O mistério do Cavalo Azul - Parte 2
Mais um mistério a ser desvendado: Quem era aquela gente? Porque tinham tantos animais exóticos sob seu poder? A resposta poderia estar na menina da capa vermelha e seu pato azul... No dia seguinte, durante os estudos com seu avô, o menino questionou sobre os moradores do acampamento vizinho à Vila Rica. Pareciam pessoas pobres, sem importância social, sem estudo, que também não se misturavam com os moradores locais... Haviam chegado da cidade grande, junto com os vizinhos da E.G.A.. Eram... Sem terras! Sim, bem que o Padre Antônio alertou sobre sua chegada na Vila!
- Ê, menino, satisfeito agora?
- Vô, só sossego quando resolver esse mistério...
- Juca, ela mora no acampamento dos sem-terra... Não vá se meter com aquela menina, ouviu bem?
- Vô, não se preocupe... Só quero saber onde ela arrumou aquele pato azul, tão parecido com o Pato Viriato!
- Interessante Juca... Também vi o pato, e era a cara do Viriato!
- Ah, Vô... Vou descobrir tudo... Prometo!
- Cuidado, meu netinho... Muito cuidado com os sem-terra!
Assim, ao cair da noite o menino seguiu em direção ao acampamento. No caminho, avistou outra nuvem de fumaça vinda da casa do Pai Dodô. Desta vez, era o próprio curandeiro que passou montado no reluzente cavalo azul, formando uma dupla que cavalgava voando os céus da Vila Rica! Mas antes de desaparecerem no azul do firmamento, foram vistos pelo Padre Antônio que, incrédulo, saiu as Ruas alertando os seus fiéis que o curandeiro estava pactuado com o tinhoso, e que o fim dos tempos estava próximo... O caos estava lançado. Logo as ruas estariam abarrotadas de fiéis, ávidos em esclarecer os mistérios da Vila Rica...
Assim que chegou ao acampamento dos sem-terra, o pequeno Juca avistou somente a menina solitária, em sua barraca de lona. Aproximou-se, cauteloso...
- Menina, onde estão seus pais? Porque ficasse sozinha aqui?
De uma cesta, saiu um pato azul, que chacoalhou suas penas como o pato Viriato.
- Viriato? É você?
O pato não respondeu. Ficou junto à menina, sem dar crédito ao rapaz.
A jovem sem-terra levantou-se e deu as mãos ao pequeno Juca. Sem nada dizer, levou-o na direção do rancho da E.G.A. Os sinos da Igreja passaram a badalar insistentemente, conclamando os fiéis para ouvirem o chamado do Padre, que falava com tom grave e imponente ao povo curioso que chegava:
- Meus irmãos e minhas Irmãs de Vila Rica! Deus anunciou que o tinhoso está aqui, em nossa vila! Lá, no alto daquele morro, o curandeiro pactuou-se com o mal... Acreditem, hoje à noite avistei-o sobrevoando nossa Igreja com seu cavalo azul, nos ameaçando com mais um de seus feitiços! Chegou o dia do juízo Final!
A multidão encheu-se de cólera, gritando contra o Pai Dodô numa histeria coletiva sem fim, rogando morte ao feiticeiro.
- Meu povo! Vá ao pé do morro e vejam com seus olhos o filho da maldade!
O povo partiu em procissão, na direção do morro do Pai Dodô: havia fazendeiros, sem-terra, e até os trabalhadores da E.G.A. Os únicos que estavam de fora do cortejo eram o pequeno Juca e sua amiga sem-terra, que se dirigiram aos laboratórios do rancho dos vizinhos para investigarem a situação.
Ao chegarem à fazenda da E.G.A, Juca ouviu um relincho irrequieto. Um mugido lento. E um quac-quac muito do insistente, como só o pato Viriato seria capaz de fazer... Era o Precioso, a mimosa e o pato Viriato, que estavam trancados no rancho da EGA! Assim que foram soltos, houve novos relinchos nervosos. Mais mugidos lentos... E mais quac-quacs insistentes, partindo de todos os lados. Mas não eram os animais do Rancho Queimado... Nos fundos do estábulo, a menina viu uma vaca azul pastando.
Um cavalo repleto de penas coloridas que tentava voar... E muitos patos azuis, iguais ao Viriato, chacoalhando suas asas... Mas era uma infinidade de animais azuis, cópias fiéis aos animais da fazenda do Rancho Queimado!
A menina sem-terra apanhou um panfleto da empresa, que parecia esclarecer todo o mistério. Mas... E o pobre Pai Dodô, que estava correndo perigo? Qual sua relação com essa historia toda? Não havia tempo para chegarem a pé ao casebre do Pai Dodô... E agora, o que fazer?
Passaram-se momentos de plena quietude no rancho da E.G.A, em que todos os seus pensamentos se voltaram à meditação. Olhos fechados. Mente aberta. Enquanto isso, a multidão enfurecida aguardava as ordens do padre para dar cabo ao curandeiro. O povo já havia entrado no casebre e queimado seus livros, destruído suas poções, e o Pai Dodô já estava amarrado em meio às lenhas da fogueira. Era chegado seu fim...
- Irmãos! É o próprio demônio que irá queimar nessa fogueira... – Disse o Padre.
Logo estavam acesas as primeiras chamas do fogo que consumiria o corpo e a alma do curandeiro... Numa ultima tentativa de salvação, o Pai Dodô chamou pelo cavalo azul. E o padre continuou sua pregação, falando aos seus fiéis:
- Ouve, meu povo, ele chama pelo tinhoso! Alguém de nossos irmãos acredita na salvação deste corpo? Nem tu, meu bom Deus, olhas mais por esta alma perdida... Que diremos nós... Fogo nele, irmãos!
O fogo foi aceso, e uma fumaça negra e espessa fechou todo o ambiente. As cordas que amarravam pés e mãos do curandeiro logo se queimaram, e ele estava solto no fogo ardente... Em meio à loucura coletiva dos fiéis, uma leve garoa começou a cair.
- Mais fogo, irmãos!
Entretanto, quanto mais fogo era feito das lenhas, mais a chuva aumentava. Para desespero do Padre e dos seus fiéis, do alto do céu, ao longe, surgiu o cavalo azul, de penas coloridas, que trazia o pequeno Juca e sua amiga sem-terra...
O Pai Dodô entrou rapidamente numa grande cesta, amarrada nas costas do cavalo voador, e partiu, fugindo da multidão enfurecida.
Alguns anos depois, ao passar pela velha figueira, um fiel encontrou no chão o papel recolhido pela menina no rancho da E.G.A...
- Olhe padre! Aqui diz que a E.G.A era uma Empresa de Genética Avançada, que trabalhava na clonagem e melhoramento animal e...
O padre arrancou o papel de suas mãos e o rasgou. Desde então, o único culpado por todos aqueles incidentes continuou sendo o Pai Dodô... E tão somente ele... Já a capela ficou famosa com essa historia, tendo recebido a cada ano mais e mais visitantes, em busca do misterioso cavalo azul da Vila Rica, que sobrevoava a Igreja todos os anos, durante as comemorações da Paixão de Cristo...
F I M
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