063
CHARLES LECLERC
Imola 2024, Circuito Enzo e Dino Ferrari, Qualificação
Terceiro lugar. Outra vez.
Mais uma vez, largando em terceiro lugar.
Passei as mãos pelos cabelos, ainda úmidos do capacete, e me joguei no sofá do motorhome da Ferrari. O tecido frio contrastava com o calor que ainda sentia no corpo, mas não era suficiente para apagar o incômodo queimando por dentro.
De novo, tão perto. E tão longe.
A pista de Imola tem suas particularidades, e o carro estava respondendo bem... até certo ponto. Mas quando olhei o painel no fim da última volta, vendo o nome de Max no topo e Lando logo atrás, foi como um banho de água fria.
O terceiro lugar pareceu uma derrota.
Uma ironia cruel para quem deveria estar competindo pelo título.
Olhei para o celular ao meu lado e o peguei, abrindo no twitter. Mensagens de incentivo, a maioria. Algumas críticas, inevitáveis. Ignorei todas. O que eu precisava não estava ali. Nem nos números. Nem nos consolos.
Suspirei, encostando a cabeça no encosto. Meus pensamentos foram até Amélie. Ela sempre sabia o que dizer, mesmo quando eu não sabia o que sentir. Só que, naquele momento, nem mesmo sua voz conseguiria afastar a sensação de fracasso que me rondava.
O que eu precisava era mais simples. Precisava vencer. Mas como fazer isso quando o pódio já não parece suficiente?
O motorhome estava silencioso, o tipo de silêncio que só aumenta o peso dos pensamentos. Fechei os olhos por um momento, tentando afastar o incômodo que insistia em ficar. Terceiro lugar deveria significar algo, mas tudo o que eu sentia era frustração.
Abri os olhos novamente e olhei para o celular mais uma vez, hesitante. Dessa vez, procurei o nome dela nos contatos. Queria ligar para saber onde ela estava, já que era incomum não estar aqui.
Mas também não sabia se queria realmente conversar com alguém agora.
Mas, por outro lado, seria bom ter Amelie aqui.
Meu polegar pairou sobre o botão de chamada, mas antes que eu pudesse fazer algo, ouvi batidas na porta.
- Charles? — Era Silvia. Chata. Não queria falar com ela agora.
- Entra. — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.
Ela entrou com aquela expressão de sempre. Parecia que nunca estava feliz com nada.
- Só queria te avisar que o jantar com a equipe foi remarcado. — Ela murmurou.
- Ótimo. — Nem tentei disfarçar o desinteresse.
Silvia negou com a cabeça, me mandando um olhar.
- Ah, Amelie pediu pra te dar um recado. — Ela retornou a falar.
Meu coração bateu rápido.
- Que recado? — Perguntei, passando a olha-la.
- Leo estava assustado com todo o barulho, ela e Arthur saíram com ele para um lugar mais calmo. — Revirei meus olhos.
- Ok. — Foi tudo o que eu respondi.
Silvia suspirou.
- Não seja tão duro consigo mesmo, se saiu bem. — Ela deu um sorriso para mim. - Amanhã as coisas vão ser melhores.
Silvia saiu antes que eu pudesse responder. Fiquei ali, tentando processar. Eram raras as vezes em que ela me elogiava.
E agora eu só conseguia pensar que, mais uma vez, o terceiro lugar era o menor dos meus problemas. Arthur estava com Amelie e ele não sabia a hora de calar a boca. Eu já podia imaginar. Ele sempre falava demais, sempre metia o nariz onde não era chamado.
Ele iria estragar tudo.
Mas isso era algo no qual eu iria questionar Amelie apenas amanhã. Agora estava frustrado demais para me importar com o que hipoteticamente Arthur poderia dizer a meu respeito.
Fiquei ali, ainda preso em uma nuvem de pensamentos depreciativos. A irritação e a frustração não pareciam que iriam aliviar tão cedo.
O que eu mais queria era ter um momento de paz, mas não parecia que isso ia acontecer tão cedo.
E então, como se o universo estivesse tentando me torturar, a porta do motorhome se abriu novamente, mas dessa vez, um som familiar fez meu coração acelerar. O som das patinhas de Leo correndo no chão.
Olhei para cima, e lá estava ela. Amelie, com o sorriso no rosto, e agora segurando Leo, que parecia mais agitado do que nunca. Ele se debatia nos braços dela, tentando escapar para correr até mim.
Amelie colocou Leo no chão e ele correu até mim, pulando em cima de minhas pernas. Eu o peguei imediatamente, sem pensar duas vezes, e o segurei nos braços, sentindo o filhote começar a lamber meu rosto e me arrancando uma risada.
- Eu estou tão orgulhosa de você! Você foi muito bem. — Amelie disparou, vindo em minha direção. - Tenho certeza que amanhã vai estar no lugar mais alto do pódio.
A olhei e então forcei um sorriso para ela. Se ontem eu já não estava tão confiante, hoje estava menos ainda.
- Fui bem, mas não o suficiente. — Falei, ainda segurando Leo em meus braços. - Eu deveria ter maximizado os pneus e focado mais no Norris, invés de focar no Max.
- Eu sei que você queria mais, mas você foi incrível. — Amelie repetiu e deixou um beijo em meu rosto. - Você deu o seu melhor. E isso é o que importa. Você não pode controlar tudo.
- Eu sei. Eu só... eu só queria ser mais. Para mim, para a Ferrari e para todos que acreditam em mim. — Falei mais uma vez e Leo passou a morder meu macacão.
Amelie olhou para mim, sem dizer nada por um momento, e então ela sorriu, esse sorriso me deixou confuso.
- Charles, todos sabem o quanto você se dedica por essa equipe e o quanto você se esforça para isso. Ninguém mais poderia ter feito o que você fez hoje, em vista das condições do carro... — Amelie então, se sentou ao meu lado. - Honestamente? Você fez um milagre.
- Eu sei. Mas eu não queria largar terceiro lugar na corrida de amanhã. — Falei mais uma vez e suspirei frustrado.
Eu olhei para Amelie, tentando me agarrar em suas palavras, mas a frustração ainda queimava. Leo, que estava brincando ao meu lado, subiu na minha perna novamente. Eu o peguei no colo e dei um sorriso fraco.
- Você está tão focado no que não conseguiu que esqueceu de tudo o que fez. Você ainda está entre os melhores. Não é sobre sair em primeiro, é sobre tentar o máximo e continuar buscando mais. E você está fazendo isso. — Amelie falou mais uma vez e a senti pegar minha mão. Meu coração disparou.
Mas, por mais que ela estivesse certa, a sensação de que eu não tinha alcançado o que poderia continuava ali. A culpa era minha, eu sentia que poderia ter feito mais.
Eu sabia que a única coisa que realmente me daria paz seria alcançar o que tanto queria: A vitória.
E, por enquanto, isso ainda parecia distante, principalmente para amanhã.
[...]
oooi meta de votos: 500
amelie sendo uma mãe nesse capítulo
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top