metropolis em direção à Smallville.
Dianna parou a van em frente ao portão da fazenda. Desceu e trancou o veículo colocando as chaves no bolso da calça jeans e caminhou até a entrada.
Era uma casa antiga, porém bem cuidada. As luzes acesas davam um aspecto vivo e acolhedor, no portão havia a caixa do correios com o sobrenome Kent desenhado no metal. Dianna subiu as escadas da entrada e tocou a campainha, o tapete no chão dizia "bem-vindo".
Uma mulher de cabelo grisalhos atendeu a porta.
-Boa noite. -Ela disse em um tom educado, um meio sorriso e um olhar cauteloso. -No que posso ajudar?
-O meu nome é Dianna. -Ela olhou a mulher nos olhos. -Trabalho com o seu filho no Planeta Diário. Estou procurando por Clark, faz dias que não tenho notícias dele. Eu não quero incomodar, só preciso saber se ele está bem.
Martha Kent pareceu pensar por um tempo enquanto secava as mãos no pano de prato que segurava.
-O Clark está bem, querida. -Ela respondeu em um tom doce. -Ele me falou sobre você, sei que são próximos. -Então ela sorriu como se quisesse insinuar algo e abriu completamente a porta como um convite para entrar.
Dianna sorriu aliviada e entrou na casa dos Kent. Seguiu Martha pelo hall e parou na entrada da cozinha enquanto a mãe de Clark seguia até a pia.
-Estou terminando o jantar e preciso ficar de olho para não deixar a carne passar do ponto. -Ela explicou enquanto mexia nas panelas do fogão. -Você pode ir chamar o Clark. O quarto dele é a primeira porta à esquerda.
Ela voltou para o hall e subiu as escadas para o andar de cima. O corredor era pequeno e cheio de fotografias da família Kent. Havia fotos de um homem sempre perto de Clark e Martha, ela julgou ser o falecido pai de Clark. Virou na primeira porta à esquerda e bateu.
Não houve resposta. Novamente ela bateu na porta, dessa vez mais alto.
-Pode entrar. -A voz masculina soou baixa como se estivesse muito distante.
Dianna abriu a porta e olhou para o quarto, a cama estava arrumada, ola escrivaninha bem organizada e a decoração com detalhes azuis deixava claro que ele havia crescido ali. No teto havia miniaturas de planetas penduradas no teto, toda a galáxia estava no quarto de Clark Kent, mas ele não estava lá.
Ela procurou mais uma vez e tudo que viu foi a janela aberta do quarto.
Sempre gostei de olhar o céu. Quando eu morava em Smallville, eu ficava no telhado à noite, me ajudava a pensar. Ela lembrou do que ele disse na noite em que saíram da cafeteria e seguiu até a janela do quarto, inclinou-se para o lado de fora e olhou para os lados. Clark estava ali sentado no telhado, os braços apoiados nos joelhos e os olhos nas estrelas como se expiasse todo o universo.
Ela subiu no parapeito da janela e se aproximou engatinhando e se sentou ao lado dele, ergueu os olhos para o céu.
-O que está fazendo? -Ela perguntou. Só então ele a olhou, mas seu rosto parecia um misto de expressão contida.
-Eu estava olhando o céu, me ajuda a pensar...
-Não, Clark. -Ela o interrompeu. -O que está fazendo sumindo desse jeito?
-Tirei férias, achei que alguém no trabalho te avisaria. -Ele não a olhou quando respondeu, o que significava que estava mentindo.
-E não ia me ligar? -O tom soou mais irritado. -Eu sei que não é férias coisa nenhuma. Você está se escondendo, está desistindo.
Ele franziu o cenho pensativo e abaixou a cabeça olhando a estrada.
-Não sei do que está falando.
Dianna respirou fundo e o olhou.
-Está desistindo do Superman. -Ela respondeu de forma direta. Ele a olhou observando seus olhos e balançou a cabeça de forma negativa como se ela estivesse falando um absurdo. Ela sentiu um buraco crescer dentro de seu peito, estava esperando que ele lhe dissesse a verdade.
