capítulo 09

Brooke

Pôde sentir.

Aquela sensação de poder correndo pelas suas veias, ia além de algo emocional ou sentimental, era quase físico.

Brooke tocou o ferro gelado, afastando suas pernas. Respirou fundo, segurando um pouco de ar em seu pulmão e não precisou de muito mais preparo para o próximo passo. Seu braço tremeu no primeiro instante, se acostumando com a força inicial, e da mesma forma se adaptou com os 40kg de pesos – 20kg em cada lado, no instante em que a barra tocou o início da sua coxa e suas costas ficaram eretas.

Repetiu o mesmo movimento quinze vezes de três sessões. Agachou, e se ergueu, não se importando com a tranquilidade em que treinava ou se demorava demais. Aqueles minutos à mais faziam diferença.

Apoiou uma última vez o objeto no chão, pegou em sua mochila um pano com álcool em gel e o limpou com certa cautela, da mesma forma que fez quando pegou.

Mesmo com o fone de ouvido e a música perto de estar em máximo, escutou uma risadinha ou era um murmúrio feliz, algo assim. Vinha do seu lado direito, mas não direcionou seu olhar para lá.

Pegou a bolsa de academia pela alça, indo para a sua direita, se deparando rapidamente com dois homens, com um ou dois centímetros a mais que ela. Ser alta com certeza tinha seus privilégios. Ambos a olharam de cima a baixo, com sorrisos estúpidos e seus lábios, soube que poderiam ter falado coisas obscenas sobre seus agachamentos, ou apenas acharam graça ficarem encarando e falando a cada momento em que ela se inclinava para baixo, aquela não seria a primeira vez, e aparentemente não seria a última.

Também não era a primeira mulher a passar por algo assim.

Em passos calmos, desta vez não fazendo o barulho do peso da bota de chocando contra o chão, já que estava de tênis, seguiu até eles. Seus olhos focados em apenas um, que desviou logo que sentiu o frio deles.

Com o rosto blasé e desinteressado, os olhava como se imaginasse como seria matá-los, de forma lenta, sentindo o prazer em cada facada e sangue que escorreria de seu corpo podre e nojento.

Talvez ela realmente estivesse pensando em fazer tal coisa.

Os olhos dele se desviaram, não sabendo o que ela faria, mas se sentiu intimidado com a proximidade repentina. Quando chegou perto o suficiente para erguer o braço e conseguir tocá-lo, não fez, apenas seguiu em frente sabendo, de alguma forma, que seu corpo grande e inútil tremia, junto ao amigo do lado.

Só então percebeu que tinha abaixado o volume da música apenas para ouvir o silêncio que se prolongou daqueles dois homens, que até então pareciam animadinhos para falar. Se afastou o suficiente para não sentir mais o cheiro horrendo que se destacavam na pele suada deles.

Terminou de fazer todos os outros treinos que faltavam, demorando mais do que o necessário para aproveitar o tempo fora de casa, mas não admitia isso. Como sempre.

Prendeu o cabelo em um coque baixo e começou a encher sua garrafinha transparente com a água gelada do bebedouro. Tomou longos goles, sentindo a temperatura baixa se arrastar na sua garganta, aliviando-a da respiração ofegante.

Saiu pelas portas automáticas, em direção ao estacionamento particular da academia, indo até seu jeep. Entrou nele e o ligou apenas apertando um botão, dirigindo para fora dali, não se preocupando se o acontecimento de ontem se repetisse.

Sabia ser cuidadosa, ainda mais com seu carro.

(...)

Depois de um banho demorado, com o cheiro de rosas saindo do banheiro por causa do líquido aromatizante, vestiu uma calça de pijama e uma regata curta.

Desceu até o primeiro andar e deixou a toalha molhada na lavanderia, voltou para a cozinha, vendo o seu jantar já em um prato com o insulfilme em cima. Retirou o plástico e sentiu o odor do macarrão com a mistura de molho vermelho e branco e alguns pedaços pequenos de orégano espalhado.

Esquentou a comida no micro-ondas e enquanto esperava começou a encher um copo de leite. Pegou, com um pano embaixo, o prato quente e a bebida na outra mão, e subiu as escadas. Não estava nem na metade do caminho quando escutou a trava da porta da frente ser aberta.

