- Elton larga de ser teimoso, convidei o Oscar e o Enzo e você vai ser educado e hospitaleiro, ou não será capaz de controlar minha fúria. - Chantal diz acariciando o abdômen do marido, ambos se encontram deitados.

Faltando uma semana para o Natal, Chantal, Tales e Bo eram os únicos animados e empolgados para a chegada de parentes na mansão; aquela reunião familiar só acontecia anualmente e no final de dezembro, para uns isso era o inferno adaptado, contudo, para os demais aquilo era uma folga da rotina e para Chantal era uma delas. Para a matriarca a família sempre vinha em primeiro lugar e isso era inquestionável, a divisão de sua família estava fora de cogitação! Bo colaborava tentava sempre entender sua sogra, pois desde criança ela e sua família seguiam tradições e mesmo agora passando longe de casa, ela tinha uma nova família com novas tradições para honrar. Tales é uma criança, que apesar de sua deficiência, nunca perdeu a alegria e entusiasmo que sua avó lhe passou.

Elton não suportava ver toda aquela gente reunida, aquela reunião era como seu martírio pessoal e ele se sentia bem por ver seus filhos tão desconfortáveis quanto ele. Keid só esperava a hora de poder beber e tentar novamente entrar em coma alcoólico, suas tentativas sempre eram falhas. Saiuni sempre foi fechada para a irônia e hipocrisia presente em comemorações como aquelas, porém, após a chegada de Tales o gelo em seu coração vem sendo derretido pelo sorriso e paixão do filho.

- Eu te digo todo ano, que convidar o meu pai já é mais que o necessário! - Elton resmunga levantando e vestindo a cueca. - Chamar o meu irmão, cunhado e sobrinha é...

- É nada! - Chantal o interrompe se ajoelhando no meio do colchão. - Esses três são anualmente convidados por Tales e não vai ser esse ano que irá mudar!

- Tudo isso porque você, Saiuni e, agora aquele, Dinesh, ficam mimando aquele garoto.

Chantal revira os olhos e levanta da cama indo para o banheiro assim como o marido, ela segue para o box e liga o chuveiro.

- Aquele garoto é nosso neto, e, além disso, - Ela murmura de olhos fechados com a cabeça em baixo do jato de água quente. Elton adentra o box e Chantal dá um passo para o lado e abre os olhos. - Preciso que vá no mercado com Keid, leve Dinesh com vocês, ele está aqui já tem três meses e vocês ainda não conversam direito depois daquele incidente!

- E nem pretendo conversar! - Elton esclarece tirando a espuma do cabelo. - Eu não o suporto! Pra mim, Saiuni está armando alguma coisa! Dois dissimulados! - Seus olhos se abrem e ele se depara com os azulejos. Sua esposa tinha o deixado falando sozinho. Alguns minutos depois, ele volta para o quarto e vê tudo arrumado com sua roupa organizada em cima da cama.

Um tempo depois, já no andar dos quartos dos filhos ele escuta o barulho de algo se quebrando e segue devagar pelo corredor até parar em frente o quarto de Saiuni, e agora, também o quarto onde o desagradável Dinesh se acomodou. Elton puxa o celular do bolso e entra na câmera do quarto da filha enquanto aproxima o rosto da porta para ouvir melhor.

O cabelo de Keid é o primeiro a ser visto, está bagunçado e ele aparece inconformado próximo a porta. Elton estreita os olhos em desconfiança, Keid quase nunca se desestabiliza, mas a sua atenção continua intacta. A próxima pessoa que ele vê é Dinesh, está parado no meio do quarto e em uma discussão acolorada com Saiuni, que se encontra perto da janela e gesticula enquanto fala, Elton sorri feliz da vida, contente em assistir a briga entre eles.

- Eu não aguento mais! - A loira murmura e passa a mão rudimente pelos olhos, em uma tentativa falha de parar as lágrimas. Pensar que sua mãe tinha trago eles de volta e de castigo soltou seu pai do porão a fazia pirar de ódio e rancor.

Já tinha passado um dia desde que Chantal havia buscado eles no aeroporto e, Saiuni não conseguia esconder o quanto estava magoada.

- Sah, se acalma! - Dinesh pede e desvia dos cacos no chão e para em frente a mulher. Saiuni o encara seria. - Daquela vez não deu certo, mas na próxima você vai ver, estaremos longe uma hora dessa.

Saiuni abre a boca pra responder, para questioná-lo e descobrir como ele tinha tanta certeza, se da última vez foi assim também; porém Keid pigarreia e passa a mão pelo cabelo enquanto fala.

- Sabe, acho melhor planejar melhor dessa vez. - Keid murmura enquanto Elton estreita os olhos por estar escutando com perfeição. - Dinesh sozinho não vai conseguir e logo mais a casa vai estar cheia e vai ser bem pior organizar uma fuga com doze pessoas nos rondando.

Saiuni suspira e Elton se segura para não abrir aquela porta no chute e entrar no quarto atirando nos três! Mas depois de dias sem comer e preso no porão ele pensava melhor antes de agredir alguém naquela casa. Por fim, ele bloqueia o celular e se afasta da porta, seguindo seu caminho inicial, contudo, já pensando numa estratégia para deter os ratos que moravam em sua casa.

Mais uma semana havia se passado e se não fosse pelo grande muro que cercava a casa, de longe as pessoas poderiam ver a iluminação e decoração natalina que Chantal e Bo tanto se empenharam.

Do lado de fora, quatro carros luxuosos estavam estacionados perfeitamente na entrada. No andar de cima Saiuni, Alissa, Lara e Bo conversavam tranquilamente enquanto se arrumavam para a ceia.

Saiuni coloca o beibilis de lado para pegar mais uma mecha de cabelo de Bo. Sua amiga estava sorrindo para seu reflexo no espelho, contente com o resultado.

- Se tudo der certo você pode virar cabeleleira, Sah. - Bo cantarola, Saiuni nega de imediato assim que Alissa sai do banheiro.

- Saiuni cabeleleira? - Alissa, prima de Keid e Saiuni questiona. - Nunca imaginei priminha!

- É de se esperar Lissa, você nunca imagina nada! - Saiuni retruca e na cama Lara começa a rir, Alissa se vira para a mulher de cara fechada.

- Eu ainda não sei, por que raios a Lara é convidada todo ano! - Alissa reclama colocando seu salto.

- Lara é minha prima, filha de tio Oscar e tio Enzo! - Saiuni exclama encarando Lara que sorri. Saiuni volta seu olhar para Alissa. - Assim como você e Rael, filhos de tia Cinara e tio Fauzer.

- Portanto, ela tem tanto direito quanto você, Lissa! - Bo volta a cantarolar. - E ainda por cima é mais legal e sociável, já você...

- Vou procurar meu pai, meu sapato ficou no carro. - Lara diz por fim se erguendo e saindo do quarto, odiava ser questionada daquela forma como se não tivesse direito de nada no mundo.

A morena segue escada abaixo e segue as vozes até a sala, vê seus primos conversando perto do bar e vai até eles.

- Gente, vocês viram meu pai?

Rael a encara sorrindo enquanto Keid pergunta:

- Qual deles? Tio Oscar ou tio Enzo?

- Enzo. - Ela confirma. - Meu sapato ficou no carro, viram ele por aí?

- Ele acabou de passar aqui. - Rael murmura ainda a encarando de cima a baixo. - Tá cada ano mais linda ein, Tavares.

- Obrigada, Rael! - A morena agradece sorrindo e pensando que ele estava também muito gato. - Mas, pra onde ele foi?

- Foi pra cozinha, estava atrás de Chantal. - Dinesh diz apontando para a direção.

- Obrigada, meninos! - Lara agradece e segue para o próximo cômodo.

Assim que chega a cozinha seu pai a vê antes que o cheiro bom da comida e as risadas a alcancem.

- Larinha, meu bem. - Enzo chama sorridente pela filha, com seu apelido. - Precisa de algo?

- Está com fome, Lara? - Marie, a avó de Keid, Saiuni, Rael e Alissa; mãe de Chantal e Cinara pergunta.

- Lara! Menina, como você cresceu! - Cinara exclama chegando perto da mulher e a abraçando. - Olha como está linda! Arrasando corações acredito, já que não trouxe nenhum namorado.

- Se ela puxar o charme de Oscar, tão cedo não a veremos comprometida. - Chantal murmura mexendo espalhando a maionese na salada.

- Minha filha ainda tem muito que estudar antes de pensar em namoro. - Enzo murmura e segue até a filha. - O que você quer?

- A chave do carro, preciso pegar meu sapato que esqueci lá. - Lara murmura tirando uma lã branca de seu terno.

- Ihh querida! Oscar está com a chave.

Lara solta um suspiro, estava quase desistindo daquele sapato e ficando descalça.

- E onde está meu pai? - Questiona.

- Está conversando com seus tios lá na biblioteca. - Chantal responde ainda na pia e abrindo um novo vidro de maionese.

- Vamos filha, eu vou com você. -Enzo diz e Lara condorda, juntos os dois seguem pela casa passam novamente pelos meninos na sala e logo param em frente a porta de madeira maciça. Enzo bate na madeira e em seguida abre a porta e coloca a cabeça pra dentro do cômodo. - Desculpe atrapalhar, mas, Oscar, Lara precisa da chave do carro!

Ainda do lado de fora a garota escuta as vozes.

- Onde está a minha neta? - Martin, o avô de Lara, Saiuni e Keid; pai de Elton e Oscar pergunta.

- Está aqui, Martin. - Enzo fala puxando Lara pela mão e entrando no cômodo.

Lara olha ao redor e repara que seu avô e seu pai estão sentados lado a lado. Seu tio Elton se encontra imparcial perto da janela e seu tio Fauzer, pai de Rael e Alissa sorri quando a vê.

- Lara! Como vai? - Pergunta Fauzer apagando seu cigarro no cinzeiro. - Vendo você e Enzo lado a lado, reparo como são parecidos!

- Obrigada tio. - Lara murmura, aquele dia deram pra notar sua presença, se sentia sufocada com toda aquela atenção. Olhou para Oscar e seguiu até ele estendendo a mão. - Meu sapato ficou no carro. - Explicou brevemente.

Oscar coloca a mão no bolso e puxa a chave de seu Toyota Corolla branco e entrega a filha.

- Dê a chave para Enzo depois, beleza? - Oscar murmura e fecha a mão pra ela bater, um toque somente deles.

- Beleza, pai! - Lara sorri e abana a mão em despedida para todos. - Tchau gente.

Lara se retira da biblioteca e segue para a área externa da casa. A morena fecha a porta atrás de si e começa a andar em direção ao Toyota branco de seu pai, ela aperta o botão para destravar o porta malas quando escuta um fungado, sua cabeça se vira em direção ao som e se depara com Tales sentado perto do lago com Boris.

- Oi. - Ela sussurra assim que senta ao lado do garoto no banco de madeira. - Tudo bem com você?

Tales nega com a cabeça e funga novamente.

- Está triste? Quer conversar? - Lara questiona e Tales acena. - Pode falar então, estou ouvindo.

- Minha mãe disse que meu pai estava viajando, tia Lara. - O menino murmura.

- E aí? Ele estava?

- Ah, não sei! - Sussurra jogando migalhas para os peixes, que comem ferozmente. - Mas o Dinesh, parece meu pai e ele diz ser meu pai, agora.

- E você lembra do seu pai? - Lara pergunta pegando algumas migalhas e jogando na água, os peixes nem se mexem. - Porque, tipo, você é pequeno mas antes era muito mais!

- Nos meus sonhos. - Tales murmura e logo esclarece. - Desde bebê eu sonho com meu pai, antes eu não sabia que o homem do sonho era meu pai, mas agora eu sei.

- Por isso então que você diz conhecê-lo?

Tales acena e observa a tia jogar migalhas e de novo nada acontecer.

- Eles não vão tomer. - Ele sussurra ainda choroso.

Lara o encara confusa.

- Por quê?

- Não sei. - Tales diz dando de ombros e acariciando o pêlo de Boris. - Toda vez que eu venho aqui com alguém, os peixes somem.

- Toda vez, tipo, sempre?! - A mulher questiona e ele concorda. - Estranho... Mas, o seu problema lá; se Dinesh é como seu pai e te trata como filho, você não deveria estar feliz?

- É que eu tenho medo que ele vá embora e eu fique sem pai de novo. - Tales murmura e então se vira e olha para a mulher. - Tia! Se o tio Oscar ou o tio Enzo fosse embora, você não acha que duas pessoas iam ficar muito triste?

- Que duas pessoas? - Lara franze a testa entrando no raciocínio da criança.

- Você e um dos seus pais! - Ele explica e então algo parece clarear sua mente e ele volta a falar. - Pior ainda! Tia, e se os dois fossem embora e você ficasse sozinha? Você não ia ficar bem triste?

Lara arregala os olhos e seus pesadelos de quando foi adotada e imaginava que seus pais iriam a abandonar a qualquer instante, retornam com força total!

- Esse é o seu medo? - Lara sussurra e ele acena. - Não fale isso, ninguém vai abandonar nem a mim e nem a você, beleza? - O garoto não fala nada, só fica observando sua tia. - Porque eles nos amam, entende? Saiuni te ama mais que tudo, sei disso! Nossos pais nos amam!

- Então se os nossos pais nos amam, eles não vão nos abandonar? - Tales pergunta com os olhos arregalados e ela acena sorrindo. - Nunca?

- Nunca! - Ela confirma e assim Tales sorri e a abraça apertado. Boris late surpreso pelo movimento repentino.

- Obrigada tia! Você é a melhor!

Por fim, Tales sai sorrindo e apoiado em Boris, ela então se ergue para fazer o que veio fazer no início, buscar seu bendito sapato!

🤜🏾💣💣💣🤛🏾
Olá! Tudo boom?

Escrevi esse capítulo bem no começo do livro, mas, somente agora eu consegui postá-lo, por o que leram viu que a família não se resume somente nós quatro, maas o que acharam?

Digam me tudo e até a próxima, beijocas!