capítulo 10
Jason Hart
De todas as possibilidades, essa me incomodava mais.
Como todos podiam conhecê-la, parecendo seguir cada passo seu, mas a maioria não sabia seu nome, ou apenas a conheciam como Brooke, como deveria ser. Ao menos sabiam sobre sua vida, apenas tinham plena consciência de seu sobrenome e o que ele poderia significar; perigo e que você deveria se manter longe.
Sei quem é seu pai, um empresário de sucesso e milionário, e com certeza não é alguém honesto ou gentil como em poucas vezes demonstra ser, o rosto sério e frio é familiar e não esconde aos meus olhos o quão ruim ele pode ser.
Ficar afastado é um pouco mais difícil do que eu achava que seria. Tenho plena consciência que o que sentimos em Faith é apenas uma parte da aura de seu pai, em fotos conseguimos ver o poder que exala por seus olhos, e não quero saber como é estar perto dele e se sentir tão inferior quanto um grão de arroz no jogado no chão.
Ergo, sentindo tremores em meus braços, o peso no supino. Todo meu corpo soa por conta das sequências seguidas que estamos fazendo na academia.
Começa a feder a suor assim que colocamos nossos pés aqui dentro.
São vários jogadores em esforço máximo para pegar músculo e peso, não é à toa que chegamos quase mortos de fome querendo comer qualquer merda que encontramos ou quando preferimos ir em algum lugar para comer quando ninguém está a fim de cozinhar.
— Não vai me contar que porra aconteceu na festa? — Finjo, de novo, que não estou ouvindo.
Continuo elevando e descendo os pesos.
— Eu juro por Deus, Jason, que se você não falar vou deixar você morrer quando isso — Aponta para o supino. — Ficar pesado demais.
Reviro os olhos.
Adam não teria coragem.
Não sei por que ainda duvido. Ele, esse filho da puta, sai de onde está e vem na minha direção, não tenho ao menos tempo de apoiar o ferro nas duas barras a cima de mim, e então coloca sua mão nele o empurrando para baixo.
Gostaria de dizer que consegui ser mais forte, mas não, estava completamente desprevenido, por mais que tenha me avisado.
— Porra, Adam. Seu desgraçado, eu ainda não estou com minha costela totalmente boa, cacete— vocifero. E ele ri!
Eu juro por Deus que qualquer dia desses eu entro no quarto dele e o sufoco com o travesseiro.
— Tá bom, caralho!
Adam me ajuda a pôr o ferro no lugar e eu me levanto, ficando sentado de frente para ele, aproveitando que estamos só nos dois desse lado. Sinto um pouco de incomodo no machucado, mas nada muito ruim comparado a antes.
— O que quer saber? — me faço de sonso, tentando conseguir mais tempo.
— Do porquê caralhos tinha uma garota, aliás gostosa pra cacete, te olhando como se fosse te matar?
Ergo as sobrancelhas.
— Não quero dizer nada não, mas porra... até eu fiquei com medo dela. — Solta um riso forçado e desvia o olhar.
Só pode estar brincando com minha cara. Ele ficou mesmo?
— Tá zoando? — soou desacreditado.
— Não, cara, você realmente olhou nos olhos dela? — Estremece. — Parecia que ia me queimar vivo. De onde a conhece?
— Escola — solto rápido, com medo de me arrepender.
— Escola...? Como assim? Tenho certeza que me lembraria dela. — Para e pensa por um tempo. — É, cara, eu realmente me lembraria dela, já a vi na faculdade, mas não lembro de nada dela na escola. Ela é gostosa pra cacete, é mais alta que a maioria, tem uma bunda... nossa, é...
— Tá, tá, já entendi — interrompo.
— Ainda mais aqueles olhos... porra, imagina ela me olhando daquele jeito na cama...? Imagina... — me provoca, continuando. Até eu o interromper.
— Já entendi! Caralho, não transou ontem, não? — bufo, irritado.
Inferno, não é como se eu já não tivesse me perguntado sobre isso.
