049
AMELIE PARISI
Meu celular vibrou mais uma vez e peguei o aparelho em minhas mãos, vendo pelo visor que era mais uma mensagem de Charles, dessa vez perguntando porque eu estava o ignorando. Eu não estava fazendo isso. Apenas não estou em meu melhor estado para o responder e manter uma conversa. Sabia que se ao menos vizualiasse as mensagens seria pior, então apenas bloqueei meu celular novamente e o coloquei ao lado do meu travesseiro mais uma vez.
Não odiava Charles, apenas não queria ter que lidar com ele por agora.
A conversa com Gia tinha me tirado totalmente da minha zona de conforto, suas palavras não saiam da minha mente desde que tinha chegado em casa.
Sentei na beira da minha cama e senti o peso da escuridão ao meu redor. A verdade, que por tanto tempo eu tinha evitado, parecia se espalhar no silêncio do meu quarto, tomando cada canto até não me restar mais para onde fugir.
Durante todos esses anos, eu achava que estava construindo algo, que estava sendo forte. Focando em cada detalhe, em cada nota na faculdade, em cada movimento calculado, como se o simples ato de ser “perfeita” pudesse afastar a dor, proteger meu pai... talvez até redimir o que minha mãe fez, já que eu era uma extensão sua e lembrava-me bem de como meu pai tinha reagido a tudo.
Mas agora… tudo isso desmoronava, e percebo o quanto me perdi tentando consertar uma coisa que não era minha responsabilidade.
Quantas vezes, nos últimos anos, ignorei o fato de que não estava realmente vivendo? Só agora, com o silêncio me sufocando, eu vejo que nunca olhei para mim mesma. Nunca perguntei o que eu queria. Só tentei apagar a sombra dela, de algo que não consegui entender.
A culpa agora parece me esmagar, e um desespero sobe, apertando no meu peito. Como se cada vez que eu respirasse eu estivesse me afogando.
Fecho os olhos e, pela primeira vez, permito que lágrimas saíam dos meus olhos.
Eu nunca quis de fato admitir o quanto a decisão dela me feriu, como se fosse algo proibido de sentir. Sempre foi mais fácil sufocar qualquer emoção, ocupar cada segundo do meu dia e simplesmente me convencer de que eu estava fazendo o certo.
Mas agora, sozinha no meu quarto, após meu choque de realidade, sinto que estou presa em um ciclo interminável, tentando reparar algo que não posso consertar, e por mais que eu me esforce, a verdade é que nada vai mudar o passado.
E, então, surge a pergunta que eu tanto temia: será que toda essa busca por perfeição foi apenas uma fuga?
Uma forma de me esconder da dor, de não admitir que eu também fui tão afetada quanto meu pai? Minha respiração se torna pesada, e tudo o que me resta é a angústia de me ver aqui, com as defesas desmoronando, sem saber como começar a me reconstruir após aceitar algo no qual eu me neguei por tantos anos.
Ouvi uma batida suave na porta, e antes que eu pudesse responder, meu pai entrou. Ele ficou parado por um momento, observando-me com uma expressão de preocupação que raramente mostrava de forma tão clara. Senti o chão fugir debaixo de mim, como se ele pudesse ver através da fachada que eu tinha construído por tantos anos.
Ele se aproximou devagar e, sem dizer uma palavra, sentou-se ao meu lado na cama.
- Amelie... — Ele começou, com a voz baixa e calma. - Sei que deveria ter tentando falar com você primeiro, apenas não sabia como, sempre desvia do assunto...
Seu tom era gentil, e ao mesmo tempo firme, como se quisesse me lembrar de que, apesar de tudo, ele sempre esteve lá. Encolhida ao lado dele, as palavras saíram antes que eu pudesse conter:
- Eu só... não queria te decepcionar. Queria ser diferente. — Ele suspirou, colocando a mão sobre a minha.
- Você nunca me decepcionaria, Amelie. Eu só quero que você seja feliz, sem se preocupar em construir toda uma imagem. — Ele mais uma vez falou. - Você não é sua mãe. Nada do que aconteceu é culpa sua e você me orgulha mais do que eu poderia por em palavras.