Dianna estendeu a mão e tocou o rosto dele, os olhares presos um no outro estavam tão perto que ela pode sentir a respiração dele vacilar e levou a outra mão ao rosto dele. Tirou o óculos de Clark devagar e encarou o profundo azul de seus olhos.
-Eu sei que é você. -Ela sussurrou. -Eu conheço todas as suas cores. -Ela acariciou o seu rosto e ele fechou os olhos como se o toque fosse tudo o que ele precisava. -Não precisa mentir pra mim.
Ele levou a mão dele até a dela e a segurou em seu rosto.
-Eu vi a forma que Lex falou com você, ele vai te usar para chegar até mim.
-Lex acha que sabe de muita coisa, mas eu o convenci de que não posso chegar ao Superman. -Explicou ela, Clark apertou o braço em volta dela e ela viu no olhar dele que aquilo o machucava.
-Se não for Lex, outro alguém pode saber. -Ele disse afastando a mão dela. -Por favor, Dianna. É para sua segurança.
Aquilo era demais. Ela pode sentir a dor e frustração crescer e fazer o seu sangue esquentar, subitamente se esqueceu de que estavam no telhado e se levantou.
-Isso é tão clichê, odeio clichês. -Ela murmurou se afastando.
-Cuidado com a telha solta. -O tom de voz dele era um alerta, mas ela não prestou atenção e andou em direção à janela.
-Não estou pedindo pela sua proteção. -Murmurou e logo depois sentiu o pé deslizar e ela escorregou pelo telhado, tentou se agarrar em algo, mas continuou a escorregar rápido demais. Sentiu quando seu corpo passou pela beirada e seguiu em queda livre até o chão. Não pode evitar um grito quando seu corpo mergulhou em direção ao gramado.
Ela caiu, mas foram os braços de Clark que a pegaram como no dia em que ele a encontrou no beco.
Ela sentiu o aperto no peito aliviar ao perceber que a queda havia durado apenas segundos e olhou para o rosto dele.
Clark arqueou a sobrancelha.
-Não precisa da minha proteção é? -Ele disse em um tom provocativo.
Dianna fechou a cara e desceu de seu colo.
-Cala a boca. -Ela murmurou. -Não atrapalhe minha saída dramática.
Mas ele segurou o seu braço e novamente a puxou pra perto.
-Não vai embora assim. -Ele murmurou a abraçando, passando o nariz pelo cabelo dela.
-E como é que eu deveria partir? Se sentiria melhor se eu chorasse e dissesse que você me magoou? -Ela afastou o rosto para o olhar, Clark balançou a cabeça negativamente e desceu as mãos até a cintura dela. -Então eu deveria dizer que por mim tanto faz e te xingar ou fingir que não significa nada?
Ele não respondeu, mas ela sabia que não era fácil pra ele abrir mão de tantas coisas para ser o herói da cidade. Clark a puxou pra perto, sustentando-a com o seu abraço.
Dianna pode sentir o ar mudar ao redor deles, mas não tirou os olhos de Kent.
-Você sabe que não vou aceitar isso. -Ela murmurou. -Pode desistir de ser o Superman, você não deve nada a esse mundo. Mas Clark, não negue o que você é ou se prive daquilo que realmente ama, isso sim é indesculpável.
Então ele sorriu e só então ela percebeu que a mudança no ar era porque estavam levitando a vários metros no chão próximos ao telhado. Dianna arregalou os olhos sentindo um arrepio na espinha.
-C-Clark... -Ela gaguejou.
-Shh. -Ele sussurrou, o olhar brincalhão contendo um sorriso. -Não estrague o nosso beijo dramático.
Ele aproximou o rosto do dela até seus lábios se encontrarem. O beijo foi suave no princípio, o hálito era quente e o abraço tinha um aperto carinhoso. Até que ele entreabriu a boca para que as línguas se entrelaçassem como um choque térmico, Clark tinha gosto de café quente e doce perfeito para o inverno. Enquanto que Dianna parecia trazer consigo o gosto de uma ensolarada Califórnia, ele podia sentir na boca dela o seu gosto doce, porém determinado. Suas mãos subiram pelas costas dela, a fina silhueta que encaixava perfeitamente na sua.