Adam ri baixinho. Juro que vou estrangulá-lo.
— Enfim, explica isso direito.
— Conheci ela antes de você...
— Então quer dizer que ela conheceu o Jason magrelo? — Começa a gargalhar que nem um idiota.
Estúpido de merda.
— Olha quem fala boca de arame. — Seguro o riso, mas não aguento quando ele fecha a cara de repente.
— E como eu não sabia disso? Não é primeira vez que vejo ela nos corredores da facul, mas foi a primeira de tão perto.
— A gente não se fala mais.
— Por quê? — Dou de ombros. — Então não tem nenhum motivo para ela estar te olhando daquele jeito? — Repito o mesmo movimento. — Você fez alguma merda e ela guarda rancor?
Na verdade, foi o ao contrário.
— Sei lá, cara. Deixa isso pra lá.
— Você namorou com ela? — Nego. — Então se eu ficar com ela, quer dizer que não estou quebrando a regra entre irmãos?
— Você pode até tentar, Adam, mas duvido que consiga.
— Quer apostar?
Quer apostar...?
Quantas vezes isso deu merda no final?
— Jesus, não! Que porra você tem na cabeça?
— Desculpa. — Ergue os braços. — Só estou brincando. Mas acha mesmo que não tenho chances?
Olho bem para ele e o analiso.
Se ele tem chances? Porra, não sei.
— Não, cara, nem perca seu tempo!
Adam dá de ombros, não se importando, já que obviamente não precisa se preocupar em ficar sem nenhuma transa, ainda mais ele.
— Se você não for ficar irritadinho, qual o nome dela?
Reviro os olhos, me segurando muito para não ficar vermelho.
— Brooke — digo entredentes.
Rezando para que ela não tenha nenhuma rede social. Não parece o estilo dela.
(...)
Ela tem.
Como eu nunca pensei em pesquisar?
Apesar de que foi bem difícil achar, tive que procurar nas profundezas da minha mente qual seria o nome dela completo e não me ajudou em nada lembrar que era um sobrenome francês, ainda mais a forma de escrevê-lo.
Faith foi inteligente o bastante para não colocar seu nome de forma não tão fácil de ser achada. Porém, também quem o achasse teria que pedir solicitação, o que duvido que ela aceitasse já que seu número de seguidores é nulo.
Apenas sei que é ela, pela foto nada pretenciosa da metade de seu rosto, perfeito, simétrico e lindo. Tão lindo que dói. Ninguém deveria ser assim, e tinha que ser justo ela.
Desligo meu celular, sem pedir e fico olhando para o teto. Vidrado nos questionamentos da minha mente do que é o mistério Faith Brooke. De tudo que ela já guardou e ainda guarda.
Desde que a conheço sempre vi raiva nos seus olhos quando as pessoas a chamavam pelo seu primeiro e segundo nome, como se pudesse estrangular qualquer um naquele exato instante, um dos poucos sentimentos possíveis de serem identificados com facilidade.
E o que me intriga foi a forma que seus pais decidiram pô-lo. Apenas... por quê?
Além de outras mais questões que nunca foram e duvido que algum dia sejam respondidas. Por que nunca vi seus pais? Por que ela é tão... assim? Por que apesar de um dia eu ter sido tão próximo, sentia que estava a quilômetros de distância dela? Por que ela aprendeu tão bem a esconder até os mais básicos dos sentimentos?
Única coisa que eu sei é que ela é rica, e não pouco. Sua casa por si só já é bastante explicativa: a porra de uma mansão.
Apesar de que para mim, ela sempre morou sozinha, pelo menos parece.
Você pode perguntar para o mundo inteiro, mas ninguém nunca vai saber responder suas perguntas quando elas a envolvem. Por isso que digo: um mistério.
Por mais estranho que possa parecer, ou talvez não, quando penso nela sozinho, não sinto aquela raiva dilacerante, parecendo que o sentimento vai me rasgar em pedaços, sem controle algum, apenas sinto algo como saudade ou talvez seja apenas... é, com certeza, saudade.