Sorri com lágrimas quentes escorrendo por minha bochecha. Sabia que meu pai estava tão surpreso quanto eu por estar chorando, ainda mais em sua frente.
Então ele suspirou, olhando para o chão, como se tentasse encontrar as palavras certas.
- Amelie, você vem sendo ser forte de um jeito que ninguém da sua idade deveria. — Ele apertou minha mão com carinho. - Além de minha filha também é um grande exemplo para mim, sempre manteve a cabeça erguida por mim e por você.
E seus olhos encontraram os meus, cheios de lágrimas. Me contive para não tentar o impedir de derramar uma mesmo que fosse.
- Mas não é sua responsabilidade me proteger e ser "perfeita". Amelie, eu não quero que você viva sua vida tentando compensar o que acha que sua mãe deveria ter feito e acabou não fazendo... — Ele hesitou, a voz falhando por um instante. - Você é a minha filha, a pessoa mais importante da minha vida. E tudo o que eu desejo é que você viva por você mesma, sem essa necessidade de carregar um peso que não é seu. Infelizmente não podemos mudar o passado e a forma como as coisas aconteceram, mas ainda podemos ajeitar o que temos em mãos agora.
Aquelas palavras quebraram algo em mim, e senti uma onda de alívio e culpa se misturarem, como se finalmente houvesse espaço para eu ser apenas… eu.
Então meu peito apertou, e senti mais lágrimas que eu segurava ameaçando escapar.
- Mas, pai… eu tinha tanto medo de fazer algo errado. Eu achava que se eu fosse perfeita, se eu fizesse tudo certo, você não teria que passar pela mesma dor outra vez. - Minha voz saiu em um sussurro, quase inaudível.
Eu estava me perguntando se ele realmente entendia o que eu queria dizer. Ele balançou a cabeça com um sorriso triste nos lábios, e enxugou uma lágrima que escorregou pelo meu rosto.
- Amelie, você não precisa se preocupar em ser igual ou melhor a ninguém. A vida é cheia de falhas e tropeços, e isso não faz de você menos minha filha ou signifique que me decepcionou. Faz de você humana. — Mais uma vez suas palavras me atingiram.
Ele passou o braço em volta dos meus ombros, me puxando para um abraço.
- Eu nunca quis que você carregasse esse peso. A única coisa que me dói é ver que enquanto tentava proteger a mim, você acabou esquecendo de cuidar de você mesma. Eu só quero que você se permita viver… do seu jeito. — Então ele beijou minha testa em um ato de afeto. - Sempre incentivei você a fazer isso e sempre irei. Eu não poderia pedir por uma filha melhor.
Meus braços de passaram por seu corpo e então deitei minha cabeça em seu peito, conseguindo ouvir seu coração batendo. Me animei melhor no abraço de meu pai, me sentindo como uma criança de 6 anos assustada.
- Obrigada. — Falei dando um suspiro quase que em alívio. - Você é o melhor pai do mundo e eu te amo mais do que posso dizer.
Ele me apertou e eu sorri. Parecia que tinha tirado um enorme peso dos meus ombros.
- Eu também te amo. — Ele falou e deixou mais um beijo rápido em minha testa. - Sempre vou estar aqui para e por você.
Devegar concordei com a cabeça e me mantive do mesmo jeito em seu abraço. Eu precisava disso. Eu precisava extravasar meus sentimentos que contive por anos e sentir como uma criança que a única coisa acalmava era o abraço do seu pai.
Eu precisava do meu pai, talvez até mesmo mais do que achei que ele precisava de mim.
No momento, precisava de todo esse conforto.
[...]
gente olaaaaa,,,, quem lê com atenção percebeu que a amelie super people pleaser, tanto com o pai quanto com não querer deixar o charles irritado ou bravo com ela
modéstia parte o próximo capítulo TA MUITO BOM :)
não sei quanto terá atualização das outras fanfics, meu foco é essa aqui e não tenho vontade nem animo de escrever outra
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