Driblando o destino
Celular, adeus! Computador, tchau! Zilhões de circuitos fui deixando pra trás, gigabites, megabites palavras, poemas, votos e comentários. Quantos dilemas! Eu só queria ser gente outra vez... Voltar a participar dessa corrida maluca onde o prêmio principal era... Viver. Será que consigo? A nostalgia tão forte bateu que meu computador até reiniciou, após uma mensagem de erro fatal:
Cansado de competir com o destino? Já é hora de renascer! Voltando a vida real em 3, 2, 1...
Até que enfim havia percebido que a coisa estava realmente feia. Naquele dia nem tinha sentido a falta do meu gato, meu amor, meus vizinhos, nem ninguém. Pra onde foram todos? Quem sabe. Mas enfim. E agora? Quem poderá me ajudar?
Também não vi mais meus amigos. Onde estavam? Em aula? Em alguma viagem maluca? Ou preparando uma surpresa? Talvez, quem sabe. Mais outro dia. Nenhum sinal dos meus pais. Foram viajar? Passear? Talvez...
E esse era o novo EU, após ser tragado pelo tal Wattpad. Até que feliz eu tentei me sentir, no novo aplicativo completamente inserido (e sugado). Fiz casa e morada ali, e da comida nem sentia falta, nem do sono, nem da diversão do mundo real. Mundo virtual, Olá! No Wattpad de cabeça havia entrado! Tudo culpa daquele convite mágico, para de uma competição participar... Não de futebol, mas de contos! O convite dizia:
Olá Escritor! Que tal tentar ser O MELHOR? Que tal se sentir livre de todas as batalhas emocionais? Criar, escrever e compartilhar, não era tudo o que você queria? Tão livre, tão leve, tão solto sem nem perceber que acabará inteiramente sugado aqui para dentro, no programa que você tanto adora. Seu corpo, sua alma e seu coração vão fazer parte desse aplicativo. Aceite esse convite!
E aqui estava eu, preso na solitária cela desse aplicativo no qual eu tanto confiei.
Ah, o lado bom da coisa? As horas, dias e noites passadas na companhia do Watt encheram-me de emoção. Jurei que era realmente feliz e a cada novo voto ou comentário, a cada novo seguidor meu coração batia mais forte. Foi uma relação de amor e amizade com a nova tecnologia. É namoro ou amizade? Casamento!
Sim, alguns leitores eram de longe, de um reino muito distante. Por isso busquei essa solução: decidi escrever em meu celular. Mas como isso foi possível? Um tal de Valter Pade, como diziam os menos esclarecidos. Deveria ser um amigo, dizia a mãe. Ou um novo competidor, contou meu pai. Isso não vai dar certo, não te dá futuro! O certo foi que o Wattpad surgiu como um novo caminho, sem saída, onde muitos amigos, de todos os cantos, passaram a seguir minhas épicas aventuras.
Foram anos de luta para chegar até aqui e... Tcharam! Acabei preso na lâmpada mágica desse aplicativo maluco. Sim, uma árvore eu já havia plantado. Meu primeiro livro eu já havia escrito. Tão lindo quanto ter um filho, tão amado quanto! Ele não era perfeito? E assim, o papel deu a vida a todas estas histórias, saídas de dentro da minha remota imaginação. E sim, eu logo havia publicado outro livro, e mais outro... E mais outro... Os amigos leram. A família leu. Os vizinhos leram. Sucesso na mídia. Tevê, jornais, revistas...
Nas poesias eu já estava imerso, mas foi nas histórias que acabei me achando. Contos. Sonhos. A vida. Tudo que via a minha volta, era sobre tudo isso que eu mais queria escrever! Após anos contra meu próprio destino a lutar, no ringe delimitado pelas folhas dos meus papéis e bloquinhos, nessa nova onda decidi seguir: queria um livro eletrônico escrever!
Sem bola, sem jogo, sem correr pelos gramados? Em outra competição eu teria que entrar. Nem que fosse pra competir com meus próprios sentimentos, tentando vencer essa batalha pela razão. Ah sim, eu aceitei de pronto.
Entusiasmado, recordei aquele dia fatídico em que uma folha de papel e uma caneta acabei achando. Lembrei do meu primeiro rabisco, que resolvi fazer para com o papel desabafar meus sentimentos. Jogo, amigos, bola, trave, gol, futebol, sonhos, diversão, jogador, joanete, diabetes, que diabos!
Aquela decisão repentina me deixou tão eufórico, que corri pra contar aos seus pais. Ah, bons tempos... Mas que triste sina do destino... Com o passar dos anos, uma joanete malvada foi me afastando dos gramados. E aproximando da literatura. Ai ai! E o diabetes veio abraçado com ela, pra gritarem juntos em alto e bom tom: Futebol, jamais! Adeus, bola, Adeus campos... Disseram os médicos. E por fim? - Confie em Deus, meu filho... Disseram meus pais.
E por este sonho de ser famoso tanto lutei, que quando criança uma bola decidi chutar. E logo um jogador de futebol eu queria ser... Atacante? Defesa? Meio campo? Não, com o tempo percebi que meu lugar era lá atrás, no gol. E não é que eu tinha sorte na função? Bola pra fora... Bola na trave... Gol na minha rede não! Sai pra lá, atacante... Afasta o meio campo... Aquele defesa bom de bola? Ta fora... Gostoso mesmo é driblar o destino...
Como campeão de primeira viagem, participar de um grandioso torneio na vida real meu sonho logo virou. E, é claro, de goleada, seguir vencendo. E sobrevivendo. Minha sina seria ser campeão e chegar a uma final real, seja lá qual fosse... Com gente real. Com desafios reais. Realmente, isso seria possível?
Um competidor nato sei que sempre fui, e minha curiosa história assim muito cedo começou. Ao nascer, um ser vitorioso logo me senti, desde que ao mundo assim cheguei. Milhões de pequenos adversários fui vencendo, driblando o destino em uma corrida maluca onde o prêmio era simplesmente... Nascer.
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