Mas não daquele tipo que sinto dos meus pais que quando os vejo meu coração parece explodir de felicidade, ou apenas de ouvir suas vozes tão familiares e amorosas, e sim uma que quando você só pensa em ver tal pessoa, ou quando a ver, seu rosto de contraí em desprezo, porém seu corpo quer chegar perto o bastante para sentir seu calor e cheiro.
Estranho porque não sei mesmo o que essa porra significa.
Quero muito provocar, ver raiva em seu rosto, qualquer tipo de reação, mas também sinto meu sangue borbulhar só de pensar na sua expressão blasé e fria.
— Levanta, Jason. — Adam murmura arrastado, cansado.
Jogo o celular de lado e o encaro em puro deboche e falta de vontade.
— Pra quê?
— Eu quero deitar? — responde como se fosse obvio.
Tem a porra de dois sofás vazios e ele quer ficar justo onde estou.
— Não, deita nos outros, ué.
— Vai logo, porra! — Tira as minhas pernas do encosto e as coloca em cima de seu colo quando se senta. — Como tá sua costela?
— Bem, menos dolorida — Dou de ombros.
— Não machucou na academia? — Percebo um pouco de preocupação em seu tom de voz.
— Relaxa, cara. Tá tudo bem. — Adam assente, sem olhar nos meus olhos.
(...)
Olho para o celular, depois que ele começa a vibrar freneticamente. Não esperava ver o nome da minha mãe.
Fazia um bom tempo que eu não ligava, disso eu sei, mas normalmente quem liga sou eu porque ela e meu pai sabem que não posso atender a qualquer hora.
E só por imaginar que algo pode ter acontecido pedi para o treinador permissão para atender, já que não participaria do treino hoje.
— Puta que pariu! Finalmente! Pensei que você tinha morrido, faz anos que não nos liga. — E foi assim que fui recebido assim que cliquei no botão verde.
Seguro o riso pelo exagero da minha mãe. Ela não pensou mesmo algo tão ruim, senão duvido muito que ainda estaria em casa. Provavelmente viria até o campus só para ter certeza.
— Desculpa, estive ocupado.
— Isso não é motivo pra quase matar seus pais do coração, não é Leonard? — Eu e meu pai sabemos quando ela está nervosa ou exasperada quando diz o nome dele e não seu apelido.
Também percebo que não deveria ter ficado semanas sem dar nenhuma notícia para ambos.
— Sim. — Escuto o murmuro do meu pai e logo minha mãe está sussurrando uma briga com ele.
— Aconteceu alguma coisa por aí? — indago após não escutar mais nada do outro lado da linha.
— Além de você ter esquecido que seus pais existem... não, nada.
Reviro os olhos, sem conseguir segurar o sorriso pequeno que paira em meus lábios.
— Prometo ligar para vocês mais vezes, desculpa.
— Promete mesmo? — Sua voz soa séria, com requisitos do que poderia dizer ser tristeza e saudade.
Logo me sinto culpado e com os mesmos sentimentos em meu peito.
— Com tudo que existo.
Escuto seu fungar e meu peito aperta.
— Mãe... o que aconteceu?
— Não é que... — um silêncio ensurdecedor volta novamente, mas consigo escutar sussurros, algo "está tudo bem" e um "precisamos contar" do meu pai tentando consolar ela por algo.
— Mãe... pai...?
— Certo, humm... — Agora meu pai quem começa a dizer. — Não é o melhor jeito de dizer isso, mas... as contas estão apertando, o restaurante não está mais tão movimentado quanto antes, provavelmente pelos novos comércios chamativos do centro. Com o preço de tudo não tem mais como... mantermos o restaurante...
Espera... o quê?
Não. Não. Não o restaurante, não posso perder isso. Não podemos.
Ele é passado de gerações a gerações, e tão famoso em todas elas, não é possível que justo agora tínhamos que passar por isso.
— Pelo menos não sem ajuda... — terminar, fazendo meu coração despencar com as probabilidades.
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