-Clark?! -Alguém gritou lá embaixo. O beijo foi interrompido para que os dois olhassem para Martha Kent gritando no gramado. -Coloque a pobre garota no chão e venham jantar!
Tudo que Clark pode fazer foi acenar positivamente para a mãe e Dianna corou.
-Venham logo ou a comida vai esfriar. -Ela murmurou voltando para dentro da casa.
Clark se inclinou novamente para Dianna lhe deu beijo demorado no rosto dela.
-Você definitivamente vai ficar para o jantar. -Ele declarou pousando com ela no gramado, andou até a cozinha segurando sua mão.
O jantar foi tão caloroso e familiar que fez Dianna pensar em como cresceu em um ambiente completamente diferente. Clark tinha aquele jeito contido e educado de um rapaz do interior que sempre ajudou em casa, cuidava da fazenda e se dedicava à família como filho único. Ele estava com uma camisa xadrez e com um boné que Martha explicou que tinha sido do pai dele. O boné era de uma cor azul gasta que só fazia ressaltar a cor de seus olhos agora que ele estava sem óculos.
Ao contrário dele, Dianna havia crescido em São Francisco e depois em Los Angeles, a capital nacional do cinema e todos os esteriótipos de beleza possíveis.
Sua família sempre viveu na cidade grande e era vista como nada tradicional pelo fato de que ela tinha duas mães. Foi muito amada por ambas e elas fizeram de tudo para protegê-la da intolerância e do preconceito. Não foi uma infância ruim, mas era difícil chegar em casa e esconder das mães que era excluída no colégio. Até que as mães se separaram e a casa pareceu ter morrido, como se a sociedade tivesse vitória sobre o amor e as relações duramente construídas.
Di sempre achou que teria um relacionamento muito comum se fosse comparado ao de suas mães, duvidava até mesmo que fosse ter o mesmo empenho e dedicação que elas tinham uma com a outra. Mas depois de olhar para Clark, teve certeza de que faria de tudo para que desse certo. Mesmo que eles fossem de planetas diferentes, literalmente.
Martha recolheu os pratos após o jantar e Clark guiou dianna de volta ao quarto dele. Ela entrou novamente no cômodo observando as paredes azuis, os posters de naves espaciais e velho livros sobre o universo deixados na prateleira. Cada pedaço no cômodo tinha um pouco de Clark e era tudo de um azul infinito como o céu.
Ele apagou a luz e a puxou para o seu abraço fazendo com que os dois deitassem sobre a cama. Ele apontou para o teto onde havia um pequeno sistema solar pendurado, vários planetas em órbita de uma grande estrela que brilhava laranja neon. Por toda a extensão do teto do quarto havia pequenas estrelas amarelas que brilhavam no escuro. Clark tinha seu próprio universo ali.
-Eu não quero me esconder, quero voltar e continuar a fazer o que é certo. -Ele murmurou depois de um tempo em silêncio.
-Muitas pessoas acreditam em você, você não está sozinho Clark.
No escuro ele segurou a mão dela.
-Qual é a nossa cor, Di?
Os dois observavam o universo trocando segredos.
-Azul e amarelo, como o céu e as estrelas.
FIM
Notas da autoras: Olá, tudo bem? Muito obrigada por ler esta shortfic, eu espero que tenha gostado. Ela foi escrita há dois anos atrás e eu achei que já estava mais do que na hora de revisá-la e compartilhar com alguém. Caso tenha gostado, por favor deixe o comentário e indique para outras pessoas. Eu gosto muito de saber os sentimentos que uma história pode despertar. Tenho realizado um projeto pessoal para escrever mais fics de heróis e o seu retorno me ajudaria a saber se estou seguindo o caminho certo. Também escrevo The Ghost of You aqui no site e recomendo a leitura caso não conheça ainda. Mais uma vez obrigada por ler esta história.
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