Seu maxilar automaticamente tensionou, porque essa hora da noite; sabia quem era. De quem se tratava. Por mais que soubesse que estava de volta, ainda não o tinha visto e por isso não se conteve, fazia tempo que não o via, três meses ao certo, também não se surpreendeu com sua presença e aparência: elegância e riqueza gritavam daquele homem de 1,90 de altura, o terno preto completamente justo em cada um dos seus músculos, além do relógio caríssimo em seu pulso, e não deixou de notar o anel dourado e preto que nunca saia do seu dedo, continha um símbolo, o mesmo brasão que ocupava no chão da entrada, não se destacando tanto, mas grande e bonito, um pouco perigoso também.

Evitou olhar para seu rosto, mas já que o encarava sem ao menos disfarçar, observou os olhos tão frio quanto os dela, mesmo que não a encarasse diretamente, e sim, o celular com a luz da tela fraca. Eram em um azul claro, com requisitos de cinza no mesmo contraste, o maxilar marcado coberto por uma barba rala e bem-feita.

Como se sentisse seu olhar, ele desviou para cima, mas pela forma que começou a fitar, parecia que olhava um nada, não alguém. Era como se seu corpo, de repente, se transformasse em transparente. Com a mesma insignificância desviou o olhar e continuou seu caminho até a sala de estar, provavelmente querendo evitar subir as escadas com ela ali, mas isso nem passou em sua cabeça.

Alguém inteligente, amedrontada, alguém como Brooke, sequer pensou que ele a evitava, a única coisa que passou em sua cabeça foi que ela era como um fantasma, transparente na mesma medida que as outras pessoas eram para ela, invisível e um completo nada. Para Brooke, tudo o que ela fazia – ou não fazia, para ser realista – era, logo, retribuído da mesma forma quando o encontrava.

A frieza e raiva que tinha dentro de si não era nada comparada a que estava nele, pelo menos era o que achava.

Como alguém que – não – viveu com uma pessoa assim, poderia ser diferente de quem ela é agora?

Brooke, a garota que era evitada por onde passasse, e ao mesmo tempo que chamava atenção de todos, eles queriam se mostrar relevante para andar com ela; a que nunca sorria ou demonstrava um requisito de sentimentos bons e positivos; a silenciosa; a do olhar quase mortal; a mulher gata pra cacete que parecia muito bem saber disso; a que em todos os passos que dava parecia fazer a terra tremer, tinha uma fraqueza, uma única e significativa o bastante para fazer ela perder todo o controle que tivesse de seu corpo.

Ela se virou com rapidez, terminando de subir as escadas e entrou em seu quarto. Ligou a televisão e começou a assistir um filme qualquer de ação e suspense, não se importando inteiramente no que se passava na tela.

Pegou novamente o prato, colocado antes na mesinha ao lado da cama, e olhando para a parede, não se importou com o calor que se fazia na sua perna por causa do vidro quente, queimando e deixando a pele branca vermelha em um formato redondo, não tirou dali quando quase ficou insuportável a dor, para ela não importava sentir aquilo.

Era melhor algo físico do que sentimental.

Seu rosto não demonstrava uma sequer emoção de dor, continuava com a mesma de sempre como se um prato extremamente quente não a estivesse queimando.

Pensou em querer fazer algo mais forte, que pudesse a machucar tão fundo que ao menos sentiria, apenas a ardência rápida e nem um pouco duradora.

Brooke odiava aquele pensamento. O culpou de todas as formas odiando ter que vê-lo depois de tanto tempo, e não recuou dos diversos pensamentos que talvez ele tivesse morrido no caminho para onde quer que tivesse ido, poderia ser melhor do que – não – conviver com alguém como ele.

Não negou a si todas as imagens em sua mente de cada forma que poderia matá-lo, mas nunca teve coragem, não conseguiria, provavelmente morreria tentando fazer.

Não sabia qual ideia era melhor.

Porque Brooke... Bem, Brooke sabia e não escondia, não tinha como, que sua única fraqueza e medo era baseadas em alguém que chamava de pai.

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