013
AMELIE PARISI
Já tinham se passado 10 horas de voô e eu não aguentava mais. Ainda faltavam 4 horas para finalmente chegarmos em Portugal e eu poder ter um pouco de paz. Nas primeiras horas Charles falou sem parar e reclamou como nunca antes sobre precisar me levar com ele para todos os cantos possíveis, mas não era como se eu tivesse culpa alguma nisso. Detestava a ideia tanto quanto ele e infelizmente apenas seguia regras.
Com o passar das horas acabei tirando alguns cochilos, já que acordava a todo momento que estava finalmente entrando em um sono profundo. Não sabia o porquê, mas não conseguia relaxar por completo, diferente de Charles, que dormiu por horas feito um bebê. Nem mesmo se mexia.
Agora ele estava com fones de ouvido e assistindo alguma coisa em seu notebook. Estava quieto desde quando acordou e eu achei estranho não direcionar nenhum de seus comentários petulante a mim, mas me mantive quieta também lendo meu livro.
Me remexi na poltrona e ergui meu olhar para cima, vendo que agora Charles me encarava. Arqueei uma sobrancelha para o mesmo e ele voltou sua atenção para o que quer que fosse que estava assistindo. Parecia entretido. Eu já estava ficando entediada com meu clássico orgulho e preconceito. Já tinha lido uma vez e achei que seria uma boa ideia ler novamente, mas estava arrependida. Não conseguia terminar nunca.
Me levantei de meu lugar me espreguiçando e caminhei em direção ao banheiro, trancando a porta atrás de mim e me encostando na mesma. Estava exausta, mal podia esperar para chegar logo em Portugal e poder dormir por horas em uma cama aconchegante de um hotel 5 estrelas.
Parei em frente ao espelho e coloquei minha franja para trás de minha orelha, em seguida abrindo a torneira. Iria lavar meu rosto para ver se afastava toda essa sensação de cansaço.
- São só mais algumas horinhas, você vai aguentar. — Falei para mesma a medida que passava a água em meu rosto.
Em meio a um suspiro peguei duas folhas de papel toalha e sequei meu rosto. Não me sentia melhor, mas iria fingir que sim até que minha mente pasasse a acreditar nisso também.
Destranquei a porta e girei a maçaneta, franzindo as sobrancelhas quando a mesma não se abriu. Tentei novamente com um pouco mais de força empenhada em meu punho e nada aconteceu.
Respirei profundamente.
Isso não poderia estar acontecendo comigo.
Tentei empurrar a porta com força e resmunguei baixo quando percebi que realmente não iria abrir e minha ficha caiu de que estava presa. Não havia muito o que eu pudesse fazer.
Sem muitas opções puxei meu celular do bolso da calça que estava usando e abri no chat com charles, enviando a seguinte mensagem:
"não consigo abrir a porta do banheiro, você poderia por favor me ajudar?"
Minutos se passaram a ele visualizou a mensagem. Ouvi seus passos se aproximando e não sabia se sorria ou me preparava para o ouvir reclamar sobre isso também, já o conhecia o bastante para saber se não deixaria passar em branco.
- Não acredito que preciso te ensinar a abrir uma porta. — Charles falou assim que a abriu e notei que tinha aquele mesmo sorriso de sempre nos lábios. - Não é tão difícil, França.
Antes que eu pudesse protestar ele veio a entrar ali também e fechar a porta. Não podia acreditar que Charles estava mesmo fazendo isso.
- Após destrancar você precisa girar a maçaneta assim... — Ele começou murmurando e o observei realizar o ato. Novamente a porta nem mesmo se mexeu. - Precisa fazer com força.
Ele veio a repetir seu ato e não segurei um sorriso ao ver que a porta não estava mesmo abrindo. O ouvi reclamar enquanto passava a escancarar a maçaneta de todos os jeitos possíveis.
Arregalei meus olhos quando me dei por conta: Estava presa nesse banheiro minúsculo com Charles.
Não, não, não, não.
- Não acredito que nos trancou nesse cubículo! — Reclamei dando um suspiro pesado e ele me mandou um olhar feio. Também não parecia nada contente.
- A culpa é toda sua por ter se trancado aqui primeiro, eu só queria ajudar! — Ele retrucou negando com a cabeça e soltou um suspiro pesado.
- Não é culpa minha se a porta aparentemente só está abrindo por fora. — Falei vindo a me encostar na parede e cruzei os braços.
Passei as mãos no rosto e fechei meus olhos por breves segundos. Só podia estar pagando algum karma.
- Mas não é possível que essa porta não vai abrir. — Ele reclamou tentando abrir a porta novamente, e falhando miseravelmente na sua tentativa.
- Eu já tentei isso antes. — Falei negando com a cabeça e ele novamente me olhou feio. - Não tenho culpa alguma nisso.
- Claro que tem! Se tivesse ficado presa em silêncio eu ainda estaria confortável no meu lugar. — Ele revirou os olhos e se encostou na porta, cruzando os braços.
- Você poderia ter ignorado a mensagem. — Falei em um tom mais baixo e acabei por me sentir no chão.
Estava tão cansada que as palavras de Charles pareciam estarem me atingindo um pouco mais do que o normal. Não estava acostumada em estar em ambientes com pessoas me tratando com tamanha grosseria e antipatia.
- Não ia te deixar presa aqui, mas também não imaginava que eu ia acabar trancado também. — Ele disse soltando um suspiro frustrado e se sentou no chão também, de frente para mim. - E se um de nós precisar usar o banheiro?
- É só virar de costas. — Respondi vindo a colocar meu rosto entre minhas mãos. - Ainda temos um longo voô pela frente.
- E se eu mandar uma mensagem pedindo para o piloto vir nos tirar daqui? — Ele sugeriu e eu o olhei indignada. Estava querendo nos matar.
- Não acho que isso seja uma opção. Ele pode fazer isso quando o voô se encerrar. — Respondi e o vi revirar os olhos. - São só algumas horas. Você não vai morrer.
Dessa vez Charles fechou a cara e colocou o capaz de seu moletom vindo a retirar o celular de seu bolso. Não sabia se iria mesmo mandar uma mensagem para o piloto ou fazer qualquer outra coisa.
- Exatamente, Amelie. Algumas horas nesse cubículo minúsculo e desconfortável. — Ele resmungou encostando a cabeça na parede do banheiro. - Não sei o que fiz para merecer isso, sou tão bom.
Apenas o olhei pelo canto dos olhos e preferi me manter em silêncio sobre sua última colocação.
- Estou com fome... — Falei dando um suspiro pesado e o vi fechar seus olhos enquanto se encolhia um pouco.
- Vou tentar cochilar para não ter que olhar para você e nem te ouvir reclamar sobre uma situação que você mesma criou. — Ele resmungou puxando mais o capuz para frente de seus olhos. - Por favor, faça silêncio. Apenas me chame caso algum milagre aconteça e a porta seja aberta.
Acabei por ficar chocada com suas palavras e suspirei baixo passando a abraçar minhas pernas. Não sabia porque Charles me tratava tão mal dessa forma, nunca tinha feito nada para ele. Senti meus olhos se encherem de água e vim a esconder meu rosto entre meus braços.
Não queria chorar por isso.
Estava sendo apenas um dia estressante e amanhã com toda certeza seria melhor.
[...]
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