AMELIE PARISI

   Após o ocorrido de ontem mais cedo Charles não tinha voltado para o hotel e também não havia mandando mensagem alguma avisando sobre o seu sumiço, o que eu já não esperava, mas achei que talvez ele tivesse o senso de o fazer por conta do Leo.

Nesses últimos dias estava cuidando mais do cachorro do que ele mesmo que se denominava pai. Mas não me importava, Leo era bonzinho e não me dava trabalho algum.

Achei até ótimo que Charles não tivesse dado as caras, não estava com tanta paciência para lidar com suas piadinhas e comentários sem graça, que ele com toda certeza faria.

Terminei de colocar ração no pote de comida de Leo e voltei a me ajustar na cama, arrumando meu notebook em minha frente e esperando meu pai aceitar minha minha chamada de vídeo. Nos últimos dias minha rotina estava tão corrida que estávamos nos falando apenas por mensagens de texto.

Agora que estava sozinha e com mais tempo livre iria poder finalmente matar a saudades de meu pai, mesmo que fosse através de uma tela de computador.

O rosto de meu pai apareceu na tela e imediatamente sorri. Fazia tempo que não tinha esse privilégio. Estava morrendo de saudades.

- Estou com tantas saudades. — Ele disse me olhando e um sorriso apareceu em meu rosto. - Como você está além de ocupada?

Dei uma risada fraca. Se meu pai soubesse as coisas nas quais eu estava me submetendo.

- Eu estou bem. Muito bem. — O assegurei. - E como você está? Está conseguindo sobreviver sem mim?

- Tem sido dias solitários sem você por aqui, Amelie. — Meu pai admitiu em meio a um sorriso triste. - Mas estou feliz que está trilhando sua carreira.

- Estou morrendo de saudades de casa e de comer sua comida. — Falei abraçando minhas pernas. - Mal vejo a hora de poder dormir na minha cama novamente.

E com isso eu não me referia apenas a dormir em quartos de hotéis, mas sim com o fato de estar os dividindo com Charles. Queria ter minha privacidade de volta.

- Logo menos estará aqui, o tempo está passando rápido. — Ele falou me olhando com um brilho em seus olhos. - Você está crescendo rápido.

Revirei meus olhos e acabei rindo baixo. Pais.

- Pai, eu acho que nós já falamos sobre isso antes. — Resmunguei o lembrando o assunto repetitivo.

- Não conversamos sobre passar seu primeiro aniversário fora de casa. — Meus olhos se arregalaram. Tinha me esquecido. - Minha princesinha vai estar fazendo 21 anos e não poderei a parabenizar pessoalidade.

Passei a mão na testa em completo choque. Nas últimas semanas estive tão ocupada e vivendo de forma tão acelerada que tinha se esquecido completamente do meu aniversário. Era na semana que vem, dia 05 de maio, final de semana de corrida em Miami.

Charles estava me dando tanta dor de cabeça que até do meu próprio aniversário consegui me esquecer.

- Havia me esquecido completamente sobre isso. — Não escondi a indignação em meu próprio tom de voz. - Mal tenho tempo para pensar.

- Está gostando do trabalho? Pelo o sorriso em seu rosto acho que nem preciso ouvir uma reposta. — Apenas dei uma risada em puro desespero.

- Estou conhecendo países diferente, novas pessoas e atuando em minha área de quase formação. — Brinquei ao lembrar-me que me formaria ao final do ano. - Tem toda a parte estressante mas ainda assim é como um sonho.

Meu pai deu uma risada gostosa de se ouvir e negou com a cabeça, parecia se de lembrar alguma coisa.

- Sei bem como é isso. — Ele falou ainda me olhando. - A ferrari pode ser dura as vezes mas vale todo o esforço requerido.

- Vale sim. — Engoli em seco forçando mais um sorriso.

- Está gostando de trabalhar com Charles? O conheço um pouco, é um ótimo rapaz. Muito carismático e paciente. — Meu pai disse sorrindo.

Minhas sobrancelhas se franziram. Estávamos falando do mesmo Charles?

- Charles Leclerc...? — Ousei perguntar apenas para ter certeza.

- Sim. Por que? Você conheceu mais algum Charles? — Rapidamente neguei com a cabeça. - Aniversário fora de casa e agora um namorado! O mundo está mesmo perdido.

Ri de todo seu drama e acabei por sentir como se meu coração estivesse se aquecendo. Por mais tivesse toda a distância geográfica eu ainda sempre iria amar ter esses momentos com meu pai.

- Pode ficar tranquilo, Theodore Parisi. Não há namoro algum por aqui. — Falei em um tom meio cínico como reposta. - Apenas a super festa que eu vou dar no meu super aniversário de 21 anos.

- Não diga isso em voz alta! Sua idade me faz parecer mais velho do que eu realmente sou. — Meu pai brincou dando uma risada. - Mas agora falando sério, não quero se prive de viver as melhores experiências da sua vida. Vá ao máximo de festas que conseguir, conheça garotos, aproveite sua juventude.

Acabei por sorrir e senti meus olhos marejados. Queria poder sentir o abraço de meu pai. Ele sabia que sempre fui mais reclusa e um pouco solitária.

- Eu prometo que irei. — O garanti com tamanha certeza que nem eu mesma tinha. - Serei o seu maior orgulho.

- Você já é o meu maior orgulho, Amelie. — Ele corrigiu dando uma piscadela para mim. - Nunca se esqueça disso.

- Não irei. — A essa hora meu sorriso estava de orelha a orelha. - Amo você, pai.

- Também te amo. — Meu pai disse em meio a um suspiro. - Você um pouco cansada, irei te deixar descansar.

- Tudo bem. — Nem pensei em negar. Estava mesmo cansada. - Falo com você mais tarde?

- Diga ao Charles que mandei um abraço. — E com isso meu pai desligou sem nem me esperar dizer alguma coisa.

Acabei por rir e desliguei meu notebook. Estava me sentindo mais leve e muito mais feliz. Meu pai tinha esse poder de conseguir recarregar minhas energias apenas com algumas palavras. Tinha sorte de ter o privilégio em ser sua filha.

Coloquei o notebook no chão e subi Leo para cima da cama de novo, parecia pronto para mais uma soneca comigo. Desde ontem a noite passamos praticamente o tempo todo dormindo. Não sabia que precisava tanto disso até o fazer, meu corpo parecia estar me agradecendo.

- Você é bem mais legal do que o seu pai, sabia disso? — Murmurei para Leo como se ele fosse entender e acaricie seu pelo macio.

Disposta a aproveitar todos os minutos de paz que eu tivesse vim a apagar a luz do quarto mais uma vez. Não queria ter que lidar com absolutamente nada agora, apenas descansar. Trabalho era para ser lidado no trabalho e momento não estava trabalhando.

Me deitei com Leo ao meu lado e puxei o cobertor para cima de nós dois. Estava adorando ter arrumado um parceiro para sonecas.

[...]

onde será que o charles foi? 🤨