Enfim Vivendo
Alguns meses depois…
Saiuni
Abro a porta da geladeira e pego o requeijão e a jarra de suco, me viro, fecho a porta com o pé. Coloco tudo na bancada e então vejo Dinesh entrar na cozinha arrumando a gravata, seu semblante me mostra que ele está nervoso.
— Que foi? — Pergunto colocando café em uma xícara e estendo pra ele que me olha como seu fosse boba.
— Sabe o que é! — Ele murmura aceitando a xícara com flores azuis, eu comprei um jogo de xícaras brancas com flores coloridas pintadas, foi a primeira coisa que coloquei com meu gosto dentro do apartamento que virou nosso lar.
— Já te disse, relaxa, você vai passar na entrevista, é só se acalmar. — Apazigo passando requeijão no pão de forma e depois o entregando. Chego mais perto de Dinesh e passo a mão por seu paletó. — Você é um ótimo fotógrafo, Din.
— O que me preocupa é o currículo, nunca vi mais vazio! — Ele reclama comendo o pão. Me afasto e pego meu copo de suco de abacaxi.
— Tenho certeza que tem piores, meu currículo por exemplo, só meus cursos… — Murmuro pensando que nunca trabalhei para uma empresa, o meu trabalho era outro. — E olha só pra mim? Consegui um emprego não é?
— Verdade, desculpa. — Ele murmura beijando minha testa e indo colocar a xícara na pia. — Mas e aí? Que horas você vai entrar hoje?
Olho no relógio pendurado na entrada da cozinha, 06:54.
— Oito horas, tenho que terminar um serviço antes do meio dia. — Explico arrumando a franja com as pontas dos dedos. Arrumar o meu emprego não foi fácil mas o que me ajudou foi o teste, nunca fiquei tão feliz por ter um dom ou por saber mexer em programas de computador, terminei antes que todos os participantes e ainda fiz melhor. Meu salário não é dos melhores, mas pra quem nunca teve um emprego eu estou é só agradecendo por arrumar aparelhos com problemas. — Me chame o Tales enquanto eu arrumo o cabelo? Ele vai se atrasar…
Quando ele acena eu me viro e sigo para o banheiro do andar de baixo. Escuto Dinesh caminhar até a ponta da escada e gritar pelo filho, logo em seguida escuto os passos apressados, antes que ele chegue nos degraus eu grito do banheiro ao mesmo tempo que Dinesh.
— Não corra nas escadas, Tales!
— Tá bom, tá bom! — Escuto ele murmurar, termino de prender meus cabelos em um rabo de cavalo e saio do banheiro, vou até a cozinha e já escuto Tales conversar com o pai. — Vamos tomar sorvete hoje?
— Depois da escola. — Dinesh responde de costa pra ele, depois se vira e entrega o copo com leite, entro da cozinha, para uma sexta feira ele está até bem calmo. — Vou buscar ele depois da entrevista, vai ir com a gente?
Nego e passo por Tales, beijando seus cabelos escuros.
— Bom dia, filho. — Murmuro e chego até Dinesh, passo meus braços por sua cintura e me inclino pra trás para ver seu rosto. — Vou na casa do meu irmão e depois passar no mercado.
— Vai ver a dinda, mãe? — Tales pergunta, me viro para olha-lo, aceno sorrindo. — Posso ir?
— Você não ia tomar sorvete comigo? — Dinesh pergunta sorrindo e abraçando minha cintura.
Tales para um momento, apoia o copo na bancada e se vira pensativo.
Sorrio, achando graça que ele ainda faz a mesma coisa, tenta achar uma solução para não magoar quem ama.
— Pai, podemos encontrar a minha mãe quando a gente terminar o sorvete? — Meu pequeno propõe.
— Claro, por que não? — Dinesh sorri.
— Beleza, — Exclamo vendo a hora, 07:07. — Tomou seu leite? — Ele acena limpando a boca. — Vamos então! — Me viro, beijo o canto da boca de Dinesh e acaricio seu rosto. — Vai dar tudo certo! Confia!
Caminho até meu filho, seguro sua cintura e o desço até o chão, Tales anda até Dinesh que se agaixa, recebe um beijo na bochecha e volta até eu, o ajudo a colocar sua mochila e pego minha bolsa, acenamos para Dinesh.
— Tchau! Estamos indo.
A manhã passa com tranquilidade, depois de levar Tales a escola, terminar de limpar e atualizar um computador, consigo consertar dois celulares e já é uma e meia. Pego minha bolsa, me despeço de meus colegas de trabalho e sigo para fora do prédio comercial no centro de Darwin.
Assim que estou dentro do meu carro, ligo para Keid, nas sextas ele sai mais cedo da pequena empresa em que trabalha como engenheiro, só que desta vez parece que não aconteceu, seu celular toca e ninguém atende. Descido ligar para Bo, que me atende no quarto toque.
— Fala, Sah? — Ela atende e escuto o que parece ser o liquidificador no fundo.
— Escuta, estamos indo para ai, avisa o porteiro. — Murmuro e parando em um farol. — Dinesh e Tales devem chegar primeiro, a sorveteria que eles vão é ai por perto.
— Beleza, — Ela murmura e sua voz sai pelos autofalantes do carro, o barulho do aparelho fica mais alto e em seguida desliga. — Keid ainda não chegou mas ligou uma hora atrás, disse que ia entrar em reunião e sairia o horário de sempre, provavelmente vocês vão chegar juntos.
— Deve ser por isso que ele não me atendeu. — Explico. — Quer que eu leve alguma coisa? Devíamos pedir comida, você não devia estar se esforçando…
— Ah não, Saiuni! — Bo reclama. — Qual é? Até você? Keid já é paranóico o suficiente, quem aguenta? Gravidez não é doença, tenho que repetir quantas vezes até vocês entenderem?
— Credo sua estressada! Vou levar um pudim pra você se acalmar. — Murmuro, chego na avenida Stuart Hwy e me deparo com um belo de um engarrafamento, suspiro. — Nossa! Vou chegar mais tarde do que imaginava, tá um trânsito tremendo aqui na Stuart, vou tentar cortar por dentro pela, Tiger, até mais tarde, beijo!
Uma hora depois eu paro na entrada do prédio em Keid e Bo moram. Os olhos do senhor Ferreira, o porteiro, se enrugam ainda mais quando me vê.
— Vocês vão dar uma festa hoje, senhora? — Ele questiona, prefiro nem responder, Ferreira sempre toma suas próprias conclusões, então acaba liberando minha entrada. Aceno em despedida e me destancio da portaria indo para o estacionamento, estou morrendo de fome!
Dinesh
Saiuni e Tales se despedem e assim que a porta se fecha, eu saio da cozinha e subo a escada.
Entro em nosso quarto e sigo para o banheiro, abro o gabinete da pia, pego o frasco de espuma de barbear e abro a tampa; no interior da tampa, o anel brilha ainda preso pela fita. Foi o único lugar que achei seguro e inacessível o bastante para que Saiuni não o achasse, aquela mulher conhece cada canto desta casa, não sei como Tales consegue esconder por tanto tempo os vidros de insetos que trás pra casa. Saiuni fica doida toda vez que acha um pela casa.
Tiro o anel, lavo e guardo na caixinha. Tinha combinado com Keid e Bo que pediria Saiuni em casamento hoje, pois faz cinco meses que ganhamos liberdade e que refizemos nossa vida, seria em um restaurante que ela ama, contudo, quando Bo descobriu a gravidez ela prefere passar a maior parte do tempo com a amiga.
Coloco as coisas no lugar, saio do quarto e quando estou passando pelo corredor em direção a escada, na frente do quarto de Tales vejo uma caixa embaixo de sua cama, isso o não estava aqui quando o coloquei pra dormir ontem. Pego a caixa verde e abro, fotos, me deparo com muitas fotos e me pergunto quando ele pegou e como conseguiu guardar tantas fotos dos avós, dos cachorros, seu pato, mas além dessas fotos tem outras imagens, umas de Bo com Keid e deles sozinhos, assim como, sorrisos e trejeitos em que eu e Saiuni aparecemos. Sorrio segurando uma foto em que nós três estamos abraçados e sorrindo, felizes na noite de natal ainda na mansão, pretendo que nosso natal esse ano seja muito melhor e ainda mais inesquecível quanto o dia em que Tales me chamou de pai pela primeira vez.
Suspiro resignado, meu filho sente falta, a verdade sobre a sua volta sempre foi mascarada e por mais esperto que ele seja, nunca imaginaria algo tão terrível, tenho certeza que Tales acreditava no amor entre sua família e sente falta de todos que o cercava, mas, um dia ele vai entender… Guardo tudo no lugar e saio do quarto, tenho uma manhã longa e ansiosa até a hora do pedido.
Paro o carro em frente ao muro da escola em Fannie Bay e sigo para o portão, minutos depois Tales aponta mais no fundo e assim que me vê, abre um sorriso e corre até mim, seguro seu pequeno corpo entre meus braços e aperto sentindo seu perfume, toda vez que estou com ele na segurança de meus braços, eu volto para o dia em que nasceu e eu estava lá para ampará-lo, ainda posso sentir o aroma das poucas vezes em que o segurei antes que esse direito fosse tirado dos meus braços.
— Papai! — Tales chama. — Eu estou com fome… Vamos tomar sorvete agora?
— Tenho quase certeza que almoçar primeiro é o ideal. — Murmuro para vê-lo fazer um bico decepção. — Ah, qual é? Conheço um restaurante que você vai amar, não quer ir lá?
— O que eu fiz? — Ele pergunta enquanto prendo o cinto da cadeirinha, encaro brevemente seus olhos confusos, nego veemente.
— Nada, por que?
— Você e a mamãe me levam pra comer fora toda vez que vamos conversar sério! — Tales exclama, tenho o filho mais esperto e detalhista do mundo!
— Não fez nada, calma. — Digo começando a dirigir rumo ao restaurante, olho pra ele pelo retrovisor. — Só vamos conversar… sobre a mamãe… — Jogo no ar pra ver sua reação.
— A mamãe? — Tales questiona estreitando os olhos.
— É! Por que? Não pode? — Estreito os olhos como ele, garoto esperto.
— Vou contar pra ela hein! Tá escondendo dela… — Ele se irrita e cruza os braços.
— Tales? — Chamo com calma, meu pequeno vira o rosto pra mim ainda sério. — Você lembra quando seus tios se casaram? Logo que a gente chegou? — Ele acena, tenho a sua atenção. — Quer ir em mais um casamento?
— No seu e no da mamãe? — Tales me sorri e abre bem os olhos me encarando com mais atenção ainda. — Vão se casar? Amanhã?
— Calma. — Gargalho com sua empolgação. — Vou dar o anel pra ela hoje, vai me ajudar? Acha que sua mãe vai aceitar?
— Claro! — Ele pula no banco sorrindo. — Ela disse que está só esperando, é um anel rosa?
— O quê? — Me espanto, se eu soubesse que ela já estava esperando, pelo jeito ela achou o anel escondido e está a muito tempo esperando. Ai Saiuni, o que eu faço com você? — Então vocês dois já sabiam? Seus sem graças! — Assim que falo, ele arregala os olhos percebendo que a sua empolgação delatou o segredo que tinha com Saiuni.
— Já estamos chegando? — Tales tenta desconversar olhando pela janela, sorrio. — Tô com uma fome… — Tales parece lembrar de algo e se vira novamente para frente. — Pai! A professora disse hoje que eu sou muito inteligente e que até o natal eu já vou saber ler e escrever sozinho! Não é legal?
— Super legal! — Sorrio feliz por mais uma conquista que meu filho está alcançando. — Estou muito orgulhoso! Sua mãe vai ficar super feliz. — Explico lembrando que à alguns dias ela contou com empolgação que enquanto ajudava Tales na lição de casa, ele só precisava de apoio, conseguia juntar sílabas e formar palavras, escrevia com firmeza mesmo ainda tendo dúvidas.
Depois de duas horas e meia, paro o carro no estacuonamento coberto do edifício em Palmerston, Tales solta seu cinto e sai do carro com um pulo, fecho os olhos para ouvir seu resmungo, ele não aprende.
— Com cuidado, Tales! — Murmuro saindo e travando as portas, olho para a criança já ao meu lado. — Vai se machucar desse jeito.
Pegamos o elevador e paramos no terceiro andar, Tales corre para fora do elevador e toca a campainha três vezes seguidas. Balanço a cabeça rindo, ele nunca esquece desse combinado que fez com Keid. Bo abre a porta e sorri para o afilhado.
— Baixinho! — Ela exclama e tenta se abaixar para abraça-lo mas logo desisti.
— Oi tia! — Tales sorri, abraça e beija sua barriga. — Oi prima!
Assim que entramos e Bo fecha a porta ela se vira e me sorri.
— Como vai cunhadinho? — Os olhos de Bo se fecham ainda mais quando sorri. — Muito nervoso?
Abro a boca para responde-la e então Tales retorna com Chantilly, o gato branco e peludo que seus tios adotaram.
— Oh tia, você sabia que meu pai e minha mãe vão se casar? — Ele pergunta enquanto Chantilly ronrona e se aninha em seus braços. Tenho que admitir que os animais o amam. — Tem anel e tudo! Não é papai?
Bo gargalha e eu aceno, concordando com sua pergunta e enfim aprendendo que não tem segredos com Saiuni e Tales, melhor eu desistir das surpresas. Depois de ajudar Bo com a cozinha e o jantar, já havia se passado uma boa parte da tarde e então logo que tinha acabado de falar com Tales para não comentar com Saiuni sobre o casamento e anel, a porta se abre e Keid entra acompanhado por Saiuni, os dois lado a lado sorridente, posso sentir a felicidade emanando é fantástico como eles ficam realizados, felizes de verdade por chegar em casa, uma casa pra poder chamar de lar.
— Chegamos! — Keid exclama sorrindo.
Bo aponta no corredor e vai na direção do marido, Keid abre o braços para recebê-la e então Tales surge correndo da cozinha ainda com Chantilly nos braços, passa pela tia e para ma frente do tio.
— Tio! Você sabia que… — Tales para sua fala no meio quando vê Saiuni parada ao lado do irmão, olha pra trás e me vê, tenho certeza que ele ia contar do casamento para o padrinho. — A minha professora disse que no Natal eu vou saber ler? — Ele enrola com um assunto que sabe que a mãe vai gostar. — Legal né mamãe? — Tales solta Chantilly e abraça as pernas de Saiuni.
— Não acredito! — Keid exclama e pega Tales no colo. — Que afilhado esperto é esse que eu tenho!
— Estou tão orgulhosa meu bebê! — Saiuni exclama pegando Tales do colo do irmão e o apertando, ela beija seu rosto diversas vezes e Tales gargalha. — Não tem como eu ficar mais feliz!
— Tem sim, mamãe! — Tales solta a encarando, fecho os olhos, sabendo que ele não vai se segurar por muito tempo.
— Melhor eu acabar com isso logo de uma vez! — Exclamo e caminho até eles. Saiuni me olha sem entender nada e sorrio para tranquilizá-la, Keid pega Tales e dá uns passos para o lado, Bo se junta aos dois e sorrie, meu filho juntas as mãos na frente do corpo, totalmente empolgado. Encaro minha mulher e mostro a caixinha de veludo azul marinho, Saiuni tapa a boca em surpresa e me olha com os olhos emocionados, mesmo que ela saiba do anel, a surpreendi fazendo o pedido aqui e agora. Abro a caixinha e mostro o anel, ela sorri. — Quer ser feliz comigo, pra sempre? Quer se casar comigo e se tornar, Saiuni Bagawe de uma vez?
— Claro que sim! — Minha loira exclama sorridente. — Sem dúvidas! — Coloco o anel em seu dedo e ela me abraça, seus braços apertam meus pescoço e aperto sua cintura. — Eu te amo tanto! — Seus lábios se fecham e ela me dá um selinho. — Amo por ter me dado Tales, e amo ainda mais que você me salvou do meu pior pesadelo. Obrigada, obrigada por tudo!
Sorrio e meu braço a trás para mais perto e a beijo. Beijo a mulher que eu amo, Saiuni é o amor que eu sempre quis, é o amor da minha vida. É minha namorada, minha companheira, mãe do meu filho, minha noiva e minha futura esposa.
🤜🏾💣💣💣🤛🏾
Boa noite!!
Último capítulo e um pedido de casamento. O que acharam? Me digam aí?
Beijocas, daqui a pouco eu venho com o epílogo